Quem é Gustavo Pimenta, novo presidente da Vale, e quais seus desafios?


Nome do executivo, atual vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia, foi eleito por unanimidade pelo conselho de administração da mineradora; ele assume em 2025

Por Redação
Atualização:

A Vale anunciou na noite de segunda-feira, 26, que o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Gustavo Pimenta, foi escolhido para substituir Eduardo Bartolomeo como CEO a partir de 1º de janeiro de 2025.

Em comunicado ao mercado, a mineradora afirmou que Pimenta foi eleito por unanimidade pelo conselho de administração. Bartolomeo permanecerá na empresa como consultor até o fim de 2025.

O nome de Pimenta foi uma solução interna para a troca de comando da Vale, a despeito das listas que circularam no mercado mencionando executivos de empresas como Gerdau, BHP, Caoa e Embraer.

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Vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta assumirá cargo de CEO da companhia em 2025 Foto: Divulgação/Vale

Uma das maiores empresas de capital aberto do País, a Vale apresentou lucro líquido de US$ 2,769 bilhões (R$ 15,2 bilhões, na cotação desta segunda-feira) no segundo trimestre do ano, alta de 210% ante igual período de 2023.

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O anúncio põe fim a uma disputa que produziu, além de uma lista oficial de candidatos, uma corrida paralela em que se enfrentaram nomes ligados ao governo Lula, de alas representadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também avaliou o currículo de um potencial candidato.

Quem é Gustavo Pimenta

Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getulio Vargas, o executivo chegou à Vale em novembro de 2021, na gestão de Bartolomeo. Na empresa, também já foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia e Descarbonização.

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Descrito como uma pessoa serena e de fácil interlocução, Pimenta tem a seu favor o amplo domínio do negócio e dos aspectos financeiros da mineradora, além de uma boa dose de experiência internacional. Antes de chegar à Vale, foi CFO (vice-presidente financeiro) global da AES Corporation, nos EUA. Já havia atuado, também, no Citigroup nos EUA como vice-presidente de Estratégia e M&A, conforme seu perfil no LinkedIn.

No comunicado, é apresentado como “um executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, e com uma carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa”.

O texto acrescenta: “Em 2021, assumiu a posição de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale S.A. Também foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização. Antes de juntar-se à Vale, Pimenta foi executivo da AES por 12 anos, acumulando ampla experiência como CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova York”.

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“Agradeço a confiança do Conselho para liderar a Vale nesse novo ciclo”, disse Pimenta, em declaração que consta do comunicado. “Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com fogo em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos.”

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Interlocução com o governo

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A substituição de Bartolomeo no cargo de CEO da mineradora era defendida por setores da empresa devido às dificuldades de interlocução da companhia com o governo. O tema será agora um desafio para Pimenta. No comunicado em que anuncia o nome do novo CEO, o executivo é descrito como uma pessoa de “fácil interlocução”.

Ainda que privatizada há 27 anos, a Vale depende de autorizações públicas, além de operar ferrovias sob concessão. Os demais sócios privados também têm negócios com o governo, como é o caso da Cosan e do Bradesco.

Bartolomeo era considerado um quadro técnico, respeitado pelo mercado e de grande eficiência. Mas sofria resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já havia demonstrado nos bastidores o interesse em trocar o executivo. A alegação era que o desempenho da Vale, frente a concorrentes, deixava a desejar, além do que setores enxergavam como fragilidades do executivo no campo institucional, na relação com autoridades em Brasília e nas comunidades onde a mineradora opera.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou, sem sucesso, emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da empresa e também no conselho de administração. Em entrevista no começo do ano, o presidente disse que a “Vale não pode pensar que é dona do Brasil” e que precisa estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo, o que reforçou a ideia de que Lula deseja interferir na companhia.

Integrantes do governo alegavam, nos bastidores, que era necessário um novo presidente que permitiria o alinhamento de agendas da empresa com o Executivo federal. Auxiliares de Lula dizem esperar contar com a empresa para auxiliar no crescimento da economia e na geração de empregos. E defendem, por exemplo, que a empresa internalize partes da cadeia de exportação do minério de ferro, como a pelotização e a briquetização, feitas hoje no Golfo do México e no Oriente Médio.

Incertezas em relação à China

Ainda como vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores na Vale, Gustavo Pimenta deu uma série de declarações recentes sobre os desafios da mineradora. Um dos maiores, segundo ele, diz respeito às incertezas em relação à China.

“O crescimento chinês das últimas duas décadas foi superimportante para a Vale, mas o país vem passando nos últimos anos por uma grande transformação em sua matriz de produção”, disse o executivo no início deste mês no evento CFO Arena, organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef) e realizado na sede da B3.

De acordo com ele, 40% da demanda do minério vai para o mercado imobiliário e construção civil no país asiático, que teve “enorme retração”. Apesar disso, o crescimento na manufatura da China, que também demanda minério e aço, cria um “fator de proteção de demanda” para a Vale, segundo Pimenta.

O executivo afirmou ainda que, em relação ao cobre, a companhia “ficou para trás na corrida” ao longo das últimas décadas, mas que o objetivo é triplicar a capacidade de produção do metal, para 900 mil ou 1 milhão de toneladas. A produção de aço verde, por meio do hidrogênio, também está no radar da empresa, disse.

Transição energética

Em junho deste ano, em entrevista ao Estadão, Pimenta defendeu uma aceleração na transição energética. “Vamos precisar de tudo que estiver disponível para acelerar a transição”, disse, citando, como exemplo, baterias solares e hidrogênio.

Neste cenário, alguns países estão provendo subsídios para a transição e tentando se posicionar como fornecedores, enquanto o debate avança para abranger os custos do processo. “Há dois anos, todos estavam falando em ESG”, disse. “Hoje estão se questionando quem vai pagar a conta.”

O executivo lembrou que o setor de aço é intensivo em carvão e responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética, observou, será assimétrica no mundo. Regiões mais pobres persistirão no uso do combustível até que soluções verdes se tornem mais baratas. “O mundo todo não vai fazer a transição do mesmo jeito.”

O executivo destacou que a Vale tem potencial de desenvolver sua matriz energética, mencionou que a mineradora também enfrenta o desafio de reduzir as emissões nas próprias operações e contou que a companhia vem realizando testes com etanol e eletrificação. “Hoje o hidrogênio é duas vezes mais caro (que o combustível fóssil)”, disse. E a conversão de caminhões a diesel para uma solução baseada em hidrogênio (amônia, por exemplo) não seria econômica.

Pimenta afirmou que a descarbonização é uma das grandes oportunidades em negócios da atualidade. Ele destacou que briquetes e aglomerados, duas importantes apostas da Vale, ajudam os clientes a produzir aço com menor pegada de carbono.

Além disso, quando houver oferta de hidrogênio, será possível produzir aço verde com o uso de HBI (hot briquetted iron), produto com maior teor de ferro, que elimina a necessidade de carvão metalúrgico para a conversão em aço. “O que a gente tem visto no mundo hoje é um grande avanço de novos mercados tentando fazer o HBI com fontes de mais baixo carbono, inicialmente gás natural”, apontou, lembrando que a Vale tem acordos para hubs, por exemplo, no Oriente Médio. “Mas a visão de longo prazo é que o hidrogênio será essa fonte, e assim poderá ser produzido um aço 100% verde.”

Potencial de liderança do Brasil

Em outubro do ano passado, durante o seminário Siga Previ, no Rio de Janeiro, Pimenta afirmou que a Vale estava investindo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões em descarbonização, e que no futuro os metais sustentáveis vão pagar um prêmio para a empresa. Segundo ele, o Brasil tem tudo para liderar a área de minerais da transição energética. “Isso coloca a Vale numa posição muito única”, disse.

Ele informou que a Vale cresceu bastante na área de metais da transição energética (níquel e cobre) e que mesmo o minério de ferro, que deu origem à empresa, possui um teor de ferro que favorece a economia de energia, um dos pontos fundamentais para dar sustentabilidade à produção.

“Ninguém produz minério de ferro com 65% de teor, só a Vale, e quanto maior a qualidade do minério menor o consumo de energia”, destacou durante sua apresentação no evento. Ele informou que a Vale pretende triplicar a produção de cobre e pelo menos dobrar a de níquel, mas não detalhou em que horizonte esse crescimento deve ocorrer.

“A Vale cresceu e tem liderança do níquel na parte ocidental, e tem plano de crescimento muito grande nos metais de transição”, disse o executivo. A empresa planeja no futuro abrir o capital do seu segmento de metais básicos.

Proteção contra eventos climáticos

Para o executivo, atualmente, todos estão lidando com eventos climáticos, com impacto nos negócios, e a transição energética está em curso, com mudança de modelos mentais. “O mindset mudou, a nova geração virá colocando muita pressão sobre nós”, disse. “Estou muito otimista, seremos capazes de fazer a transição e endereçar assuntos relevantes da nossa geração.”

Em junho, ao Estadão, ele disse que os eventos climáticos adversos são cada vez mais frequentes e têm impacto direto na estabilidade operacional da companhia, que vem investindo nos pontos mais vulneráveis para se proteger. “Temos observado volatilidade maior dos eventos climáticos. Têm ficado mais adversos e com mais frequência”, disse, citando impactos em operações em portos, ferrovias e minas.

“Procuramos ter a cada dia mais proteção contra eventos climáticos adversos”, disse, destacando que a Vale busca soluções de engenharia para garantir a estabilidade das operações mesmo em condições adversas. “A gente aloca capital para se proteger onde está mais vulnerável a eventos climáticos”.

O executivo lembrou que a transição energética enfrenta desafios diferentes em veículos de rua e equipamentos de mineração, como caminhões fora de estrada. “A gente não acredita numa transição energética da noite para o dia”, disse, citando que a companhia vai testar diferentes soluções, como biodiesel e amônia.

Indagado sobre eventual interesse da Vale em nióbio, o executivo disse que vê potencial para o material no processo de transição energética, mas que o produto não está no escopo da Vale. A mineradora, frisou, se foca em cobre e níquel no Brasil, dentre os metais de transição energética. “A gente tem apostado muito em minerais para transição energética, como cobre e níquel.”

Compensações pelo desastre de Mariana

O executivo disse, ainda em junho, esperar que um acordo sobre as compensações pelo desastre de Mariana fosse alcançado neste ano. “Temos esperança de que a nova proposta seja suficiente para chegar numa definição.”

Naquele mês, a Vale informou que, juntamente com Samarco e BHP Billiton, apresentou uma nova proposta de acordo com valor financeiro de R$ 140 bilhões, considerando obrigações passadas e futuras. “Tudo mostra que a dinâmica de um acordo que está se aproximando”, opinou Pimenta. “Estou esperançoso de que isso se resolva nos próximos meses”.

A Vale anunciou na noite de segunda-feira, 26, que o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Gustavo Pimenta, foi escolhido para substituir Eduardo Bartolomeo como CEO a partir de 1º de janeiro de 2025.

Em comunicado ao mercado, a mineradora afirmou que Pimenta foi eleito por unanimidade pelo conselho de administração. Bartolomeo permanecerá na empresa como consultor até o fim de 2025.

O nome de Pimenta foi uma solução interna para a troca de comando da Vale, a despeito das listas que circularam no mercado mencionando executivos de empresas como Gerdau, BHP, Caoa e Embraer.

Vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta assumirá cargo de CEO da companhia em 2025 Foto: Divulgação/Vale

Uma das maiores empresas de capital aberto do País, a Vale apresentou lucro líquido de US$ 2,769 bilhões (R$ 15,2 bilhões, na cotação desta segunda-feira) no segundo trimestre do ano, alta de 210% ante igual período de 2023.

O anúncio põe fim a uma disputa que produziu, além de uma lista oficial de candidatos, uma corrida paralela em que se enfrentaram nomes ligados ao governo Lula, de alas representadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também avaliou o currículo de um potencial candidato.

Quem é Gustavo Pimenta

Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getulio Vargas, o executivo chegou à Vale em novembro de 2021, na gestão de Bartolomeo. Na empresa, também já foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia e Descarbonização.

Descrito como uma pessoa serena e de fácil interlocução, Pimenta tem a seu favor o amplo domínio do negócio e dos aspectos financeiros da mineradora, além de uma boa dose de experiência internacional. Antes de chegar à Vale, foi CFO (vice-presidente financeiro) global da AES Corporation, nos EUA. Já havia atuado, também, no Citigroup nos EUA como vice-presidente de Estratégia e M&A, conforme seu perfil no LinkedIn.

No comunicado, é apresentado como “um executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, e com uma carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa”.

O texto acrescenta: “Em 2021, assumiu a posição de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale S.A. Também foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização. Antes de juntar-se à Vale, Pimenta foi executivo da AES por 12 anos, acumulando ampla experiência como CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova York”.

“Agradeço a confiança do Conselho para liderar a Vale nesse novo ciclo”, disse Pimenta, em declaração que consta do comunicado. “Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com fogo em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos.”

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Interlocução com o governo

A substituição de Bartolomeo no cargo de CEO da mineradora era defendida por setores da empresa devido às dificuldades de interlocução da companhia com o governo. O tema será agora um desafio para Pimenta. No comunicado em que anuncia o nome do novo CEO, o executivo é descrito como uma pessoa de “fácil interlocução”.

Ainda que privatizada há 27 anos, a Vale depende de autorizações públicas, além de operar ferrovias sob concessão. Os demais sócios privados também têm negócios com o governo, como é o caso da Cosan e do Bradesco.

Bartolomeo era considerado um quadro técnico, respeitado pelo mercado e de grande eficiência. Mas sofria resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já havia demonstrado nos bastidores o interesse em trocar o executivo. A alegação era que o desempenho da Vale, frente a concorrentes, deixava a desejar, além do que setores enxergavam como fragilidades do executivo no campo institucional, na relação com autoridades em Brasília e nas comunidades onde a mineradora opera.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou, sem sucesso, emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da empresa e também no conselho de administração. Em entrevista no começo do ano, o presidente disse que a “Vale não pode pensar que é dona do Brasil” e que precisa estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo, o que reforçou a ideia de que Lula deseja interferir na companhia.

Integrantes do governo alegavam, nos bastidores, que era necessário um novo presidente que permitiria o alinhamento de agendas da empresa com o Executivo federal. Auxiliares de Lula dizem esperar contar com a empresa para auxiliar no crescimento da economia e na geração de empregos. E defendem, por exemplo, que a empresa internalize partes da cadeia de exportação do minério de ferro, como a pelotização e a briquetização, feitas hoje no Golfo do México e no Oriente Médio.

Incertezas em relação à China

Ainda como vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores na Vale, Gustavo Pimenta deu uma série de declarações recentes sobre os desafios da mineradora. Um dos maiores, segundo ele, diz respeito às incertezas em relação à China.

“O crescimento chinês das últimas duas décadas foi superimportante para a Vale, mas o país vem passando nos últimos anos por uma grande transformação em sua matriz de produção”, disse o executivo no início deste mês no evento CFO Arena, organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef) e realizado na sede da B3.

De acordo com ele, 40% da demanda do minério vai para o mercado imobiliário e construção civil no país asiático, que teve “enorme retração”. Apesar disso, o crescimento na manufatura da China, que também demanda minério e aço, cria um “fator de proteção de demanda” para a Vale, segundo Pimenta.

O executivo afirmou ainda que, em relação ao cobre, a companhia “ficou para trás na corrida” ao longo das últimas décadas, mas que o objetivo é triplicar a capacidade de produção do metal, para 900 mil ou 1 milhão de toneladas. A produção de aço verde, por meio do hidrogênio, também está no radar da empresa, disse.

Transição energética

Em junho deste ano, em entrevista ao Estadão, Pimenta defendeu uma aceleração na transição energética. “Vamos precisar de tudo que estiver disponível para acelerar a transição”, disse, citando, como exemplo, baterias solares e hidrogênio.

Neste cenário, alguns países estão provendo subsídios para a transição e tentando se posicionar como fornecedores, enquanto o debate avança para abranger os custos do processo. “Há dois anos, todos estavam falando em ESG”, disse. “Hoje estão se questionando quem vai pagar a conta.”

O executivo lembrou que o setor de aço é intensivo em carvão e responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética, observou, será assimétrica no mundo. Regiões mais pobres persistirão no uso do combustível até que soluções verdes se tornem mais baratas. “O mundo todo não vai fazer a transição do mesmo jeito.”

O executivo destacou que a Vale tem potencial de desenvolver sua matriz energética, mencionou que a mineradora também enfrenta o desafio de reduzir as emissões nas próprias operações e contou que a companhia vem realizando testes com etanol e eletrificação. “Hoje o hidrogênio é duas vezes mais caro (que o combustível fóssil)”, disse. E a conversão de caminhões a diesel para uma solução baseada em hidrogênio (amônia, por exemplo) não seria econômica.

Pimenta afirmou que a descarbonização é uma das grandes oportunidades em negócios da atualidade. Ele destacou que briquetes e aglomerados, duas importantes apostas da Vale, ajudam os clientes a produzir aço com menor pegada de carbono.

Além disso, quando houver oferta de hidrogênio, será possível produzir aço verde com o uso de HBI (hot briquetted iron), produto com maior teor de ferro, que elimina a necessidade de carvão metalúrgico para a conversão em aço. “O que a gente tem visto no mundo hoje é um grande avanço de novos mercados tentando fazer o HBI com fontes de mais baixo carbono, inicialmente gás natural”, apontou, lembrando que a Vale tem acordos para hubs, por exemplo, no Oriente Médio. “Mas a visão de longo prazo é que o hidrogênio será essa fonte, e assim poderá ser produzido um aço 100% verde.”

Potencial de liderança do Brasil

Em outubro do ano passado, durante o seminário Siga Previ, no Rio de Janeiro, Pimenta afirmou que a Vale estava investindo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões em descarbonização, e que no futuro os metais sustentáveis vão pagar um prêmio para a empresa. Segundo ele, o Brasil tem tudo para liderar a área de minerais da transição energética. “Isso coloca a Vale numa posição muito única”, disse.

Ele informou que a Vale cresceu bastante na área de metais da transição energética (níquel e cobre) e que mesmo o minério de ferro, que deu origem à empresa, possui um teor de ferro que favorece a economia de energia, um dos pontos fundamentais para dar sustentabilidade à produção.

“Ninguém produz minério de ferro com 65% de teor, só a Vale, e quanto maior a qualidade do minério menor o consumo de energia”, destacou durante sua apresentação no evento. Ele informou que a Vale pretende triplicar a produção de cobre e pelo menos dobrar a de níquel, mas não detalhou em que horizonte esse crescimento deve ocorrer.

“A Vale cresceu e tem liderança do níquel na parte ocidental, e tem plano de crescimento muito grande nos metais de transição”, disse o executivo. A empresa planeja no futuro abrir o capital do seu segmento de metais básicos.

Proteção contra eventos climáticos

Para o executivo, atualmente, todos estão lidando com eventos climáticos, com impacto nos negócios, e a transição energética está em curso, com mudança de modelos mentais. “O mindset mudou, a nova geração virá colocando muita pressão sobre nós”, disse. “Estou muito otimista, seremos capazes de fazer a transição e endereçar assuntos relevantes da nossa geração.”

Em junho, ao Estadão, ele disse que os eventos climáticos adversos são cada vez mais frequentes e têm impacto direto na estabilidade operacional da companhia, que vem investindo nos pontos mais vulneráveis para se proteger. “Temos observado volatilidade maior dos eventos climáticos. Têm ficado mais adversos e com mais frequência”, disse, citando impactos em operações em portos, ferrovias e minas.

“Procuramos ter a cada dia mais proteção contra eventos climáticos adversos”, disse, destacando que a Vale busca soluções de engenharia para garantir a estabilidade das operações mesmo em condições adversas. “A gente aloca capital para se proteger onde está mais vulnerável a eventos climáticos”.

O executivo lembrou que a transição energética enfrenta desafios diferentes em veículos de rua e equipamentos de mineração, como caminhões fora de estrada. “A gente não acredita numa transição energética da noite para o dia”, disse, citando que a companhia vai testar diferentes soluções, como biodiesel e amônia.

Indagado sobre eventual interesse da Vale em nióbio, o executivo disse que vê potencial para o material no processo de transição energética, mas que o produto não está no escopo da Vale. A mineradora, frisou, se foca em cobre e níquel no Brasil, dentre os metais de transição energética. “A gente tem apostado muito em minerais para transição energética, como cobre e níquel.”

Compensações pelo desastre de Mariana

O executivo disse, ainda em junho, esperar que um acordo sobre as compensações pelo desastre de Mariana fosse alcançado neste ano. “Temos esperança de que a nova proposta seja suficiente para chegar numa definição.”

Naquele mês, a Vale informou que, juntamente com Samarco e BHP Billiton, apresentou uma nova proposta de acordo com valor financeiro de R$ 140 bilhões, considerando obrigações passadas e futuras. “Tudo mostra que a dinâmica de um acordo que está se aproximando”, opinou Pimenta. “Estou esperançoso de que isso se resolva nos próximos meses”.

A Vale anunciou na noite de segunda-feira, 26, que o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Gustavo Pimenta, foi escolhido para substituir Eduardo Bartolomeo como CEO a partir de 1º de janeiro de 2025.

Em comunicado ao mercado, a mineradora afirmou que Pimenta foi eleito por unanimidade pelo conselho de administração. Bartolomeo permanecerá na empresa como consultor até o fim de 2025.

O nome de Pimenta foi uma solução interna para a troca de comando da Vale, a despeito das listas que circularam no mercado mencionando executivos de empresas como Gerdau, BHP, Caoa e Embraer.

Vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta assumirá cargo de CEO da companhia em 2025 Foto: Divulgação/Vale

Uma das maiores empresas de capital aberto do País, a Vale apresentou lucro líquido de US$ 2,769 bilhões (R$ 15,2 bilhões, na cotação desta segunda-feira) no segundo trimestre do ano, alta de 210% ante igual período de 2023.

O anúncio põe fim a uma disputa que produziu, além de uma lista oficial de candidatos, uma corrida paralela em que se enfrentaram nomes ligados ao governo Lula, de alas representadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também avaliou o currículo de um potencial candidato.

Quem é Gustavo Pimenta

Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getulio Vargas, o executivo chegou à Vale em novembro de 2021, na gestão de Bartolomeo. Na empresa, também já foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia e Descarbonização.

Descrito como uma pessoa serena e de fácil interlocução, Pimenta tem a seu favor o amplo domínio do negócio e dos aspectos financeiros da mineradora, além de uma boa dose de experiência internacional. Antes de chegar à Vale, foi CFO (vice-presidente financeiro) global da AES Corporation, nos EUA. Já havia atuado, também, no Citigroup nos EUA como vice-presidente de Estratégia e M&A, conforme seu perfil no LinkedIn.

No comunicado, é apresentado como “um executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, e com uma carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa”.

O texto acrescenta: “Em 2021, assumiu a posição de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale S.A. Também foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização. Antes de juntar-se à Vale, Pimenta foi executivo da AES por 12 anos, acumulando ampla experiência como CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova York”.

“Agradeço a confiança do Conselho para liderar a Vale nesse novo ciclo”, disse Pimenta, em declaração que consta do comunicado. “Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com fogo em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos.”

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Interlocução com o governo

A substituição de Bartolomeo no cargo de CEO da mineradora era defendida por setores da empresa devido às dificuldades de interlocução da companhia com o governo. O tema será agora um desafio para Pimenta. No comunicado em que anuncia o nome do novo CEO, o executivo é descrito como uma pessoa de “fácil interlocução”.

Ainda que privatizada há 27 anos, a Vale depende de autorizações públicas, além de operar ferrovias sob concessão. Os demais sócios privados também têm negócios com o governo, como é o caso da Cosan e do Bradesco.

Bartolomeo era considerado um quadro técnico, respeitado pelo mercado e de grande eficiência. Mas sofria resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já havia demonstrado nos bastidores o interesse em trocar o executivo. A alegação era que o desempenho da Vale, frente a concorrentes, deixava a desejar, além do que setores enxergavam como fragilidades do executivo no campo institucional, na relação com autoridades em Brasília e nas comunidades onde a mineradora opera.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou, sem sucesso, emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da empresa e também no conselho de administração. Em entrevista no começo do ano, o presidente disse que a “Vale não pode pensar que é dona do Brasil” e que precisa estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo, o que reforçou a ideia de que Lula deseja interferir na companhia.

Integrantes do governo alegavam, nos bastidores, que era necessário um novo presidente que permitiria o alinhamento de agendas da empresa com o Executivo federal. Auxiliares de Lula dizem esperar contar com a empresa para auxiliar no crescimento da economia e na geração de empregos. E defendem, por exemplo, que a empresa internalize partes da cadeia de exportação do minério de ferro, como a pelotização e a briquetização, feitas hoje no Golfo do México e no Oriente Médio.

Incertezas em relação à China

Ainda como vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores na Vale, Gustavo Pimenta deu uma série de declarações recentes sobre os desafios da mineradora. Um dos maiores, segundo ele, diz respeito às incertezas em relação à China.

“O crescimento chinês das últimas duas décadas foi superimportante para a Vale, mas o país vem passando nos últimos anos por uma grande transformação em sua matriz de produção”, disse o executivo no início deste mês no evento CFO Arena, organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef) e realizado na sede da B3.

De acordo com ele, 40% da demanda do minério vai para o mercado imobiliário e construção civil no país asiático, que teve “enorme retração”. Apesar disso, o crescimento na manufatura da China, que também demanda minério e aço, cria um “fator de proteção de demanda” para a Vale, segundo Pimenta.

O executivo afirmou ainda que, em relação ao cobre, a companhia “ficou para trás na corrida” ao longo das últimas décadas, mas que o objetivo é triplicar a capacidade de produção do metal, para 900 mil ou 1 milhão de toneladas. A produção de aço verde, por meio do hidrogênio, também está no radar da empresa, disse.

Transição energética

Em junho deste ano, em entrevista ao Estadão, Pimenta defendeu uma aceleração na transição energética. “Vamos precisar de tudo que estiver disponível para acelerar a transição”, disse, citando, como exemplo, baterias solares e hidrogênio.

Neste cenário, alguns países estão provendo subsídios para a transição e tentando se posicionar como fornecedores, enquanto o debate avança para abranger os custos do processo. “Há dois anos, todos estavam falando em ESG”, disse. “Hoje estão se questionando quem vai pagar a conta.”

O executivo lembrou que o setor de aço é intensivo em carvão e responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética, observou, será assimétrica no mundo. Regiões mais pobres persistirão no uso do combustível até que soluções verdes se tornem mais baratas. “O mundo todo não vai fazer a transição do mesmo jeito.”

O executivo destacou que a Vale tem potencial de desenvolver sua matriz energética, mencionou que a mineradora também enfrenta o desafio de reduzir as emissões nas próprias operações e contou que a companhia vem realizando testes com etanol e eletrificação. “Hoje o hidrogênio é duas vezes mais caro (que o combustível fóssil)”, disse. E a conversão de caminhões a diesel para uma solução baseada em hidrogênio (amônia, por exemplo) não seria econômica.

Pimenta afirmou que a descarbonização é uma das grandes oportunidades em negócios da atualidade. Ele destacou que briquetes e aglomerados, duas importantes apostas da Vale, ajudam os clientes a produzir aço com menor pegada de carbono.

Além disso, quando houver oferta de hidrogênio, será possível produzir aço verde com o uso de HBI (hot briquetted iron), produto com maior teor de ferro, que elimina a necessidade de carvão metalúrgico para a conversão em aço. “O que a gente tem visto no mundo hoje é um grande avanço de novos mercados tentando fazer o HBI com fontes de mais baixo carbono, inicialmente gás natural”, apontou, lembrando que a Vale tem acordos para hubs, por exemplo, no Oriente Médio. “Mas a visão de longo prazo é que o hidrogênio será essa fonte, e assim poderá ser produzido um aço 100% verde.”

Potencial de liderança do Brasil

Em outubro do ano passado, durante o seminário Siga Previ, no Rio de Janeiro, Pimenta afirmou que a Vale estava investindo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões em descarbonização, e que no futuro os metais sustentáveis vão pagar um prêmio para a empresa. Segundo ele, o Brasil tem tudo para liderar a área de minerais da transição energética. “Isso coloca a Vale numa posição muito única”, disse.

Ele informou que a Vale cresceu bastante na área de metais da transição energética (níquel e cobre) e que mesmo o minério de ferro, que deu origem à empresa, possui um teor de ferro que favorece a economia de energia, um dos pontos fundamentais para dar sustentabilidade à produção.

“Ninguém produz minério de ferro com 65% de teor, só a Vale, e quanto maior a qualidade do minério menor o consumo de energia”, destacou durante sua apresentação no evento. Ele informou que a Vale pretende triplicar a produção de cobre e pelo menos dobrar a de níquel, mas não detalhou em que horizonte esse crescimento deve ocorrer.

“A Vale cresceu e tem liderança do níquel na parte ocidental, e tem plano de crescimento muito grande nos metais de transição”, disse o executivo. A empresa planeja no futuro abrir o capital do seu segmento de metais básicos.

Proteção contra eventos climáticos

Para o executivo, atualmente, todos estão lidando com eventos climáticos, com impacto nos negócios, e a transição energética está em curso, com mudança de modelos mentais. “O mindset mudou, a nova geração virá colocando muita pressão sobre nós”, disse. “Estou muito otimista, seremos capazes de fazer a transição e endereçar assuntos relevantes da nossa geração.”

Em junho, ao Estadão, ele disse que os eventos climáticos adversos são cada vez mais frequentes e têm impacto direto na estabilidade operacional da companhia, que vem investindo nos pontos mais vulneráveis para se proteger. “Temos observado volatilidade maior dos eventos climáticos. Têm ficado mais adversos e com mais frequência”, disse, citando impactos em operações em portos, ferrovias e minas.

“Procuramos ter a cada dia mais proteção contra eventos climáticos adversos”, disse, destacando que a Vale busca soluções de engenharia para garantir a estabilidade das operações mesmo em condições adversas. “A gente aloca capital para se proteger onde está mais vulnerável a eventos climáticos”.

O executivo lembrou que a transição energética enfrenta desafios diferentes em veículos de rua e equipamentos de mineração, como caminhões fora de estrada. “A gente não acredita numa transição energética da noite para o dia”, disse, citando que a companhia vai testar diferentes soluções, como biodiesel e amônia.

Indagado sobre eventual interesse da Vale em nióbio, o executivo disse que vê potencial para o material no processo de transição energética, mas que o produto não está no escopo da Vale. A mineradora, frisou, se foca em cobre e níquel no Brasil, dentre os metais de transição energética. “A gente tem apostado muito em minerais para transição energética, como cobre e níquel.”

Compensações pelo desastre de Mariana

O executivo disse, ainda em junho, esperar que um acordo sobre as compensações pelo desastre de Mariana fosse alcançado neste ano. “Temos esperança de que a nova proposta seja suficiente para chegar numa definição.”

Naquele mês, a Vale informou que, juntamente com Samarco e BHP Billiton, apresentou uma nova proposta de acordo com valor financeiro de R$ 140 bilhões, considerando obrigações passadas e futuras. “Tudo mostra que a dinâmica de um acordo que está se aproximando”, opinou Pimenta. “Estou esperançoso de que isso se resolva nos próximos meses”.

A Vale anunciou na noite de segunda-feira, 26, que o vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Gustavo Pimenta, foi escolhido para substituir Eduardo Bartolomeo como CEO a partir de 1º de janeiro de 2025.

Em comunicado ao mercado, a mineradora afirmou que Pimenta foi eleito por unanimidade pelo conselho de administração. Bartolomeo permanecerá na empresa como consultor até o fim de 2025.

O nome de Pimenta foi uma solução interna para a troca de comando da Vale, a despeito das listas que circularam no mercado mencionando executivos de empresas como Gerdau, BHP, Caoa e Embraer.

Vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta assumirá cargo de CEO da companhia em 2025 Foto: Divulgação/Vale

Uma das maiores empresas de capital aberto do País, a Vale apresentou lucro líquido de US$ 2,769 bilhões (R$ 15,2 bilhões, na cotação desta segunda-feira) no segundo trimestre do ano, alta de 210% ante igual período de 2023.

O anúncio põe fim a uma disputa que produziu, além de uma lista oficial de candidatos, uma corrida paralela em que se enfrentaram nomes ligados ao governo Lula, de alas representadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, também avaliou o currículo de um potencial candidato.

Quem é Gustavo Pimenta

Formado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com mestrado em Finanças e Economia pela Fundação Getulio Vargas, o executivo chegou à Vale em novembro de 2021, na gestão de Bartolomeo. Na empresa, também já foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia e Descarbonização.

Descrito como uma pessoa serena e de fácil interlocução, Pimenta tem a seu favor o amplo domínio do negócio e dos aspectos financeiros da mineradora, além de uma boa dose de experiência internacional. Antes de chegar à Vale, foi CFO (vice-presidente financeiro) global da AES Corporation, nos EUA. Já havia atuado, também, no Citigroup nos EUA como vice-presidente de Estratégia e M&A, conforme seu perfil no LinkedIn.

No comunicado, é apresentado como “um executivo com experiência global nos setores financeiro, de energia e mineração, e com uma carreira desenvolvida ao longo de mais de 20 anos no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa”.

O texto acrescenta: “Em 2021, assumiu a posição de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale S.A. Também foi responsável pelas áreas de Suprimentos e Energia & Descarbonização. Antes de juntar-se à Vale, Pimenta foi executivo da AES por 12 anos, acumulando ampla experiência como CFO Global, diretor de Planejamento e Estratégia e vice-presidente de Performance e Serviços da empresa. Também atuou como vice-presidente de Estratégia e M&A no Citigroup em Nova York”.

“Agradeço a confiança do Conselho para liderar a Vale nesse novo ciclo”, disse Pimenta, em declaração que consta do comunicado. “Tenho certeza de que seguiremos avançando em nossa missão, com fogo em geração e distribuição de valor, elevando a Vale a patamares ainda mais altos.”

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Interlocução com o governo

A substituição de Bartolomeo no cargo de CEO da mineradora era defendida por setores da empresa devido às dificuldades de interlocução da companhia com o governo. O tema será agora um desafio para Pimenta. No comunicado em que anuncia o nome do novo CEO, o executivo é descrito como uma pessoa de “fácil interlocução”.

Ainda que privatizada há 27 anos, a Vale depende de autorizações públicas, além de operar ferrovias sob concessão. Os demais sócios privados também têm negócios com o governo, como é o caso da Cosan e do Bradesco.

Bartolomeo era considerado um quadro técnico, respeitado pelo mercado e de grande eficiência. Mas sofria resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já havia demonstrado nos bastidores o interesse em trocar o executivo. A alegação era que o desempenho da Vale, frente a concorrentes, deixava a desejar, além do que setores enxergavam como fragilidades do executivo no campo institucional, na relação com autoridades em Brasília e nas comunidades onde a mineradora opera.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou, sem sucesso, emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da empresa e também no conselho de administração. Em entrevista no começo do ano, o presidente disse que a “Vale não pode pensar que é dona do Brasil” e que precisa estar de acordo com o entendimento de desenvolvimento do governo, o que reforçou a ideia de que Lula deseja interferir na companhia.

Integrantes do governo alegavam, nos bastidores, que era necessário um novo presidente que permitiria o alinhamento de agendas da empresa com o Executivo federal. Auxiliares de Lula dizem esperar contar com a empresa para auxiliar no crescimento da economia e na geração de empregos. E defendem, por exemplo, que a empresa internalize partes da cadeia de exportação do minério de ferro, como a pelotização e a briquetização, feitas hoje no Golfo do México e no Oriente Médio.

Incertezas em relação à China

Ainda como vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores na Vale, Gustavo Pimenta deu uma série de declarações recentes sobre os desafios da mineradora. Um dos maiores, segundo ele, diz respeito às incertezas em relação à China.

“O crescimento chinês das últimas duas décadas foi superimportante para a Vale, mas o país vem passando nos últimos anos por uma grande transformação em sua matriz de produção”, disse o executivo no início deste mês no evento CFO Arena, organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef) e realizado na sede da B3.

De acordo com ele, 40% da demanda do minério vai para o mercado imobiliário e construção civil no país asiático, que teve “enorme retração”. Apesar disso, o crescimento na manufatura da China, que também demanda minério e aço, cria um “fator de proteção de demanda” para a Vale, segundo Pimenta.

O executivo afirmou ainda que, em relação ao cobre, a companhia “ficou para trás na corrida” ao longo das últimas décadas, mas que o objetivo é triplicar a capacidade de produção do metal, para 900 mil ou 1 milhão de toneladas. A produção de aço verde, por meio do hidrogênio, também está no radar da empresa, disse.

Transição energética

Em junho deste ano, em entrevista ao Estadão, Pimenta defendeu uma aceleração na transição energética. “Vamos precisar de tudo que estiver disponível para acelerar a transição”, disse, citando, como exemplo, baterias solares e hidrogênio.

Neste cenário, alguns países estão provendo subsídios para a transição e tentando se posicionar como fornecedores, enquanto o debate avança para abranger os custos do processo. “Há dois anos, todos estavam falando em ESG”, disse. “Hoje estão se questionando quem vai pagar a conta.”

O executivo lembrou que o setor de aço é intensivo em carvão e responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). A transição energética, observou, será assimétrica no mundo. Regiões mais pobres persistirão no uso do combustível até que soluções verdes se tornem mais baratas. “O mundo todo não vai fazer a transição do mesmo jeito.”

O executivo destacou que a Vale tem potencial de desenvolver sua matriz energética, mencionou que a mineradora também enfrenta o desafio de reduzir as emissões nas próprias operações e contou que a companhia vem realizando testes com etanol e eletrificação. “Hoje o hidrogênio é duas vezes mais caro (que o combustível fóssil)”, disse. E a conversão de caminhões a diesel para uma solução baseada em hidrogênio (amônia, por exemplo) não seria econômica.

Pimenta afirmou que a descarbonização é uma das grandes oportunidades em negócios da atualidade. Ele destacou que briquetes e aglomerados, duas importantes apostas da Vale, ajudam os clientes a produzir aço com menor pegada de carbono.

Além disso, quando houver oferta de hidrogênio, será possível produzir aço verde com o uso de HBI (hot briquetted iron), produto com maior teor de ferro, que elimina a necessidade de carvão metalúrgico para a conversão em aço. “O que a gente tem visto no mundo hoje é um grande avanço de novos mercados tentando fazer o HBI com fontes de mais baixo carbono, inicialmente gás natural”, apontou, lembrando que a Vale tem acordos para hubs, por exemplo, no Oriente Médio. “Mas a visão de longo prazo é que o hidrogênio será essa fonte, e assim poderá ser produzido um aço 100% verde.”

Potencial de liderança do Brasil

Em outubro do ano passado, durante o seminário Siga Previ, no Rio de Janeiro, Pimenta afirmou que a Vale estava investindo entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões em descarbonização, e que no futuro os metais sustentáveis vão pagar um prêmio para a empresa. Segundo ele, o Brasil tem tudo para liderar a área de minerais da transição energética. “Isso coloca a Vale numa posição muito única”, disse.

Ele informou que a Vale cresceu bastante na área de metais da transição energética (níquel e cobre) e que mesmo o minério de ferro, que deu origem à empresa, possui um teor de ferro que favorece a economia de energia, um dos pontos fundamentais para dar sustentabilidade à produção.

“Ninguém produz minério de ferro com 65% de teor, só a Vale, e quanto maior a qualidade do minério menor o consumo de energia”, destacou durante sua apresentação no evento. Ele informou que a Vale pretende triplicar a produção de cobre e pelo menos dobrar a de níquel, mas não detalhou em que horizonte esse crescimento deve ocorrer.

“A Vale cresceu e tem liderança do níquel na parte ocidental, e tem plano de crescimento muito grande nos metais de transição”, disse o executivo. A empresa planeja no futuro abrir o capital do seu segmento de metais básicos.

Proteção contra eventos climáticos

Para o executivo, atualmente, todos estão lidando com eventos climáticos, com impacto nos negócios, e a transição energética está em curso, com mudança de modelos mentais. “O mindset mudou, a nova geração virá colocando muita pressão sobre nós”, disse. “Estou muito otimista, seremos capazes de fazer a transição e endereçar assuntos relevantes da nossa geração.”

Em junho, ao Estadão, ele disse que os eventos climáticos adversos são cada vez mais frequentes e têm impacto direto na estabilidade operacional da companhia, que vem investindo nos pontos mais vulneráveis para se proteger. “Temos observado volatilidade maior dos eventos climáticos. Têm ficado mais adversos e com mais frequência”, disse, citando impactos em operações em portos, ferrovias e minas.

“Procuramos ter a cada dia mais proteção contra eventos climáticos adversos”, disse, destacando que a Vale busca soluções de engenharia para garantir a estabilidade das operações mesmo em condições adversas. “A gente aloca capital para se proteger onde está mais vulnerável a eventos climáticos”.

O executivo lembrou que a transição energética enfrenta desafios diferentes em veículos de rua e equipamentos de mineração, como caminhões fora de estrada. “A gente não acredita numa transição energética da noite para o dia”, disse, citando que a companhia vai testar diferentes soluções, como biodiesel e amônia.

Indagado sobre eventual interesse da Vale em nióbio, o executivo disse que vê potencial para o material no processo de transição energética, mas que o produto não está no escopo da Vale. A mineradora, frisou, se foca em cobre e níquel no Brasil, dentre os metais de transição energética. “A gente tem apostado muito em minerais para transição energética, como cobre e níquel.”

Compensações pelo desastre de Mariana

O executivo disse, ainda em junho, esperar que um acordo sobre as compensações pelo desastre de Mariana fosse alcançado neste ano. “Temos esperança de que a nova proposta seja suficiente para chegar numa definição.”

Naquele mês, a Vale informou que, juntamente com Samarco e BHP Billiton, apresentou uma nova proposta de acordo com valor financeiro de R$ 140 bilhões, considerando obrigações passadas e futuras. “Tudo mostra que a dinâmica de um acordo que está se aproximando”, opinou Pimenta. “Estou esperançoso de que isso se resolva nos próximos meses”.

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