Após medidas arrecadatórias de Haddad, receita cresce 6,7% em janeiro e soma R$ 280,6 bi, um recorde


Só a tributação dos fundos dos ‘super-ricos’ rendeu R$ 4,1 bilhões, mas Fisco alerta que se trata de efeito não recorrente, devido ao incentivo dado aos investidores para a regularização dos ativos

Por Mariana Carneiro e Bianca Lima
Atualização:

BRASÍLIA - A arrecadação do governo federal bateu recorde em janeiro e cresceu 6,67%, descontada a inflação. O resultado já reflete parte do efeito das medidas arrecadatórias enviadas pelo Ministério da Fazenda e aprovadas pelo Congresso ao longo de 2023. Foram R$ 280,6 bilhões recolhidos em tributos no primeiro mês do ano, uma cifra que pode ajudar a reduzir a necessidade do governo de bloquear despesas para alcançar a meta de déficit zero neste ano.

Os números, porém, ainda estão sendo refinados pela equipe econômica. De qualquer forma, a alta nas receitas representa uma reversão na tendência de moderação da arrecadação que vinha sendo observada até novembro. Isso porque, em dezembro, o governo já começou a recolher impostos sobre os fundos dos “super-ricos” – taxação instituída no âmbito das ações arrecadatórias.

Resultado de janeiro foi turbinado pelas medidas arrecadatórias enviadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovadas pelo Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão
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O movimento se repetiu em janeiro, quando houve o recolhimento de R$ 4,1 bilhões sobre esses fundos, referente à segunda parcela do pagamento de regularização dos ativos. Trata-se, porém, de um efeito não recorrente, em razão do incentivo inicial para essa regularização.

Já em relação aos fundos offshore (no exterior), que também passaram a ser taxados, os técnicos do Fisco explicaram que o prazo para início do recolhimento é mais longo e que, por isso, os efeitos começarão a aparecer nos próximos meses.

Além da taxação desses investimentos, o governo aprovou a tributação dos sites de apostas online e das empresas que usufruem de benefícios tributários nos Estados por meio de subvenções. As duas medidas, no entanto, ainda não começaram a vigorar, à espera da regulamentação da Receita Federal.

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Questionados se o resultado de janeiro é compatível com a projeção de R$ 168,5 bilhões de receitas extras em 2024, conforme previsto no Orçamento, os técnicos do Fisco afirmaram que o mês “veio bem”, mas ponderaram que “na forma de tributos e com explicações diferentes” do que se esperava.

“No caso dos fundos exclusivos, por exemplo, a gente não estava colocando nenhum valor no mês de janeiro”, diz o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Gomide. Ou seja, segundo ele, houve um deslocamento temporal dessa arrecadação.

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Pela nova lei, os fundos exclusivos passaram a ser taxados semestralmente, no sistema chamado de “come-cotas”. A alíquota é de 20% para os de curto prazo e de 15% nos de longo. A legislação, porém, concedeu um benefício para quem recolhesse o tributo de forma antecipada: uma alíquota de 8% sobre os rendimentos acumulados até 2023, com a primeira parcela sendo paga em dezembro.

“O mundo mudou bastante em relação ao próprio Orçamento. Posso dizer que a arrecadação de janeiro veio bem, mas quão bem, eu não sei dizer”, frisou Gomide, deixando claro que os números apresentados nesta quinta-feira em relação às medidas arrecadatórias ainda são preliminares. A equipe econômica, segundo ele, precisará de mais subsídios para saber o real efeito das leis aprovadas no ano passado.

O desafio do Fisco, portanto, será reestimar o potencial arrecadatório de todas as medidas, bem como o prazo em que começarão a surtir efeito. Isso será fundamental para embasar a primeira revisão orçamentária, prevista para o fim de março.

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Na ocasião, o governo terá de reavaliar receitas e despesas, bem como os novos parâmetros macroeconômicos, e concluir se conseguirá ou não cumprir a meta de déficit zero em 2024. E se, para isso, será necessário bloquear temporariamente gastos de ministérios – medida impopular do ponto de vista político, sobretudo em ano de eleição municipal.

Combustíveis e bancos

O Fisco também registrou incremento de arrecadação com a redução da renúncia do PIS/Cofins sobre os combustíveis e gás de cozinha. Além disso, o pagamento de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL registrou um incremento atípico de R$ 4 bilhões em janeiro, puxado pelo ajuste dos balanços das empresas que recolhem impostos pelo Lucro Real, sobretudo das instituições financeiras.

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Essas empresas tiveram um incremento de 33,74% no recolhimento de tributos no primeiro mês do ano, o melhor desempenho entre as atividades monitoradas pela Receita. Segundo Gomide, o resultado positivo apareceu tanto no recolhimento de PIS/Cofins quanto no de IRPJ.

“A maior parte do crescimento do recolhimento do IRPJ e da CSLL se deve ao comportamento das declarações de ajuste. E, nas declarações de ajuste, o componente mais importante está associado a receitas apuradas pelas entidades financeiras”, disse ele.

O recolhimento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), no entanto, caiu 9% em janeiro, indicando que o resultado pode não ter origem em operações de crédito.

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Em sua análise, a Receita afirmou que o aumento de arrecadação se deve, ainda, ao comportamento benigno de indicadores macroeconômicos, notadamente a ampliação do emprego com carteira assinada, o que melhora a arrecadação dos impostos sobre a folha e que financiam a Previdência Social.

Compensações

Em janeiro, o Fisco voltou a registrar um volume elevado de compensações tributárias - mecanismo por meio do qual as empresas abatem do valor devido à Receita quantias a receber obtidas por vitórias na Justiça ou decorrentes de benefícios fiscais.

Em janeiro, as compensações tributárias somaram R$ 27,049 bilhões. No mesmo mês do ano passado, o valor havia sido de R$ 27,468 bilhões. Trata-se de um padrão na arrecadação federal, com valores altos de compensações no início de cada semestre, quando as empresas recolhem o Imposto de Renda.

Na véspera do Ano Novo, o governo baixou uma Medida Provisória limitando essas compensações de contribuintes com dívidas superiores a R$ 10 milhões, com o argumento de que esses descontos estavam dificultando o planejamento da arrecadação tributária. A iniciativa é parte da MP que provocou controvérsia ao restabelecer a reoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia.

Pelo acordo político que se desenha entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a parte da reoneração será retirada da MP para tramitar por meio de um projeto de lei. Já as compensações e a extinção do benefício ao setor de eventos (Perse) deverão prosseguir numa nova MP.

Segundo Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita, os contribuintes podem fazer compensações de outros direitos creditórios, além dos judiciais, e isso pode ter tido impacto no resultado de janeiro, uma vez que há um acúmulo desses direitos ao longo do ano anterior.

“Olhando simplesmente os números, a gente não vê uma alteração significativa”, admitiu Malaquias. “Mas não significa que ela (a MP) não terá efeito, mas que precisamos de mais informações para quando formos quantificar a utilização desses direitos creditórios, se elas (as empresas) efetivamente limitaram”.

BRASÍLIA - A arrecadação do governo federal bateu recorde em janeiro e cresceu 6,67%, descontada a inflação. O resultado já reflete parte do efeito das medidas arrecadatórias enviadas pelo Ministério da Fazenda e aprovadas pelo Congresso ao longo de 2023. Foram R$ 280,6 bilhões recolhidos em tributos no primeiro mês do ano, uma cifra que pode ajudar a reduzir a necessidade do governo de bloquear despesas para alcançar a meta de déficit zero neste ano.

Os números, porém, ainda estão sendo refinados pela equipe econômica. De qualquer forma, a alta nas receitas representa uma reversão na tendência de moderação da arrecadação que vinha sendo observada até novembro. Isso porque, em dezembro, o governo já começou a recolher impostos sobre os fundos dos “super-ricos” – taxação instituída no âmbito das ações arrecadatórias.

Resultado de janeiro foi turbinado pelas medidas arrecadatórias enviadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovadas pelo Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O movimento se repetiu em janeiro, quando houve o recolhimento de R$ 4,1 bilhões sobre esses fundos, referente à segunda parcela do pagamento de regularização dos ativos. Trata-se, porém, de um efeito não recorrente, em razão do incentivo inicial para essa regularização.

Já em relação aos fundos offshore (no exterior), que também passaram a ser taxados, os técnicos do Fisco explicaram que o prazo para início do recolhimento é mais longo e que, por isso, os efeitos começarão a aparecer nos próximos meses.

Além da taxação desses investimentos, o governo aprovou a tributação dos sites de apostas online e das empresas que usufruem de benefícios tributários nos Estados por meio de subvenções. As duas medidas, no entanto, ainda não começaram a vigorar, à espera da regulamentação da Receita Federal.

Questionados se o resultado de janeiro é compatível com a projeção de R$ 168,5 bilhões de receitas extras em 2024, conforme previsto no Orçamento, os técnicos do Fisco afirmaram que o mês “veio bem”, mas ponderaram que “na forma de tributos e com explicações diferentes” do que se esperava.

“No caso dos fundos exclusivos, por exemplo, a gente não estava colocando nenhum valor no mês de janeiro”, diz o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Gomide. Ou seja, segundo ele, houve um deslocamento temporal dessa arrecadação.

Pela nova lei, os fundos exclusivos passaram a ser taxados semestralmente, no sistema chamado de “come-cotas”. A alíquota é de 20% para os de curto prazo e de 15% nos de longo. A legislação, porém, concedeu um benefício para quem recolhesse o tributo de forma antecipada: uma alíquota de 8% sobre os rendimentos acumulados até 2023, com a primeira parcela sendo paga em dezembro.

“O mundo mudou bastante em relação ao próprio Orçamento. Posso dizer que a arrecadação de janeiro veio bem, mas quão bem, eu não sei dizer”, frisou Gomide, deixando claro que os números apresentados nesta quinta-feira em relação às medidas arrecadatórias ainda são preliminares. A equipe econômica, segundo ele, precisará de mais subsídios para saber o real efeito das leis aprovadas no ano passado.

O desafio do Fisco, portanto, será reestimar o potencial arrecadatório de todas as medidas, bem como o prazo em que começarão a surtir efeito. Isso será fundamental para embasar a primeira revisão orçamentária, prevista para o fim de março.

Na ocasião, o governo terá de reavaliar receitas e despesas, bem como os novos parâmetros macroeconômicos, e concluir se conseguirá ou não cumprir a meta de déficit zero em 2024. E se, para isso, será necessário bloquear temporariamente gastos de ministérios – medida impopular do ponto de vista político, sobretudo em ano de eleição municipal.

Combustíveis e bancos

O Fisco também registrou incremento de arrecadação com a redução da renúncia do PIS/Cofins sobre os combustíveis e gás de cozinha. Além disso, o pagamento de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL registrou um incremento atípico de R$ 4 bilhões em janeiro, puxado pelo ajuste dos balanços das empresas que recolhem impostos pelo Lucro Real, sobretudo das instituições financeiras.

Essas empresas tiveram um incremento de 33,74% no recolhimento de tributos no primeiro mês do ano, o melhor desempenho entre as atividades monitoradas pela Receita. Segundo Gomide, o resultado positivo apareceu tanto no recolhimento de PIS/Cofins quanto no de IRPJ.

“A maior parte do crescimento do recolhimento do IRPJ e da CSLL se deve ao comportamento das declarações de ajuste. E, nas declarações de ajuste, o componente mais importante está associado a receitas apuradas pelas entidades financeiras”, disse ele.

O recolhimento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), no entanto, caiu 9% em janeiro, indicando que o resultado pode não ter origem em operações de crédito.

Em sua análise, a Receita afirmou que o aumento de arrecadação se deve, ainda, ao comportamento benigno de indicadores macroeconômicos, notadamente a ampliação do emprego com carteira assinada, o que melhora a arrecadação dos impostos sobre a folha e que financiam a Previdência Social.

Compensações

Em janeiro, o Fisco voltou a registrar um volume elevado de compensações tributárias - mecanismo por meio do qual as empresas abatem do valor devido à Receita quantias a receber obtidas por vitórias na Justiça ou decorrentes de benefícios fiscais.

Em janeiro, as compensações tributárias somaram R$ 27,049 bilhões. No mesmo mês do ano passado, o valor havia sido de R$ 27,468 bilhões. Trata-se de um padrão na arrecadação federal, com valores altos de compensações no início de cada semestre, quando as empresas recolhem o Imposto de Renda.

Na véspera do Ano Novo, o governo baixou uma Medida Provisória limitando essas compensações de contribuintes com dívidas superiores a R$ 10 milhões, com o argumento de que esses descontos estavam dificultando o planejamento da arrecadação tributária. A iniciativa é parte da MP que provocou controvérsia ao restabelecer a reoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia.

Pelo acordo político que se desenha entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a parte da reoneração será retirada da MP para tramitar por meio de um projeto de lei. Já as compensações e a extinção do benefício ao setor de eventos (Perse) deverão prosseguir numa nova MP.

Segundo Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita, os contribuintes podem fazer compensações de outros direitos creditórios, além dos judiciais, e isso pode ter tido impacto no resultado de janeiro, uma vez que há um acúmulo desses direitos ao longo do ano anterior.

“Olhando simplesmente os números, a gente não vê uma alteração significativa”, admitiu Malaquias. “Mas não significa que ela (a MP) não terá efeito, mas que precisamos de mais informações para quando formos quantificar a utilização desses direitos creditórios, se elas (as empresas) efetivamente limitaram”.

BRASÍLIA - A arrecadação do governo federal bateu recorde em janeiro e cresceu 6,67%, descontada a inflação. O resultado já reflete parte do efeito das medidas arrecadatórias enviadas pelo Ministério da Fazenda e aprovadas pelo Congresso ao longo de 2023. Foram R$ 280,6 bilhões recolhidos em tributos no primeiro mês do ano, uma cifra que pode ajudar a reduzir a necessidade do governo de bloquear despesas para alcançar a meta de déficit zero neste ano.

Os números, porém, ainda estão sendo refinados pela equipe econômica. De qualquer forma, a alta nas receitas representa uma reversão na tendência de moderação da arrecadação que vinha sendo observada até novembro. Isso porque, em dezembro, o governo já começou a recolher impostos sobre os fundos dos “super-ricos” – taxação instituída no âmbito das ações arrecadatórias.

Resultado de janeiro foi turbinado pelas medidas arrecadatórias enviadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovadas pelo Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O movimento se repetiu em janeiro, quando houve o recolhimento de R$ 4,1 bilhões sobre esses fundos, referente à segunda parcela do pagamento de regularização dos ativos. Trata-se, porém, de um efeito não recorrente, em razão do incentivo inicial para essa regularização.

Já em relação aos fundos offshore (no exterior), que também passaram a ser taxados, os técnicos do Fisco explicaram que o prazo para início do recolhimento é mais longo e que, por isso, os efeitos começarão a aparecer nos próximos meses.

Além da taxação desses investimentos, o governo aprovou a tributação dos sites de apostas online e das empresas que usufruem de benefícios tributários nos Estados por meio de subvenções. As duas medidas, no entanto, ainda não começaram a vigorar, à espera da regulamentação da Receita Federal.

Questionados se o resultado de janeiro é compatível com a projeção de R$ 168,5 bilhões de receitas extras em 2024, conforme previsto no Orçamento, os técnicos do Fisco afirmaram que o mês “veio bem”, mas ponderaram que “na forma de tributos e com explicações diferentes” do que se esperava.

“No caso dos fundos exclusivos, por exemplo, a gente não estava colocando nenhum valor no mês de janeiro”, diz o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Gomide. Ou seja, segundo ele, houve um deslocamento temporal dessa arrecadação.

Pela nova lei, os fundos exclusivos passaram a ser taxados semestralmente, no sistema chamado de “come-cotas”. A alíquota é de 20% para os de curto prazo e de 15% nos de longo. A legislação, porém, concedeu um benefício para quem recolhesse o tributo de forma antecipada: uma alíquota de 8% sobre os rendimentos acumulados até 2023, com a primeira parcela sendo paga em dezembro.

“O mundo mudou bastante em relação ao próprio Orçamento. Posso dizer que a arrecadação de janeiro veio bem, mas quão bem, eu não sei dizer”, frisou Gomide, deixando claro que os números apresentados nesta quinta-feira em relação às medidas arrecadatórias ainda são preliminares. A equipe econômica, segundo ele, precisará de mais subsídios para saber o real efeito das leis aprovadas no ano passado.

O desafio do Fisco, portanto, será reestimar o potencial arrecadatório de todas as medidas, bem como o prazo em que começarão a surtir efeito. Isso será fundamental para embasar a primeira revisão orçamentária, prevista para o fim de março.

Na ocasião, o governo terá de reavaliar receitas e despesas, bem como os novos parâmetros macroeconômicos, e concluir se conseguirá ou não cumprir a meta de déficit zero em 2024. E se, para isso, será necessário bloquear temporariamente gastos de ministérios – medida impopular do ponto de vista político, sobretudo em ano de eleição municipal.

Combustíveis e bancos

O Fisco também registrou incremento de arrecadação com a redução da renúncia do PIS/Cofins sobre os combustíveis e gás de cozinha. Além disso, o pagamento de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL registrou um incremento atípico de R$ 4 bilhões em janeiro, puxado pelo ajuste dos balanços das empresas que recolhem impostos pelo Lucro Real, sobretudo das instituições financeiras.

Essas empresas tiveram um incremento de 33,74% no recolhimento de tributos no primeiro mês do ano, o melhor desempenho entre as atividades monitoradas pela Receita. Segundo Gomide, o resultado positivo apareceu tanto no recolhimento de PIS/Cofins quanto no de IRPJ.

“A maior parte do crescimento do recolhimento do IRPJ e da CSLL se deve ao comportamento das declarações de ajuste. E, nas declarações de ajuste, o componente mais importante está associado a receitas apuradas pelas entidades financeiras”, disse ele.

O recolhimento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), no entanto, caiu 9% em janeiro, indicando que o resultado pode não ter origem em operações de crédito.

Em sua análise, a Receita afirmou que o aumento de arrecadação se deve, ainda, ao comportamento benigno de indicadores macroeconômicos, notadamente a ampliação do emprego com carteira assinada, o que melhora a arrecadação dos impostos sobre a folha e que financiam a Previdência Social.

Compensações

Em janeiro, o Fisco voltou a registrar um volume elevado de compensações tributárias - mecanismo por meio do qual as empresas abatem do valor devido à Receita quantias a receber obtidas por vitórias na Justiça ou decorrentes de benefícios fiscais.

Em janeiro, as compensações tributárias somaram R$ 27,049 bilhões. No mesmo mês do ano passado, o valor havia sido de R$ 27,468 bilhões. Trata-se de um padrão na arrecadação federal, com valores altos de compensações no início de cada semestre, quando as empresas recolhem o Imposto de Renda.

Na véspera do Ano Novo, o governo baixou uma Medida Provisória limitando essas compensações de contribuintes com dívidas superiores a R$ 10 milhões, com o argumento de que esses descontos estavam dificultando o planejamento da arrecadação tributária. A iniciativa é parte da MP que provocou controvérsia ao restabelecer a reoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia.

Pelo acordo político que se desenha entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a parte da reoneração será retirada da MP para tramitar por meio de um projeto de lei. Já as compensações e a extinção do benefício ao setor de eventos (Perse) deverão prosseguir numa nova MP.

Segundo Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita, os contribuintes podem fazer compensações de outros direitos creditórios, além dos judiciais, e isso pode ter tido impacto no resultado de janeiro, uma vez que há um acúmulo desses direitos ao longo do ano anterior.

“Olhando simplesmente os números, a gente não vê uma alteração significativa”, admitiu Malaquias. “Mas não significa que ela (a MP) não terá efeito, mas que precisamos de mais informações para quando formos quantificar a utilização desses direitos creditórios, se elas (as empresas) efetivamente limitaram”.

BRASÍLIA - A arrecadação do governo federal bateu recorde em janeiro e cresceu 6,67%, descontada a inflação. O resultado já reflete parte do efeito das medidas arrecadatórias enviadas pelo Ministério da Fazenda e aprovadas pelo Congresso ao longo de 2023. Foram R$ 280,6 bilhões recolhidos em tributos no primeiro mês do ano, uma cifra que pode ajudar a reduzir a necessidade do governo de bloquear despesas para alcançar a meta de déficit zero neste ano.

Os números, porém, ainda estão sendo refinados pela equipe econômica. De qualquer forma, a alta nas receitas representa uma reversão na tendência de moderação da arrecadação que vinha sendo observada até novembro. Isso porque, em dezembro, o governo já começou a recolher impostos sobre os fundos dos “super-ricos” – taxação instituída no âmbito das ações arrecadatórias.

Resultado de janeiro foi turbinado pelas medidas arrecadatórias enviadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovadas pelo Congresso. Foto: Wilton Júnior/Estadão

O movimento se repetiu em janeiro, quando houve o recolhimento de R$ 4,1 bilhões sobre esses fundos, referente à segunda parcela do pagamento de regularização dos ativos. Trata-se, porém, de um efeito não recorrente, em razão do incentivo inicial para essa regularização.

Já em relação aos fundos offshore (no exterior), que também passaram a ser taxados, os técnicos do Fisco explicaram que o prazo para início do recolhimento é mais longo e que, por isso, os efeitos começarão a aparecer nos próximos meses.

Além da taxação desses investimentos, o governo aprovou a tributação dos sites de apostas online e das empresas que usufruem de benefícios tributários nos Estados por meio de subvenções. As duas medidas, no entanto, ainda não começaram a vigorar, à espera da regulamentação da Receita Federal.

Questionados se o resultado de janeiro é compatível com a projeção de R$ 168,5 bilhões de receitas extras em 2024, conforme previsto no Orçamento, os técnicos do Fisco afirmaram que o mês “veio bem”, mas ponderaram que “na forma de tributos e com explicações diferentes” do que se esperava.

“No caso dos fundos exclusivos, por exemplo, a gente não estava colocando nenhum valor no mês de janeiro”, diz o coordenador de Previsão e Análise da Receita Federal, Marcelo Gomide. Ou seja, segundo ele, houve um deslocamento temporal dessa arrecadação.

Pela nova lei, os fundos exclusivos passaram a ser taxados semestralmente, no sistema chamado de “come-cotas”. A alíquota é de 20% para os de curto prazo e de 15% nos de longo. A legislação, porém, concedeu um benefício para quem recolhesse o tributo de forma antecipada: uma alíquota de 8% sobre os rendimentos acumulados até 2023, com a primeira parcela sendo paga em dezembro.

“O mundo mudou bastante em relação ao próprio Orçamento. Posso dizer que a arrecadação de janeiro veio bem, mas quão bem, eu não sei dizer”, frisou Gomide, deixando claro que os números apresentados nesta quinta-feira em relação às medidas arrecadatórias ainda são preliminares. A equipe econômica, segundo ele, precisará de mais subsídios para saber o real efeito das leis aprovadas no ano passado.

O desafio do Fisco, portanto, será reestimar o potencial arrecadatório de todas as medidas, bem como o prazo em que começarão a surtir efeito. Isso será fundamental para embasar a primeira revisão orçamentária, prevista para o fim de março.

Na ocasião, o governo terá de reavaliar receitas e despesas, bem como os novos parâmetros macroeconômicos, e concluir se conseguirá ou não cumprir a meta de déficit zero em 2024. E se, para isso, será necessário bloquear temporariamente gastos de ministérios – medida impopular do ponto de vista político, sobretudo em ano de eleição municipal.

Combustíveis e bancos

O Fisco também registrou incremento de arrecadação com a redução da renúncia do PIS/Cofins sobre os combustíveis e gás de cozinha. Além disso, o pagamento de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e CSLL registrou um incremento atípico de R$ 4 bilhões em janeiro, puxado pelo ajuste dos balanços das empresas que recolhem impostos pelo Lucro Real, sobretudo das instituições financeiras.

Essas empresas tiveram um incremento de 33,74% no recolhimento de tributos no primeiro mês do ano, o melhor desempenho entre as atividades monitoradas pela Receita. Segundo Gomide, o resultado positivo apareceu tanto no recolhimento de PIS/Cofins quanto no de IRPJ.

“A maior parte do crescimento do recolhimento do IRPJ e da CSLL se deve ao comportamento das declarações de ajuste. E, nas declarações de ajuste, o componente mais importante está associado a receitas apuradas pelas entidades financeiras”, disse ele.

O recolhimento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), no entanto, caiu 9% em janeiro, indicando que o resultado pode não ter origem em operações de crédito.

Em sua análise, a Receita afirmou que o aumento de arrecadação se deve, ainda, ao comportamento benigno de indicadores macroeconômicos, notadamente a ampliação do emprego com carteira assinada, o que melhora a arrecadação dos impostos sobre a folha e que financiam a Previdência Social.

Compensações

Em janeiro, o Fisco voltou a registrar um volume elevado de compensações tributárias - mecanismo por meio do qual as empresas abatem do valor devido à Receita quantias a receber obtidas por vitórias na Justiça ou decorrentes de benefícios fiscais.

Em janeiro, as compensações tributárias somaram R$ 27,049 bilhões. No mesmo mês do ano passado, o valor havia sido de R$ 27,468 bilhões. Trata-se de um padrão na arrecadação federal, com valores altos de compensações no início de cada semestre, quando as empresas recolhem o Imposto de Renda.

Na véspera do Ano Novo, o governo baixou uma Medida Provisória limitando essas compensações de contribuintes com dívidas superiores a R$ 10 milhões, com o argumento de que esses descontos estavam dificultando o planejamento da arrecadação tributária. A iniciativa é parte da MP que provocou controvérsia ao restabelecer a reoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia.

Pelo acordo político que se desenha entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a parte da reoneração será retirada da MP para tramitar por meio de um projeto de lei. Já as compensações e a extinção do benefício ao setor de eventos (Perse) deverão prosseguir numa nova MP.

Segundo Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita, os contribuintes podem fazer compensações de outros direitos creditórios, além dos judiciais, e isso pode ter tido impacto no resultado de janeiro, uma vez que há um acúmulo desses direitos ao longo do ano anterior.

“Olhando simplesmente os números, a gente não vê uma alteração significativa”, admitiu Malaquias. “Mas não significa que ela (a MP) não terá efeito, mas que precisamos de mais informações para quando formos quantificar a utilização desses direitos creditórios, se elas (as empresas) efetivamente limitaram”.

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