Ora, meu Deus do céu, longe de mim querer tirar direito de trabalhador. Mas não é possível que as coisas feitas em 1943 não precisem de mudanças. O mundo do trabalho mudou.
Tem companheiro que fala que não pode ter um contrato especial porque vai precarizar o jovem e torná-lo um trabalhador diferente. Tudo bem, mas trabalhador diferente ele já é sem trabalhar.
As pessoas achincalham muito a política, mas a posição mais honesta é a do político, sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Se forma na universidade, faz um concurso e tá com um emprego garantido para o resto da vida.
A Previdência de vez em quando precisa ser reformada. Quando a Lei Eloy Chaves foi feita em 1923, a gente morria com 60 anos de idade. No sentido que avança cientificamente a nova sobrevivência, a nossa longevidade, você não pode ficar com a mesma lei que você tinha anos atrás. É preciso que você avance.
A Previdência tem um limite, uma arrecadação. A gente não pode pagar o que não tem. Eu não posso fugir do limite do bom senso. Para o bem deles: porque se a Previdência quebrar será mal para todos os brasileiros.*
De qual candidato são as falas de viés reformista? O leitor acertou, de Lula. São manifestações que caíram em esquecimento, dos anos em que ele e Dilma governaram, que contrastam com discursos mais recentes contra reformas – depois que passou à oposição.
Sem que o último debate tenha trazido novidades sobre seus planos para a economia, é interessante trazer episódios que mostram Lula menos caricato.
Em seu primeiro governo, prometera uma ampla reforma trabalhista, inclusive mexendo em direitos constitucionais, assegurando que apenas as férias eram intocáveis. Na prática, fez uma reforma “invisível”, com a criação do microempreendedor individual (MEI) – veículo que permitiu a baixo custo, ainda que com direitos incipientes, a formalização de milhões de pessoas (muito mais do que a reforma de 2017).
Outros episódios que não costumam ser lembrados incluem o veto ao FGTS para empregadas domésticas (para “não onerar de forma demasiada o vínculo de trabalho, contribuindo para a informalidade e o desemprego”) e o apoio a projetos no Congresso que instituíam teto para gastos com o funcionalismo (PLS 611) ou a contratação sem estabilidade (PLP 92) – que não foram aprovados.
O leitor pode torcer a favor ou contra um Lula mais pragmático, mas seu histórico esquecido merece fazer parte do debate.