Os preços do petróleo se recuperaram recentemente de um período de torpor porque uma disputa política na Líbia reduziu grande parte da produção do país do norte da África.
Na semana passada, os futuros do petróleo bruto Brent, uma referência internacional, estavam sendo vendidos por pouco mais de US$ 80 (R$ 448) por barril, um aumento de cerca de 5% em relação há 10 dias, antes de cair novamente abaixo dessa marca. No entanto, considerando o grau de turbulência política não apenas na Líbia, mas no Oriente Médio, o centro petrolífero do mundo, o mercado parece surpreendentemente calmo.
Os níveis atuais de preços podem ser descritos de diferentes maneiras - baixos, moderados -, mas certamente não são altos em comparação com as métricas históricas recentes. O preço médio anual ajustado pela inflação para o Brent datado, uma métrica intimamente relacionada aos futuros do petróleo, foi de US$ 94,91 (R$ 527) por barril de 2010 a 2023, disse Jim Burkhard, chefe de pesquisa de mercados de energia da S&P Global Commodity Insights.
“Não é um preço alto; não é um preço baixo”, disse ele.
Ainda assim, antes do fim de semana do Dia do Trabalho, os consumidores dos Estados Unidos estão desfrutando de uma pausa. A US$ 3,31 (R$ 18,56) o galão na segunda-feira, os preços da gasolina estavam, em média, 13% mais baixos do que nessa época do ano passado, segundo a Administração de Informações sobre Energia.
O suprimento de petróleo é abundante.
Segundo os analistas, o mundo está bem abastecido de petróleo. A demanda continua a crescer, mas a produção parece que manterá o ritmo.
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O Brasil, o Canadá, a Guiana e os Estados Unidos estão aumentando sua produção de petróleo, contrariando os cortes do grupo de produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, que retiveram a produção em cerca de cinco milhões de barris por dia, ou cerca de 5% da demanda global.
Saber que todo esse petróleo pode chegar ao mercado ajuda a conter os preços. “É por isso que as preocupações geopolíticas realmente não têm muito impacto”, disse Burkhard.
O mercado até mesmo ignorou os contínuos ataques a navios no Mar Vermelho. “O mercado simplesmente se cansou de reagir a cada ataque”, disse Viktor Katona, analista da Kpler, uma empresa que rastreia o tráfego de navios petroleiros.
Mais petróleo pode estar chegando.
Em junho, a Arábia Saudita, líder de fato da OPEP, e alguns de seus aliados concordaram em começar a fornecer gradualmente o que poderia ser cerca de 2,5 milhões de barris por dia de petróleo de volta ao mercado, a partir de outubro.
A maior dúvida, segundo Burkhard, é se o grupo cumprirá a decisão, que será revisada regularmente pelos produtores.
Richard Bronze, chefe de geopolítica da Energy Aspects, uma empresa de pesquisa, disse que o grupo provavelmente começará a aumentar a produção neste outono.
Os sauditas estão tentando administrar uma situação complicada. Eles temem que qualquer aumento rápido nos suprimentos possa inundar os mercados, mas enfrentam pressão por aumentos de países membros como Emirados Árabes Unidos, Iraque e Cazaquistão. Essas nações concordaram em fazer bilhões de dólares em investimentos em campos de petróleo com parceiros estrangeiros - investimentos que serão difíceis de rentabilizar sem uma produção maior.
Os traders acompanharão atentamente suas decisões a cada mês.
A demanda por petróleo na China está diminuindo.
Espera-se que a demanda mundial aumente apenas em cerca de um milhão de barris por dia em 2024, menos da metade do aumento observado em 2023, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA).
O principal motivo: a China, que foi responsável por cerca de metade dos aumentos de consumo nas últimas duas décadas, não está mais avançando a passos largos - uma grande preocupação para o setor petrolífero.
A mudança da China para veículos elétricos em carros de passeio e caminhões pode levar a quedas na demanda por diesel neste ano e por gasolina em 2025, segundo a IEA. Se não houvesse veículos elétricos, a demanda global por petróleo seria cerca de 800 mil barris por dia maior, disse Burkhard.
Os analistas dizem não haver substituto para a China no horizonte.
A paralisação da Líbia elevou os preços do petróleo.
A disputa política na Líbia está retirando o petróleo do mercado. O fechamento dos campos de petróleo é resultado de uma luta pelo poder entre o que são efetivamente dois governos concorrentes: o reconhecido internacionalmente em Trípoli e outro no leste da Líbia, que controla a maioria dos campos de petróleo do país e ordenou o fechamento.
Bronze calcula que mais de 60% da capacidade da Líbia, ou seja, a produção de 750 mil barris por dia, foi fechada e que esse volume provavelmente aumentará.
Até o momento, a paralisação, que representa menos de 1% dos suprimentos globais, ajudou a elevar os preços em alguns dólares. A questão é por quanto tempo ela continuará.
A FGE, uma empresa de consultoria, disse em um relatório: “Esperamos que ambas as partes tenham um grande incentivo para resolver sua disputa rapidamente, dados os altos custos” da perda de receita do petróleo.
Bronze disse, no entanto, que a situação é imprevisível e que, se o impasse continuar, “o impacto será cada vez mais sentido no mercado físico e isso aparecerá nos preços do petróleo”.
Ele acrescentou que o imbróglio na Líbia, um membro da OPEP, pode tornar mais fácil para os sauditas darem sinal verde para os aumentos iniciais na produção.
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