O governo Bolsonaro gastará em quatro anos o equivalente ao que foi gasto em oito anos de governo Lula. São cerca de R$ 8 trilhões. Postei isso no Twitter e ninguém gostou. Bolsonaristas viram como uma crítica à agenda de equilíbrio fiscal. Petistas enxergaram uma ofensa ao compromisso de Lula com os mais pobres.
A comparação vem da série de dados do Tesouro Nacional para a despesa primária (a despesa não financeira da União), e já leva em conta os efeitos da inflação. Por que o gasto real subiu tanto nesse período?
Não foi apenas por conta do impacto da pandemia, que se deu principalmente pelo auxílio emergencial. Também subiu muito o gasto obrigatório, um gasto que depende menos das escolhas dos governantes.
Foi com o “gasto social” que Bolsonaro gastou muito mais do que Lula. Estou chamando de gasto social o que, formalmente, se chama de seguridade social. São os benefícios da Previdência e da Assistência Social, além das despesas da Saúde.
Esse gasto subiu de lá para cá por conta do envelhecimento populacional (mais benefícios na Previdência) e da valorização do salário mínimo acima da inflação (que reajusta benefícios previdenciários, trabalhistas e o BPC).
A despesa total também tende a subir com o aumento da arrecadação: como o PIB hoje é maior do que no passado, governos têm maior capacidade fiscal, e o nível absoluto da despesa cresce a cada presidente no Brasil.
É assim que se espera que, ao fim dos quatro anos do governo Bolsonaro, a despesa primária tenha sido de 90 a 95% do total dos oito anos do governo Lula.
Quando ponderamos pelo PIB, a diferença é evidentemente menor. Ainda assim, em Lula a relação gasto/PIB não cruza muito a linha dos 18%, e em Bolsonaro sempre se esteve acima dela.
Essa comparação, contudo, não diz nada sobre a velocidade do crescimento do gasto – maior em Lula do que em Bolsonaro (mais de dois pontos do PIB entre 2003 e 2010, estável entre 2019 e 2022).
Há outros aspectos que o leitor pode achar contraintuitivos na comparação das contas. Como a composição do gasto mudou? Em 2022, é muito maior a participação da Assistência Social no total dos gastos do que era em 2010 (de 6% para 10%). Previdência também sobe. Para abrir espaço, caíram mais em termos relativos o gasto com a máquina, com o Judiciário e nas áreas de segurança pública, agricultura e transportes.
Os números contam o que os discursos escondem?