Em mais uma estreia da onda de aberturas de capital em 2018, o Banco Inter, da família Menin, dona da construtora mineira MRV, começou ontem a negociar seus papéis na B3. Ao levantar R$ 721,9 milhões na sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a empresa foi considerada a primeira fintech a abrir o capital na bolsa brasileira.
“Isso vai ajudar o setor bancário brasileiro e deverá, de quebra, atrair outras startups do setor financeiro a abrirem capital”, afirmou, em cerimônia na B3, João Vitor Menin, presidente do Banco Inter e filho caçula de Rubens Menin, fundador da MRV.
O banco – que tem como lema a gratuidade de abertura de contas, no pedido de cartão e nas transferências – estreou na bolsa valendo R$ 1,9 bilhão. A ação foi precificada em R$ 18,50, um pouco acima do piso do intervalo previsto (de R$ 18 a R$ 23), e a demanda ficou em 1,5 vez o total de papéis ofertados. Investidores brasileiros ficaram com 57% das ações.
Da oferta primária, que somou R$ 541,463 milhões, os recursos serão utilizados para investimentos para “incrementar operações de crédito”, investimentos em tecnologia, em marketing e expansão dos negócios por meio de aquisições estratégicas. Outros R$ 180,487 milhões referem-se à oferta secundária.
No primeiro dia de negociação, o papel da companhia, que chegou a registrar alta de 16%, fechou estável.
Escolha por Brasil. Segundo João Vitor Menin, alguns bancos chegaram a sugerir que a instituição abrisse seu capital em uma bolsa estrangeira, já que nos Estados Unidos, por exemplo, há grande presença de empresas do setor de tecnologia e, por isso, esse acaba sendo o destino de muitas companhias do segmento. “Mas o banco é brasileiro, feito por brasileiros e, assim, é justo que a oferta inicial seja no Brasil”, afirmou.
De acordo o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, há um mito no mercado brasileiro de que os IPOs de empresas de tecnologia precisam ser realizados fora do País. Segundo o executivo, existe no momento um esforço por parte da B3 para que as listagens dessas empresas sejam na bolsa local.
Finkelsztain disse ainda que as companhias brasileiras que escolhem Nova York para abrirem seu capital acabam, depois da oferta, “esquecidas”, porque viram apenas mais uma entre inúmeras empresas ali listadas. Neste ano, em janeiro, a empresa de meios de pagamento PagSeguro abriu seu capital na bolsa de Nova York, em uma oferta que girou mais de R$ 7 bilhões.
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Para Guilherme Horn, diretor executivo de inovação da consultoria Accenture, a abertura de capital do Inter mostra para as fintechs brasileiras que não necessariamente o caminho tem de ser o de abrir capital nos EUA. Além disso, para ele, o IPO da empresa mineira demonstra que o mercado acredita no modelo do banco digital e no seu valor para os acionistas. “Este valor para o investidor, com base em casos de sucesso internacionais, considera um custo de aquisição de clientes que pode chegar a um décimo do de um banco tradicional e um custo de servir que pode ser um terço do de um banco convencional”, explica Horn.
Financeira. Fundada há 24 anos sob o nome de Intermedium, a empresa começou como uma financeira especializada em financiamentos imobiliários. Em 2015, já sem ser controlada pela construtora, a instituição passou por um profundo processo de digitalização, comandado por João Vitor Menin, que marcou a mudança de nome da companhia.
No fim de janeiro, o banco mineiro somava 435 mil correntistas, após fechar o ano passado com patrimônio líquido de R$ 390,6 milhões e uma carteira de empréstimos e adiantamentos a clientes de R$ 2,6 bilhões.
A abertura de capital do Inter vem em um momento de otimismo na bolsa. As duas operadoras de saúde que abriram capital na semana passada, a cearense Hapvida e a Intermédica, controlada pelo fundo Bain Capital, tiveram valorização de mais de 20% nos primeiros dias de pregão.
Com um apetite dos investidores que superou em sete vezes a oferta de papés, a Hapvida levantou R$ 3,4 bilhões. Já o IPO da Intermédica movimentou R$ 2,7 bilhões.