Doutor em Economia

Pedro Fernando Nery: Jane Jacobs é importante para o Brasil


Jornalista com papel importante no debate americano sobre cidades no século 20 e precursora do uso do termo “capital social”, Jacobs é atual não apenas do ponto de vista da ciência econômica, mas também da climática

Por Pedro Fernando Nery

Comemora-se nesta semana o aniversário de Jane Jacobs, pensadora importante para o Brasil atual. No último mês, foram registrados novos protestos e abaixo-assinados nas cidades mais ricas do País – São Paulo e Brasília – contra o adensamento de suas áreas centrais, que concentram oportunidades. O que podemos aprender sobre isso com a fascinante Jane Jacobs?

Jornalista com papel importante no debate americano sobre cidades no século 20, Jacobs não tinha diploma de nível superior em urbanismo ou economia – nem em qualquer outra área. Foi às vezes chamada de “dona de casa”.

Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jacobs argumenta que não se deve “trazer” as pessoas para os bairros centrais das cidades, mas sim “colocá-las” lá – apontando para o imperativo de haver oferta de residências perto dos centros econômicos. Crítica do “medo da vida”, era entusiasta da interação entre estranhos.

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Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jane Jacobs aponava para a necessidade de haver oferta de residências perto dos centros econômicos Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Via a força das cidades nas diferentes formas em que “empresas e indivíduos reagem entre si e mutuamente se ajudam”. Quanto mais diversidade de estabelecimentos e pessoas, melhor. Famosamente, definiu a complexa ordem da cidade como um balé, em que papéis diferentes e danças individuais compõem um todo que funciona.

A moderna literatura científica parece sustentar o ponto de vista de Jacobs. Haveria maior mobilidade social quando indivíduos pobres pudessem interagir com referências mais prósperas, absorvendo informações e replicando comportamentos e hábitos que circulam nas áreas mais ricas das cidades (Raj Chetty é o nome mais relevante nesta literatura).

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Distâncias menores e maior densidade, propiciada pela verticalização, permitem essa aproximação entre os diferentes. Novos prédios nas áreas centrais servem a este fim, mas – embora positivos também para redução do déficit habitacional, moderação dos aluguéis e eficiência energética – não basta que os prédios sejam prédios.

Empreendimentos voltados para dentro, utilizando precioso espaço da cidade para áreas de convívio internas, e cercados por muros altos não permitem que o tal balé da economia flua da melhor forma. Das palavras de Jacobs, podemos usar o termo “estéril” para algumas dessas construções.

Precursora do uso do termo “capital social”, Jacobs é atual não apenas do ponto de vista da ciência econômica, mas também da climática – lutava contra o carro bem antes de os seus malefícios serem percebidos. O Brasil de 2022 ainda precisa muito de suas ideias.

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*DOUTOR EM ECONOMIA

Comemora-se nesta semana o aniversário de Jane Jacobs, pensadora importante para o Brasil atual. No último mês, foram registrados novos protestos e abaixo-assinados nas cidades mais ricas do País – São Paulo e Brasília – contra o adensamento de suas áreas centrais, que concentram oportunidades. O que podemos aprender sobre isso com a fascinante Jane Jacobs?

Jornalista com papel importante no debate americano sobre cidades no século 20, Jacobs não tinha diploma de nível superior em urbanismo ou economia – nem em qualquer outra área. Foi às vezes chamada de “dona de casa”.

Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jacobs argumenta que não se deve “trazer” as pessoas para os bairros centrais das cidades, mas sim “colocá-las” lá – apontando para o imperativo de haver oferta de residências perto dos centros econômicos. Crítica do “medo da vida”, era entusiasta da interação entre estranhos.

Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jane Jacobs aponava para a necessidade de haver oferta de residências perto dos centros econômicos Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Via a força das cidades nas diferentes formas em que “empresas e indivíduos reagem entre si e mutuamente se ajudam”. Quanto mais diversidade de estabelecimentos e pessoas, melhor. Famosamente, definiu a complexa ordem da cidade como um balé, em que papéis diferentes e danças individuais compõem um todo que funciona.

A moderna literatura científica parece sustentar o ponto de vista de Jacobs. Haveria maior mobilidade social quando indivíduos pobres pudessem interagir com referências mais prósperas, absorvendo informações e replicando comportamentos e hábitos que circulam nas áreas mais ricas das cidades (Raj Chetty é o nome mais relevante nesta literatura).

Distâncias menores e maior densidade, propiciada pela verticalização, permitem essa aproximação entre os diferentes. Novos prédios nas áreas centrais servem a este fim, mas – embora positivos também para redução do déficit habitacional, moderação dos aluguéis e eficiência energética – não basta que os prédios sejam prédios.

Empreendimentos voltados para dentro, utilizando precioso espaço da cidade para áreas de convívio internas, e cercados por muros altos não permitem que o tal balé da economia flua da melhor forma. Das palavras de Jacobs, podemos usar o termo “estéril” para algumas dessas construções.

Precursora do uso do termo “capital social”, Jacobs é atual não apenas do ponto de vista da ciência econômica, mas também da climática – lutava contra o carro bem antes de os seus malefícios serem percebidos. O Brasil de 2022 ainda precisa muito de suas ideias.

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Comemora-se nesta semana o aniversário de Jane Jacobs, pensadora importante para o Brasil atual. No último mês, foram registrados novos protestos e abaixo-assinados nas cidades mais ricas do País – São Paulo e Brasília – contra o adensamento de suas áreas centrais, que concentram oportunidades. O que podemos aprender sobre isso com a fascinante Jane Jacobs?

Jornalista com papel importante no debate americano sobre cidades no século 20, Jacobs não tinha diploma de nível superior em urbanismo ou economia – nem em qualquer outra área. Foi às vezes chamada de “dona de casa”.

Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jacobs argumenta que não se deve “trazer” as pessoas para os bairros centrais das cidades, mas sim “colocá-las” lá – apontando para o imperativo de haver oferta de residências perto dos centros econômicos. Crítica do “medo da vida”, era entusiasta da interação entre estranhos.

Em 'Morte e vida das grandes cidades', publicado há 60 anos, Jane Jacobs aponava para a necessidade de haver oferta de residências perto dos centros econômicos Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Via a força das cidades nas diferentes formas em que “empresas e indivíduos reagem entre si e mutuamente se ajudam”. Quanto mais diversidade de estabelecimentos e pessoas, melhor. Famosamente, definiu a complexa ordem da cidade como um balé, em que papéis diferentes e danças individuais compõem um todo que funciona.

A moderna literatura científica parece sustentar o ponto de vista de Jacobs. Haveria maior mobilidade social quando indivíduos pobres pudessem interagir com referências mais prósperas, absorvendo informações e replicando comportamentos e hábitos que circulam nas áreas mais ricas das cidades (Raj Chetty é o nome mais relevante nesta literatura).

Distâncias menores e maior densidade, propiciada pela verticalização, permitem essa aproximação entre os diferentes. Novos prédios nas áreas centrais servem a este fim, mas – embora positivos também para redução do déficit habitacional, moderação dos aluguéis e eficiência energética – não basta que os prédios sejam prédios.

Empreendimentos voltados para dentro, utilizando precioso espaço da cidade para áreas de convívio internas, e cercados por muros altos não permitem que o tal balé da economia flua da melhor forma. Das palavras de Jacobs, podemos usar o termo “estéril” para algumas dessas construções.

Precursora do uso do termo “capital social”, Jacobs é atual não apenas do ponto de vista da ciência econômica, mas também da climática – lutava contra o carro bem antes de os seus malefícios serem percebidos. O Brasil de 2022 ainda precisa muito de suas ideias.

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