Análise|Prudência fiscal é crucial para minimizar riscos externos, e Lula não deveria menosprezar isso


Com superávit comercial robusto e bom nível de reservas cambiais, País vem atravessando sem grandes danos a instabilidade internacional

Por Rolf Kuntz
Atualização:

Crises globais, dólar em alta e grandes oscilações no mercado financeiro têm abalado bem menos o Brasil, nos últimos 20 anos, do que nas quatro décadas finais do século passado. Com superávit comercial de US$ 49,6 bilhões até julho e reservas cambiais de US$ 357,8 bilhões em junho, o País vem atravessando sem grandes danos a instabilidade internacional.

A segunda semana de agosto começou com um tombo de 12,4% na bolsa japonesa, dólar em disparada e previsões assustadoras sobre a economia americana. O exagero ficou logo evidente, o pânico foi contido e números positivos mostraram boas perspectivas para os Estados Unidos. Mas a insegurança permanece, alimentada principalmente pelo dia a dia da política, marcado pela tensão crescente no Oriente Médio, por novos capítulos da guerra entre Rússia e Ucrânia e pelo suspense da eleição americana.

Na semana passada, mercado financeiro internacional viveu momentos de forte volatilidade Foto: Ahn Young-joon/AP
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Enquanto se agrava a insegurança nas áreas de maior instabilidade, resta ao Brasil cuidar de sua economia, garantir tranquilidade nas eleições municipais e contribuir para o avanço da América do Sul. O governo brasileiro tem pouco - talvez nenhum - poder para interferir nos conflitos entre Israel e seus vizinhos ou para conter as ambições do Kremlin. Mas pode contribuir, principalmente se buscar boas parcerias, para o progresso econômico e a consolidação democrática em sua região.

A Argentina, segunda maior economia da América do Sul, tem sido por muitos anos o terceiro maior mercado importador de produtos brasileiros. Mas a Argentina, sob novo governo, apenas começou a recuperar-se de uma grave e prolongada crise. Neste ano, até julho, o mercado argentino absorveu produtos brasileiros no valor de apenas US$ 14,3 bilhões, com redução de 20,4% em relação a um ano antes.

A China, principal destino das exportações brasileiras de mercadorias, também perdeu dinamismo. Ainda assim, suas compras do Brasil cresceram 9,5% e atingiram US$ 98,1 bilhões até julho. Esse valor inclui os negócios com Hong Kong e Macau. As vendas para os Estados Unidos, segundo maior mercado, totalizaram US$ 45,8 bilhões e foram 5,9% maiores que as de janeiro a julho de 2023.

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Apesar do enfraquecimento do mercado global, as vendas externas de produtos brasileiros totalizaram US$ 198,2 bilhões em valor arredondado, em sete meses, e superaram por 2,4% as de um ano antes. As exportações de mercadorias agropecuárias, US$ 46,6 bilhões, foram 6,1% menores que as de um ano antes e a perda refletiu a redução dos preços internacionais. As da indústria de transformação, US$ 101,2 bilhões, ficaram estáveis. As do setor extrativo, US$ 49,5 bilhões, aumentaram 19,6%. Apesar de um avanço menor que o observado em outros anos, o comércio exterior teve um desempenho satisfatório e contribuiu para a preservação da segurança nas contas externas.

Quem só acompanhou a economia no último quarto de século dificilmente pode imaginar o efeito desastroso, e às vezes dramático, de contas externas inseguras e frequentemente deficitárias. Durante décadas, na segunda metade do século passado, o País enfrentou problemas associados à escassez de dólares. Não só as empresas são afetadas. As famílias sofrem limitações no consumo, as oportunidades e as condições de trabalho são restritas e as crises cambiais limitam as perspectivas dos negócios e das condições de vida. Para se ajustar à escassez de dólares, os governos se sujeitam a restrições e têm de renunciar a planos econômicos e sociais importantes. O endividamento externo pode aumentar e impor limitações graves à ação governamental.

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Países sujeitos a escassez de moedas fortes são obviamente mais vulneráveis a choques externos. Crises vividas e vencidas sem sacrifícios excepcionais por países providos de recursos externos podem ser dramáticas para os demais. Muitos países latino-americanos, incluído o Brasil, enfrentaram experiências desse tipo mais de uma vez.

Instabilidades internacionais como as observadas neste ano e em certos períodos deste século seriam especialmente dramáticas, em outras épocas, para a maior parte das economias em desenvolvimento. Reformas e mudanças econômicas acumuladas a partir dos anos 1980, e principalmente nas últimas duas décadas e meia, têm permitido ao Brasil e a outros emergentes enfrentar com menos danos os solavancos da economia.

A melhora das condições fiscais tem sido um importante componente dessa nova segurança. A importância da prudência fiscal é minimizada ou mesmo negada, no entanto, por muitos grupos capazes de influenciar a política econômica. Se esses grupos tiverem maior sucesso do que têm tido na maior parte deste século, o Brasil se tornará muito mais vulnerável às flutuações econômicas internas e externas. Em nenhum momento o presidente Lula deveria menosprezar esse dado. Para isso, no entanto, terá de vencer, em primeiro lugar, os próprios impulsos gastadores.

Crises globais, dólar em alta e grandes oscilações no mercado financeiro têm abalado bem menos o Brasil, nos últimos 20 anos, do que nas quatro décadas finais do século passado. Com superávit comercial de US$ 49,6 bilhões até julho e reservas cambiais de US$ 357,8 bilhões em junho, o País vem atravessando sem grandes danos a instabilidade internacional.

A segunda semana de agosto começou com um tombo de 12,4% na bolsa japonesa, dólar em disparada e previsões assustadoras sobre a economia americana. O exagero ficou logo evidente, o pânico foi contido e números positivos mostraram boas perspectivas para os Estados Unidos. Mas a insegurança permanece, alimentada principalmente pelo dia a dia da política, marcado pela tensão crescente no Oriente Médio, por novos capítulos da guerra entre Rússia e Ucrânia e pelo suspense da eleição americana.

Na semana passada, mercado financeiro internacional viveu momentos de forte volatilidade Foto: Ahn Young-joon/AP

Enquanto se agrava a insegurança nas áreas de maior instabilidade, resta ao Brasil cuidar de sua economia, garantir tranquilidade nas eleições municipais e contribuir para o avanço da América do Sul. O governo brasileiro tem pouco - talvez nenhum - poder para interferir nos conflitos entre Israel e seus vizinhos ou para conter as ambições do Kremlin. Mas pode contribuir, principalmente se buscar boas parcerias, para o progresso econômico e a consolidação democrática em sua região.

A Argentina, segunda maior economia da América do Sul, tem sido por muitos anos o terceiro maior mercado importador de produtos brasileiros. Mas a Argentina, sob novo governo, apenas começou a recuperar-se de uma grave e prolongada crise. Neste ano, até julho, o mercado argentino absorveu produtos brasileiros no valor de apenas US$ 14,3 bilhões, com redução de 20,4% em relação a um ano antes.

A China, principal destino das exportações brasileiras de mercadorias, também perdeu dinamismo. Ainda assim, suas compras do Brasil cresceram 9,5% e atingiram US$ 98,1 bilhões até julho. Esse valor inclui os negócios com Hong Kong e Macau. As vendas para os Estados Unidos, segundo maior mercado, totalizaram US$ 45,8 bilhões e foram 5,9% maiores que as de janeiro a julho de 2023.

Apesar do enfraquecimento do mercado global, as vendas externas de produtos brasileiros totalizaram US$ 198,2 bilhões em valor arredondado, em sete meses, e superaram por 2,4% as de um ano antes. As exportações de mercadorias agropecuárias, US$ 46,6 bilhões, foram 6,1% menores que as de um ano antes e a perda refletiu a redução dos preços internacionais. As da indústria de transformação, US$ 101,2 bilhões, ficaram estáveis. As do setor extrativo, US$ 49,5 bilhões, aumentaram 19,6%. Apesar de um avanço menor que o observado em outros anos, o comércio exterior teve um desempenho satisfatório e contribuiu para a preservação da segurança nas contas externas.

Quem só acompanhou a economia no último quarto de século dificilmente pode imaginar o efeito desastroso, e às vezes dramático, de contas externas inseguras e frequentemente deficitárias. Durante décadas, na segunda metade do século passado, o País enfrentou problemas associados à escassez de dólares. Não só as empresas são afetadas. As famílias sofrem limitações no consumo, as oportunidades e as condições de trabalho são restritas e as crises cambiais limitam as perspectivas dos negócios e das condições de vida. Para se ajustar à escassez de dólares, os governos se sujeitam a restrições e têm de renunciar a planos econômicos e sociais importantes. O endividamento externo pode aumentar e impor limitações graves à ação governamental.

Países sujeitos a escassez de moedas fortes são obviamente mais vulneráveis a choques externos. Crises vividas e vencidas sem sacrifícios excepcionais por países providos de recursos externos podem ser dramáticas para os demais. Muitos países latino-americanos, incluído o Brasil, enfrentaram experiências desse tipo mais de uma vez.

Instabilidades internacionais como as observadas neste ano e em certos períodos deste século seriam especialmente dramáticas, em outras épocas, para a maior parte das economias em desenvolvimento. Reformas e mudanças econômicas acumuladas a partir dos anos 1980, e principalmente nas últimas duas décadas e meia, têm permitido ao Brasil e a outros emergentes enfrentar com menos danos os solavancos da economia.

A melhora das condições fiscais tem sido um importante componente dessa nova segurança. A importância da prudência fiscal é minimizada ou mesmo negada, no entanto, por muitos grupos capazes de influenciar a política econômica. Se esses grupos tiverem maior sucesso do que têm tido na maior parte deste século, o Brasil se tornará muito mais vulnerável às flutuações econômicas internas e externas. Em nenhum momento o presidente Lula deveria menosprezar esse dado. Para isso, no entanto, terá de vencer, em primeiro lugar, os próprios impulsos gastadores.

Crises globais, dólar em alta e grandes oscilações no mercado financeiro têm abalado bem menos o Brasil, nos últimos 20 anos, do que nas quatro décadas finais do século passado. Com superávit comercial de US$ 49,6 bilhões até julho e reservas cambiais de US$ 357,8 bilhões em junho, o País vem atravessando sem grandes danos a instabilidade internacional.

A segunda semana de agosto começou com um tombo de 12,4% na bolsa japonesa, dólar em disparada e previsões assustadoras sobre a economia americana. O exagero ficou logo evidente, o pânico foi contido e números positivos mostraram boas perspectivas para os Estados Unidos. Mas a insegurança permanece, alimentada principalmente pelo dia a dia da política, marcado pela tensão crescente no Oriente Médio, por novos capítulos da guerra entre Rússia e Ucrânia e pelo suspense da eleição americana.

Na semana passada, mercado financeiro internacional viveu momentos de forte volatilidade Foto: Ahn Young-joon/AP

Enquanto se agrava a insegurança nas áreas de maior instabilidade, resta ao Brasil cuidar de sua economia, garantir tranquilidade nas eleições municipais e contribuir para o avanço da América do Sul. O governo brasileiro tem pouco - talvez nenhum - poder para interferir nos conflitos entre Israel e seus vizinhos ou para conter as ambições do Kremlin. Mas pode contribuir, principalmente se buscar boas parcerias, para o progresso econômico e a consolidação democrática em sua região.

A Argentina, segunda maior economia da América do Sul, tem sido por muitos anos o terceiro maior mercado importador de produtos brasileiros. Mas a Argentina, sob novo governo, apenas começou a recuperar-se de uma grave e prolongada crise. Neste ano, até julho, o mercado argentino absorveu produtos brasileiros no valor de apenas US$ 14,3 bilhões, com redução de 20,4% em relação a um ano antes.

A China, principal destino das exportações brasileiras de mercadorias, também perdeu dinamismo. Ainda assim, suas compras do Brasil cresceram 9,5% e atingiram US$ 98,1 bilhões até julho. Esse valor inclui os negócios com Hong Kong e Macau. As vendas para os Estados Unidos, segundo maior mercado, totalizaram US$ 45,8 bilhões e foram 5,9% maiores que as de janeiro a julho de 2023.

Apesar do enfraquecimento do mercado global, as vendas externas de produtos brasileiros totalizaram US$ 198,2 bilhões em valor arredondado, em sete meses, e superaram por 2,4% as de um ano antes. As exportações de mercadorias agropecuárias, US$ 46,6 bilhões, foram 6,1% menores que as de um ano antes e a perda refletiu a redução dos preços internacionais. As da indústria de transformação, US$ 101,2 bilhões, ficaram estáveis. As do setor extrativo, US$ 49,5 bilhões, aumentaram 19,6%. Apesar de um avanço menor que o observado em outros anos, o comércio exterior teve um desempenho satisfatório e contribuiu para a preservação da segurança nas contas externas.

Quem só acompanhou a economia no último quarto de século dificilmente pode imaginar o efeito desastroso, e às vezes dramático, de contas externas inseguras e frequentemente deficitárias. Durante décadas, na segunda metade do século passado, o País enfrentou problemas associados à escassez de dólares. Não só as empresas são afetadas. As famílias sofrem limitações no consumo, as oportunidades e as condições de trabalho são restritas e as crises cambiais limitam as perspectivas dos negócios e das condições de vida. Para se ajustar à escassez de dólares, os governos se sujeitam a restrições e têm de renunciar a planos econômicos e sociais importantes. O endividamento externo pode aumentar e impor limitações graves à ação governamental.

Países sujeitos a escassez de moedas fortes são obviamente mais vulneráveis a choques externos. Crises vividas e vencidas sem sacrifícios excepcionais por países providos de recursos externos podem ser dramáticas para os demais. Muitos países latino-americanos, incluído o Brasil, enfrentaram experiências desse tipo mais de uma vez.

Instabilidades internacionais como as observadas neste ano e em certos períodos deste século seriam especialmente dramáticas, em outras épocas, para a maior parte das economias em desenvolvimento. Reformas e mudanças econômicas acumuladas a partir dos anos 1980, e principalmente nas últimas duas décadas e meia, têm permitido ao Brasil e a outros emergentes enfrentar com menos danos os solavancos da economia.

A melhora das condições fiscais tem sido um importante componente dessa nova segurança. A importância da prudência fiscal é minimizada ou mesmo negada, no entanto, por muitos grupos capazes de influenciar a política econômica. Se esses grupos tiverem maior sucesso do que têm tido na maior parte deste século, o Brasil se tornará muito mais vulnerável às flutuações econômicas internas e externas. Em nenhum momento o presidente Lula deveria menosprezar esse dado. Para isso, no entanto, terá de vencer, em primeiro lugar, os próprios impulsos gastadores.

Análise por Rolf Kuntz

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