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Opinião|Duas profissões, uma só paixão: Observador de Pássaros e ornitólogo


Essas atividades podem oferecer insights importantes para a gestão empresarial

Por Marisa Eboli

Há 16 anos moro no bairro Real Parque em São Paulo, e não conhecia a praça Uirapuru que fica nas proximidades. Johan Dalgas Frisch (1930 – 2024), engenheiro e celebrado ornitólogo, foi quem a batizou e a adotou. No local, plantou diversas árvores, não apenas para contrastar com o cinza do concreto paulistano, mas com um objetivo claro: atrair pássaros. Como ele disse: “Em 1930, São Paulo tinha duzentas espécies de pássaros.

Em 1964 este número tinha caído para dez. Tiravam as árvores, sumiam os pássaros. Preocupado, decidi fazer alguma coisa”. Ao longo de muitos anos, cuidou da praça. Todos os dias, era visitada por pica-paus, sabiás e muitas outras espécies que ajudavam a tornar bem mais alegre o dia a dia de quem lá passasse.

Por que, só agora, estive por lá? É uma história curiosa.

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Nas três últimas viagens de aventura/ecoturismo que fiz, tive a sorte de ter excelentes guias que também eram observadores de pássaros. Quando me hospedei no Cristalino Lodge, no Parque Estadual de Cristalino, em Alta Floresta, fui guiada por Francisco Carvalho de Souza. Na Pousada Trijunção, no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, quem me orientou nas trilhas foi Vinícius Vianna. E na última viagem, para a Serra do Amolar, no Pantanal Sul, Gabriel Oliveira de Freitas foi quase que meu guia particular, uma vez que os incêndios na região espantaram os turistas. Este último me concedeu uma excelente entrevista.

Durante as trilhas na Serra do Amolar, sempre que possível, eu postava nas redes sociais imagens das aves fotografadas. Em uma delas, minha dileta professora, Giselda Bortoletto, declarou-se apaixonada por pássaros e lamentou a recente morte de Johan Dalgas Frisch. Dentre tantos feitos, ele foi o primeiro a gravar o canto do Uirapuru. Ficou o registro na minha memória.

Observação de pássaros.  Foto: nataba - stock.adobe.com
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Acabaram-se as férias, mas os passarinhos não saíram da minha mente. Que profissão tão linda, mas nada fácil, de um observador de pássaros. O que poderíamos aprender com esta profissão tão interessante quanto desafiadora? Resolvi explorar o assunto. Ofereceria lições ao mundo corporativo?

Certo dia, comentei com meu personal trainer, Jean Carlo, que não poderia me atrasar, porque eu tinha uma reunião marcada com Luís Fábio Silveira, ornitólogo e diretor do Museu de Zoologia da USP, por causa de um ensaio que pretendia escrever. Com uma risadinha ele me disse: “Você sabe que eu sou personal do Christian Dalgas Frisch, filho de Johan Dalgas Frisch?” Por esta via inesperada, consegui entrar em contato com Christian. Foi uma esplêndida conversa, concluída com a informação de que o seu escritório fica na praça Uirapuru!

Aves: uma paixão de cinco gerações

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A família de Christian Dalgas Frisch há cinco gerações é apaixonada por pássaros, animais e natureza. Seu tataravô, Enrico Dalgas, praticamente transformou a Dinamarca. Antes era uma planície vulcânica e virou uma grande floresta! Seu avô, Svend Frisch, estudou na Faculdade de Artes em Paris e desenhou, no Brasil, cerca de 1800 espécies de aves, ao longo de 40 anos de trabalho. E seu pai, Johan Dalgas Frisch, engenheiro industrial, conseguiu gravar o canto do lendário Uirapuru - além de muitas outras aves. Foi pioneiro em observação de aves no Brasil, publicando o livro “Aves Brasileiras”, com os desenhos feitos pelo avô Svend.

Meu entrevistado, Christian, é engenheiro químico. Desde os 4 anos de idade, acompanhava o pai pelo Pantanal de Mato Grosso, Mata Atlântica e Amazônia. Daí vem o seu gosto pela natureza. Seu primeiro trabalho com aves foi aos 15 anos, fotografando-as nos ninhos e alimentando seus filhotes. Depois, selecionou as flores que mais atraíam os beija-flores, realizando um jardim experimental em Mogi-Mirim (SP).

Captou as imagens, ao longo de 12 anos, resultando na publicação, em 1993, do livro “Jardim dos Beija-Flores”. Depois, em 2005, juntamente com o pai, publicou a segunda edição do “Aves Brasileiras e as Plantas que as Atraem”. Também criaram um relógio de parede, com fotografias de 12 aves diferentes e que cantam a cada hora do dia. Que espetáculo e alegria ter dentro de casa os pássaros cantando!

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Para Christian, observar pássaros é um hobby. Seu sustento e da família vem do seu trabalho no ramo de despoluição ambiental. Hoje, seu filho Enrico Dalgas Frisch e sua esposa Sarah Dalgas Frisch o acompanham em todas as aventuras.

Ele fez questão de me dizer que em 5 de outubro é celebrado o Dia das Aves no Brasil. A data foi instituída em 1968, visando conscientizar a população sobre a importância da conservação das aves e da biodiversidade. Orgulhosamente mencionou que seu pai teve um papel fundamental nesta divulgação, pois fez com que o Dia das Aves, que já vigorava no estado de São Paulo, se tornasse uma data nacional. E foi por persistência dele que o sabiá foi escolhido o pássaro-símbolo do Brasil.

Também contribuiu de forma substancial para popularizar no país o interesse pela atividade de birdwatching, observação de aves, fundamental para sensibilizar o público sobre a importância da proteção e preservação das aves e de seus ecossistemas. Para ele, “as aves são extremamente necessárias ao equilíbrio ecológico, além da beleza de sua plumagem e de seu canto. O mundo será bem triste sem aves e florestas”.

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Christian ressalta que, hoje em dia, os paisagistas projetam jardins 100% verdes, sem cores, sem flores ou frutos que chamem as aves! Por isso, recomenda que sejam plantadas árvores de acordo com sua época de frutificação, em todas as estações do ano, do outono ao verão.

Duas profissões, uma só paixão

Na conversa com Luís Fábio Silveira, ele apontou a importância de termos clareza da distinção entre as profissões “observador de pássaros” e “ornitólogo”. É óbvio, ambas estão relacionadas ao estudo e à apreciação das aves. Mas todos, Christian, Fábio e Gabriel, enfatizaram: diferem significativamente em termos de enfoque, formação e objetivos.

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O observador de pássaros (birdwatcher) busca, identifica e aprecia as aves, às vezes iniciando como hobby, contemplando sua beleza, aprendendo sobre suas características e comportamentos e, muitas vezes, registrando as espécies observadas. Para isso tudo, não precisa de uma formação científica sistemática. As competências para essa área incluem o entendimento do comportamento, identificação de espécies, conhecimento de ecossistemas, além de habilidades técnicas com câmeras e outros equipamentos.

A paciência é essencial, pois, algumas aves podem ser difíceis de serem localizadas. Requer um olhar atento para detalhes e conhecimento prático dos melhores lugares e horários para a observação. Tais conhecimentos podem ser aprendidos em cursos, workshops, leitura de guias especializados e, principalmente, muita prática em campo. Participar de grupos de observação e viagens de birdwatching é um caminho natural. Lidar com frustrações é outra habilidade importante, já que a imprevisibilidade dos animais e da natureza é sempre problemática.

Mesmo que a atuação de um observador de pássaros não exija formação acadêmica, ele tem, sim, que conhecer as espécies, seus cantos, suas plumagens para poder identificá-las nas matas e florestas.

Já o ornitólogo é um cientista que estuda aves de forma profissional e acadêmica, com foco em pesquisa científica e conservação. Seu estudo dá-se em um nível mais técnico. Suas competências incluem a capacidade de realizar pesquisas de campo, análise de dados, classificação e conservação. Eles precisam de um sólido conhecimento de biologia, de comportamento animal e de ecossistemas. O ornitólogo consegue responder a perguntas acadêmicas que muitas vezes os observadores de aves desconhecem. Alguns exemplos: Como as aves respiram? Como são os ossos do Jaburu?

Também é imperativo o conhecimento da tecnologia para o exercício dessas profissões. Tudo evoluiu, de máquinas fotográficas e binóculos, a ferramentas como o e-Bird e o WikiAves que incentivam a participação ativa em projetos de ciência. É sempre preciso compartilhar e expandir o conhecimento. A grande preocupação? A inteligência artificial (IA), pois se utilizada sem ética e respeito, possibilita criação de imagens falsificadas de aves. Ela pode sim facilitar o trabalho do ornitólogo ou observador de aves, mas jamais substituí-los!

Lições para o mundo corporativo

Ao discorrer sobre as competências necessárias e as formas de desenvolvê-las, é impossível não as associar à abordagem de metodologias de ensino-aprendizagem, como a proposta por Rabin (2014). Trata-se do propalado modelo de aprendizagem 70:20:10, sugerindo que líderes aprendem por meio de três grupos de metodologias: tarefas desafiadoras e experiências no trabalho (70%); desenvolvimento de relacionamentos e de conexões (20%), e; cursos, workshops e treinamentos formais (10%).

Ou seja, mesmo para um observador de pássaros, minimamente, é necessária uma aprendizagem formal, estruturada para aquisição de certos conhecimentos. Em ambas prevalecem as aprendizagens por relacionamentos, conexões e pela experiência prática em campo.

E o que um líder poderia aprender com essas profissões? A seguir, algumas lições valiosas:

  • Observação cuidadosa e análise detalhada: ornitólogos e observadores de pássaros passam horas observando e registrando o comportamento das aves. Observar atentamente, escutar equipes e ler os sinais do contexto dos negócios é mandatório para todo líder.
  • Paciência e persistência: estudar aves requer paciência e persistência. O mundo corporativo requer persistência na resolução de problemas complexos e na implementação de estratégias de longo prazo.
  • Adaptação contínua ao ambiente: aves, ornitólogos e observadores de pássaros precisam se adaptar continuamente às mudanças no ambiente. Alguma semelhança com o ambiente empresarial?
  • Colaboração e compartilhamento de conhecimentos: colaborar com sites ou com outros cientistas e organizações é usual nessas profissões. Gestores também devem valorizar a colaboração, a gestão do conhecimento e a diversidade.
  • Resiliência e gestão de crises: enfrentar desafios imprevisíveis, como mudanças climáticas e desastres naturais. Válido para todos os profissionais.
  • Tecnologia e inovação: utilizar tecnologia avançada para monitorar e estudar aves é essencial. Lidar com tecnologia de modo geral, entender como utilizar inteligência artificial (IA), por exemplo, e inovar é um desafio generalizado para as lideranças de todas as organizações.
  • Sustentabilidade e conservação: ornitólogos e observadores de pássaros são profundamente conscientes da importância da conservação e da sustentabilidade. Deveria estar na agenda de todos os executivos!
  • Compreensão de ecossistemas: estudar ecossistemas inteiros e as interações entre diferentes espécies faz parte desses ofícios. Também crucial para os líderes a atenção voltada para o ecossistema do negócio.

Essas lições mostram que as atividades de ornitólogo e observador de pássaros podem oferecer insights importantes para a gestão empresarial, promovendo uma abordagem mais atenta, observadora, resolutiva, adaptável, com visão de longo prazo e sustentável na condução dos negócios.

Há 16 anos moro no bairro Real Parque em São Paulo, e não conhecia a praça Uirapuru que fica nas proximidades. Johan Dalgas Frisch (1930 – 2024), engenheiro e celebrado ornitólogo, foi quem a batizou e a adotou. No local, plantou diversas árvores, não apenas para contrastar com o cinza do concreto paulistano, mas com um objetivo claro: atrair pássaros. Como ele disse: “Em 1930, São Paulo tinha duzentas espécies de pássaros.

Em 1964 este número tinha caído para dez. Tiravam as árvores, sumiam os pássaros. Preocupado, decidi fazer alguma coisa”. Ao longo de muitos anos, cuidou da praça. Todos os dias, era visitada por pica-paus, sabiás e muitas outras espécies que ajudavam a tornar bem mais alegre o dia a dia de quem lá passasse.

Por que, só agora, estive por lá? É uma história curiosa.

Nas três últimas viagens de aventura/ecoturismo que fiz, tive a sorte de ter excelentes guias que também eram observadores de pássaros. Quando me hospedei no Cristalino Lodge, no Parque Estadual de Cristalino, em Alta Floresta, fui guiada por Francisco Carvalho de Souza. Na Pousada Trijunção, no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, quem me orientou nas trilhas foi Vinícius Vianna. E na última viagem, para a Serra do Amolar, no Pantanal Sul, Gabriel Oliveira de Freitas foi quase que meu guia particular, uma vez que os incêndios na região espantaram os turistas. Este último me concedeu uma excelente entrevista.

Durante as trilhas na Serra do Amolar, sempre que possível, eu postava nas redes sociais imagens das aves fotografadas. Em uma delas, minha dileta professora, Giselda Bortoletto, declarou-se apaixonada por pássaros e lamentou a recente morte de Johan Dalgas Frisch. Dentre tantos feitos, ele foi o primeiro a gravar o canto do Uirapuru. Ficou o registro na minha memória.

Observação de pássaros.  Foto: nataba - stock.adobe.com

Acabaram-se as férias, mas os passarinhos não saíram da minha mente. Que profissão tão linda, mas nada fácil, de um observador de pássaros. O que poderíamos aprender com esta profissão tão interessante quanto desafiadora? Resolvi explorar o assunto. Ofereceria lições ao mundo corporativo?

Certo dia, comentei com meu personal trainer, Jean Carlo, que não poderia me atrasar, porque eu tinha uma reunião marcada com Luís Fábio Silveira, ornitólogo e diretor do Museu de Zoologia da USP, por causa de um ensaio que pretendia escrever. Com uma risadinha ele me disse: “Você sabe que eu sou personal do Christian Dalgas Frisch, filho de Johan Dalgas Frisch?” Por esta via inesperada, consegui entrar em contato com Christian. Foi uma esplêndida conversa, concluída com a informação de que o seu escritório fica na praça Uirapuru!

Aves: uma paixão de cinco gerações

A família de Christian Dalgas Frisch há cinco gerações é apaixonada por pássaros, animais e natureza. Seu tataravô, Enrico Dalgas, praticamente transformou a Dinamarca. Antes era uma planície vulcânica e virou uma grande floresta! Seu avô, Svend Frisch, estudou na Faculdade de Artes em Paris e desenhou, no Brasil, cerca de 1800 espécies de aves, ao longo de 40 anos de trabalho. E seu pai, Johan Dalgas Frisch, engenheiro industrial, conseguiu gravar o canto do lendário Uirapuru - além de muitas outras aves. Foi pioneiro em observação de aves no Brasil, publicando o livro “Aves Brasileiras”, com os desenhos feitos pelo avô Svend.

Meu entrevistado, Christian, é engenheiro químico. Desde os 4 anos de idade, acompanhava o pai pelo Pantanal de Mato Grosso, Mata Atlântica e Amazônia. Daí vem o seu gosto pela natureza. Seu primeiro trabalho com aves foi aos 15 anos, fotografando-as nos ninhos e alimentando seus filhotes. Depois, selecionou as flores que mais atraíam os beija-flores, realizando um jardim experimental em Mogi-Mirim (SP).

Captou as imagens, ao longo de 12 anos, resultando na publicação, em 1993, do livro “Jardim dos Beija-Flores”. Depois, em 2005, juntamente com o pai, publicou a segunda edição do “Aves Brasileiras e as Plantas que as Atraem”. Também criaram um relógio de parede, com fotografias de 12 aves diferentes e que cantam a cada hora do dia. Que espetáculo e alegria ter dentro de casa os pássaros cantando!

Para Christian, observar pássaros é um hobby. Seu sustento e da família vem do seu trabalho no ramo de despoluição ambiental. Hoje, seu filho Enrico Dalgas Frisch e sua esposa Sarah Dalgas Frisch o acompanham em todas as aventuras.

Ele fez questão de me dizer que em 5 de outubro é celebrado o Dia das Aves no Brasil. A data foi instituída em 1968, visando conscientizar a população sobre a importância da conservação das aves e da biodiversidade. Orgulhosamente mencionou que seu pai teve um papel fundamental nesta divulgação, pois fez com que o Dia das Aves, que já vigorava no estado de São Paulo, se tornasse uma data nacional. E foi por persistência dele que o sabiá foi escolhido o pássaro-símbolo do Brasil.

Também contribuiu de forma substancial para popularizar no país o interesse pela atividade de birdwatching, observação de aves, fundamental para sensibilizar o público sobre a importância da proteção e preservação das aves e de seus ecossistemas. Para ele, “as aves são extremamente necessárias ao equilíbrio ecológico, além da beleza de sua plumagem e de seu canto. O mundo será bem triste sem aves e florestas”.

Christian ressalta que, hoje em dia, os paisagistas projetam jardins 100% verdes, sem cores, sem flores ou frutos que chamem as aves! Por isso, recomenda que sejam plantadas árvores de acordo com sua época de frutificação, em todas as estações do ano, do outono ao verão.

Duas profissões, uma só paixão

Na conversa com Luís Fábio Silveira, ele apontou a importância de termos clareza da distinção entre as profissões “observador de pássaros” e “ornitólogo”. É óbvio, ambas estão relacionadas ao estudo e à apreciação das aves. Mas todos, Christian, Fábio e Gabriel, enfatizaram: diferem significativamente em termos de enfoque, formação e objetivos.

O observador de pássaros (birdwatcher) busca, identifica e aprecia as aves, às vezes iniciando como hobby, contemplando sua beleza, aprendendo sobre suas características e comportamentos e, muitas vezes, registrando as espécies observadas. Para isso tudo, não precisa de uma formação científica sistemática. As competências para essa área incluem o entendimento do comportamento, identificação de espécies, conhecimento de ecossistemas, além de habilidades técnicas com câmeras e outros equipamentos.

A paciência é essencial, pois, algumas aves podem ser difíceis de serem localizadas. Requer um olhar atento para detalhes e conhecimento prático dos melhores lugares e horários para a observação. Tais conhecimentos podem ser aprendidos em cursos, workshops, leitura de guias especializados e, principalmente, muita prática em campo. Participar de grupos de observação e viagens de birdwatching é um caminho natural. Lidar com frustrações é outra habilidade importante, já que a imprevisibilidade dos animais e da natureza é sempre problemática.

Mesmo que a atuação de um observador de pássaros não exija formação acadêmica, ele tem, sim, que conhecer as espécies, seus cantos, suas plumagens para poder identificá-las nas matas e florestas.

Já o ornitólogo é um cientista que estuda aves de forma profissional e acadêmica, com foco em pesquisa científica e conservação. Seu estudo dá-se em um nível mais técnico. Suas competências incluem a capacidade de realizar pesquisas de campo, análise de dados, classificação e conservação. Eles precisam de um sólido conhecimento de biologia, de comportamento animal e de ecossistemas. O ornitólogo consegue responder a perguntas acadêmicas que muitas vezes os observadores de aves desconhecem. Alguns exemplos: Como as aves respiram? Como são os ossos do Jaburu?

Também é imperativo o conhecimento da tecnologia para o exercício dessas profissões. Tudo evoluiu, de máquinas fotográficas e binóculos, a ferramentas como o e-Bird e o WikiAves que incentivam a participação ativa em projetos de ciência. É sempre preciso compartilhar e expandir o conhecimento. A grande preocupação? A inteligência artificial (IA), pois se utilizada sem ética e respeito, possibilita criação de imagens falsificadas de aves. Ela pode sim facilitar o trabalho do ornitólogo ou observador de aves, mas jamais substituí-los!

Lições para o mundo corporativo

Ao discorrer sobre as competências necessárias e as formas de desenvolvê-las, é impossível não as associar à abordagem de metodologias de ensino-aprendizagem, como a proposta por Rabin (2014). Trata-se do propalado modelo de aprendizagem 70:20:10, sugerindo que líderes aprendem por meio de três grupos de metodologias: tarefas desafiadoras e experiências no trabalho (70%); desenvolvimento de relacionamentos e de conexões (20%), e; cursos, workshops e treinamentos formais (10%).

Ou seja, mesmo para um observador de pássaros, minimamente, é necessária uma aprendizagem formal, estruturada para aquisição de certos conhecimentos. Em ambas prevalecem as aprendizagens por relacionamentos, conexões e pela experiência prática em campo.

E o que um líder poderia aprender com essas profissões? A seguir, algumas lições valiosas:

  • Observação cuidadosa e análise detalhada: ornitólogos e observadores de pássaros passam horas observando e registrando o comportamento das aves. Observar atentamente, escutar equipes e ler os sinais do contexto dos negócios é mandatório para todo líder.
  • Paciência e persistência: estudar aves requer paciência e persistência. O mundo corporativo requer persistência na resolução de problemas complexos e na implementação de estratégias de longo prazo.
  • Adaptação contínua ao ambiente: aves, ornitólogos e observadores de pássaros precisam se adaptar continuamente às mudanças no ambiente. Alguma semelhança com o ambiente empresarial?
  • Colaboração e compartilhamento de conhecimentos: colaborar com sites ou com outros cientistas e organizações é usual nessas profissões. Gestores também devem valorizar a colaboração, a gestão do conhecimento e a diversidade.
  • Resiliência e gestão de crises: enfrentar desafios imprevisíveis, como mudanças climáticas e desastres naturais. Válido para todos os profissionais.
  • Tecnologia e inovação: utilizar tecnologia avançada para monitorar e estudar aves é essencial. Lidar com tecnologia de modo geral, entender como utilizar inteligência artificial (IA), por exemplo, e inovar é um desafio generalizado para as lideranças de todas as organizações.
  • Sustentabilidade e conservação: ornitólogos e observadores de pássaros são profundamente conscientes da importância da conservação e da sustentabilidade. Deveria estar na agenda de todos os executivos!
  • Compreensão de ecossistemas: estudar ecossistemas inteiros e as interações entre diferentes espécies faz parte desses ofícios. Também crucial para os líderes a atenção voltada para o ecossistema do negócio.

Essas lições mostram que as atividades de ornitólogo e observador de pássaros podem oferecer insights importantes para a gestão empresarial, promovendo uma abordagem mais atenta, observadora, resolutiva, adaptável, com visão de longo prazo e sustentável na condução dos negócios.

Há 16 anos moro no bairro Real Parque em São Paulo, e não conhecia a praça Uirapuru que fica nas proximidades. Johan Dalgas Frisch (1930 – 2024), engenheiro e celebrado ornitólogo, foi quem a batizou e a adotou. No local, plantou diversas árvores, não apenas para contrastar com o cinza do concreto paulistano, mas com um objetivo claro: atrair pássaros. Como ele disse: “Em 1930, São Paulo tinha duzentas espécies de pássaros.

Em 1964 este número tinha caído para dez. Tiravam as árvores, sumiam os pássaros. Preocupado, decidi fazer alguma coisa”. Ao longo de muitos anos, cuidou da praça. Todos os dias, era visitada por pica-paus, sabiás e muitas outras espécies que ajudavam a tornar bem mais alegre o dia a dia de quem lá passasse.

Por que, só agora, estive por lá? É uma história curiosa.

Nas três últimas viagens de aventura/ecoturismo que fiz, tive a sorte de ter excelentes guias que também eram observadores de pássaros. Quando me hospedei no Cristalino Lodge, no Parque Estadual de Cristalino, em Alta Floresta, fui guiada por Francisco Carvalho de Souza. Na Pousada Trijunção, no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, quem me orientou nas trilhas foi Vinícius Vianna. E na última viagem, para a Serra do Amolar, no Pantanal Sul, Gabriel Oliveira de Freitas foi quase que meu guia particular, uma vez que os incêndios na região espantaram os turistas. Este último me concedeu uma excelente entrevista.

Durante as trilhas na Serra do Amolar, sempre que possível, eu postava nas redes sociais imagens das aves fotografadas. Em uma delas, minha dileta professora, Giselda Bortoletto, declarou-se apaixonada por pássaros e lamentou a recente morte de Johan Dalgas Frisch. Dentre tantos feitos, ele foi o primeiro a gravar o canto do Uirapuru. Ficou o registro na minha memória.

Observação de pássaros.  Foto: nataba - stock.adobe.com

Acabaram-se as férias, mas os passarinhos não saíram da minha mente. Que profissão tão linda, mas nada fácil, de um observador de pássaros. O que poderíamos aprender com esta profissão tão interessante quanto desafiadora? Resolvi explorar o assunto. Ofereceria lições ao mundo corporativo?

Certo dia, comentei com meu personal trainer, Jean Carlo, que não poderia me atrasar, porque eu tinha uma reunião marcada com Luís Fábio Silveira, ornitólogo e diretor do Museu de Zoologia da USP, por causa de um ensaio que pretendia escrever. Com uma risadinha ele me disse: “Você sabe que eu sou personal do Christian Dalgas Frisch, filho de Johan Dalgas Frisch?” Por esta via inesperada, consegui entrar em contato com Christian. Foi uma esplêndida conversa, concluída com a informação de que o seu escritório fica na praça Uirapuru!

Aves: uma paixão de cinco gerações

A família de Christian Dalgas Frisch há cinco gerações é apaixonada por pássaros, animais e natureza. Seu tataravô, Enrico Dalgas, praticamente transformou a Dinamarca. Antes era uma planície vulcânica e virou uma grande floresta! Seu avô, Svend Frisch, estudou na Faculdade de Artes em Paris e desenhou, no Brasil, cerca de 1800 espécies de aves, ao longo de 40 anos de trabalho. E seu pai, Johan Dalgas Frisch, engenheiro industrial, conseguiu gravar o canto do lendário Uirapuru - além de muitas outras aves. Foi pioneiro em observação de aves no Brasil, publicando o livro “Aves Brasileiras”, com os desenhos feitos pelo avô Svend.

Meu entrevistado, Christian, é engenheiro químico. Desde os 4 anos de idade, acompanhava o pai pelo Pantanal de Mato Grosso, Mata Atlântica e Amazônia. Daí vem o seu gosto pela natureza. Seu primeiro trabalho com aves foi aos 15 anos, fotografando-as nos ninhos e alimentando seus filhotes. Depois, selecionou as flores que mais atraíam os beija-flores, realizando um jardim experimental em Mogi-Mirim (SP).

Captou as imagens, ao longo de 12 anos, resultando na publicação, em 1993, do livro “Jardim dos Beija-Flores”. Depois, em 2005, juntamente com o pai, publicou a segunda edição do “Aves Brasileiras e as Plantas que as Atraem”. Também criaram um relógio de parede, com fotografias de 12 aves diferentes e que cantam a cada hora do dia. Que espetáculo e alegria ter dentro de casa os pássaros cantando!

Para Christian, observar pássaros é um hobby. Seu sustento e da família vem do seu trabalho no ramo de despoluição ambiental. Hoje, seu filho Enrico Dalgas Frisch e sua esposa Sarah Dalgas Frisch o acompanham em todas as aventuras.

Ele fez questão de me dizer que em 5 de outubro é celebrado o Dia das Aves no Brasil. A data foi instituída em 1968, visando conscientizar a população sobre a importância da conservação das aves e da biodiversidade. Orgulhosamente mencionou que seu pai teve um papel fundamental nesta divulgação, pois fez com que o Dia das Aves, que já vigorava no estado de São Paulo, se tornasse uma data nacional. E foi por persistência dele que o sabiá foi escolhido o pássaro-símbolo do Brasil.

Também contribuiu de forma substancial para popularizar no país o interesse pela atividade de birdwatching, observação de aves, fundamental para sensibilizar o público sobre a importância da proteção e preservação das aves e de seus ecossistemas. Para ele, “as aves são extremamente necessárias ao equilíbrio ecológico, além da beleza de sua plumagem e de seu canto. O mundo será bem triste sem aves e florestas”.

Christian ressalta que, hoje em dia, os paisagistas projetam jardins 100% verdes, sem cores, sem flores ou frutos que chamem as aves! Por isso, recomenda que sejam plantadas árvores de acordo com sua época de frutificação, em todas as estações do ano, do outono ao verão.

Duas profissões, uma só paixão

Na conversa com Luís Fábio Silveira, ele apontou a importância de termos clareza da distinção entre as profissões “observador de pássaros” e “ornitólogo”. É óbvio, ambas estão relacionadas ao estudo e à apreciação das aves. Mas todos, Christian, Fábio e Gabriel, enfatizaram: diferem significativamente em termos de enfoque, formação e objetivos.

O observador de pássaros (birdwatcher) busca, identifica e aprecia as aves, às vezes iniciando como hobby, contemplando sua beleza, aprendendo sobre suas características e comportamentos e, muitas vezes, registrando as espécies observadas. Para isso tudo, não precisa de uma formação científica sistemática. As competências para essa área incluem o entendimento do comportamento, identificação de espécies, conhecimento de ecossistemas, além de habilidades técnicas com câmeras e outros equipamentos.

A paciência é essencial, pois, algumas aves podem ser difíceis de serem localizadas. Requer um olhar atento para detalhes e conhecimento prático dos melhores lugares e horários para a observação. Tais conhecimentos podem ser aprendidos em cursos, workshops, leitura de guias especializados e, principalmente, muita prática em campo. Participar de grupos de observação e viagens de birdwatching é um caminho natural. Lidar com frustrações é outra habilidade importante, já que a imprevisibilidade dos animais e da natureza é sempre problemática.

Mesmo que a atuação de um observador de pássaros não exija formação acadêmica, ele tem, sim, que conhecer as espécies, seus cantos, suas plumagens para poder identificá-las nas matas e florestas.

Já o ornitólogo é um cientista que estuda aves de forma profissional e acadêmica, com foco em pesquisa científica e conservação. Seu estudo dá-se em um nível mais técnico. Suas competências incluem a capacidade de realizar pesquisas de campo, análise de dados, classificação e conservação. Eles precisam de um sólido conhecimento de biologia, de comportamento animal e de ecossistemas. O ornitólogo consegue responder a perguntas acadêmicas que muitas vezes os observadores de aves desconhecem. Alguns exemplos: Como as aves respiram? Como são os ossos do Jaburu?

Também é imperativo o conhecimento da tecnologia para o exercício dessas profissões. Tudo evoluiu, de máquinas fotográficas e binóculos, a ferramentas como o e-Bird e o WikiAves que incentivam a participação ativa em projetos de ciência. É sempre preciso compartilhar e expandir o conhecimento. A grande preocupação? A inteligência artificial (IA), pois se utilizada sem ética e respeito, possibilita criação de imagens falsificadas de aves. Ela pode sim facilitar o trabalho do ornitólogo ou observador de aves, mas jamais substituí-los!

Lições para o mundo corporativo

Ao discorrer sobre as competências necessárias e as formas de desenvolvê-las, é impossível não as associar à abordagem de metodologias de ensino-aprendizagem, como a proposta por Rabin (2014). Trata-se do propalado modelo de aprendizagem 70:20:10, sugerindo que líderes aprendem por meio de três grupos de metodologias: tarefas desafiadoras e experiências no trabalho (70%); desenvolvimento de relacionamentos e de conexões (20%), e; cursos, workshops e treinamentos formais (10%).

Ou seja, mesmo para um observador de pássaros, minimamente, é necessária uma aprendizagem formal, estruturada para aquisição de certos conhecimentos. Em ambas prevalecem as aprendizagens por relacionamentos, conexões e pela experiência prática em campo.

E o que um líder poderia aprender com essas profissões? A seguir, algumas lições valiosas:

  • Observação cuidadosa e análise detalhada: ornitólogos e observadores de pássaros passam horas observando e registrando o comportamento das aves. Observar atentamente, escutar equipes e ler os sinais do contexto dos negócios é mandatório para todo líder.
  • Paciência e persistência: estudar aves requer paciência e persistência. O mundo corporativo requer persistência na resolução de problemas complexos e na implementação de estratégias de longo prazo.
  • Adaptação contínua ao ambiente: aves, ornitólogos e observadores de pássaros precisam se adaptar continuamente às mudanças no ambiente. Alguma semelhança com o ambiente empresarial?
  • Colaboração e compartilhamento de conhecimentos: colaborar com sites ou com outros cientistas e organizações é usual nessas profissões. Gestores também devem valorizar a colaboração, a gestão do conhecimento e a diversidade.
  • Resiliência e gestão de crises: enfrentar desafios imprevisíveis, como mudanças climáticas e desastres naturais. Válido para todos os profissionais.
  • Tecnologia e inovação: utilizar tecnologia avançada para monitorar e estudar aves é essencial. Lidar com tecnologia de modo geral, entender como utilizar inteligência artificial (IA), por exemplo, e inovar é um desafio generalizado para as lideranças de todas as organizações.
  • Sustentabilidade e conservação: ornitólogos e observadores de pássaros são profundamente conscientes da importância da conservação e da sustentabilidade. Deveria estar na agenda de todos os executivos!
  • Compreensão de ecossistemas: estudar ecossistemas inteiros e as interações entre diferentes espécies faz parte desses ofícios. Também crucial para os líderes a atenção voltada para o ecossistema do negócio.

Essas lições mostram que as atividades de ornitólogo e observador de pássaros podem oferecer insights importantes para a gestão empresarial, promovendo uma abordagem mais atenta, observadora, resolutiva, adaptável, com visão de longo prazo e sustentável na condução dos negócios.

Há 16 anos moro no bairro Real Parque em São Paulo, e não conhecia a praça Uirapuru que fica nas proximidades. Johan Dalgas Frisch (1930 – 2024), engenheiro e celebrado ornitólogo, foi quem a batizou e a adotou. No local, plantou diversas árvores, não apenas para contrastar com o cinza do concreto paulistano, mas com um objetivo claro: atrair pássaros. Como ele disse: “Em 1930, São Paulo tinha duzentas espécies de pássaros.

Em 1964 este número tinha caído para dez. Tiravam as árvores, sumiam os pássaros. Preocupado, decidi fazer alguma coisa”. Ao longo de muitos anos, cuidou da praça. Todos os dias, era visitada por pica-paus, sabiás e muitas outras espécies que ajudavam a tornar bem mais alegre o dia a dia de quem lá passasse.

Por que, só agora, estive por lá? É uma história curiosa.

Nas três últimas viagens de aventura/ecoturismo que fiz, tive a sorte de ter excelentes guias que também eram observadores de pássaros. Quando me hospedei no Cristalino Lodge, no Parque Estadual de Cristalino, em Alta Floresta, fui guiada por Francisco Carvalho de Souza. Na Pousada Trijunção, no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, quem me orientou nas trilhas foi Vinícius Vianna. E na última viagem, para a Serra do Amolar, no Pantanal Sul, Gabriel Oliveira de Freitas foi quase que meu guia particular, uma vez que os incêndios na região espantaram os turistas. Este último me concedeu uma excelente entrevista.

Durante as trilhas na Serra do Amolar, sempre que possível, eu postava nas redes sociais imagens das aves fotografadas. Em uma delas, minha dileta professora, Giselda Bortoletto, declarou-se apaixonada por pássaros e lamentou a recente morte de Johan Dalgas Frisch. Dentre tantos feitos, ele foi o primeiro a gravar o canto do Uirapuru. Ficou o registro na minha memória.

Observação de pássaros.  Foto: nataba - stock.adobe.com

Acabaram-se as férias, mas os passarinhos não saíram da minha mente. Que profissão tão linda, mas nada fácil, de um observador de pássaros. O que poderíamos aprender com esta profissão tão interessante quanto desafiadora? Resolvi explorar o assunto. Ofereceria lições ao mundo corporativo?

Certo dia, comentei com meu personal trainer, Jean Carlo, que não poderia me atrasar, porque eu tinha uma reunião marcada com Luís Fábio Silveira, ornitólogo e diretor do Museu de Zoologia da USP, por causa de um ensaio que pretendia escrever. Com uma risadinha ele me disse: “Você sabe que eu sou personal do Christian Dalgas Frisch, filho de Johan Dalgas Frisch?” Por esta via inesperada, consegui entrar em contato com Christian. Foi uma esplêndida conversa, concluída com a informação de que o seu escritório fica na praça Uirapuru!

Aves: uma paixão de cinco gerações

A família de Christian Dalgas Frisch há cinco gerações é apaixonada por pássaros, animais e natureza. Seu tataravô, Enrico Dalgas, praticamente transformou a Dinamarca. Antes era uma planície vulcânica e virou uma grande floresta! Seu avô, Svend Frisch, estudou na Faculdade de Artes em Paris e desenhou, no Brasil, cerca de 1800 espécies de aves, ao longo de 40 anos de trabalho. E seu pai, Johan Dalgas Frisch, engenheiro industrial, conseguiu gravar o canto do lendário Uirapuru - além de muitas outras aves. Foi pioneiro em observação de aves no Brasil, publicando o livro “Aves Brasileiras”, com os desenhos feitos pelo avô Svend.

Meu entrevistado, Christian, é engenheiro químico. Desde os 4 anos de idade, acompanhava o pai pelo Pantanal de Mato Grosso, Mata Atlântica e Amazônia. Daí vem o seu gosto pela natureza. Seu primeiro trabalho com aves foi aos 15 anos, fotografando-as nos ninhos e alimentando seus filhotes. Depois, selecionou as flores que mais atraíam os beija-flores, realizando um jardim experimental em Mogi-Mirim (SP).

Captou as imagens, ao longo de 12 anos, resultando na publicação, em 1993, do livro “Jardim dos Beija-Flores”. Depois, em 2005, juntamente com o pai, publicou a segunda edição do “Aves Brasileiras e as Plantas que as Atraem”. Também criaram um relógio de parede, com fotografias de 12 aves diferentes e que cantam a cada hora do dia. Que espetáculo e alegria ter dentro de casa os pássaros cantando!

Para Christian, observar pássaros é um hobby. Seu sustento e da família vem do seu trabalho no ramo de despoluição ambiental. Hoje, seu filho Enrico Dalgas Frisch e sua esposa Sarah Dalgas Frisch o acompanham em todas as aventuras.

Ele fez questão de me dizer que em 5 de outubro é celebrado o Dia das Aves no Brasil. A data foi instituída em 1968, visando conscientizar a população sobre a importância da conservação das aves e da biodiversidade. Orgulhosamente mencionou que seu pai teve um papel fundamental nesta divulgação, pois fez com que o Dia das Aves, que já vigorava no estado de São Paulo, se tornasse uma data nacional. E foi por persistência dele que o sabiá foi escolhido o pássaro-símbolo do Brasil.

Também contribuiu de forma substancial para popularizar no país o interesse pela atividade de birdwatching, observação de aves, fundamental para sensibilizar o público sobre a importância da proteção e preservação das aves e de seus ecossistemas. Para ele, “as aves são extremamente necessárias ao equilíbrio ecológico, além da beleza de sua plumagem e de seu canto. O mundo será bem triste sem aves e florestas”.

Christian ressalta que, hoje em dia, os paisagistas projetam jardins 100% verdes, sem cores, sem flores ou frutos que chamem as aves! Por isso, recomenda que sejam plantadas árvores de acordo com sua época de frutificação, em todas as estações do ano, do outono ao verão.

Duas profissões, uma só paixão

Na conversa com Luís Fábio Silveira, ele apontou a importância de termos clareza da distinção entre as profissões “observador de pássaros” e “ornitólogo”. É óbvio, ambas estão relacionadas ao estudo e à apreciação das aves. Mas todos, Christian, Fábio e Gabriel, enfatizaram: diferem significativamente em termos de enfoque, formação e objetivos.

O observador de pássaros (birdwatcher) busca, identifica e aprecia as aves, às vezes iniciando como hobby, contemplando sua beleza, aprendendo sobre suas características e comportamentos e, muitas vezes, registrando as espécies observadas. Para isso tudo, não precisa de uma formação científica sistemática. As competências para essa área incluem o entendimento do comportamento, identificação de espécies, conhecimento de ecossistemas, além de habilidades técnicas com câmeras e outros equipamentos.

A paciência é essencial, pois, algumas aves podem ser difíceis de serem localizadas. Requer um olhar atento para detalhes e conhecimento prático dos melhores lugares e horários para a observação. Tais conhecimentos podem ser aprendidos em cursos, workshops, leitura de guias especializados e, principalmente, muita prática em campo. Participar de grupos de observação e viagens de birdwatching é um caminho natural. Lidar com frustrações é outra habilidade importante, já que a imprevisibilidade dos animais e da natureza é sempre problemática.

Mesmo que a atuação de um observador de pássaros não exija formação acadêmica, ele tem, sim, que conhecer as espécies, seus cantos, suas plumagens para poder identificá-las nas matas e florestas.

Já o ornitólogo é um cientista que estuda aves de forma profissional e acadêmica, com foco em pesquisa científica e conservação. Seu estudo dá-se em um nível mais técnico. Suas competências incluem a capacidade de realizar pesquisas de campo, análise de dados, classificação e conservação. Eles precisam de um sólido conhecimento de biologia, de comportamento animal e de ecossistemas. O ornitólogo consegue responder a perguntas acadêmicas que muitas vezes os observadores de aves desconhecem. Alguns exemplos: Como as aves respiram? Como são os ossos do Jaburu?

Também é imperativo o conhecimento da tecnologia para o exercício dessas profissões. Tudo evoluiu, de máquinas fotográficas e binóculos, a ferramentas como o e-Bird e o WikiAves que incentivam a participação ativa em projetos de ciência. É sempre preciso compartilhar e expandir o conhecimento. A grande preocupação? A inteligência artificial (IA), pois se utilizada sem ética e respeito, possibilita criação de imagens falsificadas de aves. Ela pode sim facilitar o trabalho do ornitólogo ou observador de aves, mas jamais substituí-los!

Lições para o mundo corporativo

Ao discorrer sobre as competências necessárias e as formas de desenvolvê-las, é impossível não as associar à abordagem de metodologias de ensino-aprendizagem, como a proposta por Rabin (2014). Trata-se do propalado modelo de aprendizagem 70:20:10, sugerindo que líderes aprendem por meio de três grupos de metodologias: tarefas desafiadoras e experiências no trabalho (70%); desenvolvimento de relacionamentos e de conexões (20%), e; cursos, workshops e treinamentos formais (10%).

Ou seja, mesmo para um observador de pássaros, minimamente, é necessária uma aprendizagem formal, estruturada para aquisição de certos conhecimentos. Em ambas prevalecem as aprendizagens por relacionamentos, conexões e pela experiência prática em campo.

E o que um líder poderia aprender com essas profissões? A seguir, algumas lições valiosas:

  • Observação cuidadosa e análise detalhada: ornitólogos e observadores de pássaros passam horas observando e registrando o comportamento das aves. Observar atentamente, escutar equipes e ler os sinais do contexto dos negócios é mandatório para todo líder.
  • Paciência e persistência: estudar aves requer paciência e persistência. O mundo corporativo requer persistência na resolução de problemas complexos e na implementação de estratégias de longo prazo.
  • Adaptação contínua ao ambiente: aves, ornitólogos e observadores de pássaros precisam se adaptar continuamente às mudanças no ambiente. Alguma semelhança com o ambiente empresarial?
  • Colaboração e compartilhamento de conhecimentos: colaborar com sites ou com outros cientistas e organizações é usual nessas profissões. Gestores também devem valorizar a colaboração, a gestão do conhecimento e a diversidade.
  • Resiliência e gestão de crises: enfrentar desafios imprevisíveis, como mudanças climáticas e desastres naturais. Válido para todos os profissionais.
  • Tecnologia e inovação: utilizar tecnologia avançada para monitorar e estudar aves é essencial. Lidar com tecnologia de modo geral, entender como utilizar inteligência artificial (IA), por exemplo, e inovar é um desafio generalizado para as lideranças de todas as organizações.
  • Sustentabilidade e conservação: ornitólogos e observadores de pássaros são profundamente conscientes da importância da conservação e da sustentabilidade. Deveria estar na agenda de todos os executivos!
  • Compreensão de ecossistemas: estudar ecossistemas inteiros e as interações entre diferentes espécies faz parte desses ofícios. Também crucial para os líderes a atenção voltada para o ecossistema do negócio.

Essas lições mostram que as atividades de ornitólogo e observador de pássaros podem oferecer insights importantes para a gestão empresarial, promovendo uma abordagem mais atenta, observadora, resolutiva, adaptável, com visão de longo prazo e sustentável na condução dos negócios.

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Opinião por Marisa Eboli

Doutora em Administração pela USP e Especialista em Educação Corporativa. É Professora do Mestrado Profissional e Coordenadora da Pós em Gestão da Educação Corporativa na FIA Business School.

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