Da bioeconomia à pecuária mais produtiva: veja propostas de pesquisadores para a Amazônia


Pesquisadores ligados ao projeto Amazônia 2030 lançam livro com propostas para desenvolver a região de forma sustentável

Por Beatriz Bulla

As soluções para desenvolver a região da Amazônia de forma sustentável passam pelo incentivo à bioeconomia, pela entrada no mercado de crédito de carbono e pela melhora na produtividade da pecuária realizada nas áreas já desmatadas. Essas são algumas das propostas traçadas por pesquisadores no livro Amazônia 2030 - Bases para o desenvolvimento sustentável, lançado nesta sexta-feira, 10, pelo projeto Amazônia 2030.

O livro é uma síntese do trabalho de mais de 80 pesquisadores de diferentes instituições, que resultou em 60 relatórios publicados pelo projeto Amazônia 2030, que tem o economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia, como colaborador sênior.

O Amazônia 2030 busca propostas para que a região alcance um nível maior de desenvolvimento econômico e humano, ao mesmo tempo que atinja o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.

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Segundo obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação
Segundo obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação Foto: Mauro Pimentel/AFP

Na obra, os pesquisadores debatem, entre outros temas, o que chamam de paradoxo amazônico: a tese de que elementos de crise tornaram-se oportunidades de desenvolvimento para a região.

O pré-requisito para as políticas para a região, segundo os pesquisadores, é chegar no desmatamento zero e em um ordenamento territorial. “De outra forma, não haverá como aumentar a produtividade regional nem como atrair bons investimentos para a região. Também não será possível aproveitar as oportunidades relacionadas à bioeconomia e à restauração florestal nem garantir a provisão e a remuneração pelos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta”, dizem os pesquisadores.

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Segundo a obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação.

Para aprofundar as propostas e recomendações para desenvolver economicamente e de forma sustentável a região, os autores partem de um desenho da Amazônia Legal que a divide em cinco macrozonas. A intenção é propor soluções específicas para cada uma delas, diferenciadas com base na cobertura vegetal remanescente.

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Há, pela classificação estabelecida pelos estudiosos, a Amazônia florestal; a Amazônia florestal sob pressão; a Amazônia desmatada (era originalmente florestada, mas já perdeu grande parte de sua cobertura); a Amazônia não florestal (ocupada por vegetação de cerrado e campos naturais) e a Amazônia urbana.

As zonas florestadas são municípios que tinham mais de 50% do território originalmente composto por floresta. Na Amazônia florestal, só 5% da cobertura original foi desmatada. Na Amazônia florestal sob pressão, mais de 75% do território ainda é de floresta, mas há desmatamento recente em ritmo acelerado. Na Amazônia florestal desmatada, os municípios já perderam mais de 70% da floresta original, excluídas as zonas de Áreas Protegidas (APs).

Propostas

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Para a Amazônia sob pressão, que corresponde a 29% do território analisado, é considerado prioridade o combate à grilagem de florestas públicas, com fiscalização ostentiva contra o desmatamento ilegal. Os pesquisadores também indicam ser “essencial avançar no ordenamento territorial”, em duas frentes: evitar mudanças no marco legal de terras que possam legitimar a grilagem de terras públicas e, simultaneamente, assegurar a proteção de florestas públicas, transformando-as em Áreas Protegidas.

Ainda para a Amazônia sob pressão, o livro sugere que seja oferecida assistência técnica e crédito para os pequenos agricultores, para melhorar o uso da terra nas áreas que já foram desmatadas.

Nas áreas da Amazônia desmatada e da Amazônia não florestal, os pesquisadores sugerem como propostas a melhoria da produtividade agropecuária e a regularização fundiária. No primeiro caso, a maior parte das áreas que já foram desmatadas está subutilizada ou abandonada.

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A área já desmatada, segundo a obra, corresponde a cerca de 85 milhões de hectares. “Essa imensa área pode abrigar toda a demanda projetada pelo governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030. E ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original)”, escrevem os pesquisadores.

“Devemos concentrar esforços para aproveitar melhor essas áreas com o aumento da produtividade por meio da adoção das melhores práticas agrícolas”, continuam.

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A maior parte do território desmatado (73%) é destinada à pecuária atualmente. A segunda maior parte das áreas está com vegetação secundária, que surgiu após abandono ou degradação do local. Atrás disso vêm o uso para agricultura (7 milhões de hectares) ou reflorestamento (300 mil hectares).

“Nossa escolha agora é o que fazer com a imensa área desmatada que está atualmente ocupada por pastagens de baixa produtividade. Sem ganho de produtividade da pecuária, a demanda adicional de carne e produtos agrícolas pode aumentar o desmatamento em cerca de 13 milhões de hectares, o que agravaria ainda mais os riscos climáticos e socioeconômicos para o Brasil”, escrevem os pesquisadores.

Os quatro eixos das propostas para a Amazônia desmatada são: regularização fundiária, melhoria da qualidade de infraestrutura e serviços de educação e saúde, intensificação da agropecuária com melhor uso da terra e também restauração florestal, com foco no mercado de crédito de carbono. As mesmas sugestões são feitas para as áreas de Amazônia não florestal, onde predomina o cerrado.

Florestal

Para a área da Amazônia florestal, que corresponde a 39% do território e diz respeito às áreas mais conservadas, a proposta do livro é “priorizar a conservação da floresta com ganhos sociais e econômicos”. Isso implica apoio à bioeconomia, investimento em pagamento por serviços ambientais e aumento das exportações de produtos como açaí, castanhas, peixes, frutas tropicais, cacau e pimenta do reino.

O mercado desses produtos, segundo o levantamento, movimenta mais de US$ 170 bilhões por ano (o equivalente a R$ 850 bilhões) e está em expansão. A Amazônia Legal, no entanto, tem uma participação de apenas 0,2% nesse mercado.

Bioeconomia é aposta para manter a floresta em pé Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para a região com área florestal preservada, os pesquisadores indicam que é preciso melhorar a infraestrutura, com alternativas de acesso e logística através do transporte fluvial. Também indicam que é necessário investir em energia renovável para a região, ainda dependente de energia fóssil, além de investir em infraestrutura de internet banda larga.

Por fim, e ainda para a zona de Amazônia florestal, o livro aponta que é necessário implementar as APs que já existem e criar novas áreas de proteção nas florestas públicas que não estão destinadas atualmente — que correspondem a território equivalente ao Estado de Minas Gerais.

Urbana

A maior parte da população da Amazônia Legal (76%) vive em zonas urbanas, com infraestrutura e serviços públicos precários, na comparação com o restante do País. Há 21,7 milhões de brasileiros nessas cidades e a maioria dos empregos da região está nas zonas de Amazônia urbana. Só 17% trabalham na agropecuária.

As propostas dos pesquisadores para a Amazônia urbana, portanto, se concentram na melhoria das condições de vida para a população (com garantia de acesso a saneamento básico, abastecimento de água, acesso a internet de qualidade, melhora na mobilidade urbana e fluvial) e no investimento em qualificação profissional.

Maior parte da população da Amazônia vive em cidades, que também tem problemas sociais e ambientais; recentemente, Manaus teve piora drástica na qualidade do ar devido à fumação das queimadas Foto: ANTONIO LIMA/SECOM

O livro aponta que as propostas não são excludentes e algumas delas podem ser adotadas em todas as zonas da Amazônia Legal, caso do mercado de carbono através do mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação e da criação de áreas protegidas.

“Num momento em que crescem os riscos ligados ao aquecimento global, o que deveria ser um ativo do Brasil passou a ser um vergonhoso passivo reputacional e econômico. Mas agora, após um período de trevas, os ventos estão virando para a Amazônia. Vem, portanto, em boa hora o extraordinário projeto Amazônia 2030, que venho acompanhando com entusiasmo e admiração desde o início”, escreve o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, no prefácio da obra.

“Este livro mostra o tamanho do desafio que terá de ser enfrentado, mas mostra também que é possível virar o jogo”, sintetiza.

As soluções para desenvolver a região da Amazônia de forma sustentável passam pelo incentivo à bioeconomia, pela entrada no mercado de crédito de carbono e pela melhora na produtividade da pecuária realizada nas áreas já desmatadas. Essas são algumas das propostas traçadas por pesquisadores no livro Amazônia 2030 - Bases para o desenvolvimento sustentável, lançado nesta sexta-feira, 10, pelo projeto Amazônia 2030.

O livro é uma síntese do trabalho de mais de 80 pesquisadores de diferentes instituições, que resultou em 60 relatórios publicados pelo projeto Amazônia 2030, que tem o economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia, como colaborador sênior.

O Amazônia 2030 busca propostas para que a região alcance um nível maior de desenvolvimento econômico e humano, ao mesmo tempo que atinja o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.

Segundo obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação Foto: Mauro Pimentel/AFP

Na obra, os pesquisadores debatem, entre outros temas, o que chamam de paradoxo amazônico: a tese de que elementos de crise tornaram-se oportunidades de desenvolvimento para a região.

O pré-requisito para as políticas para a região, segundo os pesquisadores, é chegar no desmatamento zero e em um ordenamento territorial. “De outra forma, não haverá como aumentar a produtividade regional nem como atrair bons investimentos para a região. Também não será possível aproveitar as oportunidades relacionadas à bioeconomia e à restauração florestal nem garantir a provisão e a remuneração pelos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta”, dizem os pesquisadores.

Segundo a obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação.

Para aprofundar as propostas e recomendações para desenvolver economicamente e de forma sustentável a região, os autores partem de um desenho da Amazônia Legal que a divide em cinco macrozonas. A intenção é propor soluções específicas para cada uma delas, diferenciadas com base na cobertura vegetal remanescente.

Há, pela classificação estabelecida pelos estudiosos, a Amazônia florestal; a Amazônia florestal sob pressão; a Amazônia desmatada (era originalmente florestada, mas já perdeu grande parte de sua cobertura); a Amazônia não florestal (ocupada por vegetação de cerrado e campos naturais) e a Amazônia urbana.

As zonas florestadas são municípios que tinham mais de 50% do território originalmente composto por floresta. Na Amazônia florestal, só 5% da cobertura original foi desmatada. Na Amazônia florestal sob pressão, mais de 75% do território ainda é de floresta, mas há desmatamento recente em ritmo acelerado. Na Amazônia florestal desmatada, os municípios já perderam mais de 70% da floresta original, excluídas as zonas de Áreas Protegidas (APs).

Propostas

Para a Amazônia sob pressão, que corresponde a 29% do território analisado, é considerado prioridade o combate à grilagem de florestas públicas, com fiscalização ostentiva contra o desmatamento ilegal. Os pesquisadores também indicam ser “essencial avançar no ordenamento territorial”, em duas frentes: evitar mudanças no marco legal de terras que possam legitimar a grilagem de terras públicas e, simultaneamente, assegurar a proteção de florestas públicas, transformando-as em Áreas Protegidas.

Ainda para a Amazônia sob pressão, o livro sugere que seja oferecida assistência técnica e crédito para os pequenos agricultores, para melhorar o uso da terra nas áreas que já foram desmatadas.

Nas áreas da Amazônia desmatada e da Amazônia não florestal, os pesquisadores sugerem como propostas a melhoria da produtividade agropecuária e a regularização fundiária. No primeiro caso, a maior parte das áreas que já foram desmatadas está subutilizada ou abandonada.

A área já desmatada, segundo a obra, corresponde a cerca de 85 milhões de hectares. “Essa imensa área pode abrigar toda a demanda projetada pelo governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030. E ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original)”, escrevem os pesquisadores.

“Devemos concentrar esforços para aproveitar melhor essas áreas com o aumento da produtividade por meio da adoção das melhores práticas agrícolas”, continuam.

A maior parte do território desmatado (73%) é destinada à pecuária atualmente. A segunda maior parte das áreas está com vegetação secundária, que surgiu após abandono ou degradação do local. Atrás disso vêm o uso para agricultura (7 milhões de hectares) ou reflorestamento (300 mil hectares).

“Nossa escolha agora é o que fazer com a imensa área desmatada que está atualmente ocupada por pastagens de baixa produtividade. Sem ganho de produtividade da pecuária, a demanda adicional de carne e produtos agrícolas pode aumentar o desmatamento em cerca de 13 milhões de hectares, o que agravaria ainda mais os riscos climáticos e socioeconômicos para o Brasil”, escrevem os pesquisadores.

Os quatro eixos das propostas para a Amazônia desmatada são: regularização fundiária, melhoria da qualidade de infraestrutura e serviços de educação e saúde, intensificação da agropecuária com melhor uso da terra e também restauração florestal, com foco no mercado de crédito de carbono. As mesmas sugestões são feitas para as áreas de Amazônia não florestal, onde predomina o cerrado.

Florestal

Para a área da Amazônia florestal, que corresponde a 39% do território e diz respeito às áreas mais conservadas, a proposta do livro é “priorizar a conservação da floresta com ganhos sociais e econômicos”. Isso implica apoio à bioeconomia, investimento em pagamento por serviços ambientais e aumento das exportações de produtos como açaí, castanhas, peixes, frutas tropicais, cacau e pimenta do reino.

O mercado desses produtos, segundo o levantamento, movimenta mais de US$ 170 bilhões por ano (o equivalente a R$ 850 bilhões) e está em expansão. A Amazônia Legal, no entanto, tem uma participação de apenas 0,2% nesse mercado.

Bioeconomia é aposta para manter a floresta em pé Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para a região com área florestal preservada, os pesquisadores indicam que é preciso melhorar a infraestrutura, com alternativas de acesso e logística através do transporte fluvial. Também indicam que é necessário investir em energia renovável para a região, ainda dependente de energia fóssil, além de investir em infraestrutura de internet banda larga.

Por fim, e ainda para a zona de Amazônia florestal, o livro aponta que é necessário implementar as APs que já existem e criar novas áreas de proteção nas florestas públicas que não estão destinadas atualmente — que correspondem a território equivalente ao Estado de Minas Gerais.

Urbana

A maior parte da população da Amazônia Legal (76%) vive em zonas urbanas, com infraestrutura e serviços públicos precários, na comparação com o restante do País. Há 21,7 milhões de brasileiros nessas cidades e a maioria dos empregos da região está nas zonas de Amazônia urbana. Só 17% trabalham na agropecuária.

As propostas dos pesquisadores para a Amazônia urbana, portanto, se concentram na melhoria das condições de vida para a população (com garantia de acesso a saneamento básico, abastecimento de água, acesso a internet de qualidade, melhora na mobilidade urbana e fluvial) e no investimento em qualificação profissional.

Maior parte da população da Amazônia vive em cidades, que também tem problemas sociais e ambientais; recentemente, Manaus teve piora drástica na qualidade do ar devido à fumação das queimadas Foto: ANTONIO LIMA/SECOM

O livro aponta que as propostas não são excludentes e algumas delas podem ser adotadas em todas as zonas da Amazônia Legal, caso do mercado de carbono através do mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação e da criação de áreas protegidas.

“Num momento em que crescem os riscos ligados ao aquecimento global, o que deveria ser um ativo do Brasil passou a ser um vergonhoso passivo reputacional e econômico. Mas agora, após um período de trevas, os ventos estão virando para a Amazônia. Vem, portanto, em boa hora o extraordinário projeto Amazônia 2030, que venho acompanhando com entusiasmo e admiração desde o início”, escreve o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, no prefácio da obra.

“Este livro mostra o tamanho do desafio que terá de ser enfrentado, mas mostra também que é possível virar o jogo”, sintetiza.

As soluções para desenvolver a região da Amazônia de forma sustentável passam pelo incentivo à bioeconomia, pela entrada no mercado de crédito de carbono e pela melhora na produtividade da pecuária realizada nas áreas já desmatadas. Essas são algumas das propostas traçadas por pesquisadores no livro Amazônia 2030 - Bases para o desenvolvimento sustentável, lançado nesta sexta-feira, 10, pelo projeto Amazônia 2030.

O livro é uma síntese do trabalho de mais de 80 pesquisadores de diferentes instituições, que resultou em 60 relatórios publicados pelo projeto Amazônia 2030, que tem o economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia, como colaborador sênior.

O Amazônia 2030 busca propostas para que a região alcance um nível maior de desenvolvimento econômico e humano, ao mesmo tempo que atinja o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.

Segundo obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação Foto: Mauro Pimentel/AFP

Na obra, os pesquisadores debatem, entre outros temas, o que chamam de paradoxo amazônico: a tese de que elementos de crise tornaram-se oportunidades de desenvolvimento para a região.

O pré-requisito para as políticas para a região, segundo os pesquisadores, é chegar no desmatamento zero e em um ordenamento territorial. “De outra forma, não haverá como aumentar a produtividade regional nem como atrair bons investimentos para a região. Também não será possível aproveitar as oportunidades relacionadas à bioeconomia e à restauração florestal nem garantir a provisão e a remuneração pelos serviços ecossistêmicos prestados pela floresta”, dizem os pesquisadores.

Segundo a obra, há 143,6 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia sem informação sobre sua destinação.

Para aprofundar as propostas e recomendações para desenvolver economicamente e de forma sustentável a região, os autores partem de um desenho da Amazônia Legal que a divide em cinco macrozonas. A intenção é propor soluções específicas para cada uma delas, diferenciadas com base na cobertura vegetal remanescente.

Há, pela classificação estabelecida pelos estudiosos, a Amazônia florestal; a Amazônia florestal sob pressão; a Amazônia desmatada (era originalmente florestada, mas já perdeu grande parte de sua cobertura); a Amazônia não florestal (ocupada por vegetação de cerrado e campos naturais) e a Amazônia urbana.

As zonas florestadas são municípios que tinham mais de 50% do território originalmente composto por floresta. Na Amazônia florestal, só 5% da cobertura original foi desmatada. Na Amazônia florestal sob pressão, mais de 75% do território ainda é de floresta, mas há desmatamento recente em ritmo acelerado. Na Amazônia florestal desmatada, os municípios já perderam mais de 70% da floresta original, excluídas as zonas de Áreas Protegidas (APs).

Propostas

Para a Amazônia sob pressão, que corresponde a 29% do território analisado, é considerado prioridade o combate à grilagem de florestas públicas, com fiscalização ostentiva contra o desmatamento ilegal. Os pesquisadores também indicam ser “essencial avançar no ordenamento territorial”, em duas frentes: evitar mudanças no marco legal de terras que possam legitimar a grilagem de terras públicas e, simultaneamente, assegurar a proteção de florestas públicas, transformando-as em Áreas Protegidas.

Ainda para a Amazônia sob pressão, o livro sugere que seja oferecida assistência técnica e crédito para os pequenos agricultores, para melhorar o uso da terra nas áreas que já foram desmatadas.

Nas áreas da Amazônia desmatada e da Amazônia não florestal, os pesquisadores sugerem como propostas a melhoria da produtividade agropecuária e a regularização fundiária. No primeiro caso, a maior parte das áreas que já foram desmatadas está subutilizada ou abandonada.

A área já desmatada, segundo a obra, corresponde a cerca de 85 milhões de hectares. “Essa imensa área pode abrigar toda a demanda projetada pelo governo brasileiro para a produção agropecuária até 2030. E ainda sobrariam áreas para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original)”, escrevem os pesquisadores.

“Devemos concentrar esforços para aproveitar melhor essas áreas com o aumento da produtividade por meio da adoção das melhores práticas agrícolas”, continuam.

A maior parte do território desmatado (73%) é destinada à pecuária atualmente. A segunda maior parte das áreas está com vegetação secundária, que surgiu após abandono ou degradação do local. Atrás disso vêm o uso para agricultura (7 milhões de hectares) ou reflorestamento (300 mil hectares).

“Nossa escolha agora é o que fazer com a imensa área desmatada que está atualmente ocupada por pastagens de baixa produtividade. Sem ganho de produtividade da pecuária, a demanda adicional de carne e produtos agrícolas pode aumentar o desmatamento em cerca de 13 milhões de hectares, o que agravaria ainda mais os riscos climáticos e socioeconômicos para o Brasil”, escrevem os pesquisadores.

Os quatro eixos das propostas para a Amazônia desmatada são: regularização fundiária, melhoria da qualidade de infraestrutura e serviços de educação e saúde, intensificação da agropecuária com melhor uso da terra e também restauração florestal, com foco no mercado de crédito de carbono. As mesmas sugestões são feitas para as áreas de Amazônia não florestal, onde predomina o cerrado.

Florestal

Para a área da Amazônia florestal, que corresponde a 39% do território e diz respeito às áreas mais conservadas, a proposta do livro é “priorizar a conservação da floresta com ganhos sociais e econômicos”. Isso implica apoio à bioeconomia, investimento em pagamento por serviços ambientais e aumento das exportações de produtos como açaí, castanhas, peixes, frutas tropicais, cacau e pimenta do reino.

O mercado desses produtos, segundo o levantamento, movimenta mais de US$ 170 bilhões por ano (o equivalente a R$ 850 bilhões) e está em expansão. A Amazônia Legal, no entanto, tem uma participação de apenas 0,2% nesse mercado.

Bioeconomia é aposta para manter a floresta em pé Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

Para a região com área florestal preservada, os pesquisadores indicam que é preciso melhorar a infraestrutura, com alternativas de acesso e logística através do transporte fluvial. Também indicam que é necessário investir em energia renovável para a região, ainda dependente de energia fóssil, além de investir em infraestrutura de internet banda larga.

Por fim, e ainda para a zona de Amazônia florestal, o livro aponta que é necessário implementar as APs que já existem e criar novas áreas de proteção nas florestas públicas que não estão destinadas atualmente — que correspondem a território equivalente ao Estado de Minas Gerais.

Urbana

A maior parte da população da Amazônia Legal (76%) vive em zonas urbanas, com infraestrutura e serviços públicos precários, na comparação com o restante do País. Há 21,7 milhões de brasileiros nessas cidades e a maioria dos empregos da região está nas zonas de Amazônia urbana. Só 17% trabalham na agropecuária.

As propostas dos pesquisadores para a Amazônia urbana, portanto, se concentram na melhoria das condições de vida para a população (com garantia de acesso a saneamento básico, abastecimento de água, acesso a internet de qualidade, melhora na mobilidade urbana e fluvial) e no investimento em qualificação profissional.

Maior parte da população da Amazônia vive em cidades, que também tem problemas sociais e ambientais; recentemente, Manaus teve piora drástica na qualidade do ar devido à fumação das queimadas Foto: ANTONIO LIMA/SECOM

O livro aponta que as propostas não são excludentes e algumas delas podem ser adotadas em todas as zonas da Amazônia Legal, caso do mercado de carbono através do mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação e da criação de áreas protegidas.

“Num momento em que crescem os riscos ligados ao aquecimento global, o que deveria ser um ativo do Brasil passou a ser um vergonhoso passivo reputacional e econômico. Mas agora, após um período de trevas, os ventos estão virando para a Amazônia. Vem, portanto, em boa hora o extraordinário projeto Amazônia 2030, que venho acompanhando com entusiasmo e admiração desde o início”, escreve o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, no prefácio da obra.

“Este livro mostra o tamanho do desafio que terá de ser enfrentado, mas mostra também que é possível virar o jogo”, sintetiza.