BRASÍLIA – A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, mesmo após a apresentação do projeto de arcabouço fiscal, fez com que integrantes do governo e a cúpula do PT defendessem a saída do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que o mandato de Campos Neto, conferido pela lei de autonomia do Banco Central, pode terminar antes da hora. “Quem tem mandato pode perder. O Senado tem que assumir a responsabilidade e pode muito bem convocá-lo”, disse Marinho. “Não é possível que o presidente do Banco Central não tenha nenhum órgão de controle ao qual obedeça. O Copom é um ser invisível? Não tem de dar satisfação para ninguém?
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Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Campos Neto tem mandato até dezembro de 2024. “Não sei para qual senhor ele está rezando”, insistiu o ministro do Trabalho. No mês passado, Marinho disse ao Estadão que, se Campos Neto não anunciasse a redução dos juros nessa reunião do Copom, seria preciso “chamar um psiquiatra”.
No ato de 1.º de Maio, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez novas críticas à alta taxa de juros. “Não podemos viver em um País onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego, porque ela é responsável por uma parte da situação que vivemos hoje”, argumentou Lula.
Na prática, uma eventual exoneração do presidente do BC precisa ser aprovada por maioria absoluta do Senado. Não se trata de um processo simples, mesmo porque, antes disso, a saída teria de passar pelo crivo do Conselho Monetário Nacional (CMN), que é formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e pelo próprio Campos Neto.
“Quanto já custou ao país o negacionismo econômico de Campos Neto? Quantos empregos, empresas falidas, famílias destruídas?”, perguntou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. “A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até quando ficarão impunes?”