Religioso e vaidoso: relembre a trajetória de Abilio Diniz


Empresário, que consolidou sua carreira na gestão do Grupo Pão de Açúcar, morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, por insuficiência respiratória

Por Eliane Sobral
Atualização:

Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.

Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.

Diniz morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.

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A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.

O empresário Abilio Diniz em seu escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, em maio de 2022. Empresário faleceu aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória.  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.

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Endividamento

Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.

O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.

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Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.

Outubro de 1995 marca a entrada da empresa na bolsa de valores de São Paulo. A oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês), injetou US$ 112 milhões nos cofres do Grupo Pão de Açúcar, e uma emissão de títulos nos Estados Unidos, trouxeram outros US$ 172 milhões.

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Parceiro estratégico

Após o IPO, Abilio passou a procurar um parceiro estratégico que trouxesse mais recursos à empresa - que, a esta altura, já havia iniciado um agressivo plano de expansão, comprando marcas então famosas no varejo brasileiro e paulista, como Sendas, do Rio de Janeiro, Mambo e Pamplona, em São Paulo. Foi nesta época que a rede francesa Casino apareceu no radar.

No primeiro aporte, em 1999, o Casino desembolsou US$ 854 milhões para ficar com 24,5% no Grupo Pão de Açúcar. Aumentou seu cacife em 2005, com mais US$ 890 milhões e sua participação foi a 34%. A essa altura, o Grupo Pão de Açúcar tinha se tornado a maior empresa de varejo do País, com faturamento maior que as concorrentes Walmart e Carrefour — somados.

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Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, do pai português, e consolidou-se como uma das lideranças do varejo brasileiro. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Porém, o contrato com o Casino previa que, em 2012, Abilio iria para o conselho de administração, enquanto os franceses se tornariam majoritários no negócio.

Anos mais tarde, Abilio Diniz diria que assinar o contrato com o Casino foi o maior erro de sua vida empresarial.

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Enquanto não chegava a data de se “aposentar” do dia a dia da empresa, Diniz continuava a fazer lances espetaculares no mundo dos negócios. Comprou a varejista Assaí, e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia, que deu origem à Via Varejo, até hoje tida como a maior aquisição do comércio brasileiro.

Publicamente tudo ia muito bem. Já nos bastidores, o empresário negociava uma parceria com outros franceses. A estratégia aqui era trazer o Carrefour para a sociedade, diluir o controle acionário do Pão de Açúcar e continuar no comando da operação. Faltou combinar com os franceses. Neste caso, os franceses do Casino.

Uma figura até então desconhecida no Brasil, Jean Charles Naouri, que comandava o Casino e era o responsável pela negociação com o Pão de Açúcar, não só não topou o negócio, como se disse traído pelo sócio brasileiro.

Novamente o nome de Diniz passava a frequentar bancas estreladas de advogados, estampar as páginas dos jornais, e a alimentar as fofocas do mundo corporativo. Por fim, ele deixou definitivamente a companhia em 2013.

Menos de um ano depois, o empresário voltava ao varejo. Agora, na condição de sócio do Carrefour, com a aquisição de 10% da operação brasileira, por pouco mais de 500 milhões de euros. A esta altura, já na casa dos 80 anos, Diniz também se tornou sócio da BRF, guarda-chuva sob o qual se abrigaram Sadia e Perdigão após a fusão. Ao melhor estilo do empresário, sua saída do conselho de administração da BRF não foi nada pacífica, com outros investidores pedindo seu afastamento.

Esforço e vaidade

Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.

Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.

A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.

Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.

Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.

O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.

Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.

Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.

Diniz morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.

A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.

O empresário Abilio Diniz em seu escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, em maio de 2022. Empresário faleceu aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória.  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.

Endividamento

Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.

O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.

Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.

Outubro de 1995 marca a entrada da empresa na bolsa de valores de São Paulo. A oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês), injetou US$ 112 milhões nos cofres do Grupo Pão de Açúcar, e uma emissão de títulos nos Estados Unidos, trouxeram outros US$ 172 milhões.

Parceiro estratégico

Após o IPO, Abilio passou a procurar um parceiro estratégico que trouxesse mais recursos à empresa - que, a esta altura, já havia iniciado um agressivo plano de expansão, comprando marcas então famosas no varejo brasileiro e paulista, como Sendas, do Rio de Janeiro, Mambo e Pamplona, em São Paulo. Foi nesta época que a rede francesa Casino apareceu no radar.

No primeiro aporte, em 1999, o Casino desembolsou US$ 854 milhões para ficar com 24,5% no Grupo Pão de Açúcar. Aumentou seu cacife em 2005, com mais US$ 890 milhões e sua participação foi a 34%. A essa altura, o Grupo Pão de Açúcar tinha se tornado a maior empresa de varejo do País, com faturamento maior que as concorrentes Walmart e Carrefour — somados.

Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, do pai português, e consolidou-se como uma das lideranças do varejo brasileiro. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Porém, o contrato com o Casino previa que, em 2012, Abilio iria para o conselho de administração, enquanto os franceses se tornariam majoritários no negócio.

Anos mais tarde, Abilio Diniz diria que assinar o contrato com o Casino foi o maior erro de sua vida empresarial.

Enquanto não chegava a data de se “aposentar” do dia a dia da empresa, Diniz continuava a fazer lances espetaculares no mundo dos negócios. Comprou a varejista Assaí, e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia, que deu origem à Via Varejo, até hoje tida como a maior aquisição do comércio brasileiro.

Publicamente tudo ia muito bem. Já nos bastidores, o empresário negociava uma parceria com outros franceses. A estratégia aqui era trazer o Carrefour para a sociedade, diluir o controle acionário do Pão de Açúcar e continuar no comando da operação. Faltou combinar com os franceses. Neste caso, os franceses do Casino.

Uma figura até então desconhecida no Brasil, Jean Charles Naouri, que comandava o Casino e era o responsável pela negociação com o Pão de Açúcar, não só não topou o negócio, como se disse traído pelo sócio brasileiro.

Novamente o nome de Diniz passava a frequentar bancas estreladas de advogados, estampar as páginas dos jornais, e a alimentar as fofocas do mundo corporativo. Por fim, ele deixou definitivamente a companhia em 2013.

Menos de um ano depois, o empresário voltava ao varejo. Agora, na condição de sócio do Carrefour, com a aquisição de 10% da operação brasileira, por pouco mais de 500 milhões de euros. A esta altura, já na casa dos 80 anos, Diniz também se tornou sócio da BRF, guarda-chuva sob o qual se abrigaram Sadia e Perdigão após a fusão. Ao melhor estilo do empresário, sua saída do conselho de administração da BRF não foi nada pacífica, com outros investidores pedindo seu afastamento.

Esforço e vaidade

Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.

Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.

A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.

Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.

Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.

O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.

Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.

Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.

Diniz morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.

A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.

O empresário Abilio Diniz em seu escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, em maio de 2022. Empresário faleceu aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória.  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.

Endividamento

Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.

O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.

Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.

Outubro de 1995 marca a entrada da empresa na bolsa de valores de São Paulo. A oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês), injetou US$ 112 milhões nos cofres do Grupo Pão de Açúcar, e uma emissão de títulos nos Estados Unidos, trouxeram outros US$ 172 milhões.

Parceiro estratégico

Após o IPO, Abilio passou a procurar um parceiro estratégico que trouxesse mais recursos à empresa - que, a esta altura, já havia iniciado um agressivo plano de expansão, comprando marcas então famosas no varejo brasileiro e paulista, como Sendas, do Rio de Janeiro, Mambo e Pamplona, em São Paulo. Foi nesta época que a rede francesa Casino apareceu no radar.

No primeiro aporte, em 1999, o Casino desembolsou US$ 854 milhões para ficar com 24,5% no Grupo Pão de Açúcar. Aumentou seu cacife em 2005, com mais US$ 890 milhões e sua participação foi a 34%. A essa altura, o Grupo Pão de Açúcar tinha se tornado a maior empresa de varejo do País, com faturamento maior que as concorrentes Walmart e Carrefour — somados.

Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, do pai português, e consolidou-se como uma das lideranças do varejo brasileiro. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Porém, o contrato com o Casino previa que, em 2012, Abilio iria para o conselho de administração, enquanto os franceses se tornariam majoritários no negócio.

Anos mais tarde, Abilio Diniz diria que assinar o contrato com o Casino foi o maior erro de sua vida empresarial.

Enquanto não chegava a data de se “aposentar” do dia a dia da empresa, Diniz continuava a fazer lances espetaculares no mundo dos negócios. Comprou a varejista Assaí, e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia, que deu origem à Via Varejo, até hoje tida como a maior aquisição do comércio brasileiro.

Publicamente tudo ia muito bem. Já nos bastidores, o empresário negociava uma parceria com outros franceses. A estratégia aqui era trazer o Carrefour para a sociedade, diluir o controle acionário do Pão de Açúcar e continuar no comando da operação. Faltou combinar com os franceses. Neste caso, os franceses do Casino.

Uma figura até então desconhecida no Brasil, Jean Charles Naouri, que comandava o Casino e era o responsável pela negociação com o Pão de Açúcar, não só não topou o negócio, como se disse traído pelo sócio brasileiro.

Novamente o nome de Diniz passava a frequentar bancas estreladas de advogados, estampar as páginas dos jornais, e a alimentar as fofocas do mundo corporativo. Por fim, ele deixou definitivamente a companhia em 2013.

Menos de um ano depois, o empresário voltava ao varejo. Agora, na condição de sócio do Carrefour, com a aquisição de 10% da operação brasileira, por pouco mais de 500 milhões de euros. A esta altura, já na casa dos 80 anos, Diniz também se tornou sócio da BRF, guarda-chuva sob o qual se abrigaram Sadia e Perdigão após a fusão. Ao melhor estilo do empresário, sua saída do conselho de administração da BRF não foi nada pacífica, com outros investidores pedindo seu afastamento.

Esforço e vaidade

Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.

Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.

A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.

Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.

Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.

O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.

Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.

Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.

Diniz morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.

A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.

O empresário Abilio Diniz em seu escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, em maio de 2022. Empresário faleceu aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória.  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.

Endividamento

Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.

O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.

Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.

Outubro de 1995 marca a entrada da empresa na bolsa de valores de São Paulo. A oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês), injetou US$ 112 milhões nos cofres do Grupo Pão de Açúcar, e uma emissão de títulos nos Estados Unidos, trouxeram outros US$ 172 milhões.

Parceiro estratégico

Após o IPO, Abilio passou a procurar um parceiro estratégico que trouxesse mais recursos à empresa - que, a esta altura, já havia iniciado um agressivo plano de expansão, comprando marcas então famosas no varejo brasileiro e paulista, como Sendas, do Rio de Janeiro, Mambo e Pamplona, em São Paulo. Foi nesta época que a rede francesa Casino apareceu no radar.

No primeiro aporte, em 1999, o Casino desembolsou US$ 854 milhões para ficar com 24,5% no Grupo Pão de Açúcar. Aumentou seu cacife em 2005, com mais US$ 890 milhões e sua participação foi a 34%. A essa altura, o Grupo Pão de Açúcar tinha se tornado a maior empresa de varejo do País, com faturamento maior que as concorrentes Walmart e Carrefour — somados.

Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, do pai português, e consolidou-se como uma das lideranças do varejo brasileiro. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Porém, o contrato com o Casino previa que, em 2012, Abilio iria para o conselho de administração, enquanto os franceses se tornariam majoritários no negócio.

Anos mais tarde, Abilio Diniz diria que assinar o contrato com o Casino foi o maior erro de sua vida empresarial.

Enquanto não chegava a data de se “aposentar” do dia a dia da empresa, Diniz continuava a fazer lances espetaculares no mundo dos negócios. Comprou a varejista Assaí, e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia, que deu origem à Via Varejo, até hoje tida como a maior aquisição do comércio brasileiro.

Publicamente tudo ia muito bem. Já nos bastidores, o empresário negociava uma parceria com outros franceses. A estratégia aqui era trazer o Carrefour para a sociedade, diluir o controle acionário do Pão de Açúcar e continuar no comando da operação. Faltou combinar com os franceses. Neste caso, os franceses do Casino.

Uma figura até então desconhecida no Brasil, Jean Charles Naouri, que comandava o Casino e era o responsável pela negociação com o Pão de Açúcar, não só não topou o negócio, como se disse traído pelo sócio brasileiro.

Novamente o nome de Diniz passava a frequentar bancas estreladas de advogados, estampar as páginas dos jornais, e a alimentar as fofocas do mundo corporativo. Por fim, ele deixou definitivamente a companhia em 2013.

Menos de um ano depois, o empresário voltava ao varejo. Agora, na condição de sócio do Carrefour, com a aquisição de 10% da operação brasileira, por pouco mais de 500 milhões de euros. A esta altura, já na casa dos 80 anos, Diniz também se tornou sócio da BRF, guarda-chuva sob o qual se abrigaram Sadia e Perdigão após a fusão. Ao melhor estilo do empresário, sua saída do conselho de administração da BRF não foi nada pacífica, com outros investidores pedindo seu afastamento.

Esforço e vaidade

Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.

Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.

A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.

Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.

Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.

O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.

Quem acompanhou a trajetória de Abilio Diniz, provavelmente não associaria os adjetivos que o acompanharam por toda a vida com a figura de um compenetrado devoto que passava quase toda a homilia de joelhos postados no genuflexório.

Diniz raramente faltava à última missa dos domingos na pequena Paróquia São José, do Jardim Europa. Ia com a esposa Geyze Diniz e os filhos do casal. Ali, entregava-se a um silêncio quase absoluto e nunca dispensava a hóstia sagrada na hora da comunhão, tampouco a água benta. Diniz sempre se disse religioso, mas a prática fervorosa do catolicismo, era familiar apenas aos paroquianos da São José.

Diniz morreu neste domingo, 18, aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória, após três semanas internado no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com pneumonite.

A imagem que Diniz leva consigo é a do estrategista arrojado, frio, objetivo; o empresário que redesenhou o varejo brasileiro. Primogênito entre seis irmãos, Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, fundada em 1948 pelo pai, o imigrante português Valentim dos Santos Diniz. Estudou administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e, incentivado pelo pai, planejava a expansão dos negócios da família. O supermercado Pão de Açúcar nasceu em 1959. Nos anos 1970 inauguraram o primeiro hipermercado do País, com a marca Jumbo.

O empresário Abilio Diniz em seu escritório na Av. Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, em maio de 2022. Empresário faleceu aos 87 anos de idade, de insuficiência respiratória.  Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

Nos anos 80, por exemplo, os Diniz atuavam em mais de 20 tipos de comércio — de loja de departamento a lojas de bricolagem, hiper e supermercados espalhados por quase toda a cidade de São Paulo, e empregavam nada menos que 50 mil trabalhadores.

Endividamento

Mas se a empresa cresceu, o endividamento também e seu Valentim, como era conhecido o patriarca, resolveu distribuir 38% das ações entre os filhos, seguindo o critério da produtividade, que nos dias atuais seria chamado de meritocracia. Abilio ficou com 16%, enquanto Alcides e Arnaldo, receberam 8% cada. As três filhas, que não trabalhavam na empresa, tiveram direito a 2% cada uma. Dessa divisão nasceu a primeira grande disputa pública, essa da família.

O histórico de disputas em que se envolveu ao longo da vida rendeu a Abilio Diniz a fama de bom de briga. Mas, em pelo menos uma, o resultado não foi favorável.

Diniz chegou a se afastar da empresa na década no fim dos anos 1980 e início da década seguinte. Quando voltou, encontrou a empresa ainda mais endividada e com poucas chances de recuperação. A falência rondava a marca. Mas o empresário fechou um acordo com a família, assumiu 51,1% do controle acionário e colocou a casa em ordem com uma série de medidas amargas, como vender as operações no exterior e diminuir o tamanho da folha de pagamentos.

Outubro de 1995 marca a entrada da empresa na bolsa de valores de São Paulo. A oferta pública de ações (IPO na sigla em inglês), injetou US$ 112 milhões nos cofres do Grupo Pão de Açúcar, e uma emissão de títulos nos Estados Unidos, trouxeram outros US$ 172 milhões.

Parceiro estratégico

Após o IPO, Abilio passou a procurar um parceiro estratégico que trouxesse mais recursos à empresa - que, a esta altura, já havia iniciado um agressivo plano de expansão, comprando marcas então famosas no varejo brasileiro e paulista, como Sendas, do Rio de Janeiro, Mambo e Pamplona, em São Paulo. Foi nesta época que a rede francesa Casino apareceu no radar.

No primeiro aporte, em 1999, o Casino desembolsou US$ 854 milhões para ficar com 24,5% no Grupo Pão de Açúcar. Aumentou seu cacife em 2005, com mais US$ 890 milhões e sua participação foi a 34%. A essa altura, o Grupo Pão de Açúcar tinha se tornado a maior empresa de varejo do País, com faturamento maior que as concorrentes Walmart e Carrefour — somados.

Abilio Diniz começou como ajudante na doceria Pão de Açúcar, do pai português, e consolidou-se como uma das lideranças do varejo brasileiro. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

Porém, o contrato com o Casino previa que, em 2012, Abilio iria para o conselho de administração, enquanto os franceses se tornariam majoritários no negócio.

Anos mais tarde, Abilio Diniz diria que assinar o contrato com o Casino foi o maior erro de sua vida empresarial.

Enquanto não chegava a data de se “aposentar” do dia a dia da empresa, Diniz continuava a fazer lances espetaculares no mundo dos negócios. Comprou a varejista Assaí, e as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e Casas Bahia, que deu origem à Via Varejo, até hoje tida como a maior aquisição do comércio brasileiro.

Publicamente tudo ia muito bem. Já nos bastidores, o empresário negociava uma parceria com outros franceses. A estratégia aqui era trazer o Carrefour para a sociedade, diluir o controle acionário do Pão de Açúcar e continuar no comando da operação. Faltou combinar com os franceses. Neste caso, os franceses do Casino.

Uma figura até então desconhecida no Brasil, Jean Charles Naouri, que comandava o Casino e era o responsável pela negociação com o Pão de Açúcar, não só não topou o negócio, como se disse traído pelo sócio brasileiro.

Novamente o nome de Diniz passava a frequentar bancas estreladas de advogados, estampar as páginas dos jornais, e a alimentar as fofocas do mundo corporativo. Por fim, ele deixou definitivamente a companhia em 2013.

Menos de um ano depois, o empresário voltava ao varejo. Agora, na condição de sócio do Carrefour, com a aquisição de 10% da operação brasileira, por pouco mais de 500 milhões de euros. A esta altura, já na casa dos 80 anos, Diniz também se tornou sócio da BRF, guarda-chuva sob o qual se abrigaram Sadia e Perdigão após a fusão. Ao melhor estilo do empresário, sua saída do conselho de administração da BRF não foi nada pacífica, com outros investidores pedindo seu afastamento.

Esforço e vaidade

Apesar da fama e fortuna, Diniz levou uma vida privada relativamente discreta. À exceção da fantástica forma física que cultivou ao longo dos anos, na adolescência faltaram-lhe altura e sobravam-lhe quilos. Como o “gordinho” da turma, virou saco de pancada. Bem a seu estilo, em vez de lamentar o biotipo, virou um obcecado por exercícios físicos. Diniz gostava de exibir os músculos bem torneados, a pele sempre bronzeada e o ar fresco da juventude num corpo octogenário.

Extremamente vaidoso, ficou conhecida sua insistência em ensinar os primeiros netos a chamá-lo de “tio Abilio” em vez de vovô.

A obsessão pela forma física era, segundo ele afirmava, uma preocupação com qualidade de vida na terceira idade. “Envelhecer é uma certeza, mas envelhecer com qualidade é uma escola”, dizia.

Abilio Diniz casou-se duas vezes. Com a primeira esposa, Maria Auriluce Falleiros, teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Adriana e Pedro Paulo. Do segundo casamento, com Geyze Diniz, nasceram Rafaela e Miguel.

Nos últimos anos, comandava o conselho de administração da Península Participações, sob o qual estão os ativos da família Diniz.

O homem que redesenhou o varejo brasileiro, nasceu em 28 de dezembro de 1936. Se em vida Abilio dos Santos Diniz colecionou adjetivos ligados à sua personalidade forte, sua morte representa, sem dúvida, o fim do brilho ímpar que ele emprestou ao mundo dos negócios no Brasil.

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Perfil por Eliane Sobral

Especial para o Broadcast

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