RIO - O barril de petróleo do tipo Brent, cujo preço tem subido nas últimas semanas, deve alcançar uma média de US$ 93 no segundo semestre deste ano, tocando a casa dos US$ 95 nos últimos três meses do ano, estima a consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Na quarta-feira, 9, o Brent, usado como valor de referência mundial, fechou em alta de 1,6%, a US$ 87,55 dólares por barril, o preço mais alto desde 27 de janeiro.
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Com um primeiro semestre marcado pela demanda aquém da esperada, o CBIE cortou a projeção de preço médio anual do barril para US$ 86,47, valor 1,3% abaixo do previsto pela consultoria no início do ano (US$ 87,61).
Ainda assim, a previsão é de aumento gradativo da cotação internacional na segunda metade do ano, o que vai pressionar a Petrobras a reajustar os preços de gasolina e diesel em suas refinarias, afirma o diretor do CBIE, Bruno Pascon.
Petrobras
Nos últimos meses, a atual gestão da Petrobras conduziu uma política de descontos agressiva: entre abril e junho, o diesel da estatal ficou 21,1% mais barato em suas refinarias, enquanto a gasolina caiu 16,5% no mesmo período. Os descontos foram concomitantes à volta de impostos, para atenuar os impactos no preço final ao consumidor. Mas, segundo a Petrobras, as reduções tiveram respaldo técnico.
Desde maio, a estatal abandonou o preço de paridade de importação (PPI) e, agora, resiste a reajustes sob a justificativa de que a banda da nova política comercial — delimitada pelo preço marginal da Petrobras e o preço alternativo da concorrência — ainda suporta a flutuação da referência internacional.
Pascon observa que, há algum tempo, a defasagem entre os preços da Petrobras e o PPI está acima de 25% para os dois combustíveis e só aumenta. Como consequência direta, a janela de importação para agentes privados se fechou, levando a uma oferta mais curta no País e ao aumento das importações pela própria Petrobras a preços acima dos praticados no mercado doméstico.
Isso, diz Pascon, “devora” a margem bruta de refino da estatal. Segundo o especialista, esse indicador vinha na casa dos 12%, caiu para 8,25% no segundo trimestre e tende a diminuir ainda mais entre julho e setembro se a estatal não aumentar seus preços no período.
Recentemente, o diretor de comercialização e logística da Petrobras, Claudio Schlosser, disse que a margem na casa dos 8% ainda é “positiva” ante os valores históricos, que já foram mais baixos no passado e até negativos sob o governo Dilma Rousseff.
“Os agentes privados não importam sob prejuízo e a Petrobras tem um limite de produção própria. As refinarias já estão operando com fator de utilização próximo a 95%. Não dá para ir muito além disso, e aí a Petrobras começa a importar mais para abastecer o mercado”, diz o especialista.
O diesel é o combustível mais sensível a essa conjuntura, uma vez que o País importa de 20% a 30% do volume total consumido. Distribuidoras de combustível já sinalizaram restrições na oferta de diesel na semana passada.
De acordo com dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a participação da Petrobras nas importações totais de diesel até junho é de 46,1%, acima de anos anteriores. Em 2022, a Petrobras respondeu por 41,7% e, em 2021, por 41,9% das importações. No auge do PPI, em 2017, a estatal respondeu por apenas 2,2% das importações brasileiras de diesel
Na prática, dizem analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, a Petrobras ainda não tem prejuízo no refino graças ao mix de vendas entre produção própria, que tem aumentado, e importação, mesmo que desvantajosa. Mas, para viabilizar os preços mais baixos, a empresa já tem aberto mão de receita.
Segundo o chefe do departamento de análises do UBS BB, Luiz Carvalho, embora a queda do Brent e dos spreads do diesel expliquem parte da redução na receita com derivados no segundo trimestre, parte significativa, “entre 40% e 50% do problema”, advém da atual política de preços. Para o especialista, a diretoria “envelopou” a questão com a conjuntura internacional, mas a influência do represamento dos preços é “inegável”.
Fatores
Para basear a projeção de alta de 13% do Brent na segunda metade do ano, o CBIE cita primeiro o efeito cheio dos dois cortes na oferta da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que totaliza 1,6 milhão de barris por dia a menos efetivamente consolidados agora.
Depois, há um reforço na previsão de oferta ligado ao bom desempenho da economia americana, que cresceu 2,4% no segundo trimestre, ante previsões de crescimento de 1,8% no mesmo período. Já a China, diz Pascon, continua andando de lado, mas sua economia pode reagir aos seguidos estímulos do governo, incrementando ainda mais a demanda por petróleo e derivados.
“Teremos um segundo semestre com oferta controlada em função dos cortes da Opep e uma demanda variando em função de três fatores, que são a economia americana, a chinesa e os impactos do El Ninõ”, diz Pascon.
Ele lembra que o fenômeno influencia tanto na demanda quanto na oferta. A onda de calor na Europa por si só já pressiona o consumo energético e indica um inverno mais rigoroso, o que aumenta a demanda por gás e diesel, e, portanto, os preços, no fim do ano.
Por outro lado, reforça as chances de uma temporada de furacões mais intensa até o fim de novembro, o que pode interromper a operação de refinarias no Golfo do México (EUA) e o trânsito de cargas.
“No fim, a China e o componente climático serão os fiéis da balança para o mercado no segundo semestre”, diz Pascon.