Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|O Brasil nas avaliações de risco: erro no timing de mudança já ocorreu antes


Será péssimo se o governo se convencer de que estará no caminho certo, enquanto a dívida bruta como proporção do PIB salta mais de 12 pontos porcentuais num único mandato

Por Rogério Werneck
Atualização:

Rememorar duas outras alterações importantes na classificação do risco soberano do Brasil, ocorridas nos últimos 16 anos, ajuda a dar perspectiva histórica à extemporânea elevação da classificação do Brasil anunciada há poucos dias pela agência Moody’s.

Vale a pena relembrar a obtenção do grau de investimento pelo País, em maio de 2008, e sua perda, em setembro de 2015. Com o benefício da visão retrospectiva, é fácil perceber que, nos dois casos, sobram razões para críticas ao timing das alterações.

Por qualquer ângulo que se analise, a concessão de grau de investimento em maio de 2008 foi tardia. Teria feito muito mais sentido no fim de 2006 ou, no mais tardar, no início de 2007. O irônico é que, quando, afinal, a concessão se deu, já não havia mais dúvida de que a política econômica que lograra tanto êxito no início do primeiro mandato de Lula estava sendo claramente abandonada.

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O descarrilamento da política econômica petista foi um longo processo. A política do segundo governo Lula já foi, em boa medida, conduzida por Dilma Rousseff. O que se presenciou, especialmente a partir de 2008, quando, enfim, a bandeira da “nova matriz econômica” pôde ser ostensivamente desfraldada, foi o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmera lenta.

Melhora da avaliação da classificação de risco do Brasil na Moody's foi celebrada pelo governo Foto: André Dusek / Estadão

O que espanta é que, indiferentes a tudo isso, as agências de avaliação de risco tenham preservado o grau de investimento do Brasil por sete longos anos, até setembro de 2015, já quase ao final do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.

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Vista em retrospectiva, portanto, o caráter extemporâneo da elevação da classificação do risco soberano do País pela Moody’s não chega a ser novidade. Mas, desta vez, pelo menos, tanto a Standard & Poor’s como a Fitch já deixaram mais do que claro que mantêm visões muito distintas do que está ocorrendo no País e não estão propensas a acompanhar a Moody’s.

Em Brasília, houve quem, enrolado na bandeira nacional, se permitisse declarar que todo brasileiro deveria estar feliz com a nota da Moody’s. Errado. Um efeito fundamental da melhora da nota é dar ao governo certeza de que está no caminho certo. Será péssimo para o Brasil se o governo se convencer de que estará no caminho certo se continuar a se “esfalfar” para cumprir uma meta pífia de déficit primário “quase zero”, enquanto a dívida bruta como proporção do PIB sofre um salto de mais de 12 pontos porcentuais num único mandato presidencial. É disso que se trata.

Rememorar duas outras alterações importantes na classificação do risco soberano do Brasil, ocorridas nos últimos 16 anos, ajuda a dar perspectiva histórica à extemporânea elevação da classificação do Brasil anunciada há poucos dias pela agência Moody’s.

Vale a pena relembrar a obtenção do grau de investimento pelo País, em maio de 2008, e sua perda, em setembro de 2015. Com o benefício da visão retrospectiva, é fácil perceber que, nos dois casos, sobram razões para críticas ao timing das alterações.

Por qualquer ângulo que se analise, a concessão de grau de investimento em maio de 2008 foi tardia. Teria feito muito mais sentido no fim de 2006 ou, no mais tardar, no início de 2007. O irônico é que, quando, afinal, a concessão se deu, já não havia mais dúvida de que a política econômica que lograra tanto êxito no início do primeiro mandato de Lula estava sendo claramente abandonada.

O descarrilamento da política econômica petista foi um longo processo. A política do segundo governo Lula já foi, em boa medida, conduzida por Dilma Rousseff. O que se presenciou, especialmente a partir de 2008, quando, enfim, a bandeira da “nova matriz econômica” pôde ser ostensivamente desfraldada, foi o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmera lenta.

Melhora da avaliação da classificação de risco do Brasil na Moody's foi celebrada pelo governo Foto: André Dusek / Estadão

O que espanta é que, indiferentes a tudo isso, as agências de avaliação de risco tenham preservado o grau de investimento do Brasil por sete longos anos, até setembro de 2015, já quase ao final do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Vista em retrospectiva, portanto, o caráter extemporâneo da elevação da classificação do risco soberano do País pela Moody’s não chega a ser novidade. Mas, desta vez, pelo menos, tanto a Standard & Poor’s como a Fitch já deixaram mais do que claro que mantêm visões muito distintas do que está ocorrendo no País e não estão propensas a acompanhar a Moody’s.

Em Brasília, houve quem, enrolado na bandeira nacional, se permitisse declarar que todo brasileiro deveria estar feliz com a nota da Moody’s. Errado. Um efeito fundamental da melhora da nota é dar ao governo certeza de que está no caminho certo. Será péssimo para o Brasil se o governo se convencer de que estará no caminho certo se continuar a se “esfalfar” para cumprir uma meta pífia de déficit primário “quase zero”, enquanto a dívida bruta como proporção do PIB sofre um salto de mais de 12 pontos porcentuais num único mandato presidencial. É disso que se trata.

Rememorar duas outras alterações importantes na classificação do risco soberano do Brasil, ocorridas nos últimos 16 anos, ajuda a dar perspectiva histórica à extemporânea elevação da classificação do Brasil anunciada há poucos dias pela agência Moody’s.

Vale a pena relembrar a obtenção do grau de investimento pelo País, em maio de 2008, e sua perda, em setembro de 2015. Com o benefício da visão retrospectiva, é fácil perceber que, nos dois casos, sobram razões para críticas ao timing das alterações.

Por qualquer ângulo que se analise, a concessão de grau de investimento em maio de 2008 foi tardia. Teria feito muito mais sentido no fim de 2006 ou, no mais tardar, no início de 2007. O irônico é que, quando, afinal, a concessão se deu, já não havia mais dúvida de que a política econômica que lograra tanto êxito no início do primeiro mandato de Lula estava sendo claramente abandonada.

O descarrilamento da política econômica petista foi um longo processo. A política do segundo governo Lula já foi, em boa medida, conduzida por Dilma Rousseff. O que se presenciou, especialmente a partir de 2008, quando, enfim, a bandeira da “nova matriz econômica” pôde ser ostensivamente desfraldada, foi o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmera lenta.

Melhora da avaliação da classificação de risco do Brasil na Moody's foi celebrada pelo governo Foto: André Dusek / Estadão

O que espanta é que, indiferentes a tudo isso, as agências de avaliação de risco tenham preservado o grau de investimento do Brasil por sete longos anos, até setembro de 2015, já quase ao final do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Vista em retrospectiva, portanto, o caráter extemporâneo da elevação da classificação do risco soberano do País pela Moody’s não chega a ser novidade. Mas, desta vez, pelo menos, tanto a Standard & Poor’s como a Fitch já deixaram mais do que claro que mantêm visões muito distintas do que está ocorrendo no País e não estão propensas a acompanhar a Moody’s.

Em Brasília, houve quem, enrolado na bandeira nacional, se permitisse declarar que todo brasileiro deveria estar feliz com a nota da Moody’s. Errado. Um efeito fundamental da melhora da nota é dar ao governo certeza de que está no caminho certo. Será péssimo para o Brasil se o governo se convencer de que estará no caminho certo se continuar a se “esfalfar” para cumprir uma meta pífia de déficit primário “quase zero”, enquanto a dívida bruta como proporção do PIB sofre um salto de mais de 12 pontos porcentuais num único mandato presidencial. É disso que se trata.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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