Poucos executivos têm o poder de gerar tanta expectativa sobre o seu desempenho ao assumir a presidência de uma empresa como Sergio Rial. Ao ser anunciado como futuro comandante da Americanas, em agosto do ano passado, o ex-presidente do Santander no Brasil gerou um efeito positivo imediato sobre os investidores. A companhia ganhou quase R$ 2 bilhões em valor de mercado ao ver os papéis subirem mais de 20% no primeiro pregão pós-comunicado.
Rial deixa o comando da varejista apenas dez dias depois de assumir oficialmente, em 1.º de janeiro. Não deu tempo de mostrar ao mercado o ajuste que o novo chefe poderia fazer com a experiência de quem já dirigiu multinacionais e chegou a ter seu nome na lista de apostas para o comando global do banco espanhol.
Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Economia pela Universidade Gama Filho, Rial começou a carreira no banco ABN Amro. Passou também pelo Bear Sterns, e depois enveredou pelo setor alimentício: trabalhou na Cargill, na Seara e foi presidente da Marfrig. Chegou ao Santander Brasil em 2016, e comandou o banco até dezembro de 2021.
O anúncio desta quarta-feira, 11, da saída do executivo não significa que seu trabalho na Americanas acabou. Pelo contrário, sua missão parece estar apenas começando. Segundo a companhia, o executivo deve assessorar os acionistas de referência na apuração sobre o rombo de R$ 20 bilhões identificado nos balanços.
“Um dos melhores quadros do mercado, Rial se provou mais uma vez ao encontrar o problema em pouco tempo”, disse Eugênio Foganholo, sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer.
Não era bem o ajuste que o mercado esperava. Como a própria Americanas exaltou, Rial carregava o trunfo de ter feito da filial brasileira do Santander a mais rentável dentro do grupo, com o melhor índice de eficiência e de retorno sobre o patrimônio entre os bancos brasileiros por vários trimestres.
A busca por rentabilidade era uma questão chave na companhia depois de muitos trimestres de prejuízo com a então chamada B2W, filhote digital do grupo que era listada separadamente da empresa-mãe. Ao decidir juntar os negócios para ganhar eficiência, no ano passado, a Americanas teve de fazer um rearranjo societário que tirou do controle o famoso trio Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, fundadores da Ambev e sócios do fundo 3G Capital. Essa mudança já era um prenúncio de trocas na gestão executiva do negócio.
Curta passagem
A gestão do executivo começou oficialmente no dia 1.de janeiro, mas as mudanças tiveram início antes, com alterações no alto escalão da companhia. André Covre, ex-CEO da Extrafarma, foi apontado como novo diretor executivo financeiro e de relações com investidores da varejista. O novo cargo foi visto por analistas como uma tentativa de estreitar a relação com o mercado.
Dentre os desafios que estavam à frente da gestão Rial estava o quadro macroeconômico brasileiro, ainda hostil às empresas de varejo. Em relatório recente, o BTG avaliou que os próximos trimestres do setor devem ser de custo de financiamento mais alto, o que leva a três tendências para o comércio eletrônico: crescimento mais lento no curto prazo, em função de menor renda disponível da população; foco na rentabilidade das operações e preservação de caixa, o que se traduz em menor atenção em categorias não rentáveis e de menor tíquete médio; bem como consolidação do mercado entre “pouquíssimos” competidores.
Após os resultados do terceiro trimestre, em que a companhia teve prejuízo líquido de R$ 212 milhões, os analistas do BTG apontaram como pontos de atenção o “quadro preocupante na linha de receita e no fluxo de caixa livre.” No início deste ano, as ações da companhia vinham em recuperação e já acumulavam alta de 24,35%, depois de uma queda de mais de 60% no ano passado.