Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Haddad joga em dois tabuleiros: um com Lula, outro com o mercado. E não tem sido fácil


Natureza da relação do ministro com o presidente é diferente de outras já vistas nos últimos 30 anos

Por Rogério Werneck

Para avaliar as possibilidades da política econômica é preciso ter em mente a real natureza da relação de Fernando Haddad com Lula da Silva. E, para isso, é útil ter em perspectiva o leque variado de relações distintas que ministros da Fazenda estabeleceram com presidentes da República ao longo dos últimos 30 anos.

Tirando bom proveito das rememorações do Plano Real, vale a pena ter em conta, por exemplo, que, em mais de uma ocasião, entre maio de 1993 e março de 1994, Fernando Henrique Cardoso se viu obrigado a deixar claro ao presidente Itamar Franco que se demitiria do cargo de ministro da Fazenda caso o plano de estabilização viesse a ser comprometido por interferências impensadas.

Salta aos olhos que a relação de Haddad com Lula é de natureza completamente distinta. A ninguém ocorre que o atual ministro da Fazenda possa vir a confrontar o presidente com uma ameaça de demissão deste tipo. Lula bem sabe que Haddad jamais faria algo parecido.

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Por seu lado, Haddad tem plena consciência de que ser percebido como um ministro que jamais pedirá demissão é algo que restringe em grande medida seu jogo com Lula e o PT, e lhe cerceia a condução da política econômica. E aqui é importante ter em conta o jogo simultâneo que o ministro também vem tendo de jogar com a mídia e o mercado.

Natureza da relação entre Haddad e Lula não pode passar despercebida ao mercado Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Não tem sido fácil para Haddad sair-se bem nas partidas simultâneas que, há meses, vem sendo obrigado a jogar nestes dois tabuleiros interdependentes – com Lula e o PT no primeiro e com o mercado e a mídia no segundo. A deterioração recente do ambiente econômico-financeiro, na esteira do deslizamento do câmbio, não deixa dúvidas quanto às dificuldades que tem enfrentado.

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O autoengano em que o mercado se permitira mergulhar tornou-se insustentável em face das proporções do descontrole de gastos que passou a aflorar nas contas públicas. Haddad teve de negociar às pressas, com Lula e o PT, autorização para acenar com uma promessa vaga de cortes de despesas.

Que cortes serão estes, ninguém sabe. O que se sabe é que tanto Lula como o PT têm reiterado aos quatro ventos a extensão de sua resistência às medidas de ajuste fiscal que poderiam vir a viabilizar uma contenção duradoura de despesas, na magnitude que se faria necessária.

Para se defender no jogo com o mercado e a mídia, Haddad viu-se obrigado a se comprometer com uma jogada que poderá se revelar inviável no seu jogo com Lula e o PT. Sabe perfeitamente que, se for mal num tabuleiro, não terá como se sair bem no outro. Intrincado.

Para avaliar as possibilidades da política econômica é preciso ter em mente a real natureza da relação de Fernando Haddad com Lula da Silva. E, para isso, é útil ter em perspectiva o leque variado de relações distintas que ministros da Fazenda estabeleceram com presidentes da República ao longo dos últimos 30 anos.

Tirando bom proveito das rememorações do Plano Real, vale a pena ter em conta, por exemplo, que, em mais de uma ocasião, entre maio de 1993 e março de 1994, Fernando Henrique Cardoso se viu obrigado a deixar claro ao presidente Itamar Franco que se demitiria do cargo de ministro da Fazenda caso o plano de estabilização viesse a ser comprometido por interferências impensadas.

Salta aos olhos que a relação de Haddad com Lula é de natureza completamente distinta. A ninguém ocorre que o atual ministro da Fazenda possa vir a confrontar o presidente com uma ameaça de demissão deste tipo. Lula bem sabe que Haddad jamais faria algo parecido.

Por seu lado, Haddad tem plena consciência de que ser percebido como um ministro que jamais pedirá demissão é algo que restringe em grande medida seu jogo com Lula e o PT, e lhe cerceia a condução da política econômica. E aqui é importante ter em conta o jogo simultâneo que o ministro também vem tendo de jogar com a mídia e o mercado.

Natureza da relação entre Haddad e Lula não pode passar despercebida ao mercado Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Não tem sido fácil para Haddad sair-se bem nas partidas simultâneas que, há meses, vem sendo obrigado a jogar nestes dois tabuleiros interdependentes – com Lula e o PT no primeiro e com o mercado e a mídia no segundo. A deterioração recente do ambiente econômico-financeiro, na esteira do deslizamento do câmbio, não deixa dúvidas quanto às dificuldades que tem enfrentado.

O autoengano em que o mercado se permitira mergulhar tornou-se insustentável em face das proporções do descontrole de gastos que passou a aflorar nas contas públicas. Haddad teve de negociar às pressas, com Lula e o PT, autorização para acenar com uma promessa vaga de cortes de despesas.

Que cortes serão estes, ninguém sabe. O que se sabe é que tanto Lula como o PT têm reiterado aos quatro ventos a extensão de sua resistência às medidas de ajuste fiscal que poderiam vir a viabilizar uma contenção duradoura de despesas, na magnitude que se faria necessária.

Para se defender no jogo com o mercado e a mídia, Haddad viu-se obrigado a se comprometer com uma jogada que poderá se revelar inviável no seu jogo com Lula e o PT. Sabe perfeitamente que, se for mal num tabuleiro, não terá como se sair bem no outro. Intrincado.

Para avaliar as possibilidades da política econômica é preciso ter em mente a real natureza da relação de Fernando Haddad com Lula da Silva. E, para isso, é útil ter em perspectiva o leque variado de relações distintas que ministros da Fazenda estabeleceram com presidentes da República ao longo dos últimos 30 anos.

Tirando bom proveito das rememorações do Plano Real, vale a pena ter em conta, por exemplo, que, em mais de uma ocasião, entre maio de 1993 e março de 1994, Fernando Henrique Cardoso se viu obrigado a deixar claro ao presidente Itamar Franco que se demitiria do cargo de ministro da Fazenda caso o plano de estabilização viesse a ser comprometido por interferências impensadas.

Salta aos olhos que a relação de Haddad com Lula é de natureza completamente distinta. A ninguém ocorre que o atual ministro da Fazenda possa vir a confrontar o presidente com uma ameaça de demissão deste tipo. Lula bem sabe que Haddad jamais faria algo parecido.

Por seu lado, Haddad tem plena consciência de que ser percebido como um ministro que jamais pedirá demissão é algo que restringe em grande medida seu jogo com Lula e o PT, e lhe cerceia a condução da política econômica. E aqui é importante ter em conta o jogo simultâneo que o ministro também vem tendo de jogar com a mídia e o mercado.

Natureza da relação entre Haddad e Lula não pode passar despercebida ao mercado Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Não tem sido fácil para Haddad sair-se bem nas partidas simultâneas que, há meses, vem sendo obrigado a jogar nestes dois tabuleiros interdependentes – com Lula e o PT no primeiro e com o mercado e a mídia no segundo. A deterioração recente do ambiente econômico-financeiro, na esteira do deslizamento do câmbio, não deixa dúvidas quanto às dificuldades que tem enfrentado.

O autoengano em que o mercado se permitira mergulhar tornou-se insustentável em face das proporções do descontrole de gastos que passou a aflorar nas contas públicas. Haddad teve de negociar às pressas, com Lula e o PT, autorização para acenar com uma promessa vaga de cortes de despesas.

Que cortes serão estes, ninguém sabe. O que se sabe é que tanto Lula como o PT têm reiterado aos quatro ventos a extensão de sua resistência às medidas de ajuste fiscal que poderiam vir a viabilizar uma contenção duradoura de despesas, na magnitude que se faria necessária.

Para se defender no jogo com o mercado e a mídia, Haddad viu-se obrigado a se comprometer com uma jogada que poderá se revelar inviável no seu jogo com Lula e o PT. Sabe perfeitamente que, se for mal num tabuleiro, não terá como se sair bem no outro. Intrincado.

Para avaliar as possibilidades da política econômica é preciso ter em mente a real natureza da relação de Fernando Haddad com Lula da Silva. E, para isso, é útil ter em perspectiva o leque variado de relações distintas que ministros da Fazenda estabeleceram com presidentes da República ao longo dos últimos 30 anos.

Tirando bom proveito das rememorações do Plano Real, vale a pena ter em conta, por exemplo, que, em mais de uma ocasião, entre maio de 1993 e março de 1994, Fernando Henrique Cardoso se viu obrigado a deixar claro ao presidente Itamar Franco que se demitiria do cargo de ministro da Fazenda caso o plano de estabilização viesse a ser comprometido por interferências impensadas.

Salta aos olhos que a relação de Haddad com Lula é de natureza completamente distinta. A ninguém ocorre que o atual ministro da Fazenda possa vir a confrontar o presidente com uma ameaça de demissão deste tipo. Lula bem sabe que Haddad jamais faria algo parecido.

Por seu lado, Haddad tem plena consciência de que ser percebido como um ministro que jamais pedirá demissão é algo que restringe em grande medida seu jogo com Lula e o PT, e lhe cerceia a condução da política econômica. E aqui é importante ter em conta o jogo simultâneo que o ministro também vem tendo de jogar com a mídia e o mercado.

Natureza da relação entre Haddad e Lula não pode passar despercebida ao mercado Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Não tem sido fácil para Haddad sair-se bem nas partidas simultâneas que, há meses, vem sendo obrigado a jogar nestes dois tabuleiros interdependentes – com Lula e o PT no primeiro e com o mercado e a mídia no segundo. A deterioração recente do ambiente econômico-financeiro, na esteira do deslizamento do câmbio, não deixa dúvidas quanto às dificuldades que tem enfrentado.

O autoengano em que o mercado se permitira mergulhar tornou-se insustentável em face das proporções do descontrole de gastos que passou a aflorar nas contas públicas. Haddad teve de negociar às pressas, com Lula e o PT, autorização para acenar com uma promessa vaga de cortes de despesas.

Que cortes serão estes, ninguém sabe. O que se sabe é que tanto Lula como o PT têm reiterado aos quatro ventos a extensão de sua resistência às medidas de ajuste fiscal que poderiam vir a viabilizar uma contenção duradoura de despesas, na magnitude que se faria necessária.

Para se defender no jogo com o mercado e a mídia, Haddad viu-se obrigado a se comprometer com uma jogada que poderá se revelar inviável no seu jogo com Lula e o PT. Sabe perfeitamente que, se for mal num tabuleiro, não terá como se sair bem no outro. Intrincado.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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