‘Quando a gente resolver gargalos, o País decola’, diz VP do conselho da Suzano


Empresário Daniel Feffer, que também representa o Brasil na Câmara Internacional de Comércio, cita infraestrutura, custo do capital e questão tributária como inibidores das exportações

Por Sonia Racy
Foto: Silvana Garzaro / Estadão
Entrevista comDaniel FefferVice-presidente do conselho de administração da Suzano e presidente no Brasil da Câmara Internacional de Comércio

Integrante da terceira geração da família que fundou a Suzano – maior fabricante de celulose do mundo –, há 100 anos no Brasil, Daniel Feffer, além de vice-presidente do conselho de administração da empresa, representa hoje o Brasil na Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês).

Ele vê como grande desafio a busca de melhor posição no comércio mundial para os produtos brasileiros. Um caminho que exige racionalizar impostos, modernizar a infraestrutura e baixar o custo do capital. “Na hora em que a gente resolver esses gargalos, o País decola.”

Neto de Leon Feffer, o fundador da Suzano, Daniel também se diz “um entusiasta” da governança da família. “A gente procura aprender com as melhores práticas das empresas centenárias.”

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Em sua atuação na ICC, ele chama a atenção para a questão ambiental, que, a seu ver, pode se tornar “o grande diferencial que o mundo clama do Brasil”. A seguir, os principais trechos da conversa:

Daniel Feffer, Vice-presidente do conselho de administração da Suzano e presidente no Brasil da Câmara Internacional de Comércio. Ele também é neto do fundador da Suzano, Leon Feffer Foto: Silvana Garzaro / Estadão

Qual sua função como representante do Brasil na ICC?

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Ela foi fundada há mais de 100 anos, logo depois da 1.ª Guerra Mundial, por comerciantes europeus e americanos para ajudar os países a prosperar com o comércio entre eles. Denominavam-se “merchants of peace”, mercadores da paz, cientes de que o desenvolvimento de todos traria a paz mundial.

Na prática, o que é a ICC no Brasil?

Ela tem aqui 200 empresas associadas. Funciona aqui um dos muitos comitês nacionais, voltados para a implantação de políticas públicas e privadas para melhorar o ambiente de negócios no que diz respeito à integridade e à sustentabilidade.

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Por que a participação brasileira no comércio mundial é tão pequena? Nós passamos de 0,7% para 1,05% nos últimos 20 anos...

Se me permite, vou antes contar um pouco sobre nossos pilares essenciais. Primeiro, integridade, compliance, que são base de tudo o que a gente faz – na vida, em casa, no nosso País. A ICC desenvolve políticas de integridade entre empresas, instituições, associações, governo. O segundo pilar é sustentabilidade. Encaramos temas como clima e meio ambiente como uma avenida de desenvolvimento.

Mas, afinal, por que a participação do Brasil no comércio mundial é tão pequena?

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O fato importante para o desenvolvimento econômico é o fluxo do comércio. Aquela ideia de que “exportar é o que importa” serviu por um período. Mas a gente precisa é de fluxo.

Ele é pequeno para o Brasil de hoje, né?

A média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) do comércio exterior em relação ao PIB é de 64%. O Brasil já esteve em 30%. Em 2022, chegou a 39%, mas agora está em 33%. Para crescer de modo sustentável, precisamos ter competitividade e vontade política para promover transformação. A China está fazendo isso, um programa com foco em inovação, sustentabilidade, biotecnologia, inteligência artificial. Entendo que uma visão de país em que o comércio exterior seja a ponta de lança seria o ideal.

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E qual papel a ICC teria?

Ela já vem sendo uma voz atuante em fóruns de representação empresarial, de interlocução com o governo. Atuamos também na agenda de financiamento, importação e exportação com o Banco Central e outras instituições.

O que acha do Mercosul?

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Gosto da ideia de somar partes, gosto da União Europeia. O Mercosul é uma oportunidade fantástica para os países negociarem acordos internacionais e se ajudarem mutuamente. Mas ele precisa de um consenso para decidir tudo o que vem do comércio exterior. Existe um sistema de regras de exceção que permite a cada país aprovar, de forma autônoma, negociações bilaterais. Mas essas exceções são poucas e não são transformadoras. No momento, há uma chance enorme para acordos com muitos países.

No debate entre Mercosul e União Europeia, você é a favor de um acordo separado do Brasil com os europeus?

Sou a favor de tudo o que ajudar a avançar na agenda do comércio exterior. A agenda é muito ampla e acredito que é vantajoso, para o País, começar a fazer esses acordos bilaterais. Está sendo negociado um deles com Cingapura. Temos por aqui exemplos fantásticos. O agronegócio é temido lá fora, por sua competitividade. E tem uma indústria, a Embraer: quando a gente fala em comércio exterior não tem exemplo melhor.

E tem a Suzano também...

Podemos mencionar os dois. A Embraer é diferenciada; inclusive, é sócia-fundadora da ICC Brasil. Ela é uma combinação de tecnologia, competência humana; importa peças, produz tecnologia, traz conhecimento de fora.

Acha que o Brasil se protege bem comercialmente?

A gente está melhorando bastante. O maior desafio, creio, é o engajamento, compartilhar com as partes envolvidas. É preciso reforçar a estrutura de negociação, de diplomacia.

Que recomendação daria a empresários brasileiros que resolvessem se aventurar nas exportações?

Primeiro, eu pensaria, mais do que nas exportações, em fluxo do comércio. Entender o que tem lá fora que pode ser absorvido e melhorado aqui.

Exportadores médios e pequenos deviam ter mais oportunidades?

Tem muito espaço ainda para mecanismos de financiamento.

Quer dizer, não faltam recursos para projetos assim.

Acho que o recurso vem conforme se tenha um bom projeto. O avanço tem de vir do aprendizado sobre o que está acontecendo, com as barreiras comerciais se fechando entre China e Estados Unidos...

Acha que isso vai durar?

É difícil definir quanto. E o Brasil pode se beneficiar disso. Ele tem acesso a todos os países, e deveria preservar essa posição neutra. Na hora em que se resolverem gargalos da questão tributária, da infraestrutura, do custo do capital, o País decola.

Integrante da terceira geração da família que fundou a Suzano – maior fabricante de celulose do mundo –, há 100 anos no Brasil, Daniel Feffer, além de vice-presidente do conselho de administração da empresa, representa hoje o Brasil na Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês).

Ele vê como grande desafio a busca de melhor posição no comércio mundial para os produtos brasileiros. Um caminho que exige racionalizar impostos, modernizar a infraestrutura e baixar o custo do capital. “Na hora em que a gente resolver esses gargalos, o País decola.”

Neto de Leon Feffer, o fundador da Suzano, Daniel também se diz “um entusiasta” da governança da família. “A gente procura aprender com as melhores práticas das empresas centenárias.”

Em sua atuação na ICC, ele chama a atenção para a questão ambiental, que, a seu ver, pode se tornar “o grande diferencial que o mundo clama do Brasil”. A seguir, os principais trechos da conversa:

Daniel Feffer, Vice-presidente do conselho de administração da Suzano e presidente no Brasil da Câmara Internacional de Comércio. Ele também é neto do fundador da Suzano, Leon Feffer Foto: Silvana Garzaro / Estadão

Qual sua função como representante do Brasil na ICC?

Ela foi fundada há mais de 100 anos, logo depois da 1.ª Guerra Mundial, por comerciantes europeus e americanos para ajudar os países a prosperar com o comércio entre eles. Denominavam-se “merchants of peace”, mercadores da paz, cientes de que o desenvolvimento de todos traria a paz mundial.

Na prática, o que é a ICC no Brasil?

Ela tem aqui 200 empresas associadas. Funciona aqui um dos muitos comitês nacionais, voltados para a implantação de políticas públicas e privadas para melhorar o ambiente de negócios no que diz respeito à integridade e à sustentabilidade.

Por que a participação brasileira no comércio mundial é tão pequena? Nós passamos de 0,7% para 1,05% nos últimos 20 anos...

Se me permite, vou antes contar um pouco sobre nossos pilares essenciais. Primeiro, integridade, compliance, que são base de tudo o que a gente faz – na vida, em casa, no nosso País. A ICC desenvolve políticas de integridade entre empresas, instituições, associações, governo. O segundo pilar é sustentabilidade. Encaramos temas como clima e meio ambiente como uma avenida de desenvolvimento.

Mas, afinal, por que a participação do Brasil no comércio mundial é tão pequena?

O fato importante para o desenvolvimento econômico é o fluxo do comércio. Aquela ideia de que “exportar é o que importa” serviu por um período. Mas a gente precisa é de fluxo.

Ele é pequeno para o Brasil de hoje, né?

A média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) do comércio exterior em relação ao PIB é de 64%. O Brasil já esteve em 30%. Em 2022, chegou a 39%, mas agora está em 33%. Para crescer de modo sustentável, precisamos ter competitividade e vontade política para promover transformação. A China está fazendo isso, um programa com foco em inovação, sustentabilidade, biotecnologia, inteligência artificial. Entendo que uma visão de país em que o comércio exterior seja a ponta de lança seria o ideal.

E qual papel a ICC teria?

Ela já vem sendo uma voz atuante em fóruns de representação empresarial, de interlocução com o governo. Atuamos também na agenda de financiamento, importação e exportação com o Banco Central e outras instituições.

O que acha do Mercosul?

Gosto da ideia de somar partes, gosto da União Europeia. O Mercosul é uma oportunidade fantástica para os países negociarem acordos internacionais e se ajudarem mutuamente. Mas ele precisa de um consenso para decidir tudo o que vem do comércio exterior. Existe um sistema de regras de exceção que permite a cada país aprovar, de forma autônoma, negociações bilaterais. Mas essas exceções são poucas e não são transformadoras. No momento, há uma chance enorme para acordos com muitos países.

No debate entre Mercosul e União Europeia, você é a favor de um acordo separado do Brasil com os europeus?

Sou a favor de tudo o que ajudar a avançar na agenda do comércio exterior. A agenda é muito ampla e acredito que é vantajoso, para o País, começar a fazer esses acordos bilaterais. Está sendo negociado um deles com Cingapura. Temos por aqui exemplos fantásticos. O agronegócio é temido lá fora, por sua competitividade. E tem uma indústria, a Embraer: quando a gente fala em comércio exterior não tem exemplo melhor.

E tem a Suzano também...

Podemos mencionar os dois. A Embraer é diferenciada; inclusive, é sócia-fundadora da ICC Brasil. Ela é uma combinação de tecnologia, competência humana; importa peças, produz tecnologia, traz conhecimento de fora.

Acha que o Brasil se protege bem comercialmente?

A gente está melhorando bastante. O maior desafio, creio, é o engajamento, compartilhar com as partes envolvidas. É preciso reforçar a estrutura de negociação, de diplomacia.

Que recomendação daria a empresários brasileiros que resolvessem se aventurar nas exportações?

Primeiro, eu pensaria, mais do que nas exportações, em fluxo do comércio. Entender o que tem lá fora que pode ser absorvido e melhorado aqui.

Exportadores médios e pequenos deviam ter mais oportunidades?

Tem muito espaço ainda para mecanismos de financiamento.

Quer dizer, não faltam recursos para projetos assim.

Acho que o recurso vem conforme se tenha um bom projeto. O avanço tem de vir do aprendizado sobre o que está acontecendo, com as barreiras comerciais se fechando entre China e Estados Unidos...

Acha que isso vai durar?

É difícil definir quanto. E o Brasil pode se beneficiar disso. Ele tem acesso a todos os países, e deveria preservar essa posição neutra. Na hora em que se resolverem gargalos da questão tributária, da infraestrutura, do custo do capital, o País decola.

Integrante da terceira geração da família que fundou a Suzano – maior fabricante de celulose do mundo –, há 100 anos no Brasil, Daniel Feffer, além de vice-presidente do conselho de administração da empresa, representa hoje o Brasil na Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês).

Ele vê como grande desafio a busca de melhor posição no comércio mundial para os produtos brasileiros. Um caminho que exige racionalizar impostos, modernizar a infraestrutura e baixar o custo do capital. “Na hora em que a gente resolver esses gargalos, o País decola.”

Neto de Leon Feffer, o fundador da Suzano, Daniel também se diz “um entusiasta” da governança da família. “A gente procura aprender com as melhores práticas das empresas centenárias.”

Em sua atuação na ICC, ele chama a atenção para a questão ambiental, que, a seu ver, pode se tornar “o grande diferencial que o mundo clama do Brasil”. A seguir, os principais trechos da conversa:

Daniel Feffer, Vice-presidente do conselho de administração da Suzano e presidente no Brasil da Câmara Internacional de Comércio. Ele também é neto do fundador da Suzano, Leon Feffer Foto: Silvana Garzaro / Estadão

Qual sua função como representante do Brasil na ICC?

Ela foi fundada há mais de 100 anos, logo depois da 1.ª Guerra Mundial, por comerciantes europeus e americanos para ajudar os países a prosperar com o comércio entre eles. Denominavam-se “merchants of peace”, mercadores da paz, cientes de que o desenvolvimento de todos traria a paz mundial.

Na prática, o que é a ICC no Brasil?

Ela tem aqui 200 empresas associadas. Funciona aqui um dos muitos comitês nacionais, voltados para a implantação de políticas públicas e privadas para melhorar o ambiente de negócios no que diz respeito à integridade e à sustentabilidade.

Por que a participação brasileira no comércio mundial é tão pequena? Nós passamos de 0,7% para 1,05% nos últimos 20 anos...

Se me permite, vou antes contar um pouco sobre nossos pilares essenciais. Primeiro, integridade, compliance, que são base de tudo o que a gente faz – na vida, em casa, no nosso País. A ICC desenvolve políticas de integridade entre empresas, instituições, associações, governo. O segundo pilar é sustentabilidade. Encaramos temas como clima e meio ambiente como uma avenida de desenvolvimento.

Mas, afinal, por que a participação do Brasil no comércio mundial é tão pequena?

O fato importante para o desenvolvimento econômico é o fluxo do comércio. Aquela ideia de que “exportar é o que importa” serviu por um período. Mas a gente precisa é de fluxo.

Ele é pequeno para o Brasil de hoje, né?

A média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) do comércio exterior em relação ao PIB é de 64%. O Brasil já esteve em 30%. Em 2022, chegou a 39%, mas agora está em 33%. Para crescer de modo sustentável, precisamos ter competitividade e vontade política para promover transformação. A China está fazendo isso, um programa com foco em inovação, sustentabilidade, biotecnologia, inteligência artificial. Entendo que uma visão de país em que o comércio exterior seja a ponta de lança seria o ideal.

E qual papel a ICC teria?

Ela já vem sendo uma voz atuante em fóruns de representação empresarial, de interlocução com o governo. Atuamos também na agenda de financiamento, importação e exportação com o Banco Central e outras instituições.

O que acha do Mercosul?

Gosto da ideia de somar partes, gosto da União Europeia. O Mercosul é uma oportunidade fantástica para os países negociarem acordos internacionais e se ajudarem mutuamente. Mas ele precisa de um consenso para decidir tudo o que vem do comércio exterior. Existe um sistema de regras de exceção que permite a cada país aprovar, de forma autônoma, negociações bilaterais. Mas essas exceções são poucas e não são transformadoras. No momento, há uma chance enorme para acordos com muitos países.

No debate entre Mercosul e União Europeia, você é a favor de um acordo separado do Brasil com os europeus?

Sou a favor de tudo o que ajudar a avançar na agenda do comércio exterior. A agenda é muito ampla e acredito que é vantajoso, para o País, começar a fazer esses acordos bilaterais. Está sendo negociado um deles com Cingapura. Temos por aqui exemplos fantásticos. O agronegócio é temido lá fora, por sua competitividade. E tem uma indústria, a Embraer: quando a gente fala em comércio exterior não tem exemplo melhor.

E tem a Suzano também...

Podemos mencionar os dois. A Embraer é diferenciada; inclusive, é sócia-fundadora da ICC Brasil. Ela é uma combinação de tecnologia, competência humana; importa peças, produz tecnologia, traz conhecimento de fora.

Acha que o Brasil se protege bem comercialmente?

A gente está melhorando bastante. O maior desafio, creio, é o engajamento, compartilhar com as partes envolvidas. É preciso reforçar a estrutura de negociação, de diplomacia.

Que recomendação daria a empresários brasileiros que resolvessem se aventurar nas exportações?

Primeiro, eu pensaria, mais do que nas exportações, em fluxo do comércio. Entender o que tem lá fora que pode ser absorvido e melhorado aqui.

Exportadores médios e pequenos deviam ter mais oportunidades?

Tem muito espaço ainda para mecanismos de financiamento.

Quer dizer, não faltam recursos para projetos assim.

Acho que o recurso vem conforme se tenha um bom projeto. O avanço tem de vir do aprendizado sobre o que está acontecendo, com as barreiras comerciais se fechando entre China e Estados Unidos...

Acha que isso vai durar?

É difícil definir quanto. E o Brasil pode se beneficiar disso. Ele tem acesso a todos os países, e deveria preservar essa posição neutra. Na hora em que se resolverem gargalos da questão tributária, da infraestrutura, do custo do capital, o País decola.

Integrante da terceira geração da família que fundou a Suzano – maior fabricante de celulose do mundo –, há 100 anos no Brasil, Daniel Feffer, além de vice-presidente do conselho de administração da empresa, representa hoje o Brasil na Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês).

Ele vê como grande desafio a busca de melhor posição no comércio mundial para os produtos brasileiros. Um caminho que exige racionalizar impostos, modernizar a infraestrutura e baixar o custo do capital. “Na hora em que a gente resolver esses gargalos, o País decola.”

Neto de Leon Feffer, o fundador da Suzano, Daniel também se diz “um entusiasta” da governança da família. “A gente procura aprender com as melhores práticas das empresas centenárias.”

Em sua atuação na ICC, ele chama a atenção para a questão ambiental, que, a seu ver, pode se tornar “o grande diferencial que o mundo clama do Brasil”. A seguir, os principais trechos da conversa:

Daniel Feffer, Vice-presidente do conselho de administração da Suzano e presidente no Brasil da Câmara Internacional de Comércio. Ele também é neto do fundador da Suzano, Leon Feffer Foto: Silvana Garzaro / Estadão

Qual sua função como representante do Brasil na ICC?

Ela foi fundada há mais de 100 anos, logo depois da 1.ª Guerra Mundial, por comerciantes europeus e americanos para ajudar os países a prosperar com o comércio entre eles. Denominavam-se “merchants of peace”, mercadores da paz, cientes de que o desenvolvimento de todos traria a paz mundial.

Na prática, o que é a ICC no Brasil?

Ela tem aqui 200 empresas associadas. Funciona aqui um dos muitos comitês nacionais, voltados para a implantação de políticas públicas e privadas para melhorar o ambiente de negócios no que diz respeito à integridade e à sustentabilidade.

Por que a participação brasileira no comércio mundial é tão pequena? Nós passamos de 0,7% para 1,05% nos últimos 20 anos...

Se me permite, vou antes contar um pouco sobre nossos pilares essenciais. Primeiro, integridade, compliance, que são base de tudo o que a gente faz – na vida, em casa, no nosso País. A ICC desenvolve políticas de integridade entre empresas, instituições, associações, governo. O segundo pilar é sustentabilidade. Encaramos temas como clima e meio ambiente como uma avenida de desenvolvimento.

Mas, afinal, por que a participação do Brasil no comércio mundial é tão pequena?

O fato importante para o desenvolvimento econômico é o fluxo do comércio. Aquela ideia de que “exportar é o que importa” serviu por um período. Mas a gente precisa é de fluxo.

Ele é pequeno para o Brasil de hoje, né?

A média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) do comércio exterior em relação ao PIB é de 64%. O Brasil já esteve em 30%. Em 2022, chegou a 39%, mas agora está em 33%. Para crescer de modo sustentável, precisamos ter competitividade e vontade política para promover transformação. A China está fazendo isso, um programa com foco em inovação, sustentabilidade, biotecnologia, inteligência artificial. Entendo que uma visão de país em que o comércio exterior seja a ponta de lança seria o ideal.

E qual papel a ICC teria?

Ela já vem sendo uma voz atuante em fóruns de representação empresarial, de interlocução com o governo. Atuamos também na agenda de financiamento, importação e exportação com o Banco Central e outras instituições.

O que acha do Mercosul?

Gosto da ideia de somar partes, gosto da União Europeia. O Mercosul é uma oportunidade fantástica para os países negociarem acordos internacionais e se ajudarem mutuamente. Mas ele precisa de um consenso para decidir tudo o que vem do comércio exterior. Existe um sistema de regras de exceção que permite a cada país aprovar, de forma autônoma, negociações bilaterais. Mas essas exceções são poucas e não são transformadoras. No momento, há uma chance enorme para acordos com muitos países.

No debate entre Mercosul e União Europeia, você é a favor de um acordo separado do Brasil com os europeus?

Sou a favor de tudo o que ajudar a avançar na agenda do comércio exterior. A agenda é muito ampla e acredito que é vantajoso, para o País, começar a fazer esses acordos bilaterais. Está sendo negociado um deles com Cingapura. Temos por aqui exemplos fantásticos. O agronegócio é temido lá fora, por sua competitividade. E tem uma indústria, a Embraer: quando a gente fala em comércio exterior não tem exemplo melhor.

E tem a Suzano também...

Podemos mencionar os dois. A Embraer é diferenciada; inclusive, é sócia-fundadora da ICC Brasil. Ela é uma combinação de tecnologia, competência humana; importa peças, produz tecnologia, traz conhecimento de fora.

Acha que o Brasil se protege bem comercialmente?

A gente está melhorando bastante. O maior desafio, creio, é o engajamento, compartilhar com as partes envolvidas. É preciso reforçar a estrutura de negociação, de diplomacia.

Que recomendação daria a empresários brasileiros que resolvessem se aventurar nas exportações?

Primeiro, eu pensaria, mais do que nas exportações, em fluxo do comércio. Entender o que tem lá fora que pode ser absorvido e melhorado aqui.

Exportadores médios e pequenos deviam ter mais oportunidades?

Tem muito espaço ainda para mecanismos de financiamento.

Quer dizer, não faltam recursos para projetos assim.

Acho que o recurso vem conforme se tenha um bom projeto. O avanço tem de vir do aprendizado sobre o que está acontecendo, com as barreiras comerciais se fechando entre China e Estados Unidos...

Acha que isso vai durar?

É difícil definir quanto. E o Brasil pode se beneficiar disso. Ele tem acesso a todos os países, e deveria preservar essa posição neutra. Na hora em que se resolverem gargalos da questão tributária, da infraestrutura, do custo do capital, o País decola.

Entrevista por Sonia Racy

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