A vitória do republicano Donald Trump nas eleições americanas fez o dólar disparar ante as principais moedas globais nesta quarta-feira, 6. Também foi assim na abertura das negociações do real nas primeiras horas do dia. O dólar chegou a subir a R$ 5,86, pela manhã. Porém, depois o movimento se inverteu, e a moeda americana fechou o pregão em queda de 1,26%, a R$ 5,6759 — menor valor de fechamento desde 24 de outubro.
O dólar acelerou as perdas ante o real ao longo da tarde desta quarta-feira em uma trajetória que, conforme levantamento do Estadão/Broadcast, levou a moeda brasileira a ter o melhor desempenho ante a americana no mundo, sendo uma das poucas a se valorizar.
A forte queda em relação à cotação máxima do dia, obtida pela manhã, decorreu de dois movimentos simultâneos.
O primeiro foi um espaço para uma realização dos lucros recentes, uma vez que a cotação estava bastante esticada nas últimas semanas.
O segundo é a percepção dos agentes de que a agenda fiscal se tornou ainda mais prioritária agora, com a volta de Trump ao poder.
Ainda que o governo não tenha confirmado quando o pacote será apresentado ao público, a sensação no mercado é de que isso ocorrerá em breve. Na curva de juros, a expectativa pelas medidas ajudou a tirar pressão nas taxas longas, que fecharam perto da estabilidade.
Na ponta curta, houve alta, ainda com cautela fiscal. O investidor seguia atento aos sinais do Copom, com a expectativa de elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual, conforme a maioria das apostas do mercado — e que se confirmou no início da noite desta quarta-feira, 6.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o “mercado comprou a tese” de que a vitória de Trump vai “forçar o governo a entregar um pacote crível de corte de gastos” para evitar pressões adicionais sobre o real.
“Com a onda vermelha, o Brasil não tem espaço para qualquer tipo de derrapada fiscal. O grau de liberdade do governo se reduziu muito”, diz Borsoi, acrescentando que as moedas emergentes reduziram as perdas ao longo da tarde, o que contribui para as mínimas do dólar por aqui. “Além disso, os ativos locais estavam muito estressados e havia espaço para um ajuste.”
Além da moeda brasileira, apenas o rublo russo e o shekel israelense se apreciaram em relação ao dólar hoje. Principal par do real, o peso mexicano — que caiu mais de 2% pela manhã — chegou a operar pontualmente em terreno positivo. As moedas asiáticas apresentaram fortes perdas, dada a perspectiva de volta da guerra comercial entre EUA e China.
O índice DXY — termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes — superou os 105,400 pontos na máxima e girava ao redor do 105,100 pontos no fim do dia, em alta de mais de 1,60%. As maiores perdas foram do euro e do iene japonês.
O que os analistas dizem sobre a valorização do real no dia
O chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, chama a atenção para fatores técnicos por trás do desempenho da moeda brasileira nesta quarta-feira, 6. “O real pode ter sido usado como hedge (proteção a cotação) nos últimas semanas. E hoje tivemos uma reversão dessas operações, o que trouxe o dólar para baixo”, diz Viotto.
Dado que o mercado futuro de câmbio local é mais líquido e de fácil acesso, investidores haviam aumentado a posição “vendida” em real contra o dólar nas últimas semanas para se proteger em caso de alta mais forte da moeda americana em relação a divisas emergentes por conta da vitória de Trump. Após a disparada da do dólar pela manhã, investidores partiram para realização de lucros e ajuste de posições, o que contribuiu para o alívio na taxa de câmbio.
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Borsoi, da Nova Futura, acredita que há espaço para uma rodada adicional de apreciação do real caso o governo entregue um pacote de gastos que convença os investidores não apenas do cumprimento das metas fiscais como da sustentabilidade do arcabouço nos próximos anos. Ele não vê, porém, a possibilidade de uma taxa de câmbio abaixo de R$ 5,40 no curto prazo, justamente pela perspectiva de um dólar globalmente mais forte com a vitória de Trump.
“Temos outras questões que devem trazer volatilidade. A China pode aumentar os estímulos ao crescimento, o que é positivo para o real. Mas Trump deve trazer de volta a guerra comercial, o que é negativo. O impacto dessas forças divergentes sobre a moeda é uma incógnita”, afirma Borsoi.
Como o dólar variou em relação a outras moedas?
Perto do fechamento de Nova York, o dólar se valorizava a 154,57 ienes nesta quarta-feira, 6; a libra caia a US$ 1,2892, o euro cedia a US$ 1,0739; e o dólar subia a 20,0996 pesos mexicanos. O índice DXY, que mede a força do dólar contra rivais fortes, subiu 1,60%, aos 105,088 pontos e ao maior nível desde 3 de julho.
O dólar terá suporte nos próximos meses, já que as taxas de juros dos EUA devem permanecer altas, segundo análise da Lombard Odier. Mas, no longo prazo, o banco suíço espera que os investidores se concentrem mais nos riscos fiscais e no impacto das tarifas de importação. Isso seria mais positivo para moedas como o franco suíço e o iene japonês, em comparação com moedas mais cíclicas, a exemplo da libra.
O mercado também se prepara para as decisões de juros do Federal Reserve (Fed) e do Banco da Inglaterra (BoE) nesta quinta-feira, 7. Investidores precificam cortes de 25 pontos-base em ambos os bancos centrais. /Com Dow Jones Newswire