GENEBRA - O Brasil subiu duas posições e terminou 2014 como o quinto maior destino de investimentos estrangeiros diretos no mundo, superando todos os países europeus. Os dados são da ONU e apontam que, pela primeira vez, a China superou os EUA e se transformou o maior receptor de investimentos do mundo.
Porém, a entidade alerta que 2015 pode marcar uma queda importante de investimentos nos emergentes, principalmente aqueles que dependem de commodities e onde o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) sofreu um forte freio, como no Brasil.
De fato, os dados apontam que o volume total de investimentos enviados ao Brasil caiu de US$ 64 bilhões em 2013 para US$ 62 bilhões em 2014. A redução de 4%, porém, foi mais suave que a média mundial, que teve redução de 8%. Entre 2012 e 2013, o Brasil também já tinha perdido outros 4%. A tendência de queda pode continuar em 2015.
No ano passado, empresas investiram US$ 1,26 trilhão, um valor distante do pico de 2007, quando os investimentos diretos chegaram a US$ 1,9 trilhão. O ano de 2014 só não foi pior que 2009, quando os investimentos chegaram a US$ 1,1 trilhão.
"Esse foi o segundo pior ano da crise", declarou James Zhan, diretor de Investimentos da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Para ele, um "aumento sólido de investimentos continua sendo um cenário distante". Com baixo crescimento do PIB mundial, volatilidade nas moedas e a queda dos preços de commodities, as perspectivas para 2015 são também das mais "incertas".
Para Zhan, o Brasil "sofreu menos que os demais" e por isso subiu no ranking, superando Reino Unido, França e Alemanha. Na avaliação da ONU, o que pesou negativamente foi a queda dos investimentos no setor de commodities, afetado pelo preço dos bens primários em queda. Zhan alerta que a menor expansão desse setor deve continuar em 2015, principalmente entre os emergentes.
No setor industrial, porém, uma alta do fluxo foi registrada no Brasil. Segundo a ONU, as aquisições no país aumentaram em 45%, para um total de US$ 14 bilhões.
Zhan acredita que as condicionalidades impostas pelo governo às multinacionais e os incentivos fiscais oferecidos em áreas como automotivo, farmacêutico e informática estão dando resultados positivos na atração de investimentos estrangeiros ao País. "O que permitiu o Brasil ocupar essa posição foi sua política industrial, que parece dar resultados", indicou.
Na Organização Mundial do Comércio, porém, a Europa questiona os incentivos dados pelo governo brasileiro e abriu uma disputa comercial. Se condenado, o Brasil terá de modificar seus programas.
Mas a queda do fluxo também foi uma realidade que atingiu a América Latina e fez os investimentos na região desabarem em 19% em 2014.
Na região, o volume de investimentos foi de US$ 153 bilhões, a primeira queda depois de quatro anos de um incremento nos fluxos. Aquisições caíram em 26% e, diante da queda nos preços de minérios, petróleo e bens agrícolas, o interesse por novos investimentos também foi reduzido. A Venezuela registrou uma queda de mais de 10% nos investimentos, contra uma redução de 60% na Argentina. Os investimentos na Colômbia e Peru também caíram.
China. Mas o que chama a atenção dos especialistas é que o fluxo de dinheiro para a Ásia e, em especial, para a China, continua a aumentar. Apenas os países emergentes do continente asiático receberam quase US$ 500 bilhões, o equivalente a tudo o que as economias ricas atraíram. Os asiáticos ainda receberam o dobro do valor investido na Europa.
Segundo a ONU, a China é o grande destaque de 2014. Pequim recebeu 10% de todos os investimentos no mundo, cerca de US$ 128 bilhões, seguido por Hong Kong, com US$ 111 bilhões. Os americanos aparecem hoje apenas na terceira posição, com US$ 86 bilhões, seguidos por Cingapura com US$ 81 bilhões.
"Pela primeira vez, a economia chinesa recebeu mais investimentos que a americana", explicou Zhan. "Os americanos sempre estivera na liderança nos últimos 30 anos". Nos países ricos, a queda foi profunda, de 14% e, nos EUA, os investimentos foram de apenas um terço dos níveis de 2013.
Pela primeira vez, os emergentes representaram uma proporção maior dos investimentos que as economias ricas, com US$ 700 bilhões e uma alta de 4% em relação a 2013. Ao final de 2014, esse grupo representava 56% do destino dos investimentos no mundo. Dos cinco maiores receptores de investimentos hoje, quatro são emergentes.
Projeção. Para 2015, porém, as projeções não apontam para uma melhoria significativa. "A tendência é de incerteza", apontou a ONU. "A fragilidade da economia mundial, com o crescimento afetado por uma demanda hesitante, volatilidade no mercado de câmbio e instabilidades geopolíticas vão agir como freios a investidores", indicou.
Nos emergentes, "a queda nos presos de commodities vão reduzir investimentos em petróleo, gás e outras commodities".