Queda de preços na China é um problema maior do que inflação dos EUA


País asiático tem sérios problemas com o desemprego, sobretudo entre jovens, e o crescimento está patinando

Por Adam Taylor

THE WASHINGTON POST - Os Estados Unidos e a China são as duas potências econômicas mais importantes do mundo. Mas enfrentam problemas econômicos opostos.

Os EUA têm se debatido com o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 18 meses, com a inflação ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. Apesar das tentativas de desacelerar os gastos, a taxa anual ficou em 3,2% no mês passado, de acordo com dados divulgados recentemente.

A China encara um problema diferente: a deflação. De acordo com estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias, os preços ao consumidor caíram 0,3% no ano passado, depois de ficarem estagnados durante meses.

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E enquanto os EUA têm um mercado de trabalho surpreendentemente aquecido, com mais vagas de emprego do que pessoas desempregadas, a China enfrenta problemas enormes de desemprego. A taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingiu um recorde de 21% em junho – embora alguns especialistas acreditem que ela seja ainda maior.

Há uma semelhança importante, embora ela não pareça boa para Pequim. Apesar de a China ter uma meta oficial de 5% para o crescimento econômico este ano, a atividade econômica ainda sente os reflexos da política conhecida como “covid zero”. Economistas da Bloomberg News disseram que o crescimento ficaria mais próximo de 3% em circunstâncias normais – não muito acima dos 2,5% que o JPMorgan prevê agora para os EUA.

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Estados Unidos e China enfrentam problemas opostos na economia Foto: SAUL LOEB / AFP

Essa taxa mais lenta estaria bem fora dos trilhos para um país que era, antes da pandemia, um motor do crescimento econômico global. E há sinais mais preocupantes para a China, incluindo a queda do comércio internacional, o aumento da dívida pública e com o investimento imobiliário doméstico.

Do ponto de vista global, o caso da China é mais atípico que o dos EUA. Os problemas com a inflação e no mercado de trabalho vistos nos EUA são observados em quase todas as principais economias. Os economistas atribuem isso aos pacotes de estímulo do governo e ao desemprego estrutural durante a pandemia, assim como ao aumento das despesas depois da redução dos casos de covid-19.

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Nos EUA e em outros lugares, isso representa um problema político imediato. Embora o presidente Biden tenha afirmado que sua “Bidenomics” esteja criando uma desaceleração sem provocar uma recessão ao reduzir a inflação sem causar um aumento no desemprego, as pesquisas mostram que muitos americanos ainda estão sentindo o aperto dos preços mais altos e temem uma recessão.

Os problemas na economia da China também podem ser resultado da covid-19, mas são distintos – e talvez mais drásticos. A resposta rigorosa do país à pandemia – a política de “covid zero” que levou a lockdowns em massa, testes, quarentenas e controle de fronteiras – pode ter salvado muito mais vidas do que as iniciativas menos organizadas nos EUA e em outros lugares, mas terminou de forma abrupta e caótica, invalidando muitos de seus acertos.

E talvez tenha deixado uma ressaca econômica muito pior. Em um artigo para a revista Foreign Affairs no início deste mês, o especialista em política econômica dos EUA Adam Posen argumentou que o que estamos vendo agora representava o “fim do milagre econômico da China”, associando as regras rígidas de combate à covid-19 a uma preocupação crescente com a economia que faz com que as pessoas guardem dinheiro, apesar das baixas taxas de juros, levando à deflação.

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Os economistas também identificaram uma enorme queda no investimento estrangeiro direto na China, provavelmente uma consequência tanto das restrições de combate à covid-19 como do pessimismo econômico no país, mas também da guerra comercial iniciada pelo governo Trump contra Pequim.

Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem subido os juros para combater a inflação Foto: Jason Reed / Reuters

O quanto as coisas podem piorar? Um ponto comum de comparação é o Japão, outra potência econômica asiática outrora em ascensão que causou grande apreensão em Washington e na Europa. Em alta nas décadas de 1970 e 1980, a bolha do Japão estourou nos anos 1990 e o país entrou em décadas de estagnação econômica e deflação que, na prática, tornaram seus cidadãos mais pobres e a dívida nacional mais cara.

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No entanto, a China de 2023 não é o Japão de 30 anos atrás. A China tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mais de dez vezes o tamanho do Japão, até mesmo hoje. Quando ajustada pelo poder de compra, a economia chinesa é maior que a dos EUA desde 2015. A japonesa nunca chegou a mais do que a metade da dos EUA.

Além disso, o Japão é uma democracia funcional, ainda que imperfeita. A China é uma autocracia que se tornou apenas ainda mais fechada nos últimos anos. Até conseguir dados econômicos está ficando mais difícil, com a palavra “deflação” proibida no idioma oficial do país e uma lei antiespionagem tornando as autoridades cautelosas ao falar com especialistas externos, mesmo em particular.

“Você tem uma desaceleração econômica que preocuparia qualquer país, junto com uma China que sempre gosta de dar a entender que está tudo bem e uma liderança que é especialmente preocupada com a própria imagem”, disse Andrew Collier, diretor da Orient Capital Research, em Hong Kong, ao Financial Times. “Junte esses três fatores e é a receita para uma economia pouquíssimo transparente.”

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Ao mesmo tempo, há temores persistentes sobre as intenções da política externa da China – o presidente Xi Jinping sugeriu uma ação considerável contra a ilha autônoma de Taiwan, arriscando uma guerra global que poderia arrastar os EUA e outros países para ela. Recentemente, o Washington Post divulgou a história de como a China se infiltrou nas redes de defesa do Japão.

A derrocada econômica do Japão foi um assunto pacífico. Em uma coluna do The New York Times no mês passado, o economista Paul Krugman argumentou que o país, na verdade, tinha lidado com seu principal problema econômico – uma mudança demográfica de uma sociedade jovem para uma idosa – relativamente bem. A China, outra sociedade que também está envelhecendo, encara um problema semelhante. E talvez não resolva isso tão cedo.

“Portanto, não, a China provavelmente não será o próximo Japão, economicamente falando”, escreveu Krugman. “Ela possivelmente será pior.”

Para o restante do mundo, isso faz com que se fique atento à economia da China. Qualquer instabilidade no país poderia desencadear consequências inesperadas em outras partes do mundo, tanto econômica como politicamente. Como escreveu Posen, para os EUA, isso poderia muito bem ser uma oportunidade para deixar de lado essa rivalidade econômica. Os sonhos da China de ofuscar economicamente os EUA podem, no mínimo, ser adiados para sempre.

THE WASHINGTON POST - Os Estados Unidos e a China são as duas potências econômicas mais importantes do mundo. Mas enfrentam problemas econômicos opostos.

Os EUA têm se debatido com o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 18 meses, com a inflação ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. Apesar das tentativas de desacelerar os gastos, a taxa anual ficou em 3,2% no mês passado, de acordo com dados divulgados recentemente.

A China encara um problema diferente: a deflação. De acordo com estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias, os preços ao consumidor caíram 0,3% no ano passado, depois de ficarem estagnados durante meses.

E enquanto os EUA têm um mercado de trabalho surpreendentemente aquecido, com mais vagas de emprego do que pessoas desempregadas, a China enfrenta problemas enormes de desemprego. A taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingiu um recorde de 21% em junho – embora alguns especialistas acreditem que ela seja ainda maior.

Há uma semelhança importante, embora ela não pareça boa para Pequim. Apesar de a China ter uma meta oficial de 5% para o crescimento econômico este ano, a atividade econômica ainda sente os reflexos da política conhecida como “covid zero”. Economistas da Bloomberg News disseram que o crescimento ficaria mais próximo de 3% em circunstâncias normais – não muito acima dos 2,5% que o JPMorgan prevê agora para os EUA.

Estados Unidos e China enfrentam problemas opostos na economia Foto: SAUL LOEB / AFP

Essa taxa mais lenta estaria bem fora dos trilhos para um país que era, antes da pandemia, um motor do crescimento econômico global. E há sinais mais preocupantes para a China, incluindo a queda do comércio internacional, o aumento da dívida pública e com o investimento imobiliário doméstico.

Do ponto de vista global, o caso da China é mais atípico que o dos EUA. Os problemas com a inflação e no mercado de trabalho vistos nos EUA são observados em quase todas as principais economias. Os economistas atribuem isso aos pacotes de estímulo do governo e ao desemprego estrutural durante a pandemia, assim como ao aumento das despesas depois da redução dos casos de covid-19.

Nos EUA e em outros lugares, isso representa um problema político imediato. Embora o presidente Biden tenha afirmado que sua “Bidenomics” esteja criando uma desaceleração sem provocar uma recessão ao reduzir a inflação sem causar um aumento no desemprego, as pesquisas mostram que muitos americanos ainda estão sentindo o aperto dos preços mais altos e temem uma recessão.

Os problemas na economia da China também podem ser resultado da covid-19, mas são distintos – e talvez mais drásticos. A resposta rigorosa do país à pandemia – a política de “covid zero” que levou a lockdowns em massa, testes, quarentenas e controle de fronteiras – pode ter salvado muito mais vidas do que as iniciativas menos organizadas nos EUA e em outros lugares, mas terminou de forma abrupta e caótica, invalidando muitos de seus acertos.

E talvez tenha deixado uma ressaca econômica muito pior. Em um artigo para a revista Foreign Affairs no início deste mês, o especialista em política econômica dos EUA Adam Posen argumentou que o que estamos vendo agora representava o “fim do milagre econômico da China”, associando as regras rígidas de combate à covid-19 a uma preocupação crescente com a economia que faz com que as pessoas guardem dinheiro, apesar das baixas taxas de juros, levando à deflação.

Os economistas também identificaram uma enorme queda no investimento estrangeiro direto na China, provavelmente uma consequência tanto das restrições de combate à covid-19 como do pessimismo econômico no país, mas também da guerra comercial iniciada pelo governo Trump contra Pequim.

Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem subido os juros para combater a inflação Foto: Jason Reed / Reuters

O quanto as coisas podem piorar? Um ponto comum de comparação é o Japão, outra potência econômica asiática outrora em ascensão que causou grande apreensão em Washington e na Europa. Em alta nas décadas de 1970 e 1980, a bolha do Japão estourou nos anos 1990 e o país entrou em décadas de estagnação econômica e deflação que, na prática, tornaram seus cidadãos mais pobres e a dívida nacional mais cara.

No entanto, a China de 2023 não é o Japão de 30 anos atrás. A China tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mais de dez vezes o tamanho do Japão, até mesmo hoje. Quando ajustada pelo poder de compra, a economia chinesa é maior que a dos EUA desde 2015. A japonesa nunca chegou a mais do que a metade da dos EUA.

Além disso, o Japão é uma democracia funcional, ainda que imperfeita. A China é uma autocracia que se tornou apenas ainda mais fechada nos últimos anos. Até conseguir dados econômicos está ficando mais difícil, com a palavra “deflação” proibida no idioma oficial do país e uma lei antiespionagem tornando as autoridades cautelosas ao falar com especialistas externos, mesmo em particular.

“Você tem uma desaceleração econômica que preocuparia qualquer país, junto com uma China que sempre gosta de dar a entender que está tudo bem e uma liderança que é especialmente preocupada com a própria imagem”, disse Andrew Collier, diretor da Orient Capital Research, em Hong Kong, ao Financial Times. “Junte esses três fatores e é a receita para uma economia pouquíssimo transparente.”

Ao mesmo tempo, há temores persistentes sobre as intenções da política externa da China – o presidente Xi Jinping sugeriu uma ação considerável contra a ilha autônoma de Taiwan, arriscando uma guerra global que poderia arrastar os EUA e outros países para ela. Recentemente, o Washington Post divulgou a história de como a China se infiltrou nas redes de defesa do Japão.

A derrocada econômica do Japão foi um assunto pacífico. Em uma coluna do The New York Times no mês passado, o economista Paul Krugman argumentou que o país, na verdade, tinha lidado com seu principal problema econômico – uma mudança demográfica de uma sociedade jovem para uma idosa – relativamente bem. A China, outra sociedade que também está envelhecendo, encara um problema semelhante. E talvez não resolva isso tão cedo.

“Portanto, não, a China provavelmente não será o próximo Japão, economicamente falando”, escreveu Krugman. “Ela possivelmente será pior.”

Para o restante do mundo, isso faz com que se fique atento à economia da China. Qualquer instabilidade no país poderia desencadear consequências inesperadas em outras partes do mundo, tanto econômica como politicamente. Como escreveu Posen, para os EUA, isso poderia muito bem ser uma oportunidade para deixar de lado essa rivalidade econômica. Os sonhos da China de ofuscar economicamente os EUA podem, no mínimo, ser adiados para sempre.

THE WASHINGTON POST - Os Estados Unidos e a China são as duas potências econômicas mais importantes do mundo. Mas enfrentam problemas econômicos opostos.

Os EUA têm se debatido com o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 18 meses, com a inflação ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. Apesar das tentativas de desacelerar os gastos, a taxa anual ficou em 3,2% no mês passado, de acordo com dados divulgados recentemente.

A China encara um problema diferente: a deflação. De acordo com estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias, os preços ao consumidor caíram 0,3% no ano passado, depois de ficarem estagnados durante meses.

E enquanto os EUA têm um mercado de trabalho surpreendentemente aquecido, com mais vagas de emprego do que pessoas desempregadas, a China enfrenta problemas enormes de desemprego. A taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingiu um recorde de 21% em junho – embora alguns especialistas acreditem que ela seja ainda maior.

Há uma semelhança importante, embora ela não pareça boa para Pequim. Apesar de a China ter uma meta oficial de 5% para o crescimento econômico este ano, a atividade econômica ainda sente os reflexos da política conhecida como “covid zero”. Economistas da Bloomberg News disseram que o crescimento ficaria mais próximo de 3% em circunstâncias normais – não muito acima dos 2,5% que o JPMorgan prevê agora para os EUA.

Estados Unidos e China enfrentam problemas opostos na economia Foto: SAUL LOEB / AFP

Essa taxa mais lenta estaria bem fora dos trilhos para um país que era, antes da pandemia, um motor do crescimento econômico global. E há sinais mais preocupantes para a China, incluindo a queda do comércio internacional, o aumento da dívida pública e com o investimento imobiliário doméstico.

Do ponto de vista global, o caso da China é mais atípico que o dos EUA. Os problemas com a inflação e no mercado de trabalho vistos nos EUA são observados em quase todas as principais economias. Os economistas atribuem isso aos pacotes de estímulo do governo e ao desemprego estrutural durante a pandemia, assim como ao aumento das despesas depois da redução dos casos de covid-19.

Nos EUA e em outros lugares, isso representa um problema político imediato. Embora o presidente Biden tenha afirmado que sua “Bidenomics” esteja criando uma desaceleração sem provocar uma recessão ao reduzir a inflação sem causar um aumento no desemprego, as pesquisas mostram que muitos americanos ainda estão sentindo o aperto dos preços mais altos e temem uma recessão.

Os problemas na economia da China também podem ser resultado da covid-19, mas são distintos – e talvez mais drásticos. A resposta rigorosa do país à pandemia – a política de “covid zero” que levou a lockdowns em massa, testes, quarentenas e controle de fronteiras – pode ter salvado muito mais vidas do que as iniciativas menos organizadas nos EUA e em outros lugares, mas terminou de forma abrupta e caótica, invalidando muitos de seus acertos.

E talvez tenha deixado uma ressaca econômica muito pior. Em um artigo para a revista Foreign Affairs no início deste mês, o especialista em política econômica dos EUA Adam Posen argumentou que o que estamos vendo agora representava o “fim do milagre econômico da China”, associando as regras rígidas de combate à covid-19 a uma preocupação crescente com a economia que faz com que as pessoas guardem dinheiro, apesar das baixas taxas de juros, levando à deflação.

Os economistas também identificaram uma enorme queda no investimento estrangeiro direto na China, provavelmente uma consequência tanto das restrições de combate à covid-19 como do pessimismo econômico no país, mas também da guerra comercial iniciada pelo governo Trump contra Pequim.

Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem subido os juros para combater a inflação Foto: Jason Reed / Reuters

O quanto as coisas podem piorar? Um ponto comum de comparação é o Japão, outra potência econômica asiática outrora em ascensão que causou grande apreensão em Washington e na Europa. Em alta nas décadas de 1970 e 1980, a bolha do Japão estourou nos anos 1990 e o país entrou em décadas de estagnação econômica e deflação que, na prática, tornaram seus cidadãos mais pobres e a dívida nacional mais cara.

No entanto, a China de 2023 não é o Japão de 30 anos atrás. A China tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mais de dez vezes o tamanho do Japão, até mesmo hoje. Quando ajustada pelo poder de compra, a economia chinesa é maior que a dos EUA desde 2015. A japonesa nunca chegou a mais do que a metade da dos EUA.

Além disso, o Japão é uma democracia funcional, ainda que imperfeita. A China é uma autocracia que se tornou apenas ainda mais fechada nos últimos anos. Até conseguir dados econômicos está ficando mais difícil, com a palavra “deflação” proibida no idioma oficial do país e uma lei antiespionagem tornando as autoridades cautelosas ao falar com especialistas externos, mesmo em particular.

“Você tem uma desaceleração econômica que preocuparia qualquer país, junto com uma China que sempre gosta de dar a entender que está tudo bem e uma liderança que é especialmente preocupada com a própria imagem”, disse Andrew Collier, diretor da Orient Capital Research, em Hong Kong, ao Financial Times. “Junte esses três fatores e é a receita para uma economia pouquíssimo transparente.”

Ao mesmo tempo, há temores persistentes sobre as intenções da política externa da China – o presidente Xi Jinping sugeriu uma ação considerável contra a ilha autônoma de Taiwan, arriscando uma guerra global que poderia arrastar os EUA e outros países para ela. Recentemente, o Washington Post divulgou a história de como a China se infiltrou nas redes de defesa do Japão.

A derrocada econômica do Japão foi um assunto pacífico. Em uma coluna do The New York Times no mês passado, o economista Paul Krugman argumentou que o país, na verdade, tinha lidado com seu principal problema econômico – uma mudança demográfica de uma sociedade jovem para uma idosa – relativamente bem. A China, outra sociedade que também está envelhecendo, encara um problema semelhante. E talvez não resolva isso tão cedo.

“Portanto, não, a China provavelmente não será o próximo Japão, economicamente falando”, escreveu Krugman. “Ela possivelmente será pior.”

Para o restante do mundo, isso faz com que se fique atento à economia da China. Qualquer instabilidade no país poderia desencadear consequências inesperadas em outras partes do mundo, tanto econômica como politicamente. Como escreveu Posen, para os EUA, isso poderia muito bem ser uma oportunidade para deixar de lado essa rivalidade econômica. Os sonhos da China de ofuscar economicamente os EUA podem, no mínimo, ser adiados para sempre.

THE WASHINGTON POST - Os Estados Unidos e a China são as duas potências econômicas mais importantes do mundo. Mas enfrentam problemas econômicos opostos.

Os EUA têm se debatido com o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 18 meses, com a inflação ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. Apesar das tentativas de desacelerar os gastos, a taxa anual ficou em 3,2% no mês passado, de acordo com dados divulgados recentemente.

A China encara um problema diferente: a deflação. De acordo com estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias, os preços ao consumidor caíram 0,3% no ano passado, depois de ficarem estagnados durante meses.

E enquanto os EUA têm um mercado de trabalho surpreendentemente aquecido, com mais vagas de emprego do que pessoas desempregadas, a China enfrenta problemas enormes de desemprego. A taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingiu um recorde de 21% em junho – embora alguns especialistas acreditem que ela seja ainda maior.

Há uma semelhança importante, embora ela não pareça boa para Pequim. Apesar de a China ter uma meta oficial de 5% para o crescimento econômico este ano, a atividade econômica ainda sente os reflexos da política conhecida como “covid zero”. Economistas da Bloomberg News disseram que o crescimento ficaria mais próximo de 3% em circunstâncias normais – não muito acima dos 2,5% que o JPMorgan prevê agora para os EUA.

Estados Unidos e China enfrentam problemas opostos na economia Foto: SAUL LOEB / AFP

Essa taxa mais lenta estaria bem fora dos trilhos para um país que era, antes da pandemia, um motor do crescimento econômico global. E há sinais mais preocupantes para a China, incluindo a queda do comércio internacional, o aumento da dívida pública e com o investimento imobiliário doméstico.

Do ponto de vista global, o caso da China é mais atípico que o dos EUA. Os problemas com a inflação e no mercado de trabalho vistos nos EUA são observados em quase todas as principais economias. Os economistas atribuem isso aos pacotes de estímulo do governo e ao desemprego estrutural durante a pandemia, assim como ao aumento das despesas depois da redução dos casos de covid-19.

Nos EUA e em outros lugares, isso representa um problema político imediato. Embora o presidente Biden tenha afirmado que sua “Bidenomics” esteja criando uma desaceleração sem provocar uma recessão ao reduzir a inflação sem causar um aumento no desemprego, as pesquisas mostram que muitos americanos ainda estão sentindo o aperto dos preços mais altos e temem uma recessão.

Os problemas na economia da China também podem ser resultado da covid-19, mas são distintos – e talvez mais drásticos. A resposta rigorosa do país à pandemia – a política de “covid zero” que levou a lockdowns em massa, testes, quarentenas e controle de fronteiras – pode ter salvado muito mais vidas do que as iniciativas menos organizadas nos EUA e em outros lugares, mas terminou de forma abrupta e caótica, invalidando muitos de seus acertos.

E talvez tenha deixado uma ressaca econômica muito pior. Em um artigo para a revista Foreign Affairs no início deste mês, o especialista em política econômica dos EUA Adam Posen argumentou que o que estamos vendo agora representava o “fim do milagre econômico da China”, associando as regras rígidas de combate à covid-19 a uma preocupação crescente com a economia que faz com que as pessoas guardem dinheiro, apesar das baixas taxas de juros, levando à deflação.

Os economistas também identificaram uma enorme queda no investimento estrangeiro direto na China, provavelmente uma consequência tanto das restrições de combate à covid-19 como do pessimismo econômico no país, mas também da guerra comercial iniciada pelo governo Trump contra Pequim.

Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem subido os juros para combater a inflação Foto: Jason Reed / Reuters

O quanto as coisas podem piorar? Um ponto comum de comparação é o Japão, outra potência econômica asiática outrora em ascensão que causou grande apreensão em Washington e na Europa. Em alta nas décadas de 1970 e 1980, a bolha do Japão estourou nos anos 1990 e o país entrou em décadas de estagnação econômica e deflação que, na prática, tornaram seus cidadãos mais pobres e a dívida nacional mais cara.

No entanto, a China de 2023 não é o Japão de 30 anos atrás. A China tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mais de dez vezes o tamanho do Japão, até mesmo hoje. Quando ajustada pelo poder de compra, a economia chinesa é maior que a dos EUA desde 2015. A japonesa nunca chegou a mais do que a metade da dos EUA.

Além disso, o Japão é uma democracia funcional, ainda que imperfeita. A China é uma autocracia que se tornou apenas ainda mais fechada nos últimos anos. Até conseguir dados econômicos está ficando mais difícil, com a palavra “deflação” proibida no idioma oficial do país e uma lei antiespionagem tornando as autoridades cautelosas ao falar com especialistas externos, mesmo em particular.

“Você tem uma desaceleração econômica que preocuparia qualquer país, junto com uma China que sempre gosta de dar a entender que está tudo bem e uma liderança que é especialmente preocupada com a própria imagem”, disse Andrew Collier, diretor da Orient Capital Research, em Hong Kong, ao Financial Times. “Junte esses três fatores e é a receita para uma economia pouquíssimo transparente.”

Ao mesmo tempo, há temores persistentes sobre as intenções da política externa da China – o presidente Xi Jinping sugeriu uma ação considerável contra a ilha autônoma de Taiwan, arriscando uma guerra global que poderia arrastar os EUA e outros países para ela. Recentemente, o Washington Post divulgou a história de como a China se infiltrou nas redes de defesa do Japão.

A derrocada econômica do Japão foi um assunto pacífico. Em uma coluna do The New York Times no mês passado, o economista Paul Krugman argumentou que o país, na verdade, tinha lidado com seu principal problema econômico – uma mudança demográfica de uma sociedade jovem para uma idosa – relativamente bem. A China, outra sociedade que também está envelhecendo, encara um problema semelhante. E talvez não resolva isso tão cedo.

“Portanto, não, a China provavelmente não será o próximo Japão, economicamente falando”, escreveu Krugman. “Ela possivelmente será pior.”

Para o restante do mundo, isso faz com que se fique atento à economia da China. Qualquer instabilidade no país poderia desencadear consequências inesperadas em outras partes do mundo, tanto econômica como politicamente. Como escreveu Posen, para os EUA, isso poderia muito bem ser uma oportunidade para deixar de lado essa rivalidade econômica. Os sonhos da China de ofuscar economicamente os EUA podem, no mínimo, ser adiados para sempre.

THE WASHINGTON POST - Os Estados Unidos e a China são as duas potências econômicas mais importantes do mundo. Mas enfrentam problemas econômicos opostos.

Os EUA têm se debatido com o aumento dos preços ao consumidor nos últimos 18 meses, com a inflação ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve. Apesar das tentativas de desacelerar os gastos, a taxa anual ficou em 3,2% no mês passado, de acordo com dados divulgados recentemente.

A China encara um problema diferente: a deflação. De acordo com estatísticas oficiais divulgadas há poucos dias, os preços ao consumidor caíram 0,3% no ano passado, depois de ficarem estagnados durante meses.

E enquanto os EUA têm um mercado de trabalho surpreendentemente aquecido, com mais vagas de emprego do que pessoas desempregadas, a China enfrenta problemas enormes de desemprego. A taxa de desemprego entre jovens de 16 a 24 anos atingiu um recorde de 21% em junho – embora alguns especialistas acreditem que ela seja ainda maior.

Há uma semelhança importante, embora ela não pareça boa para Pequim. Apesar de a China ter uma meta oficial de 5% para o crescimento econômico este ano, a atividade econômica ainda sente os reflexos da política conhecida como “covid zero”. Economistas da Bloomberg News disseram que o crescimento ficaria mais próximo de 3% em circunstâncias normais – não muito acima dos 2,5% que o JPMorgan prevê agora para os EUA.

Estados Unidos e China enfrentam problemas opostos na economia Foto: SAUL LOEB / AFP

Essa taxa mais lenta estaria bem fora dos trilhos para um país que era, antes da pandemia, um motor do crescimento econômico global. E há sinais mais preocupantes para a China, incluindo a queda do comércio internacional, o aumento da dívida pública e com o investimento imobiliário doméstico.

Do ponto de vista global, o caso da China é mais atípico que o dos EUA. Os problemas com a inflação e no mercado de trabalho vistos nos EUA são observados em quase todas as principais economias. Os economistas atribuem isso aos pacotes de estímulo do governo e ao desemprego estrutural durante a pandemia, assim como ao aumento das despesas depois da redução dos casos de covid-19.

Nos EUA e em outros lugares, isso representa um problema político imediato. Embora o presidente Biden tenha afirmado que sua “Bidenomics” esteja criando uma desaceleração sem provocar uma recessão ao reduzir a inflação sem causar um aumento no desemprego, as pesquisas mostram que muitos americanos ainda estão sentindo o aperto dos preços mais altos e temem uma recessão.

Os problemas na economia da China também podem ser resultado da covid-19, mas são distintos – e talvez mais drásticos. A resposta rigorosa do país à pandemia – a política de “covid zero” que levou a lockdowns em massa, testes, quarentenas e controle de fronteiras – pode ter salvado muito mais vidas do que as iniciativas menos organizadas nos EUA e em outros lugares, mas terminou de forma abrupta e caótica, invalidando muitos de seus acertos.

E talvez tenha deixado uma ressaca econômica muito pior. Em um artigo para a revista Foreign Affairs no início deste mês, o especialista em política econômica dos EUA Adam Posen argumentou que o que estamos vendo agora representava o “fim do milagre econômico da China”, associando as regras rígidas de combate à covid-19 a uma preocupação crescente com a economia que faz com que as pessoas guardem dinheiro, apesar das baixas taxas de juros, levando à deflação.

Os economistas também identificaram uma enorme queda no investimento estrangeiro direto na China, provavelmente uma consequência tanto das restrições de combate à covid-19 como do pessimismo econômico no país, mas também da guerra comercial iniciada pelo governo Trump contra Pequim.

Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem subido os juros para combater a inflação Foto: Jason Reed / Reuters

O quanto as coisas podem piorar? Um ponto comum de comparação é o Japão, outra potência econômica asiática outrora em ascensão que causou grande apreensão em Washington e na Europa. Em alta nas décadas de 1970 e 1980, a bolha do Japão estourou nos anos 1990 e o país entrou em décadas de estagnação econômica e deflação que, na prática, tornaram seus cidadãos mais pobres e a dívida nacional mais cara.

No entanto, a China de 2023 não é o Japão de 30 anos atrás. A China tem uma população de 1,4 bilhão de pessoas, mais de dez vezes o tamanho do Japão, até mesmo hoje. Quando ajustada pelo poder de compra, a economia chinesa é maior que a dos EUA desde 2015. A japonesa nunca chegou a mais do que a metade da dos EUA.

Além disso, o Japão é uma democracia funcional, ainda que imperfeita. A China é uma autocracia que se tornou apenas ainda mais fechada nos últimos anos. Até conseguir dados econômicos está ficando mais difícil, com a palavra “deflação” proibida no idioma oficial do país e uma lei antiespionagem tornando as autoridades cautelosas ao falar com especialistas externos, mesmo em particular.

“Você tem uma desaceleração econômica que preocuparia qualquer país, junto com uma China que sempre gosta de dar a entender que está tudo bem e uma liderança que é especialmente preocupada com a própria imagem”, disse Andrew Collier, diretor da Orient Capital Research, em Hong Kong, ao Financial Times. “Junte esses três fatores e é a receita para uma economia pouquíssimo transparente.”

Ao mesmo tempo, há temores persistentes sobre as intenções da política externa da China – o presidente Xi Jinping sugeriu uma ação considerável contra a ilha autônoma de Taiwan, arriscando uma guerra global que poderia arrastar os EUA e outros países para ela. Recentemente, o Washington Post divulgou a história de como a China se infiltrou nas redes de defesa do Japão.

A derrocada econômica do Japão foi um assunto pacífico. Em uma coluna do The New York Times no mês passado, o economista Paul Krugman argumentou que o país, na verdade, tinha lidado com seu principal problema econômico – uma mudança demográfica de uma sociedade jovem para uma idosa – relativamente bem. A China, outra sociedade que também está envelhecendo, encara um problema semelhante. E talvez não resolva isso tão cedo.

“Portanto, não, a China provavelmente não será o próximo Japão, economicamente falando”, escreveu Krugman. “Ela possivelmente será pior.”

Para o restante do mundo, isso faz com que se fique atento à economia da China. Qualquer instabilidade no país poderia desencadear consequências inesperadas em outras partes do mundo, tanto econômica como politicamente. Como escreveu Posen, para os EUA, isso poderia muito bem ser uma oportunidade para deixar de lado essa rivalidade econômica. Os sonhos da China de ofuscar economicamente os EUA podem, no mínimo, ser adiados para sempre.

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