De todas as variáveis econômicas projetadas para 2011, a mais incerta, olhando hoje, é a fiscal. A avaliação é do economista-chefe e estrategista do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, Virgilio Castro Cunha Júnior. Assim como a maioria absoluta dos analistas do mercado financeiro, ele adota a expressão "ver para crer" em relação à política fiscal do primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff. Para Cunha Júnior, as recentes indicações do futuro governo - por meio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo - são positivas. Mas a piora das contas públicas em 2009 e 2010 deixou os especialistas receosos quanto à situação nos próximos anos. Hoje, os analistas do banco projetam um superávit primário (receitas menos despesas, sem considerar o desencargo com os juros da dívida pública) de 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB). É um número inferior à meta do governo, de 3,1% do PIB. Cunha Júnior acredita que a definição do salário mínimo que vai vigorar no ano que vem é determinante para indicar o caminho que o novo governo seguirá na área fiscal. "Se mantiver os R$ 540 previstos, será uma clara sinalização de que está disposto a correr os riscos políticos desse ajuste", afirmou. Outro ponto importante diz respeito a cortes do Orçamento federal. Ontem, o presidente Lula disse acreditar que, se cortes não forem efetuados agora, Dilma Rousseff terá de promover contingenciamento ao longo do ano que vem. O Bank of America Merrill Lynch projeta uma desaceleração no ritmo de crescimento do Brasil em 2011 - até porque a base de comparação terá sido mais forte que a deste ano. O PIB deve sair de uma expansão na faixa de 7,5% para algo próximo de 4%. A principal divergência do especialista em relação à maioria de seus pares diz respeito à evolução da taxa básica de juros. Cunha Júnior estima que a Selic começará a subir em janeiro. Nas contas dele, sofrerá no total três reajustes de 0,50 ponto porcentual - o que a levaria para 12,25% ao ano. A taxa encerraria 2011 nesse nível e voltaria a cair em 2012. A maior parte do mercado trabalha com uma alta total da Selic de dois pontos porcentuais no ano que vem. A visão relativamente mais branda dos analistas do BofA Merrill Lynch tem por base dois elementos. O efeito do pacote. O primeiro deles é uma esperada desaceleração dos preços das commodities internacionais, sobretudo as alimentícias, a partir do primeiro trimestre de 2011. O segundo é o efeito do aumento da taxa básica em 2010 - saiu de 8,75% no início do ano para os atuais 10,75%. Adicionalmente, há, ainda, o recente pacote do Banco Central (BC) para esfriar o crédito. Cunha Júnior avalia que o aperto do compulsório equivale a uma alta entre 0,50 e 0,75 ponto porcentual da Selic. "Mas as outras medidas (para o crédito de prazo mais longo, como veículos) são difíceis de estimar." Ele espera inflação oficial de 4,7% em 2011 (ante 5,7% neste ano).
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