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Mailson: Estágio três para a crise do euro?


Após crise dos bancos e das dívidas, Europa pode estar entrando em uma nova fase

Por Carla Miranda

As duas primeiras crises da zona do euro - uma crise bancária e uma queda de confiança nos governos da região - foram enfrentadas adequadamente ou pelo menos em parte. Permanece uma terceira, de mais longo prazo e mais perigosa: o desequilíbrio estrutural entre o norte e o sul da zona do euro. É o tema abordado por J. Bradfor DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, no artigo que escreveu para o Project Syndicate.

DeLong começa com uma boa notícia: o receio de um colapso do sistema financeiro, que produziria uma Grande Depressão na Europa parece ter ficado para trás. Do mesmo modo, o medo de um calote da dívida pública dos países da região começou a se dissipar. O desafio para evitar a depressão era lidar bem com as duas crises. A Europa evitará décadas perdidas de crescimento econômico se os países do sul recuperarem rapidamente a competitividade. A perda de competitividade foi causa por sinais de mercado, isto é, os incentivos criados para os empresários e como eles reagiram individual e racionalmente ao ambiente macroeconômico. "Europeus do norte com dinheiro para investir estavam dispostos a fazer empréstimos em termos extraordinariamente facilitados para aqueles que no sul desejavam gastar. O decorrente aumento de demanda levou os empresários do sul a aceitar elevações rápidas de salários.

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"Em consequência, os europeus do sul adotaram estratégias econômicas nas quais os salários, os preços e os níveis de produtividade somente faziam sentido se fossem gastos 13 euros de cada 12 euros de renda, com os europeus do norte financiando o euro que faltava. Os europeus do norte, enquanto isso, adotaram níveis de salários e produtividade que faziam sentido apenas se fosse gasto menos de um euro para cada euro de renda." Agora, diz DeLong, como a Europa não quer que os do sul gastem mais do que ganham e os do norte gastem menos, os salários, os preços e a produtividade têm que mudar. "A produtividade do sul da Europa precisa subir relativamente à do norte. Salários e preços devem cair por volta de 30%, de modo a permitir que o sul resolva seus problemas com exportações e o norte possa comprar os respectivos produtos".

Para que o euro sobreviva e a estagnação seja evitada, cinco medidas deveriam ser consideradas:

1)  Os europeus do norte poderiam tolerar mais inflação. Dois pontos de percentagem mais altos por cinco anos resolveriam um terço do ajustamento norte-sul; 2)  Os europeus do norte poderiam aumentar os gastos com programas sociais; 3)  Os europeus do sul poderiam reduzir substancialmente a carga tributária e os programas sociais; 4)  Os europeus do sul poderiam reconfigurar suas empresas para que elas se transformassem em máquinas de produtividade; 5)  Os europeus do sul poderiam impor a deflação.

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A quinta medida é talvez a menos sábia, diz o professor. "Ela implicaria décadas perdidas e o colapso da União Europeia, que seus líderes estão tentando evitar. A quarta seria maravilhosa, mas se alguém soubesse como trazer a produtividade do sul para os níveis do norte isso já deveria ter acontecido". Assim, conclui ele, resta a combinação das três primeiras medidas, também conhecidas como "políticas para restaurar o crescimento europeu", uma frase que aparece em todos os comunicados, embora nunca de modo específico. Os tecnocratas europeus sabem o significado da frase. O mesmo se dirá dos políticos. Mas os eleitores europeus não o sabem, pois os políticos temem que a explicação seria prejudicial às suas carreiras.

Acontece que se a Europa não adotar alguma combinação das três medidas nos próximos cinco anos, terá diante de si a dura escolha entre décadas perdidas para o sul (e talvez também para o norte) e a continuidade do desequilíbrio de pagamentos entre as duas regiões, que terá de ser financiado com transferências fiscais, isto é, tributando o norte. "Os políticos do norte deveriam ser mais explícitos sobre o que realmente significa 'políticas para restaurar o crescimento da Europa'. De outro modo, daqui a dez anos eles serão forçados a confessar que a hesitação atual terá imposto enormes responsabilidades adicionais ao norte da Europa", conclui DeLong.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

As duas primeiras crises da zona do euro - uma crise bancária e uma queda de confiança nos governos da região - foram enfrentadas adequadamente ou pelo menos em parte. Permanece uma terceira, de mais longo prazo e mais perigosa: o desequilíbrio estrutural entre o norte e o sul da zona do euro. É o tema abordado por J. Bradfor DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, no artigo que escreveu para o Project Syndicate.

DeLong começa com uma boa notícia: o receio de um colapso do sistema financeiro, que produziria uma Grande Depressão na Europa parece ter ficado para trás. Do mesmo modo, o medo de um calote da dívida pública dos países da região começou a se dissipar. O desafio para evitar a depressão era lidar bem com as duas crises. A Europa evitará décadas perdidas de crescimento econômico se os países do sul recuperarem rapidamente a competitividade. A perda de competitividade foi causa por sinais de mercado, isto é, os incentivos criados para os empresários e como eles reagiram individual e racionalmente ao ambiente macroeconômico. "Europeus do norte com dinheiro para investir estavam dispostos a fazer empréstimos em termos extraordinariamente facilitados para aqueles que no sul desejavam gastar. O decorrente aumento de demanda levou os empresários do sul a aceitar elevações rápidas de salários.

"Em consequência, os europeus do sul adotaram estratégias econômicas nas quais os salários, os preços e os níveis de produtividade somente faziam sentido se fossem gastos 13 euros de cada 12 euros de renda, com os europeus do norte financiando o euro que faltava. Os europeus do norte, enquanto isso, adotaram níveis de salários e produtividade que faziam sentido apenas se fosse gasto menos de um euro para cada euro de renda." Agora, diz DeLong, como a Europa não quer que os do sul gastem mais do que ganham e os do norte gastem menos, os salários, os preços e a produtividade têm que mudar. "A produtividade do sul da Europa precisa subir relativamente à do norte. Salários e preços devem cair por volta de 30%, de modo a permitir que o sul resolva seus problemas com exportações e o norte possa comprar os respectivos produtos".

Para que o euro sobreviva e a estagnação seja evitada, cinco medidas deveriam ser consideradas:

1)  Os europeus do norte poderiam tolerar mais inflação. Dois pontos de percentagem mais altos por cinco anos resolveriam um terço do ajustamento norte-sul; 2)  Os europeus do norte poderiam aumentar os gastos com programas sociais; 3)  Os europeus do sul poderiam reduzir substancialmente a carga tributária e os programas sociais; 4)  Os europeus do sul poderiam reconfigurar suas empresas para que elas se transformassem em máquinas de produtividade; 5)  Os europeus do sul poderiam impor a deflação.

A quinta medida é talvez a menos sábia, diz o professor. "Ela implicaria décadas perdidas e o colapso da União Europeia, que seus líderes estão tentando evitar. A quarta seria maravilhosa, mas se alguém soubesse como trazer a produtividade do sul para os níveis do norte isso já deveria ter acontecido". Assim, conclui ele, resta a combinação das três primeiras medidas, também conhecidas como "políticas para restaurar o crescimento europeu", uma frase que aparece em todos os comunicados, embora nunca de modo específico. Os tecnocratas europeus sabem o significado da frase. O mesmo se dirá dos políticos. Mas os eleitores europeus não o sabem, pois os políticos temem que a explicação seria prejudicial às suas carreiras.

Acontece que se a Europa não adotar alguma combinação das três medidas nos próximos cinco anos, terá diante de si a dura escolha entre décadas perdidas para o sul (e talvez também para o norte) e a continuidade do desequilíbrio de pagamentos entre as duas regiões, que terá de ser financiado com transferências fiscais, isto é, tributando o norte. "Os políticos do norte deveriam ser mais explícitos sobre o que realmente significa 'políticas para restaurar o crescimento da Europa'. De outro modo, daqui a dez anos eles serão forçados a confessar que a hesitação atual terá imposto enormes responsabilidades adicionais ao norte da Europa", conclui DeLong.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

As duas primeiras crises da zona do euro - uma crise bancária e uma queda de confiança nos governos da região - foram enfrentadas adequadamente ou pelo menos em parte. Permanece uma terceira, de mais longo prazo e mais perigosa: o desequilíbrio estrutural entre o norte e o sul da zona do euro. É o tema abordado por J. Bradfor DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, no artigo que escreveu para o Project Syndicate.

DeLong começa com uma boa notícia: o receio de um colapso do sistema financeiro, que produziria uma Grande Depressão na Europa parece ter ficado para trás. Do mesmo modo, o medo de um calote da dívida pública dos países da região começou a se dissipar. O desafio para evitar a depressão era lidar bem com as duas crises. A Europa evitará décadas perdidas de crescimento econômico se os países do sul recuperarem rapidamente a competitividade. A perda de competitividade foi causa por sinais de mercado, isto é, os incentivos criados para os empresários e como eles reagiram individual e racionalmente ao ambiente macroeconômico. "Europeus do norte com dinheiro para investir estavam dispostos a fazer empréstimos em termos extraordinariamente facilitados para aqueles que no sul desejavam gastar. O decorrente aumento de demanda levou os empresários do sul a aceitar elevações rápidas de salários.

"Em consequência, os europeus do sul adotaram estratégias econômicas nas quais os salários, os preços e os níveis de produtividade somente faziam sentido se fossem gastos 13 euros de cada 12 euros de renda, com os europeus do norte financiando o euro que faltava. Os europeus do norte, enquanto isso, adotaram níveis de salários e produtividade que faziam sentido apenas se fosse gasto menos de um euro para cada euro de renda." Agora, diz DeLong, como a Europa não quer que os do sul gastem mais do que ganham e os do norte gastem menos, os salários, os preços e a produtividade têm que mudar. "A produtividade do sul da Europa precisa subir relativamente à do norte. Salários e preços devem cair por volta de 30%, de modo a permitir que o sul resolva seus problemas com exportações e o norte possa comprar os respectivos produtos".

Para que o euro sobreviva e a estagnação seja evitada, cinco medidas deveriam ser consideradas:

1)  Os europeus do norte poderiam tolerar mais inflação. Dois pontos de percentagem mais altos por cinco anos resolveriam um terço do ajustamento norte-sul; 2)  Os europeus do norte poderiam aumentar os gastos com programas sociais; 3)  Os europeus do sul poderiam reduzir substancialmente a carga tributária e os programas sociais; 4)  Os europeus do sul poderiam reconfigurar suas empresas para que elas se transformassem em máquinas de produtividade; 5)  Os europeus do sul poderiam impor a deflação.

A quinta medida é talvez a menos sábia, diz o professor. "Ela implicaria décadas perdidas e o colapso da União Europeia, que seus líderes estão tentando evitar. A quarta seria maravilhosa, mas se alguém soubesse como trazer a produtividade do sul para os níveis do norte isso já deveria ter acontecido". Assim, conclui ele, resta a combinação das três primeiras medidas, também conhecidas como "políticas para restaurar o crescimento europeu", uma frase que aparece em todos os comunicados, embora nunca de modo específico. Os tecnocratas europeus sabem o significado da frase. O mesmo se dirá dos políticos. Mas os eleitores europeus não o sabem, pois os políticos temem que a explicação seria prejudicial às suas carreiras.

Acontece que se a Europa não adotar alguma combinação das três medidas nos próximos cinco anos, terá diante de si a dura escolha entre décadas perdidas para o sul (e talvez também para o norte) e a continuidade do desequilíbrio de pagamentos entre as duas regiões, que terá de ser financiado com transferências fiscais, isto é, tributando o norte. "Os políticos do norte deveriam ser mais explícitos sobre o que realmente significa 'políticas para restaurar o crescimento da Europa'. De outro modo, daqui a dez anos eles serão forçados a confessar que a hesitação atual terá imposto enormes responsabilidades adicionais ao norte da Europa", conclui DeLong.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

As duas primeiras crises da zona do euro - uma crise bancária e uma queda de confiança nos governos da região - foram enfrentadas adequadamente ou pelo menos em parte. Permanece uma terceira, de mais longo prazo e mais perigosa: o desequilíbrio estrutural entre o norte e o sul da zona do euro. É o tema abordado por J. Bradfor DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley, no artigo que escreveu para o Project Syndicate.

DeLong começa com uma boa notícia: o receio de um colapso do sistema financeiro, que produziria uma Grande Depressão na Europa parece ter ficado para trás. Do mesmo modo, o medo de um calote da dívida pública dos países da região começou a se dissipar. O desafio para evitar a depressão era lidar bem com as duas crises. A Europa evitará décadas perdidas de crescimento econômico se os países do sul recuperarem rapidamente a competitividade. A perda de competitividade foi causa por sinais de mercado, isto é, os incentivos criados para os empresários e como eles reagiram individual e racionalmente ao ambiente macroeconômico. "Europeus do norte com dinheiro para investir estavam dispostos a fazer empréstimos em termos extraordinariamente facilitados para aqueles que no sul desejavam gastar. O decorrente aumento de demanda levou os empresários do sul a aceitar elevações rápidas de salários.

"Em consequência, os europeus do sul adotaram estratégias econômicas nas quais os salários, os preços e os níveis de produtividade somente faziam sentido se fossem gastos 13 euros de cada 12 euros de renda, com os europeus do norte financiando o euro que faltava. Os europeus do norte, enquanto isso, adotaram níveis de salários e produtividade que faziam sentido apenas se fosse gasto menos de um euro para cada euro de renda." Agora, diz DeLong, como a Europa não quer que os do sul gastem mais do que ganham e os do norte gastem menos, os salários, os preços e a produtividade têm que mudar. "A produtividade do sul da Europa precisa subir relativamente à do norte. Salários e preços devem cair por volta de 30%, de modo a permitir que o sul resolva seus problemas com exportações e o norte possa comprar os respectivos produtos".

Para que o euro sobreviva e a estagnação seja evitada, cinco medidas deveriam ser consideradas:

1)  Os europeus do norte poderiam tolerar mais inflação. Dois pontos de percentagem mais altos por cinco anos resolveriam um terço do ajustamento norte-sul; 2)  Os europeus do norte poderiam aumentar os gastos com programas sociais; 3)  Os europeus do sul poderiam reduzir substancialmente a carga tributária e os programas sociais; 4)  Os europeus do sul poderiam reconfigurar suas empresas para que elas se transformassem em máquinas de produtividade; 5)  Os europeus do sul poderiam impor a deflação.

A quinta medida é talvez a menos sábia, diz o professor. "Ela implicaria décadas perdidas e o colapso da União Europeia, que seus líderes estão tentando evitar. A quarta seria maravilhosa, mas se alguém soubesse como trazer a produtividade do sul para os níveis do norte isso já deveria ter acontecido". Assim, conclui ele, resta a combinação das três primeiras medidas, também conhecidas como "políticas para restaurar o crescimento europeu", uma frase que aparece em todos os comunicados, embora nunca de modo específico. Os tecnocratas europeus sabem o significado da frase. O mesmo se dirá dos políticos. Mas os eleitores europeus não o sabem, pois os políticos temem que a explicação seria prejudicial às suas carreiras.

Acontece que se a Europa não adotar alguma combinação das três medidas nos próximos cinco anos, terá diante de si a dura escolha entre décadas perdidas para o sul (e talvez também para o norte) e a continuidade do desequilíbrio de pagamentos entre as duas regiões, que terá de ser financiado com transferências fiscais, isto é, tributando o norte. "Os políticos do norte deveriam ser mais explícitos sobre o que realmente significa 'políticas para restaurar o crescimento da Europa'. De outro modo, daqui a dez anos eles serão forçados a confessar que a hesitação atual terá imposto enormes responsabilidades adicionais ao norte da Europa", conclui DeLong.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

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