Em um mundo repleto de vozes, conversas e ruídos que competem pela nossa atenção, se torna difícil manter o foco. E a desatenção que resulta disso prejudica diretamente a sua evolução de carreira. Para se reorientar, quem serve de bússola é o silêncio.
Essa percepção não é um mero palpite; ela é apoiada por 17 anos de experiência como headhunter na Michael Page, em que conversei com mais de 10 mil profissionais, entre cafés, entrevistas e reuniões.
Hoje, como CEO da Michael Page, maior empresa de recrutamento de executivos da América Latina, quando sou questionado sobre dicas para obter sucesso na carreira, esta é uma das respostas que mais costumo dar: saiba ouvir, cresça em silêncio.A importância disso antecede até mesmo o hiperestímulo provocado pelo avanço tecnológico e o predomínio das notificações e das mídias em nossas vidas. Vamos dar um passo atrás e considerar a evolução da humanidade.
O sucesso depende, sim, da comunicação eficaz. E a habilidade de se comunicar pressupõe a capacidade de ouvir. Imagine nossos ancestrais, nômades, cuja sobrevivência dependia majoritariamente da escuta ativa. Se falhassem em escutar o som enunciado e identificar a aproximação de um predador, suas chances de sobrevivência seriam mínimas.
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A escuta nunca foi um luxo; era uma necessidade existencial. E, embora os riscos atuais sejam diferentes hoje, o valor intrínseco da escuta permanece, tanto para a sobrevivência biológica quanto para a prosperidade social e profissional.
De acordo com a teoria da evolução, as características que conferem vantagens adaptativas tendem a se tornar mais comuns em uma população ao longo das gerações, porque os indivíduos com essas características têm maior probabilidade de sobreviver e reproduzir.
Costumo dizer que as empresas são organismos vivos que refletem as transformações da sociedade. Se replicarmos essa evolução no meio corporativo, teremos organizações mais adaptáveis e aptas a superar as adversidades impostas pela disrupção exponencial que experienciamos hoje. Quantas vezes, no ímpeto de mostrar proatividade, você assumiu um papel que, durante a execução, se viu incapaz de dominar? Já se pegou interrompendo alguém antes de a pessoa terminar de falar, simplesmente por achar que não era relevante?
Na ânsia de avançar na carreira, você pode estar sendo eloquente demais, falando em excesso e atrasando o seu crescimento.
O Comandante McRaven, das Forças Especiais dos Estados Unidos, também ressaltou a importância desta habilidade. Em uma entrevista para o U.S. Naval Institute, McRaven afirmou que uma das principais habilidades de um líder é saber ouvir — caso contrário, ele não entenderá corretamente a missão a ser executada, muito menos será capaz de apoiar seus subordinados na execução.
Ok, sei que você deve encarar várias trincheiras e desafios no seu dia a dia, mas nenhum equivale a literalmente conduzir um exército em uma guerra — assim espero… Porém a essência é a mesma.
Um dos grandes desafios da escuta é aprender a silenciar nosso diálogo interno, repleto de julgamentos e conclusões precipitadas, para entender o que realmente está sendo dito e, sobretudo, enxergar valor nisso. Afinal, a “ideia ridícula” que você estava tão ansioso para descartar poderia muito bem ser a resposta pela qual estava procurando.Mas como silenciar o nosso pequeno ditador interno, que acredita saber mais do que os outros e anseia por se sobressair? Aqui vão algumas dicas para colocar em prática durante as conversas no seu dia a dia:
- Mantenha contato visual: Isso demonstra que você está totalmente engajado na conversa.
- Não interrompa: Permita que seu interlocutor expresse ideias e pensamentos com tranquilidade.
- Faça perguntas esclarecedoras: Isso não só demonstra que você está prestando atenção, mas também ajuda a entender melhor o ponto de vista do outro.
- Repita o que foi dito: Em suas próprias palavras, resuma o que você entendeu. Isso assegura que ambos estão na mesma página.
- Elimine distrações: Desligue o telefone, feche as abas do navegador e dedique sua atenção total ao seu interlocutor.
No artigo “The Focused Leader”, publicado pela Harvard Business Review, Daniel Goleman aponta uma forte correlação entre habilidades de escuta ativa e a eficácia na liderança. Afinal, para ser estratégico, é preciso ter foco.
Na próxima vez em que você se encontrar em uma sala repleta de vozes competindo por atenção, lembre-se: quanto mais souber ouvir, mais cedo irá comemorar seu crescimento profissional.
Richard Branson, fundador do Virgin Group, um dos conglomerados mais bem-sucedidos do mundo, falou em entrevista que ouvir é uma das habilidades mais importantes que alguém pode ter. A escuta é uma disciplina que requer prática e paciência. E também uma habilidade que pode diferenciá-lo em um mundo cada vez mais ruidoso e distraído.
Em meio a tanto barulho, você está pronto para evoluir — e ouvir — junto com a sua empresa?