Expectativa para alta nas fusões e aquisições no Brasil ficou mesmo para 2025, diz CEO do Lefosse


Após três anos no cargo de sócio-gestor do escritório de advocacia, referência na área de fusões e aquisições, Rodrigo Junqueira foi reeleito e assumiu, em julho, um segundo mandato na função

Por Beatriz Bulla
Foto: Divulgação/Fernando Mendes
Entrevista comRodrigo JunqueiraSócio-gestor do Lefosse

À frente do escritório Lefosse, um dos principais escritórios na área de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no País, o advogado e administrador Rodrigo Junqueira afirma que a expectativa é de que só em 2025 o Brasil viva um cenário melhor na área de compras e vendas de empresas. “Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025″, disse, em entrevista ao Estadão.

Depois de três anos no cargo de sócio-gestor do escritório, o advogado foi reeleito e assumiu, em julho, um segundo mandato na função. Ele permanecerá no cargo até 2028. Desde 2021, o escritório aumentou em 50% o número de profissionais e hoje conta com 68 sócios e cerca de 400 advogados.

“Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações). O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs”, conta. O crucial para a mudança no cenário, segundo ele, é o cenário da taxa de juros nos Estados Unidos. “Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que arriscar em mercados emergentes”, afirma. No Lefosse, enquanto a seca de IPOs dominou o País, a área de Reestruturações e Insolvências, por exemplo, foi uma das que cresceram no ano passado.

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O desafio no seu segundo mandato, segundo Junqueira, será implementar a cultura empresarial em um escritório maior. “Precisamos agora colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado em torno dos objetivos, da estratégia do escritório”, afirma.

Ele também promete consolidar o escritório dentro do que chama de “magic circle” brasileiro, composto ainda por grandes bancas como Pinheiro Neto, Mattos Filho e Machado Meyer. Para isso, aposta na estratégia de áreas especializadas. “Eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele”, afirma.

O que está no seu horizonte neste segundo mandato, que não estava no primeiro?

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Acabamos de lançar um projeto de cultura bem grande no escritório e teremos alguns anos pela frente na implementação dessa cultura, tendo em vista o rápido crescimento que tivemos nos últimos anos. O crescimento também foi baseado em contratações laterais, ou seja, sócios de outros escritórios e de culturas diferentes. Então, precisamos colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado, em torno dos objetivos, da estratégia do escritório, seguindo valores e princípios que são muito a nossa pegada.

Estamos indo em frente na nossa consolidação num grupo de escritórios que tem um modelo parecido com o nosso, que eu costumei definir nos últimos anos como “magic circle” brasileiro.

Já temos um reconhecimento internacional de escritórios e clientes, tanto nos Estados Unidos como na Europa, bastante grande por meio da implementação de uma estratégia internacional que desenhamos há mais ou menos quatro anos, e nos últimos três anos a gente vem implementando com sucesso. Mas eu acho que ainda tem bastante coisa para fazer.

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Qual é a diferença do Lefosse? Qual é essa cultura que vocês estão implementando?

Temos quatro valores principais: empreendedorismo, parceria, excelência, e humano. Empreendedorismo, de forma ampla, os sócios, os advogados, o meu pessoal do administrativo, eles precisam entender que cada célula, cada prática, cada função que cada um tem é um negócio. As pessoas precisam pensar como empreendedores, de uma maneira mais ampla e de uma maneira desenvolvedora, fazedora. Sempre tivemos essa pegada, não é à toa que crescemos tanto nos últimos anos.

Parceria talvez seja uma das mais importantes, porque nos organizamos em grupos especializados. Se vou falar de energia, óleo e gás, mineração, aeroportos, healthcare, hoje temos sócios especialistas nessas áreas. Quando eu conecto as áreas transacionais, o meu tributário, e o meu contencioso nessas áreas especializadas, eu consigo dialogar com o meu cliente nas diversas indústrias de uma maneira diferente. Porque eu entendo a linguagem que é falada no setor, eu entendo as tendências, o que está acontecendo. Isso está muito conectado a esse valor da parceria. Então, eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele. Por conta do conhecimento, primeiro, do setor que ele está inserido e, depois, do próprio negócio dele.

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Humano, não quero que seja clichê, temos há muitos anos uma pegada muito grande de diversidade e esse valor é inegociável. E o último valor é excelência. E excelência não é só a qualidade do trabalho que entregamos. É velocidade, agilidade, inovação, criatividade.

Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes

Como o sr. vê o mercado em 2024?

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O mercado foi muito desafiador nos últimos anos e continua sendo em 2024, por alguns elementos e características específicas, tanto internas quanto externas. Não dá para reclamar, porque o escritório hoje é muito equilibrado entre práticas, então, os ciclos das práticas acabam se equilibrando, mas é um mercado com muita incerteza.

Quais são os desafios e quais são essas características que tornam o mercado desafiador?

Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs. O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs. Se estávamos trabalhando em 60 IPOs, e temos, nesse mercado, em média, 50%, 60% de market share, significa que você tinha 100 IPOs na rua.

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Tinha uma condição de liquidez, tanto interna quanto externa, muito grande, por conta da taxa de juros. A taxa de juros aqui estava muito baixa, em 2021, e o ambiente externo de liquidez favorecia um cenário de transação muito grande aqui no Brasil. Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes.

O fluxo do dinheiro internacional acaba não vindo para o Brasil e o nível de investimento acaba sendo menor por conta de tudo isso. Mas, veja, não deixou de existir. Nós temos aumentado o porcentual da nossa receita total em dólar, por exemplo. Receita vinda de investidores estrangeiros, clientes estrangeiros e parceiros que não estão no Brasil. Mas o nível de atividade é menor.

Você não tem mercado de capitais. Eu estou falando de equity (ações), não de dívida. O mercado de renda fixa de dívida está muito ativo, desde o final do ano passado, mas o equity está congelado. O nível de investimento, de crescimento, com taxa de juros alta, com dificuldade em crédito, acaba impactando demais o mercado e chega nos escritórios de advocacia. Somos um pouco o fiel da balança, sentimos isso do lado transacional.

No último ano, no lugar do transacional, o que vimos foram as reestruturações.

Em 2023, teve o caso da Americanas, e depois veio uma onda muito grande, que continua nesse ano, de grandes reestruturações e insolvências. Fomos capazes de captar grande parte desse trabalho. Tínhamos investido em 2022 nessa área. Estamos muito próximos dos clientes, então vemos alguma coisa no mercado acontecendo do ponto de vista de dificuldade de crédito, dificuldade de capitalização, a taxa de juros aumentando, o cenário piorando.

Há alguma área que continuou com transações em alta, mesmo com a maré ruim?

Não acabou a transação de energia. É um setor muito ativo ainda. Temos feito muito projeto de autoprodução, geração distribuída, do lado de energia. Tem muita coisa acontecendo no setor de infraestrutura em geral - saneamento, aeroportos, rodovias, privatizações, novos leilões, há coisas acontecendo.

Todo mundo falava em um mercado mais aquecido nas transações em 2024. Qual sua leitura? Consegue vislumbrar um cenário mais forte?

Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025. Quando você fala de transação, pensamos em M&A (fusões e aquisições), em mercado de capitais. O equity, certamente, para mim, não deve vir nesses próximos seis meses. Estamos esperando 2025. Há grandes transações desde o ano passado, mas não tem o volume de transações que tinha. Nesse primeiro semestre tivemos mais ou menos de seis a oito grandes transações.

Se houver um início de redução de taxa de juros lá fora, você começa a circular melhor e tem impacto direto no volume de mercado transacional.

Sem a mudança nos juros nos Estados Unidos é difícil ver algo se movimentando na economia no Brasil. É isso? Vê outros elementos nesse cenário capazes de mudar a situação?

É isso. É um elemento muito importante, porque a economia do Brasil é muito dependente dos Estados Unidos, da China. Enquanto esses players não vêm, você tem uma dificuldade de mercado. O fluxo de dinheiro fica muito limitado, com juros muito altos nos Estados Unidos. Agora, algumas coisas internas acho que têm sido feitas e você vê um esforço do time do Ministério da Fazenda tentando equilibrar as coisas junto com o Banco Central. Vemos valor nisso e o mercado como um todo vê também. As coisas estão sendo feitas, mas o elemento juros altos lá fora é fundamental.

Analistas apontam que, pelo fato de o cenário externo não ser tão favorável, tudo no Brasil do ponto de vista macroeconômico precisa estar muito claro e estável para atrair investimento. Qual sua leitura?

São temas até recorrentes, quando você fala de ajuste fiscal, de ser severo do lado de despesa, o que acaba controlando a inflação, isso acaba abrindo porta para redução de juros aqui internamente. Então, do ponto de vista macro, se você me perguntar: teria um nível de atividade maior ou um fluxo de investimento maior se essas coisas estivessem muito bem encaminhadas? Sim. A resposta é sim, certamente, sim. Eu não tenho dúvida disso, porque você ainda tem liquidez lá fora, mesmo com a taxa de juros lá fora alta.

Agora, quando você mistura um cenário de incerteza interna e você tem ainda muito extremismo do ponto de vista ideológico aqui no Brasil, e no mundo inteiro, atrapalha um pouco na condução dessas coisas. Mas eu vejo um esforço da equipe econômica, a reforma tributária andando. Então, eu não sou pessimista. Tem muita gente boa trabalhando e tentando fazer as coisas darem certo.

À frente do escritório Lefosse, um dos principais escritórios na área de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no País, o advogado e administrador Rodrigo Junqueira afirma que a expectativa é de que só em 2025 o Brasil viva um cenário melhor na área de compras e vendas de empresas. “Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025″, disse, em entrevista ao Estadão.

Depois de três anos no cargo de sócio-gestor do escritório, o advogado foi reeleito e assumiu, em julho, um segundo mandato na função. Ele permanecerá no cargo até 2028. Desde 2021, o escritório aumentou em 50% o número de profissionais e hoje conta com 68 sócios e cerca de 400 advogados.

“Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações). O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs”, conta. O crucial para a mudança no cenário, segundo ele, é o cenário da taxa de juros nos Estados Unidos. “Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que arriscar em mercados emergentes”, afirma. No Lefosse, enquanto a seca de IPOs dominou o País, a área de Reestruturações e Insolvências, por exemplo, foi uma das que cresceram no ano passado.

O desafio no seu segundo mandato, segundo Junqueira, será implementar a cultura empresarial em um escritório maior. “Precisamos agora colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado em torno dos objetivos, da estratégia do escritório”, afirma.

Ele também promete consolidar o escritório dentro do que chama de “magic circle” brasileiro, composto ainda por grandes bancas como Pinheiro Neto, Mattos Filho e Machado Meyer. Para isso, aposta na estratégia de áreas especializadas. “Eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele”, afirma.

O que está no seu horizonte neste segundo mandato, que não estava no primeiro?

Acabamos de lançar um projeto de cultura bem grande no escritório e teremos alguns anos pela frente na implementação dessa cultura, tendo em vista o rápido crescimento que tivemos nos últimos anos. O crescimento também foi baseado em contratações laterais, ou seja, sócios de outros escritórios e de culturas diferentes. Então, precisamos colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado, em torno dos objetivos, da estratégia do escritório, seguindo valores e princípios que são muito a nossa pegada.

Estamos indo em frente na nossa consolidação num grupo de escritórios que tem um modelo parecido com o nosso, que eu costumei definir nos últimos anos como “magic circle” brasileiro.

Já temos um reconhecimento internacional de escritórios e clientes, tanto nos Estados Unidos como na Europa, bastante grande por meio da implementação de uma estratégia internacional que desenhamos há mais ou menos quatro anos, e nos últimos três anos a gente vem implementando com sucesso. Mas eu acho que ainda tem bastante coisa para fazer.

Qual é a diferença do Lefosse? Qual é essa cultura que vocês estão implementando?

Temos quatro valores principais: empreendedorismo, parceria, excelência, e humano. Empreendedorismo, de forma ampla, os sócios, os advogados, o meu pessoal do administrativo, eles precisam entender que cada célula, cada prática, cada função que cada um tem é um negócio. As pessoas precisam pensar como empreendedores, de uma maneira mais ampla e de uma maneira desenvolvedora, fazedora. Sempre tivemos essa pegada, não é à toa que crescemos tanto nos últimos anos.

Parceria talvez seja uma das mais importantes, porque nos organizamos em grupos especializados. Se vou falar de energia, óleo e gás, mineração, aeroportos, healthcare, hoje temos sócios especialistas nessas áreas. Quando eu conecto as áreas transacionais, o meu tributário, e o meu contencioso nessas áreas especializadas, eu consigo dialogar com o meu cliente nas diversas indústrias de uma maneira diferente. Porque eu entendo a linguagem que é falada no setor, eu entendo as tendências, o que está acontecendo. Isso está muito conectado a esse valor da parceria. Então, eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele. Por conta do conhecimento, primeiro, do setor que ele está inserido e, depois, do próprio negócio dele.

Humano, não quero que seja clichê, temos há muitos anos uma pegada muito grande de diversidade e esse valor é inegociável. E o último valor é excelência. E excelência não é só a qualidade do trabalho que entregamos. É velocidade, agilidade, inovação, criatividade.

Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes

Como o sr. vê o mercado em 2024?

O mercado foi muito desafiador nos últimos anos e continua sendo em 2024, por alguns elementos e características específicas, tanto internas quanto externas. Não dá para reclamar, porque o escritório hoje é muito equilibrado entre práticas, então, os ciclos das práticas acabam se equilibrando, mas é um mercado com muita incerteza.

Quais são os desafios e quais são essas características que tornam o mercado desafiador?

Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs. O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs. Se estávamos trabalhando em 60 IPOs, e temos, nesse mercado, em média, 50%, 60% de market share, significa que você tinha 100 IPOs na rua.

Tinha uma condição de liquidez, tanto interna quanto externa, muito grande, por conta da taxa de juros. A taxa de juros aqui estava muito baixa, em 2021, e o ambiente externo de liquidez favorecia um cenário de transação muito grande aqui no Brasil. Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes.

O fluxo do dinheiro internacional acaba não vindo para o Brasil e o nível de investimento acaba sendo menor por conta de tudo isso. Mas, veja, não deixou de existir. Nós temos aumentado o porcentual da nossa receita total em dólar, por exemplo. Receita vinda de investidores estrangeiros, clientes estrangeiros e parceiros que não estão no Brasil. Mas o nível de atividade é menor.

Você não tem mercado de capitais. Eu estou falando de equity (ações), não de dívida. O mercado de renda fixa de dívida está muito ativo, desde o final do ano passado, mas o equity está congelado. O nível de investimento, de crescimento, com taxa de juros alta, com dificuldade em crédito, acaba impactando demais o mercado e chega nos escritórios de advocacia. Somos um pouco o fiel da balança, sentimos isso do lado transacional.

No último ano, no lugar do transacional, o que vimos foram as reestruturações.

Em 2023, teve o caso da Americanas, e depois veio uma onda muito grande, que continua nesse ano, de grandes reestruturações e insolvências. Fomos capazes de captar grande parte desse trabalho. Tínhamos investido em 2022 nessa área. Estamos muito próximos dos clientes, então vemos alguma coisa no mercado acontecendo do ponto de vista de dificuldade de crédito, dificuldade de capitalização, a taxa de juros aumentando, o cenário piorando.

Há alguma área que continuou com transações em alta, mesmo com a maré ruim?

Não acabou a transação de energia. É um setor muito ativo ainda. Temos feito muito projeto de autoprodução, geração distribuída, do lado de energia. Tem muita coisa acontecendo no setor de infraestrutura em geral - saneamento, aeroportos, rodovias, privatizações, novos leilões, há coisas acontecendo.

Todo mundo falava em um mercado mais aquecido nas transações em 2024. Qual sua leitura? Consegue vislumbrar um cenário mais forte?

Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025. Quando você fala de transação, pensamos em M&A (fusões e aquisições), em mercado de capitais. O equity, certamente, para mim, não deve vir nesses próximos seis meses. Estamos esperando 2025. Há grandes transações desde o ano passado, mas não tem o volume de transações que tinha. Nesse primeiro semestre tivemos mais ou menos de seis a oito grandes transações.

Se houver um início de redução de taxa de juros lá fora, você começa a circular melhor e tem impacto direto no volume de mercado transacional.

Sem a mudança nos juros nos Estados Unidos é difícil ver algo se movimentando na economia no Brasil. É isso? Vê outros elementos nesse cenário capazes de mudar a situação?

É isso. É um elemento muito importante, porque a economia do Brasil é muito dependente dos Estados Unidos, da China. Enquanto esses players não vêm, você tem uma dificuldade de mercado. O fluxo de dinheiro fica muito limitado, com juros muito altos nos Estados Unidos. Agora, algumas coisas internas acho que têm sido feitas e você vê um esforço do time do Ministério da Fazenda tentando equilibrar as coisas junto com o Banco Central. Vemos valor nisso e o mercado como um todo vê também. As coisas estão sendo feitas, mas o elemento juros altos lá fora é fundamental.

Analistas apontam que, pelo fato de o cenário externo não ser tão favorável, tudo no Brasil do ponto de vista macroeconômico precisa estar muito claro e estável para atrair investimento. Qual sua leitura?

São temas até recorrentes, quando você fala de ajuste fiscal, de ser severo do lado de despesa, o que acaba controlando a inflação, isso acaba abrindo porta para redução de juros aqui internamente. Então, do ponto de vista macro, se você me perguntar: teria um nível de atividade maior ou um fluxo de investimento maior se essas coisas estivessem muito bem encaminhadas? Sim. A resposta é sim, certamente, sim. Eu não tenho dúvida disso, porque você ainda tem liquidez lá fora, mesmo com a taxa de juros lá fora alta.

Agora, quando você mistura um cenário de incerteza interna e você tem ainda muito extremismo do ponto de vista ideológico aqui no Brasil, e no mundo inteiro, atrapalha um pouco na condução dessas coisas. Mas eu vejo um esforço da equipe econômica, a reforma tributária andando. Então, eu não sou pessimista. Tem muita gente boa trabalhando e tentando fazer as coisas darem certo.

À frente do escritório Lefosse, um dos principais escritórios na área de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no País, o advogado e administrador Rodrigo Junqueira afirma que a expectativa é de que só em 2025 o Brasil viva um cenário melhor na área de compras e vendas de empresas. “Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025″, disse, em entrevista ao Estadão.

Depois de três anos no cargo de sócio-gestor do escritório, o advogado foi reeleito e assumiu, em julho, um segundo mandato na função. Ele permanecerá no cargo até 2028. Desde 2021, o escritório aumentou em 50% o número de profissionais e hoje conta com 68 sócios e cerca de 400 advogados.

“Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações). O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs”, conta. O crucial para a mudança no cenário, segundo ele, é o cenário da taxa de juros nos Estados Unidos. “Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que arriscar em mercados emergentes”, afirma. No Lefosse, enquanto a seca de IPOs dominou o País, a área de Reestruturações e Insolvências, por exemplo, foi uma das que cresceram no ano passado.

O desafio no seu segundo mandato, segundo Junqueira, será implementar a cultura empresarial em um escritório maior. “Precisamos agora colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado em torno dos objetivos, da estratégia do escritório”, afirma.

Ele também promete consolidar o escritório dentro do que chama de “magic circle” brasileiro, composto ainda por grandes bancas como Pinheiro Neto, Mattos Filho e Machado Meyer. Para isso, aposta na estratégia de áreas especializadas. “Eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele”, afirma.

O que está no seu horizonte neste segundo mandato, que não estava no primeiro?

Acabamos de lançar um projeto de cultura bem grande no escritório e teremos alguns anos pela frente na implementação dessa cultura, tendo em vista o rápido crescimento que tivemos nos últimos anos. O crescimento também foi baseado em contratações laterais, ou seja, sócios de outros escritórios e de culturas diferentes. Então, precisamos colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado, em torno dos objetivos, da estratégia do escritório, seguindo valores e princípios que são muito a nossa pegada.

Estamos indo em frente na nossa consolidação num grupo de escritórios que tem um modelo parecido com o nosso, que eu costumei definir nos últimos anos como “magic circle” brasileiro.

Já temos um reconhecimento internacional de escritórios e clientes, tanto nos Estados Unidos como na Europa, bastante grande por meio da implementação de uma estratégia internacional que desenhamos há mais ou menos quatro anos, e nos últimos três anos a gente vem implementando com sucesso. Mas eu acho que ainda tem bastante coisa para fazer.

Qual é a diferença do Lefosse? Qual é essa cultura que vocês estão implementando?

Temos quatro valores principais: empreendedorismo, parceria, excelência, e humano. Empreendedorismo, de forma ampla, os sócios, os advogados, o meu pessoal do administrativo, eles precisam entender que cada célula, cada prática, cada função que cada um tem é um negócio. As pessoas precisam pensar como empreendedores, de uma maneira mais ampla e de uma maneira desenvolvedora, fazedora. Sempre tivemos essa pegada, não é à toa que crescemos tanto nos últimos anos.

Parceria talvez seja uma das mais importantes, porque nos organizamos em grupos especializados. Se vou falar de energia, óleo e gás, mineração, aeroportos, healthcare, hoje temos sócios especialistas nessas áreas. Quando eu conecto as áreas transacionais, o meu tributário, e o meu contencioso nessas áreas especializadas, eu consigo dialogar com o meu cliente nas diversas indústrias de uma maneira diferente. Porque eu entendo a linguagem que é falada no setor, eu entendo as tendências, o que está acontecendo. Isso está muito conectado a esse valor da parceria. Então, eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele. Por conta do conhecimento, primeiro, do setor que ele está inserido e, depois, do próprio negócio dele.

Humano, não quero que seja clichê, temos há muitos anos uma pegada muito grande de diversidade e esse valor é inegociável. E o último valor é excelência. E excelência não é só a qualidade do trabalho que entregamos. É velocidade, agilidade, inovação, criatividade.

Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes

Como o sr. vê o mercado em 2024?

O mercado foi muito desafiador nos últimos anos e continua sendo em 2024, por alguns elementos e características específicas, tanto internas quanto externas. Não dá para reclamar, porque o escritório hoje é muito equilibrado entre práticas, então, os ciclos das práticas acabam se equilibrando, mas é um mercado com muita incerteza.

Quais são os desafios e quais são essas características que tornam o mercado desafiador?

Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs. O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs. Se estávamos trabalhando em 60 IPOs, e temos, nesse mercado, em média, 50%, 60% de market share, significa que você tinha 100 IPOs na rua.

Tinha uma condição de liquidez, tanto interna quanto externa, muito grande, por conta da taxa de juros. A taxa de juros aqui estava muito baixa, em 2021, e o ambiente externo de liquidez favorecia um cenário de transação muito grande aqui no Brasil. Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes.

O fluxo do dinheiro internacional acaba não vindo para o Brasil e o nível de investimento acaba sendo menor por conta de tudo isso. Mas, veja, não deixou de existir. Nós temos aumentado o porcentual da nossa receita total em dólar, por exemplo. Receita vinda de investidores estrangeiros, clientes estrangeiros e parceiros que não estão no Brasil. Mas o nível de atividade é menor.

Você não tem mercado de capitais. Eu estou falando de equity (ações), não de dívida. O mercado de renda fixa de dívida está muito ativo, desde o final do ano passado, mas o equity está congelado. O nível de investimento, de crescimento, com taxa de juros alta, com dificuldade em crédito, acaba impactando demais o mercado e chega nos escritórios de advocacia. Somos um pouco o fiel da balança, sentimos isso do lado transacional.

No último ano, no lugar do transacional, o que vimos foram as reestruturações.

Em 2023, teve o caso da Americanas, e depois veio uma onda muito grande, que continua nesse ano, de grandes reestruturações e insolvências. Fomos capazes de captar grande parte desse trabalho. Tínhamos investido em 2022 nessa área. Estamos muito próximos dos clientes, então vemos alguma coisa no mercado acontecendo do ponto de vista de dificuldade de crédito, dificuldade de capitalização, a taxa de juros aumentando, o cenário piorando.

Há alguma área que continuou com transações em alta, mesmo com a maré ruim?

Não acabou a transação de energia. É um setor muito ativo ainda. Temos feito muito projeto de autoprodução, geração distribuída, do lado de energia. Tem muita coisa acontecendo no setor de infraestrutura em geral - saneamento, aeroportos, rodovias, privatizações, novos leilões, há coisas acontecendo.

Todo mundo falava em um mercado mais aquecido nas transações em 2024. Qual sua leitura? Consegue vislumbrar um cenário mais forte?

Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025. Quando você fala de transação, pensamos em M&A (fusões e aquisições), em mercado de capitais. O equity, certamente, para mim, não deve vir nesses próximos seis meses. Estamos esperando 2025. Há grandes transações desde o ano passado, mas não tem o volume de transações que tinha. Nesse primeiro semestre tivemos mais ou menos de seis a oito grandes transações.

Se houver um início de redução de taxa de juros lá fora, você começa a circular melhor e tem impacto direto no volume de mercado transacional.

Sem a mudança nos juros nos Estados Unidos é difícil ver algo se movimentando na economia no Brasil. É isso? Vê outros elementos nesse cenário capazes de mudar a situação?

É isso. É um elemento muito importante, porque a economia do Brasil é muito dependente dos Estados Unidos, da China. Enquanto esses players não vêm, você tem uma dificuldade de mercado. O fluxo de dinheiro fica muito limitado, com juros muito altos nos Estados Unidos. Agora, algumas coisas internas acho que têm sido feitas e você vê um esforço do time do Ministério da Fazenda tentando equilibrar as coisas junto com o Banco Central. Vemos valor nisso e o mercado como um todo vê também. As coisas estão sendo feitas, mas o elemento juros altos lá fora é fundamental.

Analistas apontam que, pelo fato de o cenário externo não ser tão favorável, tudo no Brasil do ponto de vista macroeconômico precisa estar muito claro e estável para atrair investimento. Qual sua leitura?

São temas até recorrentes, quando você fala de ajuste fiscal, de ser severo do lado de despesa, o que acaba controlando a inflação, isso acaba abrindo porta para redução de juros aqui internamente. Então, do ponto de vista macro, se você me perguntar: teria um nível de atividade maior ou um fluxo de investimento maior se essas coisas estivessem muito bem encaminhadas? Sim. A resposta é sim, certamente, sim. Eu não tenho dúvida disso, porque você ainda tem liquidez lá fora, mesmo com a taxa de juros lá fora alta.

Agora, quando você mistura um cenário de incerteza interna e você tem ainda muito extremismo do ponto de vista ideológico aqui no Brasil, e no mundo inteiro, atrapalha um pouco na condução dessas coisas. Mas eu vejo um esforço da equipe econômica, a reforma tributária andando. Então, eu não sou pessimista. Tem muita gente boa trabalhando e tentando fazer as coisas darem certo.

À frente do escritório Lefosse, um dos principais escritórios na área de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) no País, o advogado e administrador Rodrigo Junqueira afirma que a expectativa é de que só em 2025 o Brasil viva um cenário melhor na área de compras e vendas de empresas. “Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025″, disse, em entrevista ao Estadão.

Depois de três anos no cargo de sócio-gestor do escritório, o advogado foi reeleito e assumiu, em julho, um segundo mandato na função. Ele permanecerá no cargo até 2028. Desde 2021, o escritório aumentou em 50% o número de profissionais e hoje conta com 68 sócios e cerca de 400 advogados.

“Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações). O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs”, conta. O crucial para a mudança no cenário, segundo ele, é o cenário da taxa de juros nos Estados Unidos. “Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que arriscar em mercados emergentes”, afirma. No Lefosse, enquanto a seca de IPOs dominou o País, a área de Reestruturações e Insolvências, por exemplo, foi uma das que cresceram no ano passado.

O desafio no seu segundo mandato, segundo Junqueira, será implementar a cultura empresarial em um escritório maior. “Precisamos agora colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado em torno dos objetivos, da estratégia do escritório”, afirma.

Ele também promete consolidar o escritório dentro do que chama de “magic circle” brasileiro, composto ainda por grandes bancas como Pinheiro Neto, Mattos Filho e Machado Meyer. Para isso, aposta na estratégia de áreas especializadas. “Eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele”, afirma.

O que está no seu horizonte neste segundo mandato, que não estava no primeiro?

Acabamos de lançar um projeto de cultura bem grande no escritório e teremos alguns anos pela frente na implementação dessa cultura, tendo em vista o rápido crescimento que tivemos nos últimos anos. O crescimento também foi baseado em contratações laterais, ou seja, sócios de outros escritórios e de culturas diferentes. Então, precisamos colocar um projeto grande para ter todo mundo alinhado, em torno dos objetivos, da estratégia do escritório, seguindo valores e princípios que são muito a nossa pegada.

Estamos indo em frente na nossa consolidação num grupo de escritórios que tem um modelo parecido com o nosso, que eu costumei definir nos últimos anos como “magic circle” brasileiro.

Já temos um reconhecimento internacional de escritórios e clientes, tanto nos Estados Unidos como na Europa, bastante grande por meio da implementação de uma estratégia internacional que desenhamos há mais ou menos quatro anos, e nos últimos três anos a gente vem implementando com sucesso. Mas eu acho que ainda tem bastante coisa para fazer.

Qual é a diferença do Lefosse? Qual é essa cultura que vocês estão implementando?

Temos quatro valores principais: empreendedorismo, parceria, excelência, e humano. Empreendedorismo, de forma ampla, os sócios, os advogados, o meu pessoal do administrativo, eles precisam entender que cada célula, cada prática, cada função que cada um tem é um negócio. As pessoas precisam pensar como empreendedores, de uma maneira mais ampla e de uma maneira desenvolvedora, fazedora. Sempre tivemos essa pegada, não é à toa que crescemos tanto nos últimos anos.

Parceria talvez seja uma das mais importantes, porque nos organizamos em grupos especializados. Se vou falar de energia, óleo e gás, mineração, aeroportos, healthcare, hoje temos sócios especialistas nessas áreas. Quando eu conecto as áreas transacionais, o meu tributário, e o meu contencioso nessas áreas especializadas, eu consigo dialogar com o meu cliente nas diversas indústrias de uma maneira diferente. Porque eu entendo a linguagem que é falada no setor, eu entendo as tendências, o que está acontecendo. Isso está muito conectado a esse valor da parceria. Então, eu preciso ser visto pelo meu cliente não só como um advogado dele, não só como pensador de serviço jurídico, mas como alguém que pode agregar valor na tomada de decisão dele. Por conta do conhecimento, primeiro, do setor que ele está inserido e, depois, do próprio negócio dele.

Humano, não quero que seja clichê, temos há muitos anos uma pegada muito grande de diversidade e esse valor é inegociável. E o último valor é excelência. E excelência não é só a qualidade do trabalho que entregamos. É velocidade, agilidade, inovação, criatividade.

Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes

Como o sr. vê o mercado em 2024?

O mercado foi muito desafiador nos últimos anos e continua sendo em 2024, por alguns elementos e características específicas, tanto internas quanto externas. Não dá para reclamar, porque o escritório hoje é muito equilibrado entre práticas, então, os ciclos das práticas acabam se equilibrando, mas é um mercado com muita incerteza.

Quais são os desafios e quais são essas características que tornam o mercado desafiador?

Nós viemos de um ano de 2021 que estava muito ativo, tínhamos um boom de IPOs. O escritório, por exemplo, em 2021, estava trabalhando em 60 IPOs. Se estávamos trabalhando em 60 IPOs, e temos, nesse mercado, em média, 50%, 60% de market share, significa que você tinha 100 IPOs na rua.

Tinha uma condição de liquidez, tanto interna quanto externa, muito grande, por conta da taxa de juros. A taxa de juros aqui estava muito baixa, em 2021, e o ambiente externo de liquidez favorecia um cenário de transação muito grande aqui no Brasil. Com o aumento da inflação e com o aumento da taxa de juros, em especial nos Estados Unidos, as pessoas não têm por que se arriscar em mercados emergentes.

O fluxo do dinheiro internacional acaba não vindo para o Brasil e o nível de investimento acaba sendo menor por conta de tudo isso. Mas, veja, não deixou de existir. Nós temos aumentado o porcentual da nossa receita total em dólar, por exemplo. Receita vinda de investidores estrangeiros, clientes estrangeiros e parceiros que não estão no Brasil. Mas o nível de atividade é menor.

Você não tem mercado de capitais. Eu estou falando de equity (ações), não de dívida. O mercado de renda fixa de dívida está muito ativo, desde o final do ano passado, mas o equity está congelado. O nível de investimento, de crescimento, com taxa de juros alta, com dificuldade em crédito, acaba impactando demais o mercado e chega nos escritórios de advocacia. Somos um pouco o fiel da balança, sentimos isso do lado transacional.

No último ano, no lugar do transacional, o que vimos foram as reestruturações.

Em 2023, teve o caso da Americanas, e depois veio uma onda muito grande, que continua nesse ano, de grandes reestruturações e insolvências. Fomos capazes de captar grande parte desse trabalho. Tínhamos investido em 2022 nessa área. Estamos muito próximos dos clientes, então vemos alguma coisa no mercado acontecendo do ponto de vista de dificuldade de crédito, dificuldade de capitalização, a taxa de juros aumentando, o cenário piorando.

Há alguma área que continuou com transações em alta, mesmo com a maré ruim?

Não acabou a transação de energia. É um setor muito ativo ainda. Temos feito muito projeto de autoprodução, geração distribuída, do lado de energia. Tem muita coisa acontecendo no setor de infraestrutura em geral - saneamento, aeroportos, rodovias, privatizações, novos leilões, há coisas acontecendo.

Todo mundo falava em um mercado mais aquecido nas transações em 2024. Qual sua leitura? Consegue vislumbrar um cenário mais forte?

Estávamos esperando em 2024. Não veio. Agora, está todo mundo esperando 2025. Quando você fala de transação, pensamos em M&A (fusões e aquisições), em mercado de capitais. O equity, certamente, para mim, não deve vir nesses próximos seis meses. Estamos esperando 2025. Há grandes transações desde o ano passado, mas não tem o volume de transações que tinha. Nesse primeiro semestre tivemos mais ou menos de seis a oito grandes transações.

Se houver um início de redução de taxa de juros lá fora, você começa a circular melhor e tem impacto direto no volume de mercado transacional.

Sem a mudança nos juros nos Estados Unidos é difícil ver algo se movimentando na economia no Brasil. É isso? Vê outros elementos nesse cenário capazes de mudar a situação?

É isso. É um elemento muito importante, porque a economia do Brasil é muito dependente dos Estados Unidos, da China. Enquanto esses players não vêm, você tem uma dificuldade de mercado. O fluxo de dinheiro fica muito limitado, com juros muito altos nos Estados Unidos. Agora, algumas coisas internas acho que têm sido feitas e você vê um esforço do time do Ministério da Fazenda tentando equilibrar as coisas junto com o Banco Central. Vemos valor nisso e o mercado como um todo vê também. As coisas estão sendo feitas, mas o elemento juros altos lá fora é fundamental.

Analistas apontam que, pelo fato de o cenário externo não ser tão favorável, tudo no Brasil do ponto de vista macroeconômico precisa estar muito claro e estável para atrair investimento. Qual sua leitura?

São temas até recorrentes, quando você fala de ajuste fiscal, de ser severo do lado de despesa, o que acaba controlando a inflação, isso acaba abrindo porta para redução de juros aqui internamente. Então, do ponto de vista macro, se você me perguntar: teria um nível de atividade maior ou um fluxo de investimento maior se essas coisas estivessem muito bem encaminhadas? Sim. A resposta é sim, certamente, sim. Eu não tenho dúvida disso, porque você ainda tem liquidez lá fora, mesmo com a taxa de juros lá fora alta.

Agora, quando você mistura um cenário de incerteza interna e você tem ainda muito extremismo do ponto de vista ideológico aqui no Brasil, e no mundo inteiro, atrapalha um pouco na condução dessas coisas. Mas eu vejo um esforço da equipe econômica, a reforma tributária andando. Então, eu não sou pessimista. Tem muita gente boa trabalhando e tentando fazer as coisas darem certo.

Entrevista por Beatriz Bulla

Jornalista dedicada a cobrir o poder - economia, política e temas internacionais. Foi correspondente em Washington (EUA), repórter em Brasília e atualmente mora em São Paulo. Formada em jornalismo e direito.

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