Especial para o Estadão
Fronteiras estão fechadas e políticas para concessão de vistos foram alteradas por causa da pandemia da covid-19, mas muitos brasileiros continuam de olho na oportunidade de morar fora. De acordo com a plataforma Apto, que conecta potenciais compradores a construtoras e empreendimentos, só em janeiro a procura por casas e apartamentos nos Estados Unidos aumentou 111% e, em Portugal, 40%.
Os números ficaram acima do crescimento geral de pesquisas (38%), que inclui os imóveis em território nacional.
Apesar da desvalorização do real, Alex Frachetta, CEO da empresa, comenta que as condições são promissoras nos dois países. "Quem busca investir fora do País está pensando a longo prazo e deseja ter uma rentabilidade alta, principalmente após a crise", diz ele, que firmou uma parceria com o Grupo YMK no fim de 2020 para anunciar imóveis de Miami e Orlando, nos Estados Unidos, e Porto, Estoril e Miraflores, em Portugal.
Enquanto Miami e Orlando já são tradicionalmente conhecidas por suas volumosas comunidades brasileiras, Portugal entrou mais recentemente na mira. O número de brasileiros que moram lá saltou de 105.423 em 2018 para 150.854 em 2019, segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras do país europeu. Foi um crescimento de 43% em um ano. Hoje, de cada quatro estrangeiros vivendo em solo português, um vem do Brasil.
Entre os potenciais compradores, tanto de empreendimentos americanos quanto portugueses, há desde pessoas que buscam se estabilizar fora do Brasil até investidores que querem diversificar a carteira com uma fonte de renda contínua em moeda forte. "O preço em si é um atrativo porque o custo-benefício dessas regiões é muito bom", diz Frachetta. Ele dá o exemplo de Orlando, cujo metro quadrado tem valor baixo comparado a regiões nobres do Brasil. "Some isso a fatores como segurança, que é muito importante para famílias, a decisão vai ficando mais fácil."
Oportunidade e concorrência
Segundo Jacob Abdala, CEO e fundador da imobiliária Legacy Plus Realty, sediada na Flórida, além do boom nas consultas, houve alta no número de solicitações de pré-qualificação de crédito para agilizar o processo quando as fronteiras abrirem. "No geral, são pessoas que querem mudar porque não aguentam mais ficar no Brasil."
O empresário diz também que, ao mesmo tempo que espantou muita gente, a alta do dólar criou uma oportunidade para quem tem recurso. Brasileiros que compraram imóveis na região há pouco mais de cinco anos estão vendendo as propriedades para se rentabilizarem - em muitos casos, por um preço abaixo da média do mercado. "Com a pandemia, ficou praticamente inviável custear toda a manutenção necessária e obrigatória em um imóvel que fica grande parte do ano vazio sem a movimentação do turismo", aponta. As taxas de juros entre 2,5% e 3% também tornam a oportunidade interessante para quem quer comprar.
A concorrência, no entanto, tende a crescer. Assim como no Brasil, o mercado imobiliário americano teve um forte aquecimento em 2020, principalmente na Flórida. A região está atraindo moradores de outros Estados, como Nova York, New Jersey e Massachusetts, que aproveitaram a realidade do home office para buscar um clima mais ameno, imóveis espaçosos e um custo de vida menos exorbitante. "São mil pessoas se mudando por dia para a Flórida", sinaliza o empresário. Se em 2019 o mercado imobiliário da região movimentou US$ 103 bilhões, o volume de negócios em 2020 foi de US$ 161 bilhões (desses, US$ 1,4 bilhão são aquisições brasileiras, de acordo com um estudo da National Association of Realtor).
Planejar já
Quem tem intenção de morar fora já deve antecipar as burocracias, segundo o advogado Daniel Toledo, especializado em Direito Internacional e consultor de negócios internacionais. "Quando abrirem as fronteiras, muitas pessoas que estão enrolando e esperando o 'momento ideal' vão querer sair e isso vai lotar consulados e escritórios de advocacia", explica. "Eles não vão conseguir atender à demanda e essas pessoas vão para o fim da fila."
Para investidores, o conselho é o mesmo. "Os valores acabaram caindo bastante porque tem muita gente querendo vender, então é um bom momento para fazer um investimento imobiliário, seja em Portugal ou nos Estados Unidos", diz o especialista. "Mas se as pessoas esperarem as fronteiras reabrirem para decidir, vão pegar o momento em que todos estão querendo e aí entra a questão da oferta e demanda, em que os valores, obviamente, vão ficar mais altos", lembra.
Investidores em alta
Durante a pandemia, houve um aumento do número de brasileiros querendo migrar para os EUA, mas, com o lockdown, a classe média pisou no freio. "Estamos lidando muito hoje com o cliente que tem capital líquido para investir e prefere dolarizar", conta Gabriel Souza, sócio e diretor imobiliário da International Business Consulting, especializada em negócios imobiliários no país americano. Ele afirma que os compradores conseguem girar 30% de retorno ao ano em investimentos imobiliários, mas alerta para os cuidados que é necessário tomar antes de fechar negócio. "A pessoa que está cogitando investir nos EUA precisa de uma boa assessoria profissional, entre contadores, advogados e consultores, que atenda a todos os âmbitos do investimento."