Resultado do PIB mostra a urgência da ‘neoindustrialização’; leia análise


Entre 2005 e 2021, a indústria brasileira de transformação recuou da 9ª para a 15ª posição no ranking global do setor

Por Rolf Kuntz

Setor mais fraco da economia brasileira, a indústria continuou derrapando no primeiro trimestre e confirmando a importância do plano de “neoindustrialização” anunciado pelo governo e inscrito no topo da agenda do vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A produção industrial nos primeiros três meses foi 0,1% menor que no período de outubro a dezembro e 1,9% maior que um ano antes. Comparações com as mesmas bases apontaram taxas de expansão de 1,9% e 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), sustentadas pela agropecuária e pelos serviços. Em um ano a indústria produziu 2,4% mais que nos 12 meses anteriores, enquanto o campo e o setor de serviços apresentaram avanços de 6% e 3,9%.

Com a desindustrialização, facilmente identificável há pelo menos uma década, o Brasil tem revertido a trajetória mantida com razoável firmeza nos seis decênios posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial. Talvez os mais otimistas entendam a mudança como um ingresso na era pós-industrial, um processo observável nos países mais avançados. Não há, no entanto, no caso brasileiro, a passagem para uma fase mais avançada. Neste século alguns segmentos da indústria se modernizaram e se tornaram mais competitivos, mas a maior parte da atividade fabril se enfraqueceu e perdeu peso no quadro internacional.

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Com políticas eficientes para a indústria, poderá haver um quadro mais equilibrado em relação ao desempenho do agronegócio Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre 2005 e 2021, a indústria brasileira de transformação recuou da 9ª para a 15ª posição no ranking global do setor, segundo estatísticas das Nações Unidas. O descompasso acentuou-se de forma continuada na última década.

As organizações setoriais vêm cobrando, há anos, mudanças na tributação, nas condições de financiamento e nas políticas de formação de mão de obra e de modernização tecnológica. O problema do financiamento agravou-se a partir de 2022, com a grande elevação dos juros básicos, agora situados em 13,75%.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado o Banco Central (BC) para reduzir os juros, mas a política monetária, com a definição das condições de financiamento, depende em boa parte das perspectivas das contas públicas. O governo demorou para indicar como pretende conduzir suas finanças, dificultando a adoção de uma política mais branda pelo BC. Talvez se possa iniciar essa política no fim deste semestre ou no começo do próximo. Mas uma política de revitalização e de modernização da indústria requer um conjunto maior de ações.

Se o governo conseguir implantar essa política, o setor industrial poderá retomar papéis mantidos por várias décadas - de motor do crescimento econômico, da modernização tecnológica e da geração de empregos de alta qualidade. Essa política deverá propiciar, entre outras mudanças, uma participação maior do setor manufatureiro nas exportações, com menor concentração de vendas no mercado sul-americano e menor dependência do agronegócio como gerador de dólares. O agro deverá continuar dinâmico e competitivo, mas num quadro de maior equilíbrio - se o presidente Lula vencer seus preconceitos contra o setor rural.

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*Jornalista

Setor mais fraco da economia brasileira, a indústria continuou derrapando no primeiro trimestre e confirmando a importância do plano de “neoindustrialização” anunciado pelo governo e inscrito no topo da agenda do vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A produção industrial nos primeiros três meses foi 0,1% menor que no período de outubro a dezembro e 1,9% maior que um ano antes. Comparações com as mesmas bases apontaram taxas de expansão de 1,9% e 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), sustentadas pela agropecuária e pelos serviços. Em um ano a indústria produziu 2,4% mais que nos 12 meses anteriores, enquanto o campo e o setor de serviços apresentaram avanços de 6% e 3,9%.

Com a desindustrialização, facilmente identificável há pelo menos uma década, o Brasil tem revertido a trajetória mantida com razoável firmeza nos seis decênios posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial. Talvez os mais otimistas entendam a mudança como um ingresso na era pós-industrial, um processo observável nos países mais avançados. Não há, no entanto, no caso brasileiro, a passagem para uma fase mais avançada. Neste século alguns segmentos da indústria se modernizaram e se tornaram mais competitivos, mas a maior parte da atividade fabril se enfraqueceu e perdeu peso no quadro internacional.

Com políticas eficientes para a indústria, poderá haver um quadro mais equilibrado em relação ao desempenho do agronegócio Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre 2005 e 2021, a indústria brasileira de transformação recuou da 9ª para a 15ª posição no ranking global do setor, segundo estatísticas das Nações Unidas. O descompasso acentuou-se de forma continuada na última década.

As organizações setoriais vêm cobrando, há anos, mudanças na tributação, nas condições de financiamento e nas políticas de formação de mão de obra e de modernização tecnológica. O problema do financiamento agravou-se a partir de 2022, com a grande elevação dos juros básicos, agora situados em 13,75%.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado o Banco Central (BC) para reduzir os juros, mas a política monetária, com a definição das condições de financiamento, depende em boa parte das perspectivas das contas públicas. O governo demorou para indicar como pretende conduzir suas finanças, dificultando a adoção de uma política mais branda pelo BC. Talvez se possa iniciar essa política no fim deste semestre ou no começo do próximo. Mas uma política de revitalização e de modernização da indústria requer um conjunto maior de ações.

Se o governo conseguir implantar essa política, o setor industrial poderá retomar papéis mantidos por várias décadas - de motor do crescimento econômico, da modernização tecnológica e da geração de empregos de alta qualidade. Essa política deverá propiciar, entre outras mudanças, uma participação maior do setor manufatureiro nas exportações, com menor concentração de vendas no mercado sul-americano e menor dependência do agronegócio como gerador de dólares. O agro deverá continuar dinâmico e competitivo, mas num quadro de maior equilíbrio - se o presidente Lula vencer seus preconceitos contra o setor rural.

*Jornalista

Setor mais fraco da economia brasileira, a indústria continuou derrapando no primeiro trimestre e confirmando a importância do plano de “neoindustrialização” anunciado pelo governo e inscrito no topo da agenda do vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A produção industrial nos primeiros três meses foi 0,1% menor que no período de outubro a dezembro e 1,9% maior que um ano antes. Comparações com as mesmas bases apontaram taxas de expansão de 1,9% e 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), sustentadas pela agropecuária e pelos serviços. Em um ano a indústria produziu 2,4% mais que nos 12 meses anteriores, enquanto o campo e o setor de serviços apresentaram avanços de 6% e 3,9%.

Com a desindustrialização, facilmente identificável há pelo menos uma década, o Brasil tem revertido a trajetória mantida com razoável firmeza nos seis decênios posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial. Talvez os mais otimistas entendam a mudança como um ingresso na era pós-industrial, um processo observável nos países mais avançados. Não há, no entanto, no caso brasileiro, a passagem para uma fase mais avançada. Neste século alguns segmentos da indústria se modernizaram e se tornaram mais competitivos, mas a maior parte da atividade fabril se enfraqueceu e perdeu peso no quadro internacional.

Com políticas eficientes para a indústria, poderá haver um quadro mais equilibrado em relação ao desempenho do agronegócio Foto: Wilton Junior/Estadão

Entre 2005 e 2021, a indústria brasileira de transformação recuou da 9ª para a 15ª posição no ranking global do setor, segundo estatísticas das Nações Unidas. O descompasso acentuou-se de forma continuada na última década.

As organizações setoriais vêm cobrando, há anos, mudanças na tributação, nas condições de financiamento e nas políticas de formação de mão de obra e de modernização tecnológica. O problema do financiamento agravou-se a partir de 2022, com a grande elevação dos juros básicos, agora situados em 13,75%.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem pressionado o Banco Central (BC) para reduzir os juros, mas a política monetária, com a definição das condições de financiamento, depende em boa parte das perspectivas das contas públicas. O governo demorou para indicar como pretende conduzir suas finanças, dificultando a adoção de uma política mais branda pelo BC. Talvez se possa iniciar essa política no fim deste semestre ou no começo do próximo. Mas uma política de revitalização e de modernização da indústria requer um conjunto maior de ações.

Se o governo conseguir implantar essa política, o setor industrial poderá retomar papéis mantidos por várias décadas - de motor do crescimento econômico, da modernização tecnológica e da geração de empregos de alta qualidade. Essa política deverá propiciar, entre outras mudanças, uma participação maior do setor manufatureiro nas exportações, com menor concentração de vendas no mercado sul-americano e menor dependência do agronegócio como gerador de dólares. O agro deverá continuar dinâmico e competitivo, mas num quadro de maior equilíbrio - se o presidente Lula vencer seus preconceitos contra o setor rural.

*Jornalista

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