Como a condução da política fiscal do atual governo se compara com as dos outros quatro governos petistas?
Não chega a ser uma questão nova. Já na campanha de 2022, indagações nessa linha vinham sendo feitas com insistência por quem tentava entrever o que faria o candidato Lula da Silva, que decidira nada adiantar sobre a política econômica que adotaria caso viesse a ser eleito.
Era mais do que natural que o eleitor se preocupasse em saber qual Lula lhe pedia o voto: o do primeiro mandato, o da nova matriz econômica ou o que cometera o duplo desatino de alçar Dilma Rousseff à Presidência e depois reelegê-la.
A grande diferença, agora, é que não se trata mais de especular sobre o futuro, e sim de analisar, com base em fatos objetivos, quase um ano e meio de gestão fiscal do Lula 3. E a verdade é que, a esta altura, a indagação já tem resposta clara e inequívoca. Não há mais como alimentar a fantasia de que a política econômica do atual governo possa replicar o que ocorreu nos dois primeiros mandatos do presidente.
Ao longo do Lula 1, a média anual dos superávits primários do setor público consolidado foi mantida em quase 3,5% do PIB. O que permitiu queda substancial da dívida bruta do governo geral como proporção do PIB, a níveis similares aos observados antes da desestabilização econômico-financeira que marcou a campanha presidencial de 2002.
No Lula 2, na esteira da crise de 2008 e do progressivo encantamento do governo com a nova matriz econômica, a média dos superávits primários caiu para cerca de 2,8% do PIB. O que não impediu nova queda de mais de três pontos porcentuais na dívida bruta como proporção do PIB, ao longo do segundo mandato do presidente.
Nada parecido com o que agora se vê no Lula 3. Com o completo descrédito das metas pífias do mal encenado arcabouço fiscal, o que agora se explicita é um governo que, mesmo diante de um endividamento do setor público já de 76% do PIB, pretende atravessar todo um mandato presidencial incorrendo, ano após ano, em déficits primários substanciais. Pronto a impor, em seu quadriênio, um salto da ordem de 10 a 12 pontos porcentuais na dívida bruta como proporção do PIB.
No mandato e meio de Dilma Rousseff, a razão entre a dívida bruta e o PIB aumentou quase 16 pontos porcentuais. Na entrevista que deu a William Bonner no Jornal Nacional, em agosto de 2022, durante a campanha presidencial, Lula insistiu em defender que o primeiro governo Dilma tinha sido “extraordinário”. Para bom entendedor, era o que bastava.