RIO - A EDF Renewables, divisão de renováveis da empresa de energia francesa, estuda a instalação de usinas eólicas offshore no litoral do Rio de Janeiro, na altura do Norte Fluminense, para aproveitar a infraestrutura logística do Porto do Açu e a demanda industrial da região. Para tanto, a EDF e a Prumo Logística, empresa do grupo EIG responsável pelo porto, assinaram nesta terça-feira, 13, memorando de entendimentos com essa finalidade.
O acordo prevê o uso do Porto do Açu como “hub” logístico e de energia renovável, inclusive, para a produção de hidrogênio verde. A instalação e operação das usinas eólicas em alto mar fica por conta da EDF, enquanto a Prumo vai atuar para viabilizar a operação, por exemplo com o apoio de frota marítima especializada, e na ponte com demandantes de energia renovável e fornecedores de equipamentos.
O presidente da EDF Renewables no Brasil, André Salgado, afirma que a empresa francesa tem planos de longo prazo no Brasil e deseja ser pioneira na geração eólica offshore no País, competindo com boas chances nos futuros leilões de áreas devido à capacidade financeira e técnica.
A EDF tem 1,1 GW de potência instalada no Brasil entre projetos de energia solar e eólica na Bahia, Minas Gerais e Paraíba, além de 750 MW eólicos em construção, o que perfaz potencial de 1,8 GW. A entrada na geração eólica em alto-mar no Brasil se daria, portanto, pelo Rio de Janeiro, com foco em prover energia eólica para a geração de hidrogênio verde e venda de energia no mercado livre para grandes consumidores. A EDF acumula boa experiência com a fonte no mundo: com 1 GW instalado entre França (600 MW) e Reino Unido (400 MW). Em desenvolvimento e construção, a empresa tem outros 10 GW em eólicas offshore, carteira dominada por projetos nos Estados Unidos (4,1 GW), Reino Unido e França.
O presidente da Prumo, Rogério Zampronha, diz que o acordo com a EDF se diferencia de outras iniciativas principiantes na área que visam a região do Açu porque é “mais sólido”, o que atribui à experiência prévia do grupo francês com eólica offshore no mundo.
Zampronha diz que o Porto do Açu se apresenta como a principal base para projetos de transição energética do País e, especificamente no caso da eólica offshore, corre na frente para atrair fabricantes de turbinas e pás eólicas próprias à modalidade - estruturas bem maiores que as utilizadas nos aerogeradores em terra - além de fomentar uma cadeia de valor focada em hidrogênio verde.
Além dessas facilidades, o Norte Fluminense é um dos quatro “hotspots” vislumbrados pela indústria de eólica offshore no Brasil, ao lado dos litorais do Rio Grande do Norte, Ceará e Rio Grande do Sul. Não à toa, já há 33 GW em projetos notificados por empresas ao Ibama na faixa assistida pelo Porto do Açu. Nesse sentido, se instalar na região vai requerer algum esforço financeiro para fazer frente aos leilões de área futuros, cujos termos tramitam na Câmara dos Deputados com previsão de aprovação somente em 2023.
Nesse ponto, Zampronha cita as indústrias do minério de ferro e dos fertilizantes verdes, as mais maduras para este fim nos dias atuais. No primeiro caso, o hidrogênio verde será aplicado para a transformação de minério de ferro em briquete de ferro a quente, o HBI, tecnologia que vem reduzindo as emissões por alto-fornos no Brasil e na Europa. Já no caso dos fertilizantes, a operação dá conta da aplicação de amônia verde, a partir do hidrogênio.
Ao lado dessas duas aplicações, Zampronha também lista os combustíveis verdes para uso industrial e mobilidade. O executivo também não descarta a venda direta de energia elétrica, a ser jogada na rede do subsistema do Sudeste a fim de atender grandes consumidores concentrados na região, operação que contaria com melhores tarifas e fugira dos gargalos de transmissão da energia gerada no Nordeste, por exemplo.
Salgado, da EDF, diz esperar a geração do primeiro MW/hora advindo dos ventos do mar em 2030, prazo que pode ser adiantado a depender da eficiência da regulação e do desenvolvimento da tecnologia e da cadeia de fornecedores locais. Segundo Zampronha, grandes fabricantes de turbinas eólicas afirmam que o horizonte do setor no Brasil pode ser mais precoce, a partir de 2028, o que seria facilitado pela competitividade dos preços dessa energia. Hoje, em alguns pontos da europa, os preços da energia eólica offshores estariam entre 10% e 20% mais caros que os da energia solar e eólica onshore. Essa diferença, diz o executivo, tende a cair nos próximos anos, com os avanços da tecnologia e o ganho de escala da indústria.
A EDF ainda não definiu qual será a capacidade dos projetos de eólica offshore a serem desenhados para a área assistida pelo Porto do Açu, mas Salgado afirma que para as condições atuais, somente projetos com média de 1,5 GW e 2,0 GW apresentam bom retorno. Essa capacidade, portanto, deve prevalecer no planejamento do grupo francês.