Por que os juros nos EUA podem demorar para cair e qual será a consequência para o Brasil; entenda


Economia dos Estados Unidos tem se mostrado mais forte do que o esperado, o que pode levar a um atraso na queda das taxas de juros norte-americanas

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A economia global pode ter um segundo semestre mais difícil do que o esperado. Cresceu a possibilidade de o corte dos juros nos Estados Unidos começar apenas no segundo semestre, não seguindo o roteiro otimista traçado pelo mercado financeiro nos últimos meses.

Entre a maioria dos investidores, o cenário principal ainda é de uma redução das taxas de juros - atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano - pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) na reunião de junho. A questão é que essa probabilidade tem perdido força nas últimas semanas. Hoje, a chance de corte no encontro de daqui a dois meses é de cerca de 60%. Em março, chegou a 70%.

Se confirmado esse plano de voo que o mercado espera até agora para o Fed, a reunião de junho pode ter o primeiro corte de 0,25 ponto porcentual de um total de três quedas projetadas.

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O que tem feito parte do mercado acreditar numa postergação do início do corte dos juros tem a ver com o fato de que a economia dos Estados Unidos ainda mostra força, com um crescimento econômico robusto e um mercado de trabalho aquecido, o que dificulta a missão do BC americano de levar a inflação para a meta de 2%.

Força da economia dos EUA deixa dúvidas no corte de juros pelo Fed Foto: AP Photo/Frank Franklin II, File

“A inflação não está na meta. Se o Fed cortar os juros muito cedo, e a inflação começar a divergir (da meta) em vez de convergir, o banco central dos EUA vai ter mais trabalho para depois fazer a inflação convergir de novo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

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Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05.

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

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“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

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No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores.

Número por número

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e 1º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, diz Leal, da G5 Partners.

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Na sexta-feira, o relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego nos Estados Unidos. O País criou 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima até do teto das expectativas de analistas, que era de 245 mil postos.

Os diretores do Fed devem se debruçar, sobretudo nas próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia.

O PCE é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os números de fevereiro - últimos divulgados - mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%.

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Serão divulgados mais três números do PCE até junho. A Principal Claritas mantém a sua projeção de corte dos juros nos Estados Unidos para junho, porque projeta que o núcleo do PCE deve recuar uma média 0,20% nas próximas leituras, o que levaria a inflação anual para 2,45%.

“Seria um número abaixo do que o Fed estima hoje para o núcleo do PCE”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas. Em seu último encontro, o Fed revisou a projeção para o índice de 2,4% para 2,6%. “Se os números dos próximos três meses estiverem corretos, o Fed teria um espaço para reduzir os juros em junho, mas existem riscos nesses cenários. O risco é estarmos, de novo, errado a respeito desses dados, como nós já fomos surpreendidos nos últimos meses.”

Mais um revés

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marca mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, porque havia uma previsão de que o Fed iria fazer seis corte de 0,25 ponto porcentual.

Os mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de que de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O que fica claro é que a batalha dos bancos centrais contra a inflação tem sido bastante árdua e mais difícil do que se esperava. A economia global passou por diversos choques com os estragos provocados pela pandemia, em especial com as interrupções das cadeias de produção, e pelos desdobramentos econômicos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado celebrar a reversão dos choques. Não é uma coisa banal. Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma Senna, do FGV/Ibre.

A economia global pode ter um segundo semestre mais difícil do que o esperado. Cresceu a possibilidade de o corte dos juros nos Estados Unidos começar apenas no segundo semestre, não seguindo o roteiro otimista traçado pelo mercado financeiro nos últimos meses.

Entre a maioria dos investidores, o cenário principal ainda é de uma redução das taxas de juros - atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano - pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) na reunião de junho. A questão é que essa probabilidade tem perdido força nas últimas semanas. Hoje, a chance de corte no encontro de daqui a dois meses é de cerca de 60%. Em março, chegou a 70%.

Se confirmado esse plano de voo que o mercado espera até agora para o Fed, a reunião de junho pode ter o primeiro corte de 0,25 ponto porcentual de um total de três quedas projetadas.

O que tem feito parte do mercado acreditar numa postergação do início do corte dos juros tem a ver com o fato de que a economia dos Estados Unidos ainda mostra força, com um crescimento econômico robusto e um mercado de trabalho aquecido, o que dificulta a missão do BC americano de levar a inflação para a meta de 2%.

Força da economia dos EUA deixa dúvidas no corte de juros pelo Fed Foto: AP Photo/Frank Franklin II, File

“A inflação não está na meta. Se o Fed cortar os juros muito cedo, e a inflação começar a divergir (da meta) em vez de convergir, o banco central dos EUA vai ter mais trabalho para depois fazer a inflação convergir de novo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05.

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores.

Número por número

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e 1º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, diz Leal, da G5 Partners.

Na sexta-feira, o relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego nos Estados Unidos. O País criou 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima até do teto das expectativas de analistas, que era de 245 mil postos.

Os diretores do Fed devem se debruçar, sobretudo nas próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia.

O PCE é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os números de fevereiro - últimos divulgados - mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%.

Serão divulgados mais três números do PCE até junho. A Principal Claritas mantém a sua projeção de corte dos juros nos Estados Unidos para junho, porque projeta que o núcleo do PCE deve recuar uma média 0,20% nas próximas leituras, o que levaria a inflação anual para 2,45%.

“Seria um número abaixo do que o Fed estima hoje para o núcleo do PCE”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas. Em seu último encontro, o Fed revisou a projeção para o índice de 2,4% para 2,6%. “Se os números dos próximos três meses estiverem corretos, o Fed teria um espaço para reduzir os juros em junho, mas existem riscos nesses cenários. O risco é estarmos, de novo, errado a respeito desses dados, como nós já fomos surpreendidos nos últimos meses.”

Mais um revés

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marca mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, porque havia uma previsão de que o Fed iria fazer seis corte de 0,25 ponto porcentual.

Os mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de que de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O que fica claro é que a batalha dos bancos centrais contra a inflação tem sido bastante árdua e mais difícil do que se esperava. A economia global passou por diversos choques com os estragos provocados pela pandemia, em especial com as interrupções das cadeias de produção, e pelos desdobramentos econômicos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado celebrar a reversão dos choques. Não é uma coisa banal. Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma Senna, do FGV/Ibre.

A economia global pode ter um segundo semestre mais difícil do que o esperado. Cresceu a possibilidade de o corte dos juros nos Estados Unidos começar apenas no segundo semestre, não seguindo o roteiro otimista traçado pelo mercado financeiro nos últimos meses.

Entre a maioria dos investidores, o cenário principal ainda é de uma redução das taxas de juros - atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano - pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) na reunião de junho. A questão é que essa probabilidade tem perdido força nas últimas semanas. Hoje, a chance de corte no encontro de daqui a dois meses é de cerca de 60%. Em março, chegou a 70%.

Se confirmado esse plano de voo que o mercado espera até agora para o Fed, a reunião de junho pode ter o primeiro corte de 0,25 ponto porcentual de um total de três quedas projetadas.

O que tem feito parte do mercado acreditar numa postergação do início do corte dos juros tem a ver com o fato de que a economia dos Estados Unidos ainda mostra força, com um crescimento econômico robusto e um mercado de trabalho aquecido, o que dificulta a missão do BC americano de levar a inflação para a meta de 2%.

Força da economia dos EUA deixa dúvidas no corte de juros pelo Fed Foto: AP Photo/Frank Franklin II, File

“A inflação não está na meta. Se o Fed cortar os juros muito cedo, e a inflação começar a divergir (da meta) em vez de convergir, o banco central dos EUA vai ter mais trabalho para depois fazer a inflação convergir de novo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05.

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores.

Número por número

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e 1º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, diz Leal, da G5 Partners.

Na sexta-feira, o relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego nos Estados Unidos. O País criou 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima até do teto das expectativas de analistas, que era de 245 mil postos.

Os diretores do Fed devem se debruçar, sobretudo nas próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia.

O PCE é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os números de fevereiro - últimos divulgados - mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%.

Serão divulgados mais três números do PCE até junho. A Principal Claritas mantém a sua projeção de corte dos juros nos Estados Unidos para junho, porque projeta que o núcleo do PCE deve recuar uma média 0,20% nas próximas leituras, o que levaria a inflação anual para 2,45%.

“Seria um número abaixo do que o Fed estima hoje para o núcleo do PCE”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas. Em seu último encontro, o Fed revisou a projeção para o índice de 2,4% para 2,6%. “Se os números dos próximos três meses estiverem corretos, o Fed teria um espaço para reduzir os juros em junho, mas existem riscos nesses cenários. O risco é estarmos, de novo, errado a respeito desses dados, como nós já fomos surpreendidos nos últimos meses.”

Mais um revés

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marca mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, porque havia uma previsão de que o Fed iria fazer seis corte de 0,25 ponto porcentual.

Os mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de que de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O que fica claro é que a batalha dos bancos centrais contra a inflação tem sido bastante árdua e mais difícil do que se esperava. A economia global passou por diversos choques com os estragos provocados pela pandemia, em especial com as interrupções das cadeias de produção, e pelos desdobramentos econômicos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado celebrar a reversão dos choques. Não é uma coisa banal. Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma Senna, do FGV/Ibre.

A economia global pode ter um segundo semestre mais difícil do que o esperado. Cresceu a possibilidade de o corte dos juros nos Estados Unidos começar apenas no segundo semestre, não seguindo o roteiro otimista traçado pelo mercado financeiro nos últimos meses.

Entre a maioria dos investidores, o cenário principal ainda é de uma redução das taxas de juros - atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano - pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) na reunião de junho. A questão é que essa probabilidade tem perdido força nas últimas semanas. Hoje, a chance de corte no encontro de daqui a dois meses é de cerca de 60%. Em março, chegou a 70%.

Se confirmado esse plano de voo que o mercado espera até agora para o Fed, a reunião de junho pode ter o primeiro corte de 0,25 ponto porcentual de um total de três quedas projetadas.

O que tem feito parte do mercado acreditar numa postergação do início do corte dos juros tem a ver com o fato de que a economia dos Estados Unidos ainda mostra força, com um crescimento econômico robusto e um mercado de trabalho aquecido, o que dificulta a missão do BC americano de levar a inflação para a meta de 2%.

Força da economia dos EUA deixa dúvidas no corte de juros pelo Fed Foto: AP Photo/Frank Franklin II, File

“A inflação não está na meta. Se o Fed cortar os juros muito cedo, e a inflação começar a divergir (da meta) em vez de convergir, o banco central dos EUA vai ter mais trabalho para depois fazer a inflação convergir de novo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05.

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores.

Número por número

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e 1º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, diz Leal, da G5 Partners.

Na sexta-feira, o relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego nos Estados Unidos. O País criou 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima até do teto das expectativas de analistas, que era de 245 mil postos.

Os diretores do Fed devem se debruçar, sobretudo nas próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia.

O PCE é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os números de fevereiro - últimos divulgados - mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%.

Serão divulgados mais três números do PCE até junho. A Principal Claritas mantém a sua projeção de corte dos juros nos Estados Unidos para junho, porque projeta que o núcleo do PCE deve recuar uma média 0,20% nas próximas leituras, o que levaria a inflação anual para 2,45%.

“Seria um número abaixo do que o Fed estima hoje para o núcleo do PCE”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas. Em seu último encontro, o Fed revisou a projeção para o índice de 2,4% para 2,6%. “Se os números dos próximos três meses estiverem corretos, o Fed teria um espaço para reduzir os juros em junho, mas existem riscos nesses cenários. O risco é estarmos, de novo, errado a respeito desses dados, como nós já fomos surpreendidos nos últimos meses.”

Mais um revés

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marca mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, porque havia uma previsão de que o Fed iria fazer seis corte de 0,25 ponto porcentual.

Os mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de que de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O que fica claro é que a batalha dos bancos centrais contra a inflação tem sido bastante árdua e mais difícil do que se esperava. A economia global passou por diversos choques com os estragos provocados pela pandemia, em especial com as interrupções das cadeias de produção, e pelos desdobramentos econômicos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado celebrar a reversão dos choques. Não é uma coisa banal. Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma Senna, do FGV/Ibre.

A economia global pode ter um segundo semestre mais difícil do que o esperado. Cresceu a possibilidade de o corte dos juros nos Estados Unidos começar apenas no segundo semestre, não seguindo o roteiro otimista traçado pelo mercado financeiro nos últimos meses.

Entre a maioria dos investidores, o cenário principal ainda é de uma redução das taxas de juros - atualmente entre 5,25% e 5,5% ao ano - pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) na reunião de junho. A questão é que essa probabilidade tem perdido força nas últimas semanas. Hoje, a chance de corte no encontro de daqui a dois meses é de cerca de 60%. Em março, chegou a 70%.

Se confirmado esse plano de voo que o mercado espera até agora para o Fed, a reunião de junho pode ter o primeiro corte de 0,25 ponto porcentual de um total de três quedas projetadas.

O que tem feito parte do mercado acreditar numa postergação do início do corte dos juros tem a ver com o fato de que a economia dos Estados Unidos ainda mostra força, com um crescimento econômico robusto e um mercado de trabalho aquecido, o que dificulta a missão do BC americano de levar a inflação para a meta de 2%.

Força da economia dos EUA deixa dúvidas no corte de juros pelo Fed Foto: AP Photo/Frank Franklin II, File

“A inflação não está na meta. Se o Fed cortar os juros muito cedo, e a inflação começar a divergir (da meta) em vez de convergir, o banco central dos EUA vai ter mais trabalho para depois fazer a inflação convergir de novo”, afirma Luís Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05.

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores.

Número por número

Até a reunião de junho, portanto, o Banco Central dos EUA vai analisar cada número de atividade, mercado de trabalho e inflação. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) também faz um encontro em 30 de abril e 1º de maio. “É cada dia com a sua agonia. Temos de ver os dados que vão saindo”, diz Leal, da G5 Partners.

Na sexta-feira, o relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou mais um dado que reforçou o cenário de força do emprego nos Estados Unidos. O País criou 303 mil postos em março, em termos líquidos, acima até do teto das expectativas de analistas, que era de 245 mil postos.

Os diretores do Fed devem se debruçar, sobretudo nas próximas leituras do núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), que exclui itens voláteis como alimentos e energia.

O PCE é a medida preferida de inflação do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Os números de fevereiro - últimos divulgados - mostram o núcleo do índice com uma alta anual de 2,78%.

Serão divulgados mais três números do PCE até junho. A Principal Claritas mantém a sua projeção de corte dos juros nos Estados Unidos para junho, porque projeta que o núcleo do PCE deve recuar uma média 0,20% nas próximas leituras, o que levaria a inflação anual para 2,45%.

“Seria um número abaixo do que o Fed estima hoje para o núcleo do PCE”, afirma Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas. Em seu último encontro, o Fed revisou a projeção para o índice de 2,4% para 2,6%. “Se os números dos próximos três meses estiverem corretos, o Fed teria um espaço para reduzir os juros em junho, mas existem riscos nesses cenários. O risco é estarmos, de novo, errado a respeito desses dados, como nós já fomos surpreendidos nos últimos meses.”

Mais um revés

Uma eventual postergação da queda dos juros nos Estados Unidos para o segundo semestre marca mais um revés na expectativa do mercado financeiro. Na virada do ano, houve um grande otimismo entre os investidores, porque havia uma previsão de que o Fed iria fazer seis corte de 0,25 ponto porcentual.

Os mercados emergentes, como é o caso do brasileiro, foram inundados de recursos. Em novembro e dezembro do ano passado, por exemplo, a entrada de recursos foi de R$ 21 bilhões e R$ 17,5 bilhões, respectivamente. Neste ano, com o cenário já desenhado de um ciclo de que de juros mais contido, já houve um movimento contrário.

“Em novembro e dezembro, quando houve aquela febre, eu dizia e continuo dizendo que os juros (nos EUA) iriam cair duas ou três vezes a partir do segundo semestre”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos. “O cenário está se avizinhando com o que eu falava.”

O que fica claro é que a batalha dos bancos centrais contra a inflação tem sido bastante árdua e mais difícil do que se esperava. A economia global passou por diversos choques com os estragos provocados pela pandemia, em especial com as interrupções das cadeias de produção, e pelos desdobramentos econômicos da guerra entre Ucrânia e Rússia.

O Fed começou a subir as taxas de juros em março de 2022 e chegaram ao intervalo atual de 5,25% a 5,50% ao ano em julho do ano passado. “É preciso muito cuidado celebrar a reversão dos choques. Não é uma coisa banal. Os choques vêm e não desaparecem sem deixar vestígios. Eles deixam marcas”, afirma Senna, do FGV/Ibre.

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