Notícia e análise, sem fronteiras

Vídeo denuncia maus tratos no abate de frangos nos EUA


Documentário feito por entidade de defesa de animais aponta que 700 mil aves são escaldadas até a morte no país

Por Economia & Negócios
Defensores de animais denunciam maus tratos em granjas e frigoríficos Foto: Estadão

 

continua após a publicidade

Nicholas KristofTHE NEW YORK TIMES

Se alguém torturar uma galinha e for apanhado, é provável que a pessoa seja presa. Se alguém escaldar milhares de galinhas vivas, nós o consideramos um industrialista merecedor de elogios pelos tino comercial.

Essa é a conclusão a que cheguei depois de assistir a imagens feitas por um investigador à paisana a serviço do grupo Mercy for Animals, que defende os direitos dos animais.

continua após a publicidade

O investigador disse ter trabalhado por dois meses num abatedouro de frangos na Carolina do Norte, onde testemunhou frangos terem as pernas e asas quebradas, às vezes repetidamente - ou, pior, serem escaldadas até a morte.

"Fiquei enojado", disse o investigador, que insistiu em não ter a identidade revelada porque continua a trabalhar à paisana em outra instalação. Ele descreveu o tratamento como tortura.

Matt Rice, diretor de investigações do Mercy for Animals, destacou que as regras federais para o abate sem sofrimento desnecessário se aplicam ao gado, aos suínos e ovinos, mas não às aves - embora os pássaros sejam 95% dos animais mortos anualmente na pecuária americana.

continua após a publicidade

"Acredito que a maioria dos americanos ficaria chocada em saber que 95% dos animais da pecuária não são protegidos pelas poucas leis que temos", disse Rice.

O mais chocante no vídeo feito às escondidas, que o Mercy for Animals lançou em seu site no final de semana, é a velocidade da linha de montagem, levando os trabalhadores a perderem o ritmo de maneiras que causam sofrimento aos frangos. Trata-se de um processo que maximiza a produtividade, o lucro e a dor.

Os trabalhadores agarram os pássaros e metem suas pernas de ponta-cabeça em amarras de metal numa esteira. Os frangos são então transportados de ponta-cabeça até um banho elétrico que tem como objetivo deixá-los inconscientes. Em seguida, a esteira os transporta - a um ritmo de mais de dois frangos por segundo - a uma serra circular que corta seus pescoços para que sangrem até a morte antes de serem escaldados na água quente e depenados.

continua após a publicidade

Mesmo quando o sistema funciona como pretendido, os pássaros às vezes têm as asas ou pernas quebradas quando são presos à esteira, disse o investigador. E, quando não funciona, a morte dos frangos pode ser horrível.

Algumas galinhas não são nocauteadas pela corrente elétrica e podem ser vistas se debatendo desesperadas. Outras encontram uma maneira de escapar da serra circular. Há um funcionário encarregado de cortar a garganta dos frangos que sobrevivem à serra, mas as aves que passam por ele são escaldadas vivas, disse o investigador.

O departamento da agricultura dos Estados Unidos calcula que cerca de 700 mil galinhas por ano "não sejam abatidas corretamente" - muitas vezes um eufemismo para dizer que são escaldadas até a morte.

continua após a publicidade

Esse número diminuiu - era de 1,5 milhão em 2007 - e representa uma pequena fração das aves abatidas.

Funcionários do departamento de agricultura dizem que isso ocorre com apenas 0,008% dos frangos abatidos nos EUA, e essas aves são em seguida descartadas (o que significa que os abatedouros têm um incentivo financeiro para reduzir o número de frangos escaldados vivos).

"A proporção de frangos abatidos incorretamente caiu muito", diz Phil Derfler, do departamento da agricultura. "Nossa meta sempre foi aproximar o máximo possível esse número do zero."

continua após a publicidade

Indaguei ao investigador à paisana a respeito disso. Ele questionou os números, dizendo que o percentual de frangos escaldados vivos era alto onde ele trabalhava, e as aves não eram descartadas, mas processadas juntamente com as demais.

A empresa que opera o abatedouro, Wayne Farms, disse ter analisado o vídeo sem encontrar evidências de abusos. Um porta-voz, Frank Singleton, disse que a empresa utiliza "métodos de abate sem sofrimento desnecessário considerados padrão na indústria".

E ele tem razão. Nada que é exibido no vídeo é ilegal nem viola os padrões da indústria. Assim, incentivo todos a acessarem mercyforanimals.org e assistir ao vídeo, formando sua própria opinião a respeito das normas da indústria. A maioria dos consumidores americanos se sente como eu: em conflito. Comemos carne, mas não queremos que os animais sofram desnecessariamente.

Vídeo mostra como é o abate de frangos: polêmica Foto: Estadão

Tratamento digno. Uma pesquisa nacional realizada no ano passado revelou que 81% dos consumidores disseram considerar importante que as galinhas que comem sejam criadas com tratamento digno.

Criei galinhas quando morava no campo, na infância. Elas não são espertas como os porcos nem leais como os cães, mas são ótimas mães, sabem contar e apresentam personalidades distintas. Não são coisas descartáveis.

Uma alternativa ao atual "padrão da indústria" é a morte ou atordoamento por atmosfera controlada, sistema usado na Europa no qual as aves são colocadas para dormir ainda nas gaiolas de transporte, de maneira indolor. O sistema é permitido nos EUA, mas pouco utilizado.

Há pouco mais de um século, Upton Sinclair revelou os horrores dos abatedouros americanos, levando a reformas federais que beneficiaram o gado, mas não as aves. Para essas, uma reforma equivalente seria a morta por atmosfera controlada.

Pense nisso. Se um menino levado puxar penas de uma única galinha, ele é castigado. Mas escaldar vivos centenas de milhares de frangos todos os anos? Aí já temos um modelo de negócios./Tradução de Augusto Calil

 

 Leia também:

Como vivem os frangos que comemos

Ator Kevin Bacon faz campanha de ovos com bacon

 

 

Defensores de animais denunciam maus tratos em granjas e frigoríficos Foto: Estadão

 

Nicholas KristofTHE NEW YORK TIMES

Se alguém torturar uma galinha e for apanhado, é provável que a pessoa seja presa. Se alguém escaldar milhares de galinhas vivas, nós o consideramos um industrialista merecedor de elogios pelos tino comercial.

Essa é a conclusão a que cheguei depois de assistir a imagens feitas por um investigador à paisana a serviço do grupo Mercy for Animals, que defende os direitos dos animais.

O investigador disse ter trabalhado por dois meses num abatedouro de frangos na Carolina do Norte, onde testemunhou frangos terem as pernas e asas quebradas, às vezes repetidamente - ou, pior, serem escaldadas até a morte.

"Fiquei enojado", disse o investigador, que insistiu em não ter a identidade revelada porque continua a trabalhar à paisana em outra instalação. Ele descreveu o tratamento como tortura.

Matt Rice, diretor de investigações do Mercy for Animals, destacou que as regras federais para o abate sem sofrimento desnecessário se aplicam ao gado, aos suínos e ovinos, mas não às aves - embora os pássaros sejam 95% dos animais mortos anualmente na pecuária americana.

"Acredito que a maioria dos americanos ficaria chocada em saber que 95% dos animais da pecuária não são protegidos pelas poucas leis que temos", disse Rice.

O mais chocante no vídeo feito às escondidas, que o Mercy for Animals lançou em seu site no final de semana, é a velocidade da linha de montagem, levando os trabalhadores a perderem o ritmo de maneiras que causam sofrimento aos frangos. Trata-se de um processo que maximiza a produtividade, o lucro e a dor.

Os trabalhadores agarram os pássaros e metem suas pernas de ponta-cabeça em amarras de metal numa esteira. Os frangos são então transportados de ponta-cabeça até um banho elétrico que tem como objetivo deixá-los inconscientes. Em seguida, a esteira os transporta - a um ritmo de mais de dois frangos por segundo - a uma serra circular que corta seus pescoços para que sangrem até a morte antes de serem escaldados na água quente e depenados.

Mesmo quando o sistema funciona como pretendido, os pássaros às vezes têm as asas ou pernas quebradas quando são presos à esteira, disse o investigador. E, quando não funciona, a morte dos frangos pode ser horrível.

Algumas galinhas não são nocauteadas pela corrente elétrica e podem ser vistas se debatendo desesperadas. Outras encontram uma maneira de escapar da serra circular. Há um funcionário encarregado de cortar a garganta dos frangos que sobrevivem à serra, mas as aves que passam por ele são escaldadas vivas, disse o investigador.

O departamento da agricultura dos Estados Unidos calcula que cerca de 700 mil galinhas por ano "não sejam abatidas corretamente" - muitas vezes um eufemismo para dizer que são escaldadas até a morte.

Esse número diminuiu - era de 1,5 milhão em 2007 - e representa uma pequena fração das aves abatidas.

Funcionários do departamento de agricultura dizem que isso ocorre com apenas 0,008% dos frangos abatidos nos EUA, e essas aves são em seguida descartadas (o que significa que os abatedouros têm um incentivo financeiro para reduzir o número de frangos escaldados vivos).

"A proporção de frangos abatidos incorretamente caiu muito", diz Phil Derfler, do departamento da agricultura. "Nossa meta sempre foi aproximar o máximo possível esse número do zero."

Indaguei ao investigador à paisana a respeito disso. Ele questionou os números, dizendo que o percentual de frangos escaldados vivos era alto onde ele trabalhava, e as aves não eram descartadas, mas processadas juntamente com as demais.

A empresa que opera o abatedouro, Wayne Farms, disse ter analisado o vídeo sem encontrar evidências de abusos. Um porta-voz, Frank Singleton, disse que a empresa utiliza "métodos de abate sem sofrimento desnecessário considerados padrão na indústria".

E ele tem razão. Nada que é exibido no vídeo é ilegal nem viola os padrões da indústria. Assim, incentivo todos a acessarem mercyforanimals.org e assistir ao vídeo, formando sua própria opinião a respeito das normas da indústria. A maioria dos consumidores americanos se sente como eu: em conflito. Comemos carne, mas não queremos que os animais sofram desnecessariamente.

Vídeo mostra como é o abate de frangos: polêmica Foto: Estadão

Tratamento digno. Uma pesquisa nacional realizada no ano passado revelou que 81% dos consumidores disseram considerar importante que as galinhas que comem sejam criadas com tratamento digno.

Criei galinhas quando morava no campo, na infância. Elas não são espertas como os porcos nem leais como os cães, mas são ótimas mães, sabem contar e apresentam personalidades distintas. Não são coisas descartáveis.

Uma alternativa ao atual "padrão da indústria" é a morte ou atordoamento por atmosfera controlada, sistema usado na Europa no qual as aves são colocadas para dormir ainda nas gaiolas de transporte, de maneira indolor. O sistema é permitido nos EUA, mas pouco utilizado.

Há pouco mais de um século, Upton Sinclair revelou os horrores dos abatedouros americanos, levando a reformas federais que beneficiaram o gado, mas não as aves. Para essas, uma reforma equivalente seria a morta por atmosfera controlada.

Pense nisso. Se um menino levado puxar penas de uma única galinha, ele é castigado. Mas escaldar vivos centenas de milhares de frangos todos os anos? Aí já temos um modelo de negócios./Tradução de Augusto Calil

 

 Leia também:

Como vivem os frangos que comemos

Ator Kevin Bacon faz campanha de ovos com bacon

 

 

Defensores de animais denunciam maus tratos em granjas e frigoríficos Foto: Estadão

 

Nicholas KristofTHE NEW YORK TIMES

Se alguém torturar uma galinha e for apanhado, é provável que a pessoa seja presa. Se alguém escaldar milhares de galinhas vivas, nós o consideramos um industrialista merecedor de elogios pelos tino comercial.

Essa é a conclusão a que cheguei depois de assistir a imagens feitas por um investigador à paisana a serviço do grupo Mercy for Animals, que defende os direitos dos animais.

O investigador disse ter trabalhado por dois meses num abatedouro de frangos na Carolina do Norte, onde testemunhou frangos terem as pernas e asas quebradas, às vezes repetidamente - ou, pior, serem escaldadas até a morte.

"Fiquei enojado", disse o investigador, que insistiu em não ter a identidade revelada porque continua a trabalhar à paisana em outra instalação. Ele descreveu o tratamento como tortura.

Matt Rice, diretor de investigações do Mercy for Animals, destacou que as regras federais para o abate sem sofrimento desnecessário se aplicam ao gado, aos suínos e ovinos, mas não às aves - embora os pássaros sejam 95% dos animais mortos anualmente na pecuária americana.

"Acredito que a maioria dos americanos ficaria chocada em saber que 95% dos animais da pecuária não são protegidos pelas poucas leis que temos", disse Rice.

O mais chocante no vídeo feito às escondidas, que o Mercy for Animals lançou em seu site no final de semana, é a velocidade da linha de montagem, levando os trabalhadores a perderem o ritmo de maneiras que causam sofrimento aos frangos. Trata-se de um processo que maximiza a produtividade, o lucro e a dor.

Os trabalhadores agarram os pássaros e metem suas pernas de ponta-cabeça em amarras de metal numa esteira. Os frangos são então transportados de ponta-cabeça até um banho elétrico que tem como objetivo deixá-los inconscientes. Em seguida, a esteira os transporta - a um ritmo de mais de dois frangos por segundo - a uma serra circular que corta seus pescoços para que sangrem até a morte antes de serem escaldados na água quente e depenados.

Mesmo quando o sistema funciona como pretendido, os pássaros às vezes têm as asas ou pernas quebradas quando são presos à esteira, disse o investigador. E, quando não funciona, a morte dos frangos pode ser horrível.

Algumas galinhas não são nocauteadas pela corrente elétrica e podem ser vistas se debatendo desesperadas. Outras encontram uma maneira de escapar da serra circular. Há um funcionário encarregado de cortar a garganta dos frangos que sobrevivem à serra, mas as aves que passam por ele são escaldadas vivas, disse o investigador.

O departamento da agricultura dos Estados Unidos calcula que cerca de 700 mil galinhas por ano "não sejam abatidas corretamente" - muitas vezes um eufemismo para dizer que são escaldadas até a morte.

Esse número diminuiu - era de 1,5 milhão em 2007 - e representa uma pequena fração das aves abatidas.

Funcionários do departamento de agricultura dizem que isso ocorre com apenas 0,008% dos frangos abatidos nos EUA, e essas aves são em seguida descartadas (o que significa que os abatedouros têm um incentivo financeiro para reduzir o número de frangos escaldados vivos).

"A proporção de frangos abatidos incorretamente caiu muito", diz Phil Derfler, do departamento da agricultura. "Nossa meta sempre foi aproximar o máximo possível esse número do zero."

Indaguei ao investigador à paisana a respeito disso. Ele questionou os números, dizendo que o percentual de frangos escaldados vivos era alto onde ele trabalhava, e as aves não eram descartadas, mas processadas juntamente com as demais.

A empresa que opera o abatedouro, Wayne Farms, disse ter analisado o vídeo sem encontrar evidências de abusos. Um porta-voz, Frank Singleton, disse que a empresa utiliza "métodos de abate sem sofrimento desnecessário considerados padrão na indústria".

E ele tem razão. Nada que é exibido no vídeo é ilegal nem viola os padrões da indústria. Assim, incentivo todos a acessarem mercyforanimals.org e assistir ao vídeo, formando sua própria opinião a respeito das normas da indústria. A maioria dos consumidores americanos se sente como eu: em conflito. Comemos carne, mas não queremos que os animais sofram desnecessariamente.

Vídeo mostra como é o abate de frangos: polêmica Foto: Estadão

Tratamento digno. Uma pesquisa nacional realizada no ano passado revelou que 81% dos consumidores disseram considerar importante que as galinhas que comem sejam criadas com tratamento digno.

Criei galinhas quando morava no campo, na infância. Elas não são espertas como os porcos nem leais como os cães, mas são ótimas mães, sabem contar e apresentam personalidades distintas. Não são coisas descartáveis.

Uma alternativa ao atual "padrão da indústria" é a morte ou atordoamento por atmosfera controlada, sistema usado na Europa no qual as aves são colocadas para dormir ainda nas gaiolas de transporte, de maneira indolor. O sistema é permitido nos EUA, mas pouco utilizado.

Há pouco mais de um século, Upton Sinclair revelou os horrores dos abatedouros americanos, levando a reformas federais que beneficiaram o gado, mas não as aves. Para essas, uma reforma equivalente seria a morta por atmosfera controlada.

Pense nisso. Se um menino levado puxar penas de uma única galinha, ele é castigado. Mas escaldar vivos centenas de milhares de frangos todos os anos? Aí já temos um modelo de negócios./Tradução de Augusto Calil

 

 Leia também:

Como vivem os frangos que comemos

Ator Kevin Bacon faz campanha de ovos com bacon

 

 

Defensores de animais denunciam maus tratos em granjas e frigoríficos Foto: Estadão

 

Nicholas KristofTHE NEW YORK TIMES

Se alguém torturar uma galinha e for apanhado, é provável que a pessoa seja presa. Se alguém escaldar milhares de galinhas vivas, nós o consideramos um industrialista merecedor de elogios pelos tino comercial.

Essa é a conclusão a que cheguei depois de assistir a imagens feitas por um investigador à paisana a serviço do grupo Mercy for Animals, que defende os direitos dos animais.

O investigador disse ter trabalhado por dois meses num abatedouro de frangos na Carolina do Norte, onde testemunhou frangos terem as pernas e asas quebradas, às vezes repetidamente - ou, pior, serem escaldadas até a morte.

"Fiquei enojado", disse o investigador, que insistiu em não ter a identidade revelada porque continua a trabalhar à paisana em outra instalação. Ele descreveu o tratamento como tortura.

Matt Rice, diretor de investigações do Mercy for Animals, destacou que as regras federais para o abate sem sofrimento desnecessário se aplicam ao gado, aos suínos e ovinos, mas não às aves - embora os pássaros sejam 95% dos animais mortos anualmente na pecuária americana.

"Acredito que a maioria dos americanos ficaria chocada em saber que 95% dos animais da pecuária não são protegidos pelas poucas leis que temos", disse Rice.

O mais chocante no vídeo feito às escondidas, que o Mercy for Animals lançou em seu site no final de semana, é a velocidade da linha de montagem, levando os trabalhadores a perderem o ritmo de maneiras que causam sofrimento aos frangos. Trata-se de um processo que maximiza a produtividade, o lucro e a dor.

Os trabalhadores agarram os pássaros e metem suas pernas de ponta-cabeça em amarras de metal numa esteira. Os frangos são então transportados de ponta-cabeça até um banho elétrico que tem como objetivo deixá-los inconscientes. Em seguida, a esteira os transporta - a um ritmo de mais de dois frangos por segundo - a uma serra circular que corta seus pescoços para que sangrem até a morte antes de serem escaldados na água quente e depenados.

Mesmo quando o sistema funciona como pretendido, os pássaros às vezes têm as asas ou pernas quebradas quando são presos à esteira, disse o investigador. E, quando não funciona, a morte dos frangos pode ser horrível.

Algumas galinhas não são nocauteadas pela corrente elétrica e podem ser vistas se debatendo desesperadas. Outras encontram uma maneira de escapar da serra circular. Há um funcionário encarregado de cortar a garganta dos frangos que sobrevivem à serra, mas as aves que passam por ele são escaldadas vivas, disse o investigador.

O departamento da agricultura dos Estados Unidos calcula que cerca de 700 mil galinhas por ano "não sejam abatidas corretamente" - muitas vezes um eufemismo para dizer que são escaldadas até a morte.

Esse número diminuiu - era de 1,5 milhão em 2007 - e representa uma pequena fração das aves abatidas.

Funcionários do departamento de agricultura dizem que isso ocorre com apenas 0,008% dos frangos abatidos nos EUA, e essas aves são em seguida descartadas (o que significa que os abatedouros têm um incentivo financeiro para reduzir o número de frangos escaldados vivos).

"A proporção de frangos abatidos incorretamente caiu muito", diz Phil Derfler, do departamento da agricultura. "Nossa meta sempre foi aproximar o máximo possível esse número do zero."

Indaguei ao investigador à paisana a respeito disso. Ele questionou os números, dizendo que o percentual de frangos escaldados vivos era alto onde ele trabalhava, e as aves não eram descartadas, mas processadas juntamente com as demais.

A empresa que opera o abatedouro, Wayne Farms, disse ter analisado o vídeo sem encontrar evidências de abusos. Um porta-voz, Frank Singleton, disse que a empresa utiliza "métodos de abate sem sofrimento desnecessário considerados padrão na indústria".

E ele tem razão. Nada que é exibido no vídeo é ilegal nem viola os padrões da indústria. Assim, incentivo todos a acessarem mercyforanimals.org e assistir ao vídeo, formando sua própria opinião a respeito das normas da indústria. A maioria dos consumidores americanos se sente como eu: em conflito. Comemos carne, mas não queremos que os animais sofram desnecessariamente.

Vídeo mostra como é o abate de frangos: polêmica Foto: Estadão

Tratamento digno. Uma pesquisa nacional realizada no ano passado revelou que 81% dos consumidores disseram considerar importante que as galinhas que comem sejam criadas com tratamento digno.

Criei galinhas quando morava no campo, na infância. Elas não são espertas como os porcos nem leais como os cães, mas são ótimas mães, sabem contar e apresentam personalidades distintas. Não são coisas descartáveis.

Uma alternativa ao atual "padrão da indústria" é a morte ou atordoamento por atmosfera controlada, sistema usado na Europa no qual as aves são colocadas para dormir ainda nas gaiolas de transporte, de maneira indolor. O sistema é permitido nos EUA, mas pouco utilizado.

Há pouco mais de um século, Upton Sinclair revelou os horrores dos abatedouros americanos, levando a reformas federais que beneficiaram o gado, mas não as aves. Para essas, uma reforma equivalente seria a morta por atmosfera controlada.

Pense nisso. Se um menino levado puxar penas de uma única galinha, ele é castigado. Mas escaldar vivos centenas de milhares de frangos todos os anos? Aí já temos um modelo de negócios./Tradução de Augusto Calil

 

 Leia também:

Como vivem os frangos que comemos

Ator Kevin Bacon faz campanha de ovos com bacon

 

 

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.