Você já se pegou reescrevendo um e-mail importante várias vezes antes de enviá-lo? Ou talvez tenha passado a madrugada no escritório ajustando mínimos detalhes de uma apresentação que já estava adequada? Se você se identifica com essas situações, provavelmente está vivendo o paradoxo da excelência. O desafio é que quanto mais você busca a perfeição, mais distante parece estar de alcançá-la.
Mas de onde isso surge? Historicamente, a busca pela perfeição costuma ser celebrada como virtude. Nas antigas civilizações, por exemplo, os artesãos egípcios esculpiam com precisão milimétrica, e os samurais japoneses dedicavam a vida ao aperfeiçoamento. Ou seja, a excelência sempre foi um ideal perseguido.
No entanto, é possível que você tenha notado como a nossa relação a excelência mudou, sobretudo após a Revolução Industrial, mas principalmente na era digital. O que antes era uma busca pelo aprimoramento se tornou uma obsessão, alimentada por métricas pouco objetivas, comparações nas redes sociais e uma cultura corporativa que celebra o perfeccionismo como virtude suprema. Criamos, sem perceber, uma geração de profissionais que vivem em estado perpétuo de inadequação, sempre acreditando que precisam fazer mais, ser mais, conquistar mais. E as consequências disso são devastadoras.
Um estudo que investiga as consequências do perfeccionismo mostra que o perfeccionismo desadaptativo, ou seja, a busca incessante por padrões irrealistas e uma autocrítica severa, está associado à síndrome do impostor. Afinal, ambos envolvem dúvidas sobre a própria capacidade e insatisfação com o desempenho.
Além disso, um artigo publicado pela Harvard Business Review revelam dados alarmantes: 67% dos adultos entre 18 e 34 anos dizem que o estresse associado à pressão no trabalho dificulta a concentração, 58% descrevem essa busca por resultados como “esmagadora” e em torno de 50% relata que, na maioria dos dias, o estresse é tão intenso que os impede de funcionar.
Então, o que podemos tirar disso? A verdade é que essa dedicação desenfreada tem levado ao extremo oposto disso. Por outro lado, a busca por fazer o melhor precisa estar associado a uma sabedoria fundamental: a compreensão de que a perfeição absoluta é inatingível e que, às vezes, o “bom o bastante” é exatamente aquilo de que precisamos. E é exatamente isso que as melhores práticas corporativas têm nos indicado.
Então, para ajudar você a encontrar o equilíbrio entre excelência e bem-estar, aqui estão seis estratégias, baseadas no que as evidências científicas e em experiências corporativas bem-sucedidas têm apontado:
- Pratique a “regra dos 80/20″: Identifique os 20% do trabalho que geram 80% do impacto e concentre sua energia neles. O restante pode ser “bom o suficiente”.
- Desenvolva auto-compaixão: Trate a si mesmo com a mesma gentileza que trataria um amigo ou colega enfrentando desafios similares.
- Adote a prática do registro diário, ou journaling: Reserve 10 minutos ao fim do dia para registrar três realizações, independente do tamanho.
- Estabeleça “zonas de excelência”: Determine áreas específicas onde a perfeição é realmente necessária e outras onde “bom o suficiente” é aceitável.
- Cultive limites claros: Defina antecipadamente quanto tempo e energia você dedicará a cada tarefa.
- Celebre o progresso: Em vez de focar apenas o resultado final, aprenda a reconhecer e valorizar pequenos avanços ao longo do caminho.
Lembre-se de que a maestria não está na busca incansável pela perfeição, mas na sabedoria de saber quando nosso trabalho já está bom o suficiente para fazer a diferença que queremos. Afinal, como dizia o poeta e compositor Leonard Cohen: “Existe uma rachadura em tudo, é assim que a luz entra”. Ou seja, são nossas imperfeições que nos tornam humanos e, paradoxalmente, mais capazes de alcançar resultados extraordinários.
Então comece hoje mesmo: escolha uma área de sua vida na qual seus padrões elevados estejam mais te prejudicando do que ajudando, e adote a estratégia do “bom o suficiente”. Você pode se surpreender ao descobrir que, ao soltar um pouco as rédeas do perfeccionismo, sua criatividade, produtividade e bem-estar podem emanar de maneiras que você nunca imaginou.
Afinal de contas, a jornada para o sucesso não é uma linha reta rumo à perfeição, e sim um caminho sinuoso de aprendizado contínuo. E você não precisa ser perfeito para ser excepcional.