Preço do ouro dispara puxado por dívida dos EUA, compras do BC da China e incertezas geopolíticas


Após superar US$ 2,4 mil no mercado internacional, cotação do metal precioso deve continuar em alta, preveem especialistas; mercado de joias consome quase metade da produção mundial

Por Ivo Ribeiro
Atualização:

A desconfiança sobre a economia americana e a forte atuação dos bancos centrais para reforçar suas reservas levaram o ouro a atingir o maior valor da história. O preço do metal precioso, que gera fascínio na humanidade há milênios e foi padrão monetário até meados dos anos 70, quebrou a marca dos US$ 2,4 mil (R$ 12,36 mil) a onça-troy (medida que representa 31,1 gramas) neste mês. Na visão de analistas e especialistas que acompanham o mercado da commodity, a cotação poderá alcançar US$ 2,5 mil (R$ 12,87 mil) e até ir além ainda neste ano.

A atuação dos bancos centrais de vários países, especialmente o chinês, para ampliar seus estoques e ter mais ativos tangíveis, vem dando forte sustentação à onda altista. O Banco Popular da China fez compras de ouro pelo 17º mês consecutivo e, segundo dados oficiais, deste mês, o volume total das reservas do país já beira 2.300 toneladas - pouco mais de um quarto das reservas dos EUA. Apenas no ano passado, o BC chinês teria adquirido mais de 200 toneladas. Mesmo como maior produtor mundial, o país é o principal importador, com forte poder de influência no mercado do metal.

Também conhecido como metal amarelo, o ouro tem grande sensibilidade às incertezas geopolíticas mundiais. Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, o cenário geopolítico ficou mais tensionado e ganhou nova pressão com os eventos no Oriente Médio, em 7 de outubro de 2023, envolvendo Israel, grupos extremistas e o Irã.

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Nesses momentos, explicam os especialistas, os investidores ficam preocupados. Uma corrida às compras de ouro funciona como refúgio, a busca por um porto seguro. A cotação subiu 18% entre 1º de março e 12 de abril - cerca de US$ 400 (R$ 2.060) - por causa da escalada das tensões no Oriente Médio.

Alta da cotação do ouro está sendo impulsionada pela compra do metal pelos bancos centrais, por exemplo Foto: de Art/Adobe Stock
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“O que impulsiona o preço do ouro no mercado internacional é o aumento da inflação mundial, principalmente nos EUA, o aumento do risco geopolítico, aumento das reservas nos bancos centrais de diversos países e grandes minas de ouro em fase de exaustão do metal, sobrando minas marginais que têm custo mais elevado de implantação e produção”, resume Mathias Heider, engenheiro de minas e especialista em recursos minerais da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Para analistas e especialistas que acompanham o mercado de ouro, a combinação de inflação persistente, emissão massiva de dívida e impressão desenfreada de moeda pelo banco central americano (Fed), com aumento da dívida pública americana, está empurrando os investidores para metais preciosos e outras mercadorias.

Entre as commodities metálicas, o ouro é a que mais reluz nos dois últimos anos e desde março segue num movimento consistente de alta. Na semana passada, a cotação atingiu US$ 2,417 mil (R$12,447 mil) a onça-troy. O ciclo ascendente começou em 2018 e ganhou velocidade após a pandemia de covid-19, em 2022. Há uma busca do ouro como ativo de refúgio.

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”Durante a pandemia, houve uma mudança macroeconômica importante: governos de muitos países cometeram a indisciplina fiscal e monetária, criando um problema que se tornou crônico - a inflação. Tudo isso aliado à desglobalização mundial”, afirma Otávio Costa, sócio do fundo Crecast Capital. Fundado em 2020, e baseado na Califórnia, EUA, o fundo investe em ouro e outros metais, como prata e cobre. “O momento é excepcional para os metais preciosos e outros, como prata, cobre e zinco”, afirma.

Unidade de produção de ouro da Kinross, em Paracatu, Minas Gerais Foto: Dida Sampaio/AE - 4.jan.2011

”Há teses que apontam para um ciclo de longo prazo, de cinco a dez anos, de preços elevados para o ouro e outros do grupo dos preciosos”, diz o sócio do Crecast. Ele destaca, além da indisciplina fiscal e monetária, a ação dos bancos centrais procurando melhorar a qualidade de suas reservas em ativos reais e mudanças de gestão dos fundos, como os de pensão, em suas carteiras, concentradas em ações e renda fixa. “Nos anos de 1970 e 1980, cerca de 75% dos ativos dos bancos centrais eram ouro; hoje representam menos de 25%.”

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Costa cita o período de alta inflação nesta década nos países desenvolvidos - EUA, Canadá e Europa - como um fator crucial. “Em 45 anos, o Tesouro americano mostra mais volatilidade que o preço do ouro.” O metal é negociado na Bolsa de Londres, com contratos futuros, e no mercado spot, da Comex, de Nova York.

Kinross produz cerca de 17 toneladas de ouro por ano em sua mina em Paracatu  Foto: Dida Sampaio/AE

O mercado da mineração, afirma, passará por uma grande mudança. De um lado, há uma deterioração das atuais minas e depósitos minerais e escassez de novas descobertas. De outro, vemos redução dos gastos com novos projetos do metal. “É um dos mais baixos gastos no setor e isso vai criar um ciclo de longo prazo na mineração”, diz o investidor brasileiro, baseado na Califórnia.

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Para onde vai o preço do metal, Costa não se arrisca a dizer. A mais longo prazo, talvez US$ 3 mil (R$ 15,45 mil) ou US$ 4 mil (R$ 20,6 mil) , afirma. “O que vejo hoje é a melhor situação que há para a indústria de mineração”.

Analistas de bancos destacam que a Ásia, principalmente China e Índia - dois gigantes na demanda pelo metal, usado na confecção de joias - se tornou o fixador de preços do mercado global. As indicações de onde vai chegar até fim do ano variam de US$ 2,5 mil (R$ 12,9 mil) a US$ 2,7 mil (R$ 13,9 mil) a onça. Especula-se até US$ 3 mil (R$ 15,45 mil).

Com uma visão mais conservadora, o empresário Antenor Firmino, que atua há 30 anos na mineração de ouro, afirma que a atual cotação está muito ancorada nos problemas geopolíticos. “Se de uma hora para outra se decidir acabar a guerra no Oriente Médio, o preço do metal despenca US$ 200 (R$ 1.030) num só dia. Depois mais US$ 100 e deverá permanecer na faixa de US$ 1,8 mil (R$ 9,3 mil) a US$ 2,1 mil (R$ 10,8 mil)″, diz ele.

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A produção anual de ouro no ano passado foi superior a 150 milhões de onças, o correspondente a 4,8 mil toneladas. Desse volume, 75% é oriundo da extração das minas e 25% de metal reciclado. A fabricação de joias fica com quase metade, seguida pela venda aos bancos, barras e moedas, bens de alta tecnologia, ativos financeiros e aplicações industriais.

Quase um quarto da produção do metal foi adquirida, no ano passado, por bancos centrais para compor as reservas e outras instituições, segundo dados do World Gold Council. O primeiro trimestre de 2024 foi o mais forte em compras de ouro, informa a entidade internacional, com uma procura de 1.238 toneladas.

Preço atual eleva ganhos das mineradoras

Esse conjunto de fatores, que reúne déficit fiscal e endividamento dos EUA, juros em alta, incertezas geopolíticas e a forte ação da China para fortalecer suas reservas são um cenário fértil para alta do ouro, afirma Rodrigo Barbosa, presidente da Aura Minerals, mineradora que tem operações no Brasil, México e Honduras.

A Aura colocou em operação no ano passado um grande projeto, Almas, no Tocantins, e toca mais dois - Borborema, no Rio Grande do Norte (previsto iniciar produção daqui um ano) e Matupá, no Mato Grosso, para 2026. Com o atual nível da cotação, a taxa de retorno praticamente dobra em relação ao valor estabelecido como base quando se decidiu montar a mina. “No caso de Borborema, definido a US$ 1.700, a taxa de retorno vai de 40% para 74%”.

A mineradora, listada na B3 e em Toronto, Canadá, é uma companhia média, em ascensão. Em base anual, está fazendo 260 mil onças (7,8 toneladas), volume que irá saltar para 450 mil onças (14,5 toneladas) ao final dos projetos em implantação. Torna-se uma empresa de US$ 1 bilhão (R$ 5,15 bilhões) de receita. O executivo diz que a empresa busca novas oportunidades de aquisições de empresas já iniciadas.

A indústria de mineração de ouro trabalha com preço base de US$ 1,8 mil (R$ 9,27 mil) para decidir investir em novos projetos. Há uma série de parâmetros para desenvolver novas minas, que levam de 8 a 10 anos para entrar em operação, desde licenças, pesquisas, sondagens das reservas descobertas, estudo de viabilidade e financiamento para o projeto.

“O teto de custo é US$ 1,3 mil (R$ 6,695 mil). Se está abaixo disso há suporte para seguir em frente”, diz Firmino, com a experiência de quem foi um dos fundadores da mineradora Yamana, do Canadá, e fundador, com sócios, da PA Gold, na região rica em ouro do norte de Mato Grosso ( Peixoto de Azevedo e Alta Floresta).

A composição do custo de uma nova mina leva em conta também o teor de ouro contido no minério a ser lavrado. A média atual na mineração industrial é de 1 grama para cada tonelada de rocha moída, comenta Barbosa, CEO da Aura Minerals. Quanto menor, maior é a quantidade de volume de material a ser movimentada para beneficiar e extrair o metal. A era de altos teores nas minas de ouro ficou no passado.

Perspectivas para o ouro no Brasil

Mathias Heider, especialistas de recursos minerais da ANM, afirma que o País tem um número relevante de projetos de minas em desenvolvimento e em potencial para exploração de ouro. Quando forem implementados, esses projetos devem adicionar cerca de 20 toneladas anuais de ouro à produção brasileira no prazo de cinco anos.

Apesar de as descobertas de minas de classe mundial serem cada vez mais raras, ele destaca que há ainda espaço para se encontrar novas jazidas e gerar novos projetos, mesmo de porte menor. “A alta da cotação do ouro é um fator que viabiliza”. Atualmente, o volume do País, somando o que extrai as mineradoras e o produzido pela lavra garimpeira legalizada, é de 90 toneladas.

Com o ciclo de alta na cotação do ouro, diz Heider, as empresas buscam acelerar seus projetos, visando aproveitar os ganhos gerados pelo maior preço, ao mesmo tempo que fazem aquisições, e até fusões, para agregar sinergias operacionais e de custo e para elevar suas reservas lavráveis, mantendo a continuidade de suas operações. Por sua vez, projetos que se encontram suspensos ou paralisados podem ser reativados. “O Brasil é um mercado bastante ativo”, afirma.

Várias mineradoras estão tocando novos projetos no País. É o caso da peruana Hochschild (antiga Amarillo), em Goiás, com mina já em início de produção, da Cabral Gold, no Pará, da Aura, com Matupá e Borborema, e da Gmining, no Pará. O polêmico projeto de ouro da canadense Belo Sun, que fica na região da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, enfrenta entraves de licenciamento ambiental e de questionamentos do Ministério Público Federal. Para além de 2028/2030, são previstos cerca de 20 potenciais projetos.

Atualmente, a produção da mineração organizada no País é liderada pela canadense Kinross, que faz cerca de 17 toneladas por ano em sua mina de Paracatu (MG). A seguir vêm a sul-africana Anglo Gold Ashanti, Pan American Silver, Jaguar, Aura Minerals, Equinox e Nx Gold (que opera a antiga Mineração Caraíba). Tendo o ouro como subproduto da extração de cobre em Carajás, a Vale é uma grande produtora do metal, com cerca de 10 toneladas.

Cerca de 90% do volume produzido pelo País é exportado: no ano passado foram quase 78 toneladas embarcadas ao exterior, que geraram divisas de US$ 3,5 bilhões (R$ 18,025 bilhões). O ouro é o segundo item mineral mais exportado, somente atrás do minério de ferro.

A desconfiança sobre a economia americana e a forte atuação dos bancos centrais para reforçar suas reservas levaram o ouro a atingir o maior valor da história. O preço do metal precioso, que gera fascínio na humanidade há milênios e foi padrão monetário até meados dos anos 70, quebrou a marca dos US$ 2,4 mil (R$ 12,36 mil) a onça-troy (medida que representa 31,1 gramas) neste mês. Na visão de analistas e especialistas que acompanham o mercado da commodity, a cotação poderá alcançar US$ 2,5 mil (R$ 12,87 mil) e até ir além ainda neste ano.

A atuação dos bancos centrais de vários países, especialmente o chinês, para ampliar seus estoques e ter mais ativos tangíveis, vem dando forte sustentação à onda altista. O Banco Popular da China fez compras de ouro pelo 17º mês consecutivo e, segundo dados oficiais, deste mês, o volume total das reservas do país já beira 2.300 toneladas - pouco mais de um quarto das reservas dos EUA. Apenas no ano passado, o BC chinês teria adquirido mais de 200 toneladas. Mesmo como maior produtor mundial, o país é o principal importador, com forte poder de influência no mercado do metal.

Também conhecido como metal amarelo, o ouro tem grande sensibilidade às incertezas geopolíticas mundiais. Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, o cenário geopolítico ficou mais tensionado e ganhou nova pressão com os eventos no Oriente Médio, em 7 de outubro de 2023, envolvendo Israel, grupos extremistas e o Irã.

Nesses momentos, explicam os especialistas, os investidores ficam preocupados. Uma corrida às compras de ouro funciona como refúgio, a busca por um porto seguro. A cotação subiu 18% entre 1º de março e 12 de abril - cerca de US$ 400 (R$ 2.060) - por causa da escalada das tensões no Oriente Médio.

Alta da cotação do ouro está sendo impulsionada pela compra do metal pelos bancos centrais, por exemplo Foto: de Art/Adobe Stock

“O que impulsiona o preço do ouro no mercado internacional é o aumento da inflação mundial, principalmente nos EUA, o aumento do risco geopolítico, aumento das reservas nos bancos centrais de diversos países e grandes minas de ouro em fase de exaustão do metal, sobrando minas marginais que têm custo mais elevado de implantação e produção”, resume Mathias Heider, engenheiro de minas e especialista em recursos minerais da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Para analistas e especialistas que acompanham o mercado de ouro, a combinação de inflação persistente, emissão massiva de dívida e impressão desenfreada de moeda pelo banco central americano (Fed), com aumento da dívida pública americana, está empurrando os investidores para metais preciosos e outras mercadorias.

Entre as commodities metálicas, o ouro é a que mais reluz nos dois últimos anos e desde março segue num movimento consistente de alta. Na semana passada, a cotação atingiu US$ 2,417 mil (R$12,447 mil) a onça-troy. O ciclo ascendente começou em 2018 e ganhou velocidade após a pandemia de covid-19, em 2022. Há uma busca do ouro como ativo de refúgio.

”Durante a pandemia, houve uma mudança macroeconômica importante: governos de muitos países cometeram a indisciplina fiscal e monetária, criando um problema que se tornou crônico - a inflação. Tudo isso aliado à desglobalização mundial”, afirma Otávio Costa, sócio do fundo Crecast Capital. Fundado em 2020, e baseado na Califórnia, EUA, o fundo investe em ouro e outros metais, como prata e cobre. “O momento é excepcional para os metais preciosos e outros, como prata, cobre e zinco”, afirma.

Unidade de produção de ouro da Kinross, em Paracatu, Minas Gerais Foto: Dida Sampaio/AE - 4.jan.2011

”Há teses que apontam para um ciclo de longo prazo, de cinco a dez anos, de preços elevados para o ouro e outros do grupo dos preciosos”, diz o sócio do Crecast. Ele destaca, além da indisciplina fiscal e monetária, a ação dos bancos centrais procurando melhorar a qualidade de suas reservas em ativos reais e mudanças de gestão dos fundos, como os de pensão, em suas carteiras, concentradas em ações e renda fixa. “Nos anos de 1970 e 1980, cerca de 75% dos ativos dos bancos centrais eram ouro; hoje representam menos de 25%.”

Costa cita o período de alta inflação nesta década nos países desenvolvidos - EUA, Canadá e Europa - como um fator crucial. “Em 45 anos, o Tesouro americano mostra mais volatilidade que o preço do ouro.” O metal é negociado na Bolsa de Londres, com contratos futuros, e no mercado spot, da Comex, de Nova York.

Kinross produz cerca de 17 toneladas de ouro por ano em sua mina em Paracatu  Foto: Dida Sampaio/AE

O mercado da mineração, afirma, passará por uma grande mudança. De um lado, há uma deterioração das atuais minas e depósitos minerais e escassez de novas descobertas. De outro, vemos redução dos gastos com novos projetos do metal. “É um dos mais baixos gastos no setor e isso vai criar um ciclo de longo prazo na mineração”, diz o investidor brasileiro, baseado na Califórnia.

Para onde vai o preço do metal, Costa não se arrisca a dizer. A mais longo prazo, talvez US$ 3 mil (R$ 15,45 mil) ou US$ 4 mil (R$ 20,6 mil) , afirma. “O que vejo hoje é a melhor situação que há para a indústria de mineração”.

Analistas de bancos destacam que a Ásia, principalmente China e Índia - dois gigantes na demanda pelo metal, usado na confecção de joias - se tornou o fixador de preços do mercado global. As indicações de onde vai chegar até fim do ano variam de US$ 2,5 mil (R$ 12,9 mil) a US$ 2,7 mil (R$ 13,9 mil) a onça. Especula-se até US$ 3 mil (R$ 15,45 mil).

Com uma visão mais conservadora, o empresário Antenor Firmino, que atua há 30 anos na mineração de ouro, afirma que a atual cotação está muito ancorada nos problemas geopolíticos. “Se de uma hora para outra se decidir acabar a guerra no Oriente Médio, o preço do metal despenca US$ 200 (R$ 1.030) num só dia. Depois mais US$ 100 e deverá permanecer na faixa de US$ 1,8 mil (R$ 9,3 mil) a US$ 2,1 mil (R$ 10,8 mil)″, diz ele.

A produção anual de ouro no ano passado foi superior a 150 milhões de onças, o correspondente a 4,8 mil toneladas. Desse volume, 75% é oriundo da extração das minas e 25% de metal reciclado. A fabricação de joias fica com quase metade, seguida pela venda aos bancos, barras e moedas, bens de alta tecnologia, ativos financeiros e aplicações industriais.

Quase um quarto da produção do metal foi adquirida, no ano passado, por bancos centrais para compor as reservas e outras instituições, segundo dados do World Gold Council. O primeiro trimestre de 2024 foi o mais forte em compras de ouro, informa a entidade internacional, com uma procura de 1.238 toneladas.

Preço atual eleva ganhos das mineradoras

Esse conjunto de fatores, que reúne déficit fiscal e endividamento dos EUA, juros em alta, incertezas geopolíticas e a forte ação da China para fortalecer suas reservas são um cenário fértil para alta do ouro, afirma Rodrigo Barbosa, presidente da Aura Minerals, mineradora que tem operações no Brasil, México e Honduras.

A Aura colocou em operação no ano passado um grande projeto, Almas, no Tocantins, e toca mais dois - Borborema, no Rio Grande do Norte (previsto iniciar produção daqui um ano) e Matupá, no Mato Grosso, para 2026. Com o atual nível da cotação, a taxa de retorno praticamente dobra em relação ao valor estabelecido como base quando se decidiu montar a mina. “No caso de Borborema, definido a US$ 1.700, a taxa de retorno vai de 40% para 74%”.

A mineradora, listada na B3 e em Toronto, Canadá, é uma companhia média, em ascensão. Em base anual, está fazendo 260 mil onças (7,8 toneladas), volume que irá saltar para 450 mil onças (14,5 toneladas) ao final dos projetos em implantação. Torna-se uma empresa de US$ 1 bilhão (R$ 5,15 bilhões) de receita. O executivo diz que a empresa busca novas oportunidades de aquisições de empresas já iniciadas.

A indústria de mineração de ouro trabalha com preço base de US$ 1,8 mil (R$ 9,27 mil) para decidir investir em novos projetos. Há uma série de parâmetros para desenvolver novas minas, que levam de 8 a 10 anos para entrar em operação, desde licenças, pesquisas, sondagens das reservas descobertas, estudo de viabilidade e financiamento para o projeto.

“O teto de custo é US$ 1,3 mil (R$ 6,695 mil). Se está abaixo disso há suporte para seguir em frente”, diz Firmino, com a experiência de quem foi um dos fundadores da mineradora Yamana, do Canadá, e fundador, com sócios, da PA Gold, na região rica em ouro do norte de Mato Grosso ( Peixoto de Azevedo e Alta Floresta).

A composição do custo de uma nova mina leva em conta também o teor de ouro contido no minério a ser lavrado. A média atual na mineração industrial é de 1 grama para cada tonelada de rocha moída, comenta Barbosa, CEO da Aura Minerals. Quanto menor, maior é a quantidade de volume de material a ser movimentada para beneficiar e extrair o metal. A era de altos teores nas minas de ouro ficou no passado.

Perspectivas para o ouro no Brasil

Mathias Heider, especialistas de recursos minerais da ANM, afirma que o País tem um número relevante de projetos de minas em desenvolvimento e em potencial para exploração de ouro. Quando forem implementados, esses projetos devem adicionar cerca de 20 toneladas anuais de ouro à produção brasileira no prazo de cinco anos.

Apesar de as descobertas de minas de classe mundial serem cada vez mais raras, ele destaca que há ainda espaço para se encontrar novas jazidas e gerar novos projetos, mesmo de porte menor. “A alta da cotação do ouro é um fator que viabiliza”. Atualmente, o volume do País, somando o que extrai as mineradoras e o produzido pela lavra garimpeira legalizada, é de 90 toneladas.

Com o ciclo de alta na cotação do ouro, diz Heider, as empresas buscam acelerar seus projetos, visando aproveitar os ganhos gerados pelo maior preço, ao mesmo tempo que fazem aquisições, e até fusões, para agregar sinergias operacionais e de custo e para elevar suas reservas lavráveis, mantendo a continuidade de suas operações. Por sua vez, projetos que se encontram suspensos ou paralisados podem ser reativados. “O Brasil é um mercado bastante ativo”, afirma.

Várias mineradoras estão tocando novos projetos no País. É o caso da peruana Hochschild (antiga Amarillo), em Goiás, com mina já em início de produção, da Cabral Gold, no Pará, da Aura, com Matupá e Borborema, e da Gmining, no Pará. O polêmico projeto de ouro da canadense Belo Sun, que fica na região da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, enfrenta entraves de licenciamento ambiental e de questionamentos do Ministério Público Federal. Para além de 2028/2030, são previstos cerca de 20 potenciais projetos.

Atualmente, a produção da mineração organizada no País é liderada pela canadense Kinross, que faz cerca de 17 toneladas por ano em sua mina de Paracatu (MG). A seguir vêm a sul-africana Anglo Gold Ashanti, Pan American Silver, Jaguar, Aura Minerals, Equinox e Nx Gold (que opera a antiga Mineração Caraíba). Tendo o ouro como subproduto da extração de cobre em Carajás, a Vale é uma grande produtora do metal, com cerca de 10 toneladas.

Cerca de 90% do volume produzido pelo País é exportado: no ano passado foram quase 78 toneladas embarcadas ao exterior, que geraram divisas de US$ 3,5 bilhões (R$ 18,025 bilhões). O ouro é o segundo item mineral mais exportado, somente atrás do minério de ferro.

A desconfiança sobre a economia americana e a forte atuação dos bancos centrais para reforçar suas reservas levaram o ouro a atingir o maior valor da história. O preço do metal precioso, que gera fascínio na humanidade há milênios e foi padrão monetário até meados dos anos 70, quebrou a marca dos US$ 2,4 mil (R$ 12,36 mil) a onça-troy (medida que representa 31,1 gramas) neste mês. Na visão de analistas e especialistas que acompanham o mercado da commodity, a cotação poderá alcançar US$ 2,5 mil (R$ 12,87 mil) e até ir além ainda neste ano.

A atuação dos bancos centrais de vários países, especialmente o chinês, para ampliar seus estoques e ter mais ativos tangíveis, vem dando forte sustentação à onda altista. O Banco Popular da China fez compras de ouro pelo 17º mês consecutivo e, segundo dados oficiais, deste mês, o volume total das reservas do país já beira 2.300 toneladas - pouco mais de um quarto das reservas dos EUA. Apenas no ano passado, o BC chinês teria adquirido mais de 200 toneladas. Mesmo como maior produtor mundial, o país é o principal importador, com forte poder de influência no mercado do metal.

Também conhecido como metal amarelo, o ouro tem grande sensibilidade às incertezas geopolíticas mundiais. Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, o cenário geopolítico ficou mais tensionado e ganhou nova pressão com os eventos no Oriente Médio, em 7 de outubro de 2023, envolvendo Israel, grupos extremistas e o Irã.

Nesses momentos, explicam os especialistas, os investidores ficam preocupados. Uma corrida às compras de ouro funciona como refúgio, a busca por um porto seguro. A cotação subiu 18% entre 1º de março e 12 de abril - cerca de US$ 400 (R$ 2.060) - por causa da escalada das tensões no Oriente Médio.

Alta da cotação do ouro está sendo impulsionada pela compra do metal pelos bancos centrais, por exemplo Foto: de Art/Adobe Stock

“O que impulsiona o preço do ouro no mercado internacional é o aumento da inflação mundial, principalmente nos EUA, o aumento do risco geopolítico, aumento das reservas nos bancos centrais de diversos países e grandes minas de ouro em fase de exaustão do metal, sobrando minas marginais que têm custo mais elevado de implantação e produção”, resume Mathias Heider, engenheiro de minas e especialista em recursos minerais da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Para analistas e especialistas que acompanham o mercado de ouro, a combinação de inflação persistente, emissão massiva de dívida e impressão desenfreada de moeda pelo banco central americano (Fed), com aumento da dívida pública americana, está empurrando os investidores para metais preciosos e outras mercadorias.

Entre as commodities metálicas, o ouro é a que mais reluz nos dois últimos anos e desde março segue num movimento consistente de alta. Na semana passada, a cotação atingiu US$ 2,417 mil (R$12,447 mil) a onça-troy. O ciclo ascendente começou em 2018 e ganhou velocidade após a pandemia de covid-19, em 2022. Há uma busca do ouro como ativo de refúgio.

”Durante a pandemia, houve uma mudança macroeconômica importante: governos de muitos países cometeram a indisciplina fiscal e monetária, criando um problema que se tornou crônico - a inflação. Tudo isso aliado à desglobalização mundial”, afirma Otávio Costa, sócio do fundo Crecast Capital. Fundado em 2020, e baseado na Califórnia, EUA, o fundo investe em ouro e outros metais, como prata e cobre. “O momento é excepcional para os metais preciosos e outros, como prata, cobre e zinco”, afirma.

Unidade de produção de ouro da Kinross, em Paracatu, Minas Gerais Foto: Dida Sampaio/AE - 4.jan.2011

”Há teses que apontam para um ciclo de longo prazo, de cinco a dez anos, de preços elevados para o ouro e outros do grupo dos preciosos”, diz o sócio do Crecast. Ele destaca, além da indisciplina fiscal e monetária, a ação dos bancos centrais procurando melhorar a qualidade de suas reservas em ativos reais e mudanças de gestão dos fundos, como os de pensão, em suas carteiras, concentradas em ações e renda fixa. “Nos anos de 1970 e 1980, cerca de 75% dos ativos dos bancos centrais eram ouro; hoje representam menos de 25%.”

Costa cita o período de alta inflação nesta década nos países desenvolvidos - EUA, Canadá e Europa - como um fator crucial. “Em 45 anos, o Tesouro americano mostra mais volatilidade que o preço do ouro.” O metal é negociado na Bolsa de Londres, com contratos futuros, e no mercado spot, da Comex, de Nova York.

Kinross produz cerca de 17 toneladas de ouro por ano em sua mina em Paracatu  Foto: Dida Sampaio/AE

O mercado da mineração, afirma, passará por uma grande mudança. De um lado, há uma deterioração das atuais minas e depósitos minerais e escassez de novas descobertas. De outro, vemos redução dos gastos com novos projetos do metal. “É um dos mais baixos gastos no setor e isso vai criar um ciclo de longo prazo na mineração”, diz o investidor brasileiro, baseado na Califórnia.

Para onde vai o preço do metal, Costa não se arrisca a dizer. A mais longo prazo, talvez US$ 3 mil (R$ 15,45 mil) ou US$ 4 mil (R$ 20,6 mil) , afirma. “O que vejo hoje é a melhor situação que há para a indústria de mineração”.

Analistas de bancos destacam que a Ásia, principalmente China e Índia - dois gigantes na demanda pelo metal, usado na confecção de joias - se tornou o fixador de preços do mercado global. As indicações de onde vai chegar até fim do ano variam de US$ 2,5 mil (R$ 12,9 mil) a US$ 2,7 mil (R$ 13,9 mil) a onça. Especula-se até US$ 3 mil (R$ 15,45 mil).

Com uma visão mais conservadora, o empresário Antenor Firmino, que atua há 30 anos na mineração de ouro, afirma que a atual cotação está muito ancorada nos problemas geopolíticos. “Se de uma hora para outra se decidir acabar a guerra no Oriente Médio, o preço do metal despenca US$ 200 (R$ 1.030) num só dia. Depois mais US$ 100 e deverá permanecer na faixa de US$ 1,8 mil (R$ 9,3 mil) a US$ 2,1 mil (R$ 10,8 mil)″, diz ele.

A produção anual de ouro no ano passado foi superior a 150 milhões de onças, o correspondente a 4,8 mil toneladas. Desse volume, 75% é oriundo da extração das minas e 25% de metal reciclado. A fabricação de joias fica com quase metade, seguida pela venda aos bancos, barras e moedas, bens de alta tecnologia, ativos financeiros e aplicações industriais.

Quase um quarto da produção do metal foi adquirida, no ano passado, por bancos centrais para compor as reservas e outras instituições, segundo dados do World Gold Council. O primeiro trimestre de 2024 foi o mais forte em compras de ouro, informa a entidade internacional, com uma procura de 1.238 toneladas.

Preço atual eleva ganhos das mineradoras

Esse conjunto de fatores, que reúne déficit fiscal e endividamento dos EUA, juros em alta, incertezas geopolíticas e a forte ação da China para fortalecer suas reservas são um cenário fértil para alta do ouro, afirma Rodrigo Barbosa, presidente da Aura Minerals, mineradora que tem operações no Brasil, México e Honduras.

A Aura colocou em operação no ano passado um grande projeto, Almas, no Tocantins, e toca mais dois - Borborema, no Rio Grande do Norte (previsto iniciar produção daqui um ano) e Matupá, no Mato Grosso, para 2026. Com o atual nível da cotação, a taxa de retorno praticamente dobra em relação ao valor estabelecido como base quando se decidiu montar a mina. “No caso de Borborema, definido a US$ 1.700, a taxa de retorno vai de 40% para 74%”.

A mineradora, listada na B3 e em Toronto, Canadá, é uma companhia média, em ascensão. Em base anual, está fazendo 260 mil onças (7,8 toneladas), volume que irá saltar para 450 mil onças (14,5 toneladas) ao final dos projetos em implantação. Torna-se uma empresa de US$ 1 bilhão (R$ 5,15 bilhões) de receita. O executivo diz que a empresa busca novas oportunidades de aquisições de empresas já iniciadas.

A indústria de mineração de ouro trabalha com preço base de US$ 1,8 mil (R$ 9,27 mil) para decidir investir em novos projetos. Há uma série de parâmetros para desenvolver novas minas, que levam de 8 a 10 anos para entrar em operação, desde licenças, pesquisas, sondagens das reservas descobertas, estudo de viabilidade e financiamento para o projeto.

“O teto de custo é US$ 1,3 mil (R$ 6,695 mil). Se está abaixo disso há suporte para seguir em frente”, diz Firmino, com a experiência de quem foi um dos fundadores da mineradora Yamana, do Canadá, e fundador, com sócios, da PA Gold, na região rica em ouro do norte de Mato Grosso ( Peixoto de Azevedo e Alta Floresta).

A composição do custo de uma nova mina leva em conta também o teor de ouro contido no minério a ser lavrado. A média atual na mineração industrial é de 1 grama para cada tonelada de rocha moída, comenta Barbosa, CEO da Aura Minerals. Quanto menor, maior é a quantidade de volume de material a ser movimentada para beneficiar e extrair o metal. A era de altos teores nas minas de ouro ficou no passado.

Perspectivas para o ouro no Brasil

Mathias Heider, especialistas de recursos minerais da ANM, afirma que o País tem um número relevante de projetos de minas em desenvolvimento e em potencial para exploração de ouro. Quando forem implementados, esses projetos devem adicionar cerca de 20 toneladas anuais de ouro à produção brasileira no prazo de cinco anos.

Apesar de as descobertas de minas de classe mundial serem cada vez mais raras, ele destaca que há ainda espaço para se encontrar novas jazidas e gerar novos projetos, mesmo de porte menor. “A alta da cotação do ouro é um fator que viabiliza”. Atualmente, o volume do País, somando o que extrai as mineradoras e o produzido pela lavra garimpeira legalizada, é de 90 toneladas.

Com o ciclo de alta na cotação do ouro, diz Heider, as empresas buscam acelerar seus projetos, visando aproveitar os ganhos gerados pelo maior preço, ao mesmo tempo que fazem aquisições, e até fusões, para agregar sinergias operacionais e de custo e para elevar suas reservas lavráveis, mantendo a continuidade de suas operações. Por sua vez, projetos que se encontram suspensos ou paralisados podem ser reativados. “O Brasil é um mercado bastante ativo”, afirma.

Várias mineradoras estão tocando novos projetos no País. É o caso da peruana Hochschild (antiga Amarillo), em Goiás, com mina já em início de produção, da Cabral Gold, no Pará, da Aura, com Matupá e Borborema, e da Gmining, no Pará. O polêmico projeto de ouro da canadense Belo Sun, que fica na região da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, enfrenta entraves de licenciamento ambiental e de questionamentos do Ministério Público Federal. Para além de 2028/2030, são previstos cerca de 20 potenciais projetos.

Atualmente, a produção da mineração organizada no País é liderada pela canadense Kinross, que faz cerca de 17 toneladas por ano em sua mina de Paracatu (MG). A seguir vêm a sul-africana Anglo Gold Ashanti, Pan American Silver, Jaguar, Aura Minerals, Equinox e Nx Gold (que opera a antiga Mineração Caraíba). Tendo o ouro como subproduto da extração de cobre em Carajás, a Vale é uma grande produtora do metal, com cerca de 10 toneladas.

Cerca de 90% do volume produzido pelo País é exportado: no ano passado foram quase 78 toneladas embarcadas ao exterior, que geraram divisas de US$ 3,5 bilhões (R$ 18,025 bilhões). O ouro é o segundo item mineral mais exportado, somente atrás do minério de ferro.

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