BRASÍLIA – A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ampla vantagem sobre o governo e consegue alcançar mais pessoas ao falar sobre a medida da Receita Federal que envolve o Pix, aponta relatório feito pela Bites, empresa de análise de dados.
Nos últimos sete dias, aponta a Bites, apenas as publicações de integrantes da bancada do PL na Câmara dos Deputados somaram 4,6 milhões de interações (estatística que reúne compartilhamentos, curtidas e comentários), ante 218,6 mil dos parlamentares petistas – um número cerca de 20 vezes maior.
Parte principal desse sucesso na comunicação se deu com um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que foi visualizado mais de 170 milhões de vezes em apenas um dia. Das 4,6 milhões de interações geradas pela oposição, ele foi responsável por 3,5 milhões – o que equivale a 76% do total.
Nesse vídeo, Nikolas faz especulações sobre a possibilidade de taxação, lembrando de promessas não cumpridas pelo governo no passado. "Não, o Pix não será taxado. Mas é bom lembrar que a comprinha da China não seria taxada, foi. Não teria sigilo, mas teve. Você ia ser isento do Imposto de Renda, não será mais”, disse. “Qual o objetivo real dessas medidas? Arrecadar mais impostos, tirar dinheiro do seu bolso.”
Como mostrou o Estadão, outros vídeos de oposicionistas insinuam que o Pix poderá ser taxado a partir dessa mudança, ainda que a Receita Federal, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e até o presidente Lula negarem a possibilidade.
“Qual o objetivo? Será que taxar esse brasileiro, que já paga imposto demais em nosso País? Ou será que tem um objetivo oculto que nós não sabemos?”, questionou o deputado Coronel Assis (União-MT) em vídeo publicado nas redes sociais por deputados da oposição na Câmara.
A nova instrução da Receita, em vigor no dia 1º de janeiro, obriga instituições financeiras a informar movimentações, incluindo via Pix, acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e de R$ 15 mil para pessoas jurídicas. A atualização do monitoramento financeiro, porém, não implica mudança para os usuários, como reforçou a Febraban nesta terça-feira, 14.
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As buscas por Pix no Google chegaram a um pico que não havia sido registrado desde o seu lançamento, em 2020. Relatório da Bites mostra que o maior volume de consultas em Estados mais pobres do País, como Amapá, Amazonas e Maranhão.
Como mostrou o Estadão, o governo já tenta uma contraofensiva desde o final da semana passada, quando começaram a circular em redes sociais a falsa notícia de que o Pix seria taxado.
Diante do insucesso, Lula encomendou com “muita ênfase” um “combate duro” às fake news, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo Haddad, a Advocacia-Geral da União (AGU) já está envolvida nos debates para tomar providências cabíveis, inclusive criminais, se necessário, contra quem está propagando notícias falsas e até mesmo aplicando golpes com base em informações incorretas.
Para Manoel Fernandes, diretor-executivo da Bites, o governo precisará de bastante tempo para resolver o problema. “Não é algo que vai se resolver em duas semanas. Porque a máquina da oposição é mais estruturada”, diz.
‘Falha na comunicação oficial’
Tudo isso ocorreu enquanto a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Lula passa por uma transição. Sidônio Palmeira substituiu Paulo Pimenta oficialmente já nesta terça-feira, 14, enquanto o interesse dos brasileiros sobre a mudança do Pix crescia.
Como mostrou o Estadão, um levantamento interno da Secom indica que notícias falsas sobre esse tema alcançaram ao menos 22,5 milhões de pessoas entre 9 e 13 de janeiro — o número pode ser maior, já que o monitoramento não inclui o YouTube.
O volume é comparado ao da desinformação disseminada a respeito de uma suposta omissão federal na ajuda aos afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul, no ano passado.
O relatório da Secom também destaca a repercussão de críticas vindas de apoiadores do governo, para quem houve “falhas na comunicação oficial e a demora em combater a desinformação”.
Para Fernandes, da Bites, a crise expôs a falta de organização da máquina de comunicação do governo. “O governo tem um problema sério para resolver que é como montar uma máquina organizada e efetiva num curto espaço de tempo. Isso tinha de ter começado lá atrás, na campanha, mas sempre foi relegado”, afirma. “Agora, o novo ministro, por mais competente que seja, vai ter que escolher as batalhas, porque não vai vencer todas.”
Houve também uma falta de proatividade na comunicação, na análise de Fernandes. “Você tem que atuar no nascedouro da crise. Governo tem histórias boas para contar, como todo governo tem, mas você tem que ter uma estratégia organizada para isso: ‘Ah, vou fazer uma mudança do Pix’ e não vai achar que a oposição vai reagir, é no mínimo ingenuidade”, diz.