RIO - A taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,9% no trimestre encerrado em março, uma pequena elevação em relação ao trimestre encerrado em fevereiro (7,8%). É o terceiro trimestre seguido de aumento na desocupação, de acordo com os dados da Pnad Contínua, do IBGE. Mas o número ficou abaixo do esperado pelo mercado, de 8,1%, de acordo com pesquisa feita pelo Projeções Broadcast.
A população desocupada foi de 8,6 milhões, um crescimento de 6,7% (mais 542 mil pessoas) na comparação com o trimestre móvel de outubro a dezembro. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve um recuo de 8,6% (menos 808 mil pessoas desempregadas).
Segundo o IBGE, a população ocupada, de 100,2 milhões, caiu 0,8% no trimestre (menos 782 mil pessoas) e cresceu 2,4% (mais 2,4 milhões de pessoas) no ano. “O nível da ocupação (porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) foi a 57%, recuando 0,6 ponto porcentual frente ao trimestre móvel anterior (57,6%) e subindo 0,9 ponto porcentual na comparação anual (56,1%)”, informa o instituto, em nota.
De acordo com a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, o aumento número de desempregados pode ser considerado um movimento sazonal, ligado à dispensa de trabalhadores temporários tanto no serviço público quanto privado. Segundo Beringuy, esse movimento acontece em todo primeiro trimestre e ainda não aponta mudança negativa na trajetória do mercado de trabalho.
“Parte importante dessa perda de ocupação veio da administração pública, principalmente de (setores como) saúde e educação, especificamente no ensino fundamental, onde há contratos temporários, de trabalhadores do setor público sem carteira. Na virada do ano eles são dispensados e, na medida em que se retorna ao ano letivo, há tendência de recontratação desse contingente”, disse.
Ainda de acordo com o IBGE, o número de empregados com carteira de trabalho no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) foi a 37,984 milhões, “mantendo-se estável no trimestre no trimestre e crescendo 3,5% (mais 1,3 milhão) no ano”. Já o número de empregados sem carteira no setor privado (13,4 milhões) ficou estável, com uma alta de 4,5% (mais 581 mil pessoas) no ano.
O número de trabalhadores por conta própria, de 25,4 milhões de pessoas, por sua vez, ficou estável em ambas as comparações, assim como o número de empregadores (4,1 milhões de pessoas). “O número de trabalhadores domésticos (5,9 milhões de pessoas) caiu 2,3% (menos 141 mil pessoas) no trimestre e subiu 3,5% (mais 198 mil pessoas) no ano”, diz o IBGE.
A taxa de informalidade foi de 38,9% da população ocupada (ou 38,9 milhões de trabalhadores informais), ante 39,1% no trimestre encerrado em dezembro e 39% no mesmo trimestre móvel de 2023.
Em relação à renda, o rendimento real habitual de todos os trabalhos (R$ 3.123) cresceu 1,5% no trimestre e 4,0% no ano. Já a massa de rendimento real habitual (R$ 308,3 bilhões) atingiu novo recorde da série histórica iniciada em 2012, “mas não teve variação estatisticamente significativa na comparação trimestral, subindo 6,6% (mais R$ 19,2 bilhões) na comparação anual”.
Efeito nos juros
Na avaliação da economista Claudia Moreno, do C6 Bank, a chance de o Banco Central ser mais cauteloso na reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) e optar por diminuir o ritmo de redução da Selic para 0,25 ponto porcentual aumentou após os dados de desemprego desta terça-feira. ”O mercado de trabalho aquecido deve continuar pressionando a inflação de serviços e dificultando a convergência da inflação para a meta”, disse, em nota. “O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem demonstrado preocupação com a deterioração do cenário externo e com a alta recente nas expectativas de inflação do boletim Focus. O dado de hoje reforça essa preocupação com a inflação.”
O economista Carlos Lopes, do Banco BV, por sua vez, acredita que o cenário de um mercado de trabalho aquecido aumenta as chances de redução do ritmo da taxa Selic, mas mantém a projeção de um corte de 0,5 ponto porcentual na Selic. ”Os dados de hoje ajudam a aumentar essas chances (de corte de 0,25 ponto), mas não trabalhamos com ela”, diz. “O Banco Central já havia sinalizado que o guidance mudaria se tivéssemos uma manutenção do nível elevado das incertezas, o que acho que não tem se mantido.”
O economista-chefe do Banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, também acredita que a surpresa com a taxa de desemprego abaixo do esperado não deve ser suficiente para mudar a visão do BC sobre o mercado de trabalho ou interferir nos próximos passos da política monetária. Para ele, o cenário de cautela com as taxas de desemprego já existia dentro do BC e o dado desta terça-feira não aprofunda essa preocupação.
“Foi uma surpresa, mas bem marginal. Nada que mude o cenário do BC para a economia”, afirma Pedroso, que espera que a autoridade monetária faça mais um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic na reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom). O cenário-base do MUFG é de desaceleração no ritmo de redução de juro para 0,25 ponto a partir de junho, com a Selic encerrando o ano em 9%. / Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Gabriela Jucá