Pela segunda vez no ano, o resultado da economia surpreende os economistas. No primeiro trimestre, o mercado projetava um aumento de 1,2% no PIB, mas o resultado foi de 1,8%. Para o segundo trimestre, a expectativa era de 0,3%, mas o resultado final foi 0,9%. É bom quando a surpresa é positiva: ajuda nas expectativas, torna o ambiente mais amigável para os investidores aqui dentro e mais atrativo para os investidores de fora.
Olhando para os números do segundo trimestre, chama a atenção o crescimento de 1,8% na indústria extrativa (petróleo e minério são uma parte muito importante da nossa economia) e de 0,7% na construção, um segmento com muita difusão dentro a atividade econômica. Puxada por essas áreas, a indústria, no geral, cresceu 0,9%.
Os serviços também tiveram um bom desempenho, com alta de 0,6%. Aí, muito da explicação está no aumento da renda, principalmente dos mais pobres, com o aumento do salário mínimo e dos programas de transferência de renda. Isso se reflete uma outra rubrica do PIB, o consumo das famílias, que subiu 0,9%.
Como esperado, o agronegócio, já sem o efeito da supersafra que provocou um crescimento de surpreendentes 21,6% no primeiro trimestre, perdeu o fôlego: recuou 0,9% agora. Mas essa queda foi menor que a esperada pelos analistas.
Mas nem tudo, claro, são notícias positivas. A taxa de investimentos na economia (que, no PIB responde pelo nome pomposo de Formação Bruta de Capital Fixo, ou FBCF) ficou em 17,2%, praticamente estagnada em relação ao trimestre anterior. Porém, no segundo trimestre de 2022, estava em 18,3%.
A taxa de poupança também recuou de forma significativa: de 18,3% do PIB no ano passado para 16,9% agora.
Esses números são importantes porque apontam para o futuro. São eles que indicam a capacidade da economia de crescer de forma sustentável, com vigor. Há bastante tempo esses números já são muito baixos no Brasil, quando comparados, por exemplo, a outros países emergentes. E agora, pra piorar, estão caindo.
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O crescimento do PIB pode ser, muitas vezes, explicado por fatores conjunturais: uma supersafra, explosão nos preços das commodities, incentivos governamentais provisórios que melhoram o consumo. Mas um crescimento de longo prazo só é alcançado quando há melhoras estruturais na economia.
Um dos pontos importantes nesse sentido para o Brasil é a reforma tributária em tramitação no Congresso, que simplifica a estrutura de impostos no Brasil, ajudando bastante a vida das empresas, principalmente. Mas é preciso mais: uma reforma administrativa, que torne o Estado mais eficiente e menos “pesado” para o bolso dos brasileiros seria também fundamental, mas essa é uma discussão que tem tido pouco avanço.
São as mudanças estruturais, de longo prazo, que o Brasil precisa perseguir, ou corremos o risco de estamos eternamente condenados aos voos de galinha.
*Editor de Economia