Com emprego em alta, consumo em expansão, investimento crescente e contas externas em bom estado, sobram a inflação resistente e a insegurança das contas públicas como desafios imediatos para o governo brasileiro — mais precisamente, para os ministros econômicos, forçados a cuidar também dos arroubos gastadores do presidente da República.
Os novos dados do crescimento econômico — 0,9% no terceiro trimestre e 3,1% em 12 meses — foram divulgados um dia depois do último balanço oficial do mercado de trabalho. O desemprego de 6,2% no trimestre encerrado em outubro foi o menor da série iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população ocupada, 103,6 milhões de pessoas, também foi um recorde.
Se o balanço final confirmar atividade vigorosa também no período de outubro a dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva completará metade de seu mandato num quadro de prosperidade.
A produção industrial cresceu 3,4% nos quatro trimestres encerrados em outubro deste ano. A mesma expansão foi contabilizada no setor de serviços. O único desempenho negativo (-2,9%) foi estimado para a agropecuária. O consumo das famílias aumentou 4,5%, refletindo principalmente a melhora do emprego, enquanto o do governo aumentou 2,9%.
O valor investido em máquinas, equipamentos e construções — a chamada formação bruta de capital fixo — aumentou 3,7% e correspondeu a 17,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Continuou abaixo dos níveis atingidos em vários anos, iguais ou superiores a 18% do PIB, mas a recuperação pode ser considerada um sinal promissor. O investimento em meios de produção, incluída a infraestrutura, é essencial para um crescimento econômico duradouro e sem risco de grandes pressões inflacionárias.
A destinação de capitais ao investimento produtivo depende da expectativa dos empresários em relação ao crescimento econômico e também — fator especialmente importante — de sua confiança nas condições políticas. A confiança é fundamental tanto para os investidores locais quanto para os estrangeiros.
A decisão de investir também depende dos juros, isto é, do custo do capital destinado à operação. No Brasil, os juros são muito altos, por causa da inflação, e o Banco Central (BC) ainda poderá elevar a taxa básica, se persistir o risco de fortes pressões inflacionárias.
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Pelas últimas avaliações do mercado, a inflação deve fechar este ano em torno de 4,7% e permanecer superior a 4% no próximo ano, bem longe do centro da meta (3%). O governo continua sendo visto como o mais perigoso fator inflacionário.
Não basta o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fixar metas e desenhar planos de estabilização dos preços, se as condições de controle das finanças federais continuarem desfavoráveis. Os obstáculos são principalmente políticos e a sua superação depende, em primeiro lugar, de uma disposição real e muito firme do presidente da República. Declarações eventuais de apoio a políticas de ajuste são insuficientes e tanto os políticos quanto os empresários sabem disso.