Estamos vendo no Brasil um fenômeno que não é novo e nem raro: inflação de alimentos, tema que preocupa qualquer governo, especialmente os de inspiração mais populista.
Como os produtos agropecuários são operados em mercados muito competitivos, com grande número de agentes vendedores e compradores, não é possível interferir nos preços. O maior responsável pelas variações de preços de alimentos é a oferta deles, que depende de fatores incontroláveis, como os climáticos. Safras maiores e menores se alternam, e a política monetária nada pode fazer para mitigar essa dinâmica.
Mas os governos tentam interferir de alguma forma, assustados com desgaste eleitoral. Uma ideia comum é aumentar a tributação da exportação de alimentos. Ora, exportar impostos é uma burrice que tem efeito contrário: o produto fica mais caro no mercado internacional, perde competitividade, o produtor desiste de produzir, a oferta cai e os preços sobem. Evidente!
Também se fala em tirar impostos dos alimentos importados: some a competitividade do produtor interno que deixa de plantar, e lá vem mais inflação. Além disso, com o câmbio vigente é quase impossível fazer chegar ao Brasil um alimento por um preço menor do que o pago pelo produto nacional.
Aliás, fora café, açúcar e soja, cuja maior parte é exportada, as carnes e o milho são majoritariamente consumidos no mercado interno: só um terço deles é exportado. Ou seja, a exportação não atrapalha.
Café e açúcar subiram muito de preços porque houve seca e/ou geadas que derrubaram muito a produção: caiu a oferta! Já a soja tem safras que abastecem com sobra o mercado interno. E o óleo de soja para fazer biodiesel gera o farelo que produz proteína animal mais barata.
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Portanto, intervenção no mercado é uma inutilidade. O que cabe ao governo é estruturar uma estratégia que traga resultados permanentes, estimulando o aumento sustentável da oferta. Investir muito mais em pesquisa para permitir inovações tecnológicas; crédito com juros reais suportáveis; infraestrutura e logística para baixar os custos de armazenagem e transporte; seguro rural eficiente que estabilize a renda no campo; equilíbrio fiscal; apoio ao cooperativismo para garantir escala aos pequenos produtores, investimentos que gerem empregos e aumentem o poder aquisitivo da população e, naturalmente, acordos comerciais para ampliar mercados.
Aí, sim, abastecemos nosso mercado e ajudamos o mundo a combater a fome.