BRASÍLIA - Com investimentos públicos no menor patamar em mais de dez anos, a qualidade das rodovias brasileiras piorou em 2022. Lançada nesta quarta-feira, 9, a mais nova pesquisa CNT de Rodovias aponta que apenas 34% das estradas analisadas estão em ótima ou boas condições. Esse número era de 38,2% no ano passado, e 41% em 2019.
Por outro lado, um quarto das rodovias (25,3%) foi classificado como ruim ou péssimo, e a maior fatia, 40,7%, encontra-se apenas regular. “A degradação das rodovias está ocorrendo num nível acelerado e esse quadro precisa ser revertido o quanto antes”, afirmou o diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista.
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Junto do presidente da entidade, Vander Costa, Batista chamou atenção para o estado crítico das rodovias em paralelo com os níveis de investimento público do setor. Segundo o diretor executivo, é a primeira vez que condições perfeitas de pavimento chegaram a menos de 10% da malha avaliada.
A CNT analisa 110,3 mil quilômetros de estradas federais e estaduais para a pesquisa. Enquanto apenas 8,9% do pavimento está em condição perfeita, 50,5% está desgastado, 35% apresenta trincas ou remendos, 5% tem afundamentos e buracos, além da fatia de 0,6% identificada como destruída. Batista lembrou que foi entre 2011 e 2012 que, nos gráficos, as curvas de pavimento perfeito e desgastado se cruzaram. Desde então, o estado só piora. “Agora temos uma extensão muito pequena com pavimento perfeito”, disse.
A degradação acompanha a queda, ano a ano, de desembolsos para o setor. Enquanto em 2010 e 2011 o investimento público federal em rodovias representou 0,26% do PIB, a proporção caiu para 0,07% em 2021. Para esse ano, o orçamento estabeleceu apenas R$ 5,79 bilhões para o segmento, patamar que já alcançou R$ 33,37 bilhões em 2012.
Esse cenário traz despesas efetivas para o setor, aponta a CNT. A pesquisa deste ano constatou que o custo operacional para empresas de transporte rodoviário de cargas sofre um acréscimo médio de 33,1% por conta do estado de conservação do pavimento das rodovias. A situação é pior no Norte. As rodovias do Estado tiveram o pior resultado em relação ao pavimento, com 77,6% apresentando problemas, o que gera um custo adicional para os veículos que circulam na região de 43,6%.
Para superar essa realidade em todo o Brasil, a CNT estima que seriam necessários aproximadamente R$ 94,93 bilhões para o setor - R$ 72,26 bilhões para reconstrução e restauração de trechos, e os outros R$ 22,67 bilhões para garantir a manutenção das estradas. A cifra expressiva, contudo, não encontra terreno na proposta orçamentária do próximo ano, que prevê R$ 6,05 bilhões para toda a carteira de investimentos do Ministério da Infraestrutura, que vai além do setor rodoviário.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, a CNT afirmou que vai trabalhar para aumentar esse montante em 2023. O presidente da confederação, Vander Costa, disse mais cedo que a entidade vai pedir que a chamada PEC da Transição direcione investimentos para infraestrutura. Além disso, há um esforço para que parlamentares direcionem recursos das emendas de relator e de bancada para obras no segmento.
“Já temos um projeto pronto para pedir na PEC da Transição que sejam incluídos recursos para a infraestrutura”, disse Costa. Ele apontou que há previsão de o Ministério da Infraestrutura ter apenas cerca de R$ 6 bilhões para investimentos no próximo ano, segundo a proposta orçamentária, sendo ideal que esse valor pelo menos dobrasse. Portanto, há esforço para buscar cerca de R$ 20 bilhões para o setor. Ele afirmou que a CNT ainda aguarda o governo de transição anunciar os nomes que cuidarão do segmento de infraestrutura para aprofundar o diálogo. Uma reunião com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), contudo, já foi pedida pela confederação.
A diferença prática do nível de investimentos é sentida nas comparações entre as rodovias privadas e as que estão mantidas sob administração dos governos estaduais e federal. No estado geral, 69% dos quilômetros pesquisados de estradas concedidas foram classificados como ótimo ou bom, contra 25,8% em condição regular, e apenas 5,2% em estado ruim ou péssimo. Enquanto isso, nas estradas sob gestão federal ou estadual - a maioria - a classificação ‘ótima’ ou ‘bom’ caiu de 28,2% para 24,7% em 2022, a segunda queda consecutiva. Enquanto isso, 22,5% foi identificado como ruim, 8% como péssimo, e 44,8% como regular.