Logo cedo, ainda jovens e cheios de sonhos, enfrentamos uma das decisões mais marcantes de nossas vidas: escolher um curso universitário e, por tabela, uma carreira a seguir. É um momento revestido de uma solenidade que quase não combina com a imaturidade que ainda carregamos nessa fase.
É curioso como, tão novos, encaramos essa escolha como definitiva, como se estivéssemos marcando nosso destino em pedra. À medida que avançamos, nossa carreira vai sendo moldada tanto pelas escolhas iniciais quanto pelas oportunidades que surgem no caminho.
Chega um ponto, porém, em que muitos de nós percebemos que fomos simplesmente arrastados pela correnteza, sem jamais termos parado para pensar ou planejar nossa trajetória profissional de forma deliberada. Pior, muitos nunca chegaram a questionar se as escolhas feitas lá atrás refletem o que realmente desejam para as próprias vidas.
Em contraste, a minha experiência mostra que mais de 50% das pessoas bem-sucedidas na carreira trabalham em áreas que não estão diretamente ligadas à sua formação inicial.
Por isso costumo dizer que o currículo normalmente é uma lista de coisas que os profissionais não querem fazer novamente, em vez de ser um reflexo de experiências positivas e de atividades que eles querem continuar fazendo. Mais um indício de que a carreira que eles construíram pode ter sido valiosa, sim, mas que a partir de agora é preciso mudar.
Sabendo disso, não é de estranhar que uma pesquisa recente feita na Bélgica tenha apontado que 26% das pessoas consideram mudar para um setor completamente diferente daquele em que atuam. Essa tendência é mais prevalente entre pessoas com menos de 45 anos (37%) e profissionais que ocupam cadeiras de gestão (46%).
Por isso, se hoje você se debate com a possibilidade de fazer uma transição de carreira, em vez de encarar a situação como uma angústia, olhe pela perspectiva de que esta é uma excelente oportunidade para, pela primeira vez, entender o que quer.
E se estiver refletindo sobre fazer uma transição de carreira, saiba que esta provavelmente não será a última vez que você fará isso. Tendo em vista o aumento da longevidade, uma pessoa que hoje tem em torno dos 40 anos de idade está ainda na metade da carreira.
Mas para onde correr? Se a ideia é fazer uma transição de carreira, é importante elaborar um plano estruturado, buscando informações e conhecimento para entender as opções disponíveis. Se não foi possível fazer isso quando iniciou sua carreira, agora o cenário é outro.
Inclusive, este é o meu caso. No início da minha carreira, eu não optei por ser headhunter, cadeira que ocupo atualmente. Não porque eu não me interessava pela profissão — pelo contrário —, e sim porque eu nem sequer sabia que ela existia. Por isso, antes de decidir para onde ir, entenda quais são as opções disponíveis e o que faz sentido para os seus objetivos de carreira. Ou seja, autoconhecimento também é fundamental.
Um exemplo é o de Patrick Milando, trompista da Metropolitan Opera de Nova York. Em 2020, ele se viu impossibilitado de trabalhar devido à pandemia de Covid-19. Os bancos vazios da casa de concertos fizeram Milando refletir sobre um vazio que vinha sentindo em si mesmo.
Então, ele decidiu mudar de carreira, e o que era um hobby se tornou profissão. Conhecendo uma habilidade que poderia desenvolver ainda mais e ciente do que queria para si, Milando trocou o sopro da trompa pelo ar. Ele se tornou instrutor de voo.
Caso ainda esteja em dúvida, um artigo publicado na Harvard Business Review aponta os principais fatores que costumam travar quem pensa em fazer em uma transição de carreira.
Aproveitando disso, deixo também sete dicas que podem ajudar você a destravar a iniciativa de começar a pensar em um novo futuro profissional:
1. Autoavaliação detalhada: comece com uma profunda autoavaliação para entender seus interesses, habilidades, valores e limitações. Utilize ferramentas como testes de personalidade e avaliações de competências para obter insights claros sobre o que realmente deseja e quais carreiras podem alinhar-se melhor com seu perfil.
2. Pesquisa de mercado e oportunidades: dedique tempo para pesquisar intensivamente sobre os setores de interesse. Isto inclui entender as tendências do mercado, demandas de habilidades futuras, e oportunidades emergentes. Considere tanto áreas em crescimento quanto nichos específicos que possam se alinhar com suas paixões e habilidades.
3. Educação e aprendizado contínuo: identifique quais habilidades específicas você precisa desenvolver para a nova carreira. Investigue cursos, certificações, workshops e até mesmo tutoriais online que possam ajudá-lo a adquirir esses conhecimentos. A educação é uma ponte fundamental entre sua carreira atual e a futura.
4. Networking estratégico: construa uma rede de contatos relevante para sua nova carreira. Participe de eventos, conferências e webinars do setor. Use plataformas como LinkedIn para conectar-se com profissionais da área e participar de grupos de discussão. Lembre-se que um bom networking envolve dar e receber: ofereça sua ajuda e compartilhe seu conhecimento também.
5. Experiência prática: busque experiências práticas na nova área, como estágios, freelancing ou projetos voluntários. Essas experiências não só fortalecem seu currículo, mas também oferecem uma visão realista do dia a dia na nova carreira.
6. Plano de transição realista: elabore um plano detalhado para sua transição, incluindo metas de curto e longo prazo, marcos e um cronograma. Este plano deve considerar aspectos financeiros, como a necessidade de potenciais reduções de renda durante o período de transição, e definir estratégias para mitigar esses desafios.
7. Suporte emocional e resiliência: prepare-se para os desafios emocionais. Mudar de carreira pode ser estressante e assustador. Procure apoio de amigos, familiares ou um coach de carreira para manter sua motivação. Cultive a resiliência mental para enfrentar rejeições e falhas iniciais, mantendo-se focado em seus objetivos de longo prazo. Mas talvez você ainda esteja se perguntando: “Será que não é tarde demais para mim?”. Então saiba que Patrick Milando fez sua transição de carreira de trompista a instrutor de voo aos 67 anos de idade, com mais de 50 deles dedicados à música.
Encarar uma transição de carreira como uma oportunidade e não como uma barreira é o primeiro passo para uma jornada de transformação pessoal e profissional. Ao assumir a responsabilidade por sua trajetória, você não só molda seu futuro, mas também redefine o que é possível.
Lembre-se, cada escolha que você faz abre um novo caminho de possibilidades. Não espere o momento perfeito; ele pode nunca chegar. Em vez disso, tome a iniciativa hoje para construir a carreira que você deseja e merece.
Comece por dar um pequeno passo agora: faça uma autoavaliação, inscreva-se em um curso, participe de um evento de networking ou apenas converse com alguém que admira em sua área de interesse. O futuro é construído pelas suas ações de hoje. Vamos começar?