Opinião|Aquecimento global: aumento de 1,5°C não é mais limite, mas caminho de volta


Mundo está mais perto de atingir esse ponto crítico, e retorno à trajetória exigirá medidas extraordinárias, que passam pela revolução tecnológica, conservação de florestas, restauração de biomas e ação global coordenada

Por Renata Piazzon

Na Assembleia Geral da ONU deste ano, em Nova York, uma mudança crucial dominou os bastidores: a discussão sobre clima não gira em torno de como manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, mas dos esforços necessários para voltarmos a esse limite. Essa mudança, que parece sutil, reflete uma realidade alarmante: estamos mais próximos de ultrapassar esse ponto crítico mais cedo do que prevíamos. O retorno à trajetória de 1,5°C exigirá medidas extraordinárias em diversas frentes, enquanto períodos difíceis se desenham nos próximos anos.

Durante a Assembleia, os Planetary Guardians — um grupo de líderes globais dedicados à proteção da Terra — apresentaram o Planetary Health Check (Exame de Saúde Planetário), um estudo revelador que expõe as conexões entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a saúde humana. O diagnóstico é preocupante: seis das nove fronteiras planetárias estão avançando para zonas de risco, e uma sétima, relacionada à acidificação dos oceanos, também caminha para a transgressão.

Esses resultados confirmam que o planeta está se afastando de um espaço operacional seguro para a humanidade, aproximando-se rapidamente de um alerta vermelho. Isso significa que veremos, com mais frequência e intensidade, secas, inundações, ondas de calor, além de perdas massivas de biodiversidade, agravamento de doenças relacionadas ao calor, disseminação de doenças infecciosas e insegurança alimentar devido à queda na produção agrícola.

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Apesar do cenário sombrio e do tempo se esgotando, é necessário atuar no campo das soluções. Sabemos que, para evitar a ultrapassagem de 1,5°C, precisamos reduzir drasticamente as emissões globais de CO₂ em 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Conservação de florestas e recuperação de áreas degradadas será fundamental para evitar crescimento da média da temperatura global acima de 1,5ºC acima dos níveis de antes da era industrial Foto: Gabriela Biló / Estadão

Essa transição passa, inevitavelmente, por uma revolução tecnológica. Setores como o de transporte, construção e produção industrial precisam de uma transformação radical, por meio da substituição de tecnologias baseadas em combustíveis fósseis por alternativas de baixo carbono, como a eletrificação e o hidrogênio verde. Além disso, tecnologias de remoção de carbono, como a captura e armazenamento de CO₂, precisarão ser implementadas em larga escala. Apenas os esforços de mitigação já não são suficientes para limitar o aquecimento global.

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Em todos os cenários de descarbonização, a conservação de florestas e a restauração de ecossistemas degradados serão essenciais tanto para sequestrar carbono quanto para aumentar a resiliência climática. Nosso foco global tende a ser majoritariamente a transição energética, mas 1,5ºC não pode ser alcançado apenas com a eliminação progressiva do carvão, do petróleo e do gás. É preciso investir na natureza.

Ecossistemas como florestas, pântanos e manguezais precisam ser protegidos e expandidos, atuando como sumidouros de carbono naturais. Paralelamente, o setor agrícola precisará adotar práticas ainda mais sustentáveis, protegendo o solo e aumentando a resiliência das lavouras.

No Brasil, essa conexão entre o uso do solo e a transição energética é particularmente relevante. O país possui uma longa tradição na produção de bioenergia, sobretudo por meio da cana-de-açúcar para o etanol. Além disso, tem grande potencial para gerar energia a partir de biomassa, utilizando resíduos agrícolas e florestais. Esse manejo sustentável do solo se conecta diretamente à produção de energia limpa, mostrando que, aqui, a conservação ambiental e a transição energética podem — e devem — caminhar juntas.

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A notícia que chega da Assembleia Geral da ONU reforça de maneira contundente a urgência de uma cooperação internacional mais sólida e de metas climáticas (NDCs) mais ambiciosas e passíveis de serem realizadas. Evidencia, ainda, algo que não é novo: a necessidade de políticas integradas - que combinem mitigação das emissões, restauração de ecossistemas e proteção à saúde humana - e de uma nova narrativa para a agenda climática.

É preciso falar de clima sem falar de clima, mas de desenvolvimento e prosperidade. É preciso conectar a agenda climática à saúde humana e à água, recurso natural fundamental para a vida na Terra e cuja escassez crescente sentimos de forma alarmante. É preciso imaginar e contar novas histórias de como o Brasil – e o mundo – podem ser protagonistas de um futuro habitável. Como país, precisamos construir e dar visibilidade às agendas que nos unem – combate ao desmatamento ilegal, restauração florestal, mercado de carbono, agricultura regenerativa – e não às que nos dividem.

Este é mais um alerta para que o mundo se mobilize em uma ação global coordenada — não um chamado que paralisa, mas que impulsione uma transição justa e sustentável, capaz de proteger o planeta e garantir um futuro para as próximas gerações. Sob essa perspectiva mais ampla da transição, que inclui a natureza, a liderança do Brasil na COP-30 torna-se ainda mais fundamental.

Na Assembleia Geral da ONU deste ano, em Nova York, uma mudança crucial dominou os bastidores: a discussão sobre clima não gira em torno de como manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, mas dos esforços necessários para voltarmos a esse limite. Essa mudança, que parece sutil, reflete uma realidade alarmante: estamos mais próximos de ultrapassar esse ponto crítico mais cedo do que prevíamos. O retorno à trajetória de 1,5°C exigirá medidas extraordinárias em diversas frentes, enquanto períodos difíceis se desenham nos próximos anos.

Durante a Assembleia, os Planetary Guardians — um grupo de líderes globais dedicados à proteção da Terra — apresentaram o Planetary Health Check (Exame de Saúde Planetário), um estudo revelador que expõe as conexões entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a saúde humana. O diagnóstico é preocupante: seis das nove fronteiras planetárias estão avançando para zonas de risco, e uma sétima, relacionada à acidificação dos oceanos, também caminha para a transgressão.

Esses resultados confirmam que o planeta está se afastando de um espaço operacional seguro para a humanidade, aproximando-se rapidamente de um alerta vermelho. Isso significa que veremos, com mais frequência e intensidade, secas, inundações, ondas de calor, além de perdas massivas de biodiversidade, agravamento de doenças relacionadas ao calor, disseminação de doenças infecciosas e insegurança alimentar devido à queda na produção agrícola.

Apesar do cenário sombrio e do tempo se esgotando, é necessário atuar no campo das soluções. Sabemos que, para evitar a ultrapassagem de 1,5°C, precisamos reduzir drasticamente as emissões globais de CO₂ em 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Conservação de florestas e recuperação de áreas degradadas será fundamental para evitar crescimento da média da temperatura global acima de 1,5ºC acima dos níveis de antes da era industrial Foto: Gabriela Biló / Estadão

Essa transição passa, inevitavelmente, por uma revolução tecnológica. Setores como o de transporte, construção e produção industrial precisam de uma transformação radical, por meio da substituição de tecnologias baseadas em combustíveis fósseis por alternativas de baixo carbono, como a eletrificação e o hidrogênio verde. Além disso, tecnologias de remoção de carbono, como a captura e armazenamento de CO₂, precisarão ser implementadas em larga escala. Apenas os esforços de mitigação já não são suficientes para limitar o aquecimento global.

Em todos os cenários de descarbonização, a conservação de florestas e a restauração de ecossistemas degradados serão essenciais tanto para sequestrar carbono quanto para aumentar a resiliência climática. Nosso foco global tende a ser majoritariamente a transição energética, mas 1,5ºC não pode ser alcançado apenas com a eliminação progressiva do carvão, do petróleo e do gás. É preciso investir na natureza.

Ecossistemas como florestas, pântanos e manguezais precisam ser protegidos e expandidos, atuando como sumidouros de carbono naturais. Paralelamente, o setor agrícola precisará adotar práticas ainda mais sustentáveis, protegendo o solo e aumentando a resiliência das lavouras.

No Brasil, essa conexão entre o uso do solo e a transição energética é particularmente relevante. O país possui uma longa tradição na produção de bioenergia, sobretudo por meio da cana-de-açúcar para o etanol. Além disso, tem grande potencial para gerar energia a partir de biomassa, utilizando resíduos agrícolas e florestais. Esse manejo sustentável do solo se conecta diretamente à produção de energia limpa, mostrando que, aqui, a conservação ambiental e a transição energética podem — e devem — caminhar juntas.

A notícia que chega da Assembleia Geral da ONU reforça de maneira contundente a urgência de uma cooperação internacional mais sólida e de metas climáticas (NDCs) mais ambiciosas e passíveis de serem realizadas. Evidencia, ainda, algo que não é novo: a necessidade de políticas integradas - que combinem mitigação das emissões, restauração de ecossistemas e proteção à saúde humana - e de uma nova narrativa para a agenda climática.

É preciso falar de clima sem falar de clima, mas de desenvolvimento e prosperidade. É preciso conectar a agenda climática à saúde humana e à água, recurso natural fundamental para a vida na Terra e cuja escassez crescente sentimos de forma alarmante. É preciso imaginar e contar novas histórias de como o Brasil – e o mundo – podem ser protagonistas de um futuro habitável. Como país, precisamos construir e dar visibilidade às agendas que nos unem – combate ao desmatamento ilegal, restauração florestal, mercado de carbono, agricultura regenerativa – e não às que nos dividem.

Este é mais um alerta para que o mundo se mobilize em uma ação global coordenada — não um chamado que paralisa, mas que impulsione uma transição justa e sustentável, capaz de proteger o planeta e garantir um futuro para as próximas gerações. Sob essa perspectiva mais ampla da transição, que inclui a natureza, a liderança do Brasil na COP-30 torna-se ainda mais fundamental.

Na Assembleia Geral da ONU deste ano, em Nova York, uma mudança crucial dominou os bastidores: a discussão sobre clima não gira em torno de como manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, mas dos esforços necessários para voltarmos a esse limite. Essa mudança, que parece sutil, reflete uma realidade alarmante: estamos mais próximos de ultrapassar esse ponto crítico mais cedo do que prevíamos. O retorno à trajetória de 1,5°C exigirá medidas extraordinárias em diversas frentes, enquanto períodos difíceis se desenham nos próximos anos.

Durante a Assembleia, os Planetary Guardians — um grupo de líderes globais dedicados à proteção da Terra — apresentaram o Planetary Health Check (Exame de Saúde Planetário), um estudo revelador que expõe as conexões entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a saúde humana. O diagnóstico é preocupante: seis das nove fronteiras planetárias estão avançando para zonas de risco, e uma sétima, relacionada à acidificação dos oceanos, também caminha para a transgressão.

Esses resultados confirmam que o planeta está se afastando de um espaço operacional seguro para a humanidade, aproximando-se rapidamente de um alerta vermelho. Isso significa que veremos, com mais frequência e intensidade, secas, inundações, ondas de calor, além de perdas massivas de biodiversidade, agravamento de doenças relacionadas ao calor, disseminação de doenças infecciosas e insegurança alimentar devido à queda na produção agrícola.

Apesar do cenário sombrio e do tempo se esgotando, é necessário atuar no campo das soluções. Sabemos que, para evitar a ultrapassagem de 1,5°C, precisamos reduzir drasticamente as emissões globais de CO₂ em 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Conservação de florestas e recuperação de áreas degradadas será fundamental para evitar crescimento da média da temperatura global acima de 1,5ºC acima dos níveis de antes da era industrial Foto: Gabriela Biló / Estadão

Essa transição passa, inevitavelmente, por uma revolução tecnológica. Setores como o de transporte, construção e produção industrial precisam de uma transformação radical, por meio da substituição de tecnologias baseadas em combustíveis fósseis por alternativas de baixo carbono, como a eletrificação e o hidrogênio verde. Além disso, tecnologias de remoção de carbono, como a captura e armazenamento de CO₂, precisarão ser implementadas em larga escala. Apenas os esforços de mitigação já não são suficientes para limitar o aquecimento global.

Em todos os cenários de descarbonização, a conservação de florestas e a restauração de ecossistemas degradados serão essenciais tanto para sequestrar carbono quanto para aumentar a resiliência climática. Nosso foco global tende a ser majoritariamente a transição energética, mas 1,5ºC não pode ser alcançado apenas com a eliminação progressiva do carvão, do petróleo e do gás. É preciso investir na natureza.

Ecossistemas como florestas, pântanos e manguezais precisam ser protegidos e expandidos, atuando como sumidouros de carbono naturais. Paralelamente, o setor agrícola precisará adotar práticas ainda mais sustentáveis, protegendo o solo e aumentando a resiliência das lavouras.

No Brasil, essa conexão entre o uso do solo e a transição energética é particularmente relevante. O país possui uma longa tradição na produção de bioenergia, sobretudo por meio da cana-de-açúcar para o etanol. Além disso, tem grande potencial para gerar energia a partir de biomassa, utilizando resíduos agrícolas e florestais. Esse manejo sustentável do solo se conecta diretamente à produção de energia limpa, mostrando que, aqui, a conservação ambiental e a transição energética podem — e devem — caminhar juntas.

A notícia que chega da Assembleia Geral da ONU reforça de maneira contundente a urgência de uma cooperação internacional mais sólida e de metas climáticas (NDCs) mais ambiciosas e passíveis de serem realizadas. Evidencia, ainda, algo que não é novo: a necessidade de políticas integradas - que combinem mitigação das emissões, restauração de ecossistemas e proteção à saúde humana - e de uma nova narrativa para a agenda climática.

É preciso falar de clima sem falar de clima, mas de desenvolvimento e prosperidade. É preciso conectar a agenda climática à saúde humana e à água, recurso natural fundamental para a vida na Terra e cuja escassez crescente sentimos de forma alarmante. É preciso imaginar e contar novas histórias de como o Brasil – e o mundo – podem ser protagonistas de um futuro habitável. Como país, precisamos construir e dar visibilidade às agendas que nos unem – combate ao desmatamento ilegal, restauração florestal, mercado de carbono, agricultura regenerativa – e não às que nos dividem.

Este é mais um alerta para que o mundo se mobilize em uma ação global coordenada — não um chamado que paralisa, mas que impulsione uma transição justa e sustentável, capaz de proteger o planeta e garantir um futuro para as próximas gerações. Sob essa perspectiva mais ampla da transição, que inclui a natureza, a liderança do Brasil na COP-30 torna-se ainda mais fundamental.

Opinião por Renata Piazzon

Diretora-geral do Instituto Arapyaú, cofacilitadora da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura e representante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (CDESS)

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