O PT pressiona o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para evitar que o texto final do arcabouço fiscal, a ser encaminhado para o Congresso Nacional na próxima semana, contenha travas para investimento público, como planeja a equipe econômica.
“O que a gente defendeu no PT e quer dialogar com a Fazenda é liberar investimentos de qualquer trava. Não ter trava nenhuma, não ficar com o limite de só ser corrigido pela inflação. A gente não quer ficar limitado”, afirmou ao Estadão/Broadcast a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
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Limitar investimentos adicionais é uma estratégia defendida pelo mercado financeiro. O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, antecipou ao Estadão/Broadcast que o limite seria correspondente a R$ 25 bilhões. Com essa trava, uma elevação adicional da arrecadação será canalizada não só para investimentos como também para a melhoria das contas do governo, ajudando num cenário mais favorável para a estabilização da dívida pública.
Dirigente com acesso direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gleisi coleciona divergências com Haddad quando o assunto é a condução da economia. No fim de fevereiro, a dirigente se opôs publicamente à proposta do Ministério da Fazenda de retomar a tributação dos combustíveis, o que foi chancelado por Lula.
A presidente do PT disse que ainda não leu o texto final do arcabouço fiscal e, por isso, não tem certeza se haverá alguma trava ao investimento público. “O Haddad não falou com a gente sobre isso. Queremos conversar com Haddad, com a Fazenda. A defesa do investimento público é uma posição consolidada do PT”, defendeu Gleisi.
A fala da dirigente vem apenas três dias após Lula defender o arcabouço fiscal e o próprio Haddad na reunião ministerial que marcou os 100 dias de governo. “Haddad, de vez em quando eu sei que você ouve algumas críticas. Eu tenho que elogiar você e a equipe que trabalharam. Certamente, em se tratando de economia, de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade”, disse, na ocasião.
Após enviar a proposta de arcabouço fiscal ao Congresso, Haddad vai participar de rodas de conversa com o PT para explicar a nova regra e tentar convencer seus correligionários a apoiar maciçamente a medida.
Contraponto
Com setores do PT resistentes a trechos do arcabouço fiscal, o secretário nacional de comunicação do partido, Jilmar Tatto, saiu em defesa do projeto e negou que parlamentares da sigla vão “bater” no ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “O projeto do Haddad é diferente do projeto fiscalista do Palocci e do [Joaquim] Levy”, afirmou Tatto à reportagem.
Membro da Executiva nacional do PT, Tatto minimizou os impactos do dispositivo que pode limitar os investimentos. “Se a gente tiver um ambiente econômico saudável, tranquilo e com credibilidade, você tem investimentos privados, externos”, afirmou o secretário nacional de comunicação do PT.
Na avaliação dele, no caso do arcabouço, o PT não vai bater em Haddad como no caso dos combustíveis. “O PT já mudou de comportamento. O ambiente está bom, a relação está boa. Houve um freio de arrumação muito legal. Você tem um deputado ou outro que pode ter um probleminha, mas não é o partido como instituição, que está afinado com o presidente Lula”.
Haddad tem sido comparado nos bastidores do PT ao ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, que no primeiro governo Lula promoveu um forte ajuste fiscal e rachou a sigla. Parlamentares então petistas se opuseram publicamente à reforma da Previdência apresentada à época, e acabaram expulsos do partido ou pediram desfiliação. Grande parte dos rompidos formou o PSOL, que hoje integra a base de governo de Lula.
Deputado federal pelo PT paulista, Jilmar Tatto, porém, discorda da avaliação. “O projeto do Haddad é diferente do Palocci e do Levy. O projeto fiscalista do Palocci era cortar despesas. O do Haddad é ao contrário, ele controla despesas porque não é a farra do boi, mas ele foca muito no aumento da receita”, disse.
Joaquim Levy, por sua vez, foi ministro da Fazenda no segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que hoje tomou posse como chefe do banco dos BRICS, em Xangai, na China. Levy também promoveu um forte ajuste fiscal que desagradou a base de esquerda do PT. Posteriormente, assumiu a presidência do BNDES na gestão Jair Bolsonaro (PL), mas ficou no cargo por apenas seis meses.