O lucro do BNDESPar - que administra as participações em empresas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - caiu 93,1% no ano passado. A queda se deveu aos problemas enfrentados pelas companhias que receberam investimentos do banco e à desvalorização de suas ações na Bolsa.Em 2012, o BNDESPar lucrou R$ 298 milhões. Em 2011, o resultado chegou a R$ 4,308 bilhões. Essa queda foi determinante para o resultado geral do BNDES. O lucro do BNDES caiu 9,55%. O resultado de 2012 ficou em R$ 8,183 bilhões em 2012, em comparação aos R$ 9 bilhões de 2011.A carteira de ações do BNDES, que inclui 142 empresas, caiu de R$ 89,694 bilhões, em 2011, para R$ 78,215 bilhões, no ano passado. Além disso, foi preciso registrar baixas contábeis com a fabricante de lácteos LBR e com ações do setor elétrico (destaque para a Eletrobrás), afetadas pela ação do governo para reduzir o custo da eletricidade. O lucro foi menor também porque as principais fontes de dividendos - parte do lucro que as empresas negociadas em Bolsa repassam para os acionistas - tiveram um ano marcado por dificuldades. O principal tripé dos dividendos repassados ao banco é formado pelas gigantes Vale, Petrobrás e Eletrobrás.O superintendente da Área Financeira do BNDES, Selmo Aronovich, aposta na recuperação. "Quando o mundo passa por dificuldades, é inevitável que o ciclo de negócios das empresas seja afetado, e isso afeta nosso fluxo de rendimentos. Mas contamos com esses ativos. A perspectiva para o futuro é bem favorável."A BNDESPar registrou baixa contábil de R$ 3,325 bilhões, numa provisão para perda de valor de ativos cuja recuperação a empresa admite ser difícil. O BNDES confirmou que R$ 865 milhões dessa provisão deve-se ao investimento na LBR-Lácteos, que entrou com pedido de recuperação judicial neste mês.O banco se tornou sócio da companhia, com 30,28%, quando ela foi criada, com a fusão entre Bom Gosto, do empresário Wilson Zanatta, e Leitbom, com um faturamento de R$ 3 bilhões. A BNDESPar aportou R$ 700 milhões numa empresa escolhida para ser uma "campeã nacional", líder do mercado de leite. Especula-se no mercado que uma parte importante do restante da provisão para perdas deve-se à Eletrobrás, cujo valor na bolsa encolheu em R$ 8,3 bilhões, 46% apenas no quarto trimestre de 2012.O recuo no lucro seria ainda maior não fosse a Resolução 4.175, editada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 27 de dezembro. Com ela, o BNDES não precisa fazer a baixa contábil em ações transferidas pela União. Segundo Aronovich, ações de Petrobrás, Eletrobrás e da ex-estatal Vale são a grande parte dos ativos nesse caso - e respondem por 3% a 4% da carteira de ações.Lucro em queda. Para Maurício Canêdo, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, a queda no lucro chama a atenção para os investimentos em ações do banco. Mas o fundamental é questionar se as operações beneficiam a economia como um todo. "Ainda que a Petrobrás estivesse bombando de dar dinheiro, por que investir na empresa?", questionou Canêdo. Para o economista, somente operações que não se viabilizariam de outra forma, cujo retorno social é maior do que o privado, deveriam receber apoio do BNDES. Vale e Petrobrás podem financiar-se no mercado, destacou.O mau desempenho da empresa de participações foi compensado pelo resultado das operações de crédito e repasse, de R$ 9,5 bilhões, alta de 26% em relação a 2011. A carteira de crédito expandiu-se 15,5%, turbinada pelo número recorde de 990 mil operações no ano passado.Apesar da redução no lucro, Aronovich destacou que a situação financeira do banco é sólida, com inadimplência (0,06%) em níveis historicamente baixos: "Estamos com Índice de Basileia superior a 15%." O índice mede a relação no capital de um banco com o total de recursos que ele empresta. Quanto maior, mais sólida a instituição. Embora os 15,4% de 2012 estejam acima dos 11% exigidos pelo Banco Central, o índice encerrou 2011 em 20,6%. Mesmo enfatizando a solidez, ele revelou que o BNDES discute um plano para reforçar o capital no longo prazo.