O grande acordo proposto pelos Estados Unidos para enfrentar a crise e a guerra cambial não consegue decolar. As maiores autoridades econômicas do mundo divergem abertamente sobre qual tratamento dar aos problemas globais.A proposta americana começou a circular ontem, à véspera da reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 mais importantes países do mundo, o G-20, que será realizada hoje e amanhã em Gyeongju, na Coreia do Sul.A ideia foi apresentada pelo secretário do Tesouro americano, Tim Geithner. Ele pretende que as mais importantes economias do mundo aceitem um cronograma de redução dos saldos em conta corrente (contas externas). Se for superávit, seria o de redução; se for déficit, o de aumento dos resultados. O critério técnico proposto é o de atingir um nível sustentável de crescimento e de desempenho comercial. O nível de câmbio seria mera consequência.Em entrevista concedida ao Wall Street Journal, de Nova York, Geithner reconheceu que, em matéria de política de câmbio, não está claro sobre o que é ou não jogo limpo ("fair"). E disse que o pretendido é "um acordo em torno de um conjunto de normas a serem aplicadas às políticas cambiais".O grande desequilíbrio hoje é mesmo essa diferença entre despesas e receitas dos países a que se refere Geithner. A consequência são as enormes transferências de recursos, formação de reservas de um lado e de grandes dívidas de outro, que levam à guerra cambial.Ainda é preciso entender melhor a proposta de Geithner. A impressão inicial é de que o equívoco está em achar que bastam atos de vontade para que os problemas acabem. Ficou sinalizado que essa manobra tem dois alvos: a China e a Alemanha, economias que vêm crescendo graças a suas exportações e, portanto, são dependentes da demanda externa. No fundo, Geithner parece ter por objetivo o alinhamento da maioria dos membros do G-20 contra essas duas nações. A primeira reação das autoridades da Rússia, da China, da Alemanha e da Índia foi rejeitar a sugestão do secretário. Em declaração à agência Reuters, o vice-ministro das Finanças da Rússia, Dmitry Pankin, por exemplo, advertiu que nada conseguirá andar enquanto os Estados Unidos não cortarem seu rombo orçamentário e o seu banco central (o Federal Reserve) não voltar a apertar os juros.Mesmo em final de mandato, o governo federal parece ter finalmente entendido que, nessa guerra cambial, a China não é o principal inimigo, mas sim os Estados Unidos, que vêm inundando os mercados, especialmente o brasileiro, com dólares emitidos a partir do nada, derrubando a competitividade do produto nacional.O ministro Guido Mantega contou que, na conversa telefônica que teve ontem com Geithner, ele assegurou que a política dos Estados Unidos não é de desvalorização, mas de valorização do dólar. Geithner pode estar sendo sincero, mas, em termos práticos, há dois anos acontece o contrário: a moeda americana não para de cair, o que puxa a cotação das outras moedas (inclusive a do real), das commodities e do ouro. Enfim, este é o clima que permeia a reunião do G-20 que começa hoje e se destina a preparar o encontro de cúpula de chefes de Estado, agendado para 11 e 12 de novembro, em Seul.CONFIRAFestejando O presidente Lula está entusiasmado com o automóvel movido a energia elétrica e a perspectiva de que, dentro de mais alguns anos, o mundo terá finalmente uma frota de veículos ambientalmente limpa.Baixa autonomia O carro elétrico ainda é caro e tem baixa autonomia: a cada 160 quilômetros exige recarga de baterias. Seis por meia dúzia Mas o grande problema é que a maior parte da energia elétrica disponível no mundo provém da queima de combustíveis fósseis, especialmente petróleo, gás e carvão. Nesse caso, a poluição emitida pelos escapamentos dos carros será trocada pela poluição emanada pelas chaminés das termelétricas.Mais quilowatts Afora isso, a partir do momento em que esses carros forem estatisticamente significativos no Brasil, o consumo de eletricidade crescerá e será preciso aumentar o investimento em geração de energia elétrica.