‘Será uma plataforma ligada ao mercado’, diz criador do Prêmio Sharp de Música


Batalhador pela música do País relança disputa criada em 1987 e aposta em ‘legado’ da nova geração

Por Sonia Racy
Atualização:
Entrevista comJosé Maurício MachlineCriador do Prêmio da Música Brasileira

Foi em 1987 que o empresário José Maurício Machline, apaixonado por música, diretor executivo da Sharp, criou o Prêmio Sharp de Música. Ao longo dessas mais de três décadas, a ideia cresceu, mudou de nome e de patrocinadores e se tornou o respeitado Prêmio da Música Brasileira. Neste início de 2023, superada a fase pior da pandemia, a premiação volta à vida – mas “Zé Maurício”, como os amigos o conhecem, quer ampliar o projeto. “Não será só uma premiação”, explica ele nesta conversa com Cenários. “Será uma plataforma de música que estará sendo levada ao mercado.” Em maio deste ano, o prêmio volta com nova roupagem, em parceria com Heloísa Guarita, criadora da consultoria NutriRG, focanda em negócios em torno da premiação, de modo que ela repercuta durante o ano inteiro.

Já apareceram interessados, avisa o idealizador do prêmio. Tanto em aporte de capital como em patrocínio. Lei Rouanet? “Foi banalizada de maneira satânica”, acusa, referindo-se ao governo anterior. “É difícil dizer”, adverte, “que a cultura esteja sendo bem atendida.” Zé Maurício espera “que os novos ventos a ponham num patamar de dignidade”. A seguir, principais trechos da entrevista.

Você foi diretor executivo da Sharp, com uma carreira empresarial pela frente. O que o fez mudar-se para o ramo da música?

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Na Sharp fui diretor, vice-presidente e presidente – e me dei conta de que havia outras ofertas no mercado. Resolvi sair, vendi minha parte e me voltei para a música, atividade que eu já exercia na empresa. Fazíamos o Prêmio Sharp de Música e percebi que aquilo não era uma coisa da Sharp, mas sim da cultura brasileira. E nesses 30 anos vivi ligado à musica, em programas de TV, discos, shows.

O mundo da música é mais leve, lúdico, e o empresarial, mais pesado. Como foi essa sua passagem?

Qualquer coisa a que você se dedique, seja música, matemática, biologia, cultura, você tem de ser apaixonado por ela. Se conseguir conciliar seu gosto com o seu interesse, há muitas possibilidades. Música e cultura são, de fato, lúdicas, mas são atividades comerciais como qualquer outra. Juntar o trabalho e a paixão é o ideal em qualquer mundo.

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Você vai retomar o prêmio? Como vê, nisso tudo, o papel da Lei Rouanet?

A pandemia nos pegou, os produtores culturais, de maneira pesada. A cultura tentou se adaptar aos meios da internet, muita gente conseguiu fazer alguma coisa. Agora, com essa retomada, estamos pensando num prêmio bem diferente. Uma nova sócia aderiu às nossas ideias, a Heloísa Guarita, da consultoria RGNutri. Ela trouxe uma ideia diferente sobre o prêmio, uma coisa maior. Não é só uma premiação, é uma plataforma de música que está sendo levada ao mercado – já temos interessados para aporte de capital e patrocínio. Quanto à Lei Rouanet, ela foi banalizada e desconstruída de uma maneira satânica e irreal. Entendo que ela poderia sofrer adaptações normais de mercado. Mas neste momento atual, de mutação, podem vir novas leis que façam o fomento, de fato, do mercado cultural brasileiro.

A viúva de Luiz Melodia, Jane Reis, com José Maurício Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira, que irá homenagear Melodia este ano.  Foto: Fabio Motta/Estadão
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Você vê alguma possibilidade de a música brasileira ter mais espaço lá fora do que tem hoje?

Talvez. A gente é forte no que diz respeito às commodities – agricultura, pecuária. Há um bom tempo falei com o Persio Arida, disse que o que abriu as portas ao comércio brasileiro como um todo foi a manifestação cultural. Nossa musicalidade é forte. Estou falando de Carmem Miranda, Dorival Caymmi. Temos uma capacidade de abrir um mercado para o Brasil em imensas áreas.

A música brasileira tem evoluído mas nós continuamos apaixonados por Chico Buarque, Caetano, Gal Costa, que nos deixou há pouco, Bethânia. O que diz da evolução dos nossos artistas?

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Há pouco tempo, numa vertente do Grammy, uma premiação voltada ao Brasil, se você visse o número de artistas brasileiros ali presentes, jovens, sendo reconhecidos por uma multidão. Luísa Sonza, Liniker, Bala Desejo – nomes que não fazem parte da nossa mídia. Estou falando com certeza: esses nomes vão deixar um legado cultural musical e poético para toda uma geração futura. Acho que nossa música está num momento absolutamente rico, em todas as suas áreas.

Como é montado o prêmio que vocês promovem?

O Prêmio da Música Brasileira tem um conselho diretor que cuida das regras anuais e vê como a música deve ser avaliada. São 11 membros, entre eles nomes como Gil, Ney Matogrosso, João Bosco, Emicida. Decidem as regras e indicam os jurados. Temos uma força de trabalho, pesquisadores espalhados pelo País. Hoje a forma de lançamento se popularizou muito – e temos de ir atrás dessas sonoridades. Este ano estamos com um recorde dos recordes, mais de 6 mil artistas para os jurados ouvirem.

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Você fala de coisas atraentes, como música, mas vivemos em tempos conturbados. Que mensagem você deixaria aos leitores?

Diria que o mundo está hoje passando por uma fase esquisita, no que diz respeito à solidariedade e ao olhar de uma pessoa para outra. E, para romper essa esquisitice, a saída que vejo é superar a dificuldade valorizando o ser humano. Entender que cada um tem a sua dificuldade, sua tendência. Saber que ser diferente não significa ser melhor nem pior, mas apenas isso, ser diferente.

Foi em 1987 que o empresário José Maurício Machline, apaixonado por música, diretor executivo da Sharp, criou o Prêmio Sharp de Música. Ao longo dessas mais de três décadas, a ideia cresceu, mudou de nome e de patrocinadores e se tornou o respeitado Prêmio da Música Brasileira. Neste início de 2023, superada a fase pior da pandemia, a premiação volta à vida – mas “Zé Maurício”, como os amigos o conhecem, quer ampliar o projeto. “Não será só uma premiação”, explica ele nesta conversa com Cenários. “Será uma plataforma de música que estará sendo levada ao mercado.” Em maio deste ano, o prêmio volta com nova roupagem, em parceria com Heloísa Guarita, criadora da consultoria NutriRG, focanda em negócios em torno da premiação, de modo que ela repercuta durante o ano inteiro.

Já apareceram interessados, avisa o idealizador do prêmio. Tanto em aporte de capital como em patrocínio. Lei Rouanet? “Foi banalizada de maneira satânica”, acusa, referindo-se ao governo anterior. “É difícil dizer”, adverte, “que a cultura esteja sendo bem atendida.” Zé Maurício espera “que os novos ventos a ponham num patamar de dignidade”. A seguir, principais trechos da entrevista.

Você foi diretor executivo da Sharp, com uma carreira empresarial pela frente. O que o fez mudar-se para o ramo da música?

Na Sharp fui diretor, vice-presidente e presidente – e me dei conta de que havia outras ofertas no mercado. Resolvi sair, vendi minha parte e me voltei para a música, atividade que eu já exercia na empresa. Fazíamos o Prêmio Sharp de Música e percebi que aquilo não era uma coisa da Sharp, mas sim da cultura brasileira. E nesses 30 anos vivi ligado à musica, em programas de TV, discos, shows.

O mundo da música é mais leve, lúdico, e o empresarial, mais pesado. Como foi essa sua passagem?

Qualquer coisa a que você se dedique, seja música, matemática, biologia, cultura, você tem de ser apaixonado por ela. Se conseguir conciliar seu gosto com o seu interesse, há muitas possibilidades. Música e cultura são, de fato, lúdicas, mas são atividades comerciais como qualquer outra. Juntar o trabalho e a paixão é o ideal em qualquer mundo.

Você vai retomar o prêmio? Como vê, nisso tudo, o papel da Lei Rouanet?

A pandemia nos pegou, os produtores culturais, de maneira pesada. A cultura tentou se adaptar aos meios da internet, muita gente conseguiu fazer alguma coisa. Agora, com essa retomada, estamos pensando num prêmio bem diferente. Uma nova sócia aderiu às nossas ideias, a Heloísa Guarita, da consultoria RGNutri. Ela trouxe uma ideia diferente sobre o prêmio, uma coisa maior. Não é só uma premiação, é uma plataforma de música que está sendo levada ao mercado – já temos interessados para aporte de capital e patrocínio. Quanto à Lei Rouanet, ela foi banalizada e desconstruída de uma maneira satânica e irreal. Entendo que ela poderia sofrer adaptações normais de mercado. Mas neste momento atual, de mutação, podem vir novas leis que façam o fomento, de fato, do mercado cultural brasileiro.

A viúva de Luiz Melodia, Jane Reis, com José Maurício Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira, que irá homenagear Melodia este ano.  Foto: Fabio Motta/Estadão

Você vê alguma possibilidade de a música brasileira ter mais espaço lá fora do que tem hoje?

Talvez. A gente é forte no que diz respeito às commodities – agricultura, pecuária. Há um bom tempo falei com o Persio Arida, disse que o que abriu as portas ao comércio brasileiro como um todo foi a manifestação cultural. Nossa musicalidade é forte. Estou falando de Carmem Miranda, Dorival Caymmi. Temos uma capacidade de abrir um mercado para o Brasil em imensas áreas.

A música brasileira tem evoluído mas nós continuamos apaixonados por Chico Buarque, Caetano, Gal Costa, que nos deixou há pouco, Bethânia. O que diz da evolução dos nossos artistas?

Há pouco tempo, numa vertente do Grammy, uma premiação voltada ao Brasil, se você visse o número de artistas brasileiros ali presentes, jovens, sendo reconhecidos por uma multidão. Luísa Sonza, Liniker, Bala Desejo – nomes que não fazem parte da nossa mídia. Estou falando com certeza: esses nomes vão deixar um legado cultural musical e poético para toda uma geração futura. Acho que nossa música está num momento absolutamente rico, em todas as suas áreas.

Como é montado o prêmio que vocês promovem?

O Prêmio da Música Brasileira tem um conselho diretor que cuida das regras anuais e vê como a música deve ser avaliada. São 11 membros, entre eles nomes como Gil, Ney Matogrosso, João Bosco, Emicida. Decidem as regras e indicam os jurados. Temos uma força de trabalho, pesquisadores espalhados pelo País. Hoje a forma de lançamento se popularizou muito – e temos de ir atrás dessas sonoridades. Este ano estamos com um recorde dos recordes, mais de 6 mil artistas para os jurados ouvirem.

Você fala de coisas atraentes, como música, mas vivemos em tempos conturbados. Que mensagem você deixaria aos leitores?

Diria que o mundo está hoje passando por uma fase esquisita, no que diz respeito à solidariedade e ao olhar de uma pessoa para outra. E, para romper essa esquisitice, a saída que vejo é superar a dificuldade valorizando o ser humano. Entender que cada um tem a sua dificuldade, sua tendência. Saber que ser diferente não significa ser melhor nem pior, mas apenas isso, ser diferente.

Foi em 1987 que o empresário José Maurício Machline, apaixonado por música, diretor executivo da Sharp, criou o Prêmio Sharp de Música. Ao longo dessas mais de três décadas, a ideia cresceu, mudou de nome e de patrocinadores e se tornou o respeitado Prêmio da Música Brasileira. Neste início de 2023, superada a fase pior da pandemia, a premiação volta à vida – mas “Zé Maurício”, como os amigos o conhecem, quer ampliar o projeto. “Não será só uma premiação”, explica ele nesta conversa com Cenários. “Será uma plataforma de música que estará sendo levada ao mercado.” Em maio deste ano, o prêmio volta com nova roupagem, em parceria com Heloísa Guarita, criadora da consultoria NutriRG, focanda em negócios em torno da premiação, de modo que ela repercuta durante o ano inteiro.

Já apareceram interessados, avisa o idealizador do prêmio. Tanto em aporte de capital como em patrocínio. Lei Rouanet? “Foi banalizada de maneira satânica”, acusa, referindo-se ao governo anterior. “É difícil dizer”, adverte, “que a cultura esteja sendo bem atendida.” Zé Maurício espera “que os novos ventos a ponham num patamar de dignidade”. A seguir, principais trechos da entrevista.

Você foi diretor executivo da Sharp, com uma carreira empresarial pela frente. O que o fez mudar-se para o ramo da música?

Na Sharp fui diretor, vice-presidente e presidente – e me dei conta de que havia outras ofertas no mercado. Resolvi sair, vendi minha parte e me voltei para a música, atividade que eu já exercia na empresa. Fazíamos o Prêmio Sharp de Música e percebi que aquilo não era uma coisa da Sharp, mas sim da cultura brasileira. E nesses 30 anos vivi ligado à musica, em programas de TV, discos, shows.

O mundo da música é mais leve, lúdico, e o empresarial, mais pesado. Como foi essa sua passagem?

Qualquer coisa a que você se dedique, seja música, matemática, biologia, cultura, você tem de ser apaixonado por ela. Se conseguir conciliar seu gosto com o seu interesse, há muitas possibilidades. Música e cultura são, de fato, lúdicas, mas são atividades comerciais como qualquer outra. Juntar o trabalho e a paixão é o ideal em qualquer mundo.

Você vai retomar o prêmio? Como vê, nisso tudo, o papel da Lei Rouanet?

A pandemia nos pegou, os produtores culturais, de maneira pesada. A cultura tentou se adaptar aos meios da internet, muita gente conseguiu fazer alguma coisa. Agora, com essa retomada, estamos pensando num prêmio bem diferente. Uma nova sócia aderiu às nossas ideias, a Heloísa Guarita, da consultoria RGNutri. Ela trouxe uma ideia diferente sobre o prêmio, uma coisa maior. Não é só uma premiação, é uma plataforma de música que está sendo levada ao mercado – já temos interessados para aporte de capital e patrocínio. Quanto à Lei Rouanet, ela foi banalizada e desconstruída de uma maneira satânica e irreal. Entendo que ela poderia sofrer adaptações normais de mercado. Mas neste momento atual, de mutação, podem vir novas leis que façam o fomento, de fato, do mercado cultural brasileiro.

A viúva de Luiz Melodia, Jane Reis, com José Maurício Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira, que irá homenagear Melodia este ano.  Foto: Fabio Motta/Estadão

Você vê alguma possibilidade de a música brasileira ter mais espaço lá fora do que tem hoje?

Talvez. A gente é forte no que diz respeito às commodities – agricultura, pecuária. Há um bom tempo falei com o Persio Arida, disse que o que abriu as portas ao comércio brasileiro como um todo foi a manifestação cultural. Nossa musicalidade é forte. Estou falando de Carmem Miranda, Dorival Caymmi. Temos uma capacidade de abrir um mercado para o Brasil em imensas áreas.

A música brasileira tem evoluído mas nós continuamos apaixonados por Chico Buarque, Caetano, Gal Costa, que nos deixou há pouco, Bethânia. O que diz da evolução dos nossos artistas?

Há pouco tempo, numa vertente do Grammy, uma premiação voltada ao Brasil, se você visse o número de artistas brasileiros ali presentes, jovens, sendo reconhecidos por uma multidão. Luísa Sonza, Liniker, Bala Desejo – nomes que não fazem parte da nossa mídia. Estou falando com certeza: esses nomes vão deixar um legado cultural musical e poético para toda uma geração futura. Acho que nossa música está num momento absolutamente rico, em todas as suas áreas.

Como é montado o prêmio que vocês promovem?

O Prêmio da Música Brasileira tem um conselho diretor que cuida das regras anuais e vê como a música deve ser avaliada. São 11 membros, entre eles nomes como Gil, Ney Matogrosso, João Bosco, Emicida. Decidem as regras e indicam os jurados. Temos uma força de trabalho, pesquisadores espalhados pelo País. Hoje a forma de lançamento se popularizou muito – e temos de ir atrás dessas sonoridades. Este ano estamos com um recorde dos recordes, mais de 6 mil artistas para os jurados ouvirem.

Você fala de coisas atraentes, como música, mas vivemos em tempos conturbados. Que mensagem você deixaria aos leitores?

Diria que o mundo está hoje passando por uma fase esquisita, no que diz respeito à solidariedade e ao olhar de uma pessoa para outra. E, para romper essa esquisitice, a saída que vejo é superar a dificuldade valorizando o ser humano. Entender que cada um tem a sua dificuldade, sua tendência. Saber que ser diferente não significa ser melhor nem pior, mas apenas isso, ser diferente.

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