Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Governo parece não fazer ligação de causa e efeito entre gasto público e inflação


À medida que o risco fiscal se exacerba, o governo se vê entalado num quadro econômico intrincado do qual não consegue sair

Por Rogério Werneck

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real, promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Sua marcante intervenção no evento serviu de alerta para que o País não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que ele teve a dizer sobre isto.

“É verdade que o Real é uma conquista que mudou o destino do Brasil. [...] Acho que o povo brasileiro, de fato, se convenceu da malignidade da inflação. Os políticos, eu já não tenho tanta certeza. [...] Os políticos, a começar pelos mais altos escalões, claro, compreendem que, como o povo não tolera inflação, eles também não podem ser a favor. Agora, eles não fazem ligação entre causa e efeito. [...] Por exemplo, a questão do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público. É uma variável independente. Confesso que a tristeza maior que eu tenho, no fim da vida, é ver que, de tudo aquilo, o que não pegou foi a responsabilidade fiscal. [...] Aqui se abandonou. Nós tínhamos melhorado. E pioramos.”

Em contraste com o que fez nos seus dois primeiros governos, Lula decidiu que se permitiria atravessar seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários. O plano de jogo era um esquema batido de gastar e tributar. Nesta ordem. E o que ocorreu é que a segunda parte acabou não indo tão bem quanto a primeira. O aumento de receita tributária não tem sido suficiente para fazer face ao colossal aumento de gastos.

continua após a publicidade

Para compensar os efeitos de tamanho impulso fiscal, o Banco Central viu-se obrigado a sustar a redução da taxa de juros que delineara. Agora, à medida que o risco fiscal se exacerba, o governo se vê entalado num quadro econômico intrincado do qual não consegue sair.

Lula está agindo diferente dos dois primeiros mandatos na questão fiscal Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A saída óbvia seria um esforço de consolidação fiscal duradoura pelo lado dos gastos. Mas o governo parece despreparado, seja para mostrar convicção convincente quanto a isto, seja para se dispor a conceber e viabilizar as medidas que se fazem necessárias. Não sabe por onde começar.

continua após a publicidade

Lula prefere sonhar com sua Pasárgada. Conta os dias para a chegada de 2025, quando, afinal, passará a “ter o presidente do Banco Central” (Folha de S.Paulo, 27/6) e a taxa de juros que quiser no nível que escolherá. Um pesadelo em que o País se daria conta da medida exata da efetiva importância que Lula atribui ao controle da inflação.

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real, promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Sua marcante intervenção no evento serviu de alerta para que o País não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que ele teve a dizer sobre isto.

“É verdade que o Real é uma conquista que mudou o destino do Brasil. [...] Acho que o povo brasileiro, de fato, se convenceu da malignidade da inflação. Os políticos, eu já não tenho tanta certeza. [...] Os políticos, a começar pelos mais altos escalões, claro, compreendem que, como o povo não tolera inflação, eles também não podem ser a favor. Agora, eles não fazem ligação entre causa e efeito. [...] Por exemplo, a questão do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público. É uma variável independente. Confesso que a tristeza maior que eu tenho, no fim da vida, é ver que, de tudo aquilo, o que não pegou foi a responsabilidade fiscal. [...] Aqui se abandonou. Nós tínhamos melhorado. E pioramos.”

Em contraste com o que fez nos seus dois primeiros governos, Lula decidiu que se permitiria atravessar seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários. O plano de jogo era um esquema batido de gastar e tributar. Nesta ordem. E o que ocorreu é que a segunda parte acabou não indo tão bem quanto a primeira. O aumento de receita tributária não tem sido suficiente para fazer face ao colossal aumento de gastos.

Para compensar os efeitos de tamanho impulso fiscal, o Banco Central viu-se obrigado a sustar a redução da taxa de juros que delineara. Agora, à medida que o risco fiscal se exacerba, o governo se vê entalado num quadro econômico intrincado do qual não consegue sair.

Lula está agindo diferente dos dois primeiros mandatos na questão fiscal Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A saída óbvia seria um esforço de consolidação fiscal duradoura pelo lado dos gastos. Mas o governo parece despreparado, seja para mostrar convicção convincente quanto a isto, seja para se dispor a conceber e viabilizar as medidas que se fazem necessárias. Não sabe por onde começar.

Lula prefere sonhar com sua Pasárgada. Conta os dias para a chegada de 2025, quando, afinal, passará a “ter o presidente do Banco Central” (Folha de S.Paulo, 27/6) e a taxa de juros que quiser no nível que escolherá. Um pesadelo em que o País se daria conta da medida exata da efetiva importância que Lula atribui ao controle da inflação.

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real, promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Sua marcante intervenção no evento serviu de alerta para que o País não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que ele teve a dizer sobre isto.

“É verdade que o Real é uma conquista que mudou o destino do Brasil. [...] Acho que o povo brasileiro, de fato, se convenceu da malignidade da inflação. Os políticos, eu já não tenho tanta certeza. [...] Os políticos, a começar pelos mais altos escalões, claro, compreendem que, como o povo não tolera inflação, eles também não podem ser a favor. Agora, eles não fazem ligação entre causa e efeito. [...] Por exemplo, a questão do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público. É uma variável independente. Confesso que a tristeza maior que eu tenho, no fim da vida, é ver que, de tudo aquilo, o que não pegou foi a responsabilidade fiscal. [...] Aqui se abandonou. Nós tínhamos melhorado. E pioramos.”

Em contraste com o que fez nos seus dois primeiros governos, Lula decidiu que se permitiria atravessar seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários. O plano de jogo era um esquema batido de gastar e tributar. Nesta ordem. E o que ocorreu é que a segunda parte acabou não indo tão bem quanto a primeira. O aumento de receita tributária não tem sido suficiente para fazer face ao colossal aumento de gastos.

Para compensar os efeitos de tamanho impulso fiscal, o Banco Central viu-se obrigado a sustar a redução da taxa de juros que delineara. Agora, à medida que o risco fiscal se exacerba, o governo se vê entalado num quadro econômico intrincado do qual não consegue sair.

Lula está agindo diferente dos dois primeiros mandatos na questão fiscal Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A saída óbvia seria um esforço de consolidação fiscal duradoura pelo lado dos gastos. Mas o governo parece despreparado, seja para mostrar convicção convincente quanto a isto, seja para se dispor a conceber e viabilizar as medidas que se fazem necessárias. Não sabe por onde começar.

Lula prefere sonhar com sua Pasárgada. Conta os dias para a chegada de 2025, quando, afinal, passará a “ter o presidente do Banco Central” (Folha de S.Paulo, 27/6) e a taxa de juros que quiser no nível que escolherá. Um pesadelo em que o País se daria conta da medida exata da efetiva importância que Lula atribui ao controle da inflação.

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real, promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Sua marcante intervenção no evento serviu de alerta para que o País não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que ele teve a dizer sobre isto.

“É verdade que o Real é uma conquista que mudou o destino do Brasil. [...] Acho que o povo brasileiro, de fato, se convenceu da malignidade da inflação. Os políticos, eu já não tenho tanta certeza. [...] Os políticos, a começar pelos mais altos escalões, claro, compreendem que, como o povo não tolera inflação, eles também não podem ser a favor. Agora, eles não fazem ligação entre causa e efeito. [...] Por exemplo, a questão do gasto público. Para eles, inflação não tem nada a ver com gasto público. É uma variável independente. Confesso que a tristeza maior que eu tenho, no fim da vida, é ver que, de tudo aquilo, o que não pegou foi a responsabilidade fiscal. [...] Aqui se abandonou. Nós tínhamos melhorado. E pioramos.”

Em contraste com o que fez nos seus dois primeiros governos, Lula decidiu que se permitiria atravessar seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários. O plano de jogo era um esquema batido de gastar e tributar. Nesta ordem. E o que ocorreu é que a segunda parte acabou não indo tão bem quanto a primeira. O aumento de receita tributária não tem sido suficiente para fazer face ao colossal aumento de gastos.

Para compensar os efeitos de tamanho impulso fiscal, o Banco Central viu-se obrigado a sustar a redução da taxa de juros que delineara. Agora, à medida que o risco fiscal se exacerba, o governo se vê entalado num quadro econômico intrincado do qual não consegue sair.

Lula está agindo diferente dos dois primeiros mandatos na questão fiscal Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

A saída óbvia seria um esforço de consolidação fiscal duradoura pelo lado dos gastos. Mas o governo parece despreparado, seja para mostrar convicção convincente quanto a isto, seja para se dispor a conceber e viabilizar as medidas que se fazem necessárias. Não sabe por onde começar.

Lula prefere sonhar com sua Pasárgada. Conta os dias para a chegada de 2025, quando, afinal, passará a “ter o presidente do Banco Central” (Folha de S.Paulo, 27/6) e a taxa de juros que quiser no nível que escolherá. Um pesadelo em que o País se daria conta da medida exata da efetiva importância que Lula atribui ao controle da inflação.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.