Foi-se o tempo em que conhecimentos técnicos, hoje chamados de hard skills, eram suficientes para garantir êxito profissional. Em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, arcabouço emocional passou a ser uma habilidade mandatória tanto para líderes quanto liderados. E, em 2024, novas competências devem ganhar destaque na contratação: mad e green skills.
Para começo de conversa, mad skills (habilidades incríveis ou fora de série, em tradução livre do inglês) nada mais são do que as experiências e hobbies aos quais nos dedicamos na vida pessoal — tocar um instrumento, praticar esportes, fazer artesanato, participar de um programa de voluntariado. É verdade que os bons recrutadores sempre levantaram essas informações na entrevista com os candidatos, mas agora elas estão em evidência graças à nova denominação criada pelas startups do Vale do Silício.
Ao investigá-las, a intenção é conhecer melhor a personalidade do profissional e observar quais competências ele desenvolveu a partir das atividades de lazer escolhidas e — quem sabe — até aproveitá-las de alguma forma nos desafios de negócio.
Exemplos? Se alguém toca piano (um dos meus hobbies até hoje), é possível inferir que a pessoa tem uma boa capacidade de raciocínio; se atua como voluntária, possivelmente ela é colaborativa e gosta de servir; caso seja líder de sala na faculdade, aprendeu a liderar e a mediar conflitos. Todas essas características positivas podem (e devem) ser transportadas para o mundo corporativo, pois ajudam a ter clareza de se a pessoa tem ou não o perfil e as habilidades necessárias para uma posição.
Quando entendemos os candidatos de maneira integral, a chance de identificar o profissional mais adequado para determinada vaga só aumenta. Quem já está empregado e quer desenvolver novas habilidades ou continuar aprimorando as existentes pode integrar grupos organizados dentro da própria empresa — clube de leitura, treino de corrida, uma iniciativa voluntária com a comunidade do entorno.
Por falar em ações sociais, outro conceito que deve ganhar força em 2024 são as green skills (habilidades verdes). Com um número cada vez maior de empresas adotando estratégias de ESG (Ambiental, Social e Governança), conhecimentos e valores que contribuem para a criação de negócios mais sustentáveis e, consequentemente, de um mundo melhor, são essenciais.
Transição energética, gestão de resíduos e políticas de inclusão, por exemplo, são tópicos obrigatórios. Mas, como sustentabilidade é um tema transversal, que permeia todas as outras áreas da organização, demonstrar interesse e conhecimento genuíno nesse tipo de assunto soma pontos no currículo dos candidatos, independentemente da posição almejada.
De acordo com o Global Green Skills Report 2023, produzido pelo LinkedIn, o número de vagas postadas na plataforma que exigem ao menos uma habilidade verde cresceu 15% de fevereiro de 2022 a fevereiro deste ano.
Embora as “novas” habilidades possam abrir portas na carreira, as “skills” tradicionais, como empatia, capacidade de negociação, comunicação engajadora, criatividade, resiliência, escuta ativa, adaptabilidade, entre outras, continuam sendo relevantes em qualquer processo seletivo.
E isso não é à toa: segundo uma outra pesquisa realizada pelo LinkedIn, 80% dos profissionais de RH acreditam que as soft skills são fundamentais para o sucesso das organizações onde atuam. Isso porque elas ajudam a criar um ambiente de trabalho mais amigável e descontraído, o que também colabora para a retenção de talentos.
Afinal, se pararmos para pensar, muitos colaboradores acabam se demitindo das companhias por questões pessoais como um relacionamento tóxico com o chefe ou com um colega do seu time.
E, como o mercado muda em ritmo acelerado, as hard skills também não podem ser ignoradas. É preciso manter as qualificações profissionais em dia para garantir a empregabilidade.
Neste contexto, sempre sugiro observar as duas faces da habilidade técnica: a educação formal, conquistada por meio de graduações, treinamentos e cursos, e o conhecimento em ferramentas específicas para cada área profissional (Photoshop para quem é de design, Black Belt para quem está em projetos, especialização em LGPD para advogados e por aí vai).
Elas têm pesos diferentes, a depender do nível da vaga e da área de atuação, mas são indispensáveis para garantir um desempenho sustentável. Aprender nunca é demais.
Desejo aos leitores um ano novo de muitos desafios e aprendizados. Nos vemos em 2024!