Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Lula decidiu atravessar o 3º mandato sem preocupação em gerar superávits, apesar do endividamento


Excesso de pessimismo? Em contexto de populismo fiscal, a percepção de analistas externos nem sempre se coaduna com a de investidores locais

Por Rogério Werneck

“Tendo a ser muito otimista com o Brasil, mas não encontro esse otimismo quando venho para cá[…]. Os investidores de mercados emergentes sempre vão se apegar ao que os investidores locais estão dizendo. E os brasileiros são excessivamente pessimistas”.

É o que declarou, em entrevista recente ao Valor Econômico, Mohamed El-Erian, um estrategista financeiro com proeminência incomum, adquirida na esteira de uma trajetória de sucesso em áreas muito diversas, nos EUA e na Europa (confira no Google).

Suas declarações merecem reflexão. Trata-se mesmo de um caso de excesso de pessimismo? Ou estão os investidores locais percebendo aspectos cruciais da realidade que escapam a investidores externos? Por sorte, o próprio El-Erian dá a chave para as respostas a tais indagações.

continua após a publicidade

Após afirmar na entrevista que “acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é preciso fazer alguma coisa a respeito, mas está longe de ser algo desastroso”, El-Erian se autocongratula pela argúcia com que reagiu ao quadro de alta incerteza fiscal que a economia brasileira se defrontava em 2002.

O que El-Erian parece não ter percebido ainda é que o presidente que o Brasil tem hoje pouco tem a ver com o de 20 anos atrás. Em contraste com o que se viu entre 2003 e 2010, Lula da Silva decidiu atravessar todo seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários, não obstante um endividamento público que já ultrapassara 70% do PIB.

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais Foto: André Dusek/Estadão
continua após a publicidade

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais, que já a deixou próximo à marca dos 80%. Novo salto similar é o que se espera até o final do mandato.

Até onde a vista alcança, não há perspectiva de que a elevação descontrolada do endividamento público venha a ser sustada. É ingênuo supor que isso possa ocorrer se Lula for reeleito. E, para que não seja, é bem possível que seu opositor se engaje no mesmo tipo de torneio de populismo fiscal que se viu na campanha presidencial de 2022.

Mas as razões para o desalento vão muito além do descontrole fiscal. Abrangem as incertezas que cercam a condução da política monetária a partir de 2025. E as que advêm de incontáveis desacertos de política econômica.

continua após a publicidade

Não parece haver, portanto, excesso de pessimismo. Sobram razões para que os investidores nativos estejam apreensivos com as perspectivas da economia. E não chega a ser uma surpresa que, mais uma vez, tais razões tenham escapado a analistas externos. Normal.

“Tendo a ser muito otimista com o Brasil, mas não encontro esse otimismo quando venho para cá[…]. Os investidores de mercados emergentes sempre vão se apegar ao que os investidores locais estão dizendo. E os brasileiros são excessivamente pessimistas”.

É o que declarou, em entrevista recente ao Valor Econômico, Mohamed El-Erian, um estrategista financeiro com proeminência incomum, adquirida na esteira de uma trajetória de sucesso em áreas muito diversas, nos EUA e na Europa (confira no Google).

Suas declarações merecem reflexão. Trata-se mesmo de um caso de excesso de pessimismo? Ou estão os investidores locais percebendo aspectos cruciais da realidade que escapam a investidores externos? Por sorte, o próprio El-Erian dá a chave para as respostas a tais indagações.

Após afirmar na entrevista que “acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é preciso fazer alguma coisa a respeito, mas está longe de ser algo desastroso”, El-Erian se autocongratula pela argúcia com que reagiu ao quadro de alta incerteza fiscal que a economia brasileira se defrontava em 2002.

O que El-Erian parece não ter percebido ainda é que o presidente que o Brasil tem hoje pouco tem a ver com o de 20 anos atrás. Em contraste com o que se viu entre 2003 e 2010, Lula da Silva decidiu atravessar todo seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários, não obstante um endividamento público que já ultrapassara 70% do PIB.

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais Foto: André Dusek/Estadão

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais, que já a deixou próximo à marca dos 80%. Novo salto similar é o que se espera até o final do mandato.

Até onde a vista alcança, não há perspectiva de que a elevação descontrolada do endividamento público venha a ser sustada. É ingênuo supor que isso possa ocorrer se Lula for reeleito. E, para que não seja, é bem possível que seu opositor se engaje no mesmo tipo de torneio de populismo fiscal que se viu na campanha presidencial de 2022.

Mas as razões para o desalento vão muito além do descontrole fiscal. Abrangem as incertezas que cercam a condução da política monetária a partir de 2025. E as que advêm de incontáveis desacertos de política econômica.

Não parece haver, portanto, excesso de pessimismo. Sobram razões para que os investidores nativos estejam apreensivos com as perspectivas da economia. E não chega a ser uma surpresa que, mais uma vez, tais razões tenham escapado a analistas externos. Normal.

“Tendo a ser muito otimista com o Brasil, mas não encontro esse otimismo quando venho para cá[…]. Os investidores de mercados emergentes sempre vão se apegar ao que os investidores locais estão dizendo. E os brasileiros são excessivamente pessimistas”.

É o que declarou, em entrevista recente ao Valor Econômico, Mohamed El-Erian, um estrategista financeiro com proeminência incomum, adquirida na esteira de uma trajetória de sucesso em áreas muito diversas, nos EUA e na Europa (confira no Google).

Suas declarações merecem reflexão. Trata-se mesmo de um caso de excesso de pessimismo? Ou estão os investidores locais percebendo aspectos cruciais da realidade que escapam a investidores externos? Por sorte, o próprio El-Erian dá a chave para as respostas a tais indagações.

Após afirmar na entrevista que “acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é preciso fazer alguma coisa a respeito, mas está longe de ser algo desastroso”, El-Erian se autocongratula pela argúcia com que reagiu ao quadro de alta incerteza fiscal que a economia brasileira se defrontava em 2002.

O que El-Erian parece não ter percebido ainda é que o presidente que o Brasil tem hoje pouco tem a ver com o de 20 anos atrás. Em contraste com o que se viu entre 2003 e 2010, Lula da Silva decidiu atravessar todo seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários, não obstante um endividamento público que já ultrapassara 70% do PIB.

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais Foto: André Dusek/Estadão

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais, que já a deixou próximo à marca dos 80%. Novo salto similar é o que se espera até o final do mandato.

Até onde a vista alcança, não há perspectiva de que a elevação descontrolada do endividamento público venha a ser sustada. É ingênuo supor que isso possa ocorrer se Lula for reeleito. E, para que não seja, é bem possível que seu opositor se engaje no mesmo tipo de torneio de populismo fiscal que se viu na campanha presidencial de 2022.

Mas as razões para o desalento vão muito além do descontrole fiscal. Abrangem as incertezas que cercam a condução da política monetária a partir de 2025. E as que advêm de incontáveis desacertos de política econômica.

Não parece haver, portanto, excesso de pessimismo. Sobram razões para que os investidores nativos estejam apreensivos com as perspectivas da economia. E não chega a ser uma surpresa que, mais uma vez, tais razões tenham escapado a analistas externos. Normal.

“Tendo a ser muito otimista com o Brasil, mas não encontro esse otimismo quando venho para cá[…]. Os investidores de mercados emergentes sempre vão se apegar ao que os investidores locais estão dizendo. E os brasileiros são excessivamente pessimistas”.

É o que declarou, em entrevista recente ao Valor Econômico, Mohamed El-Erian, um estrategista financeiro com proeminência incomum, adquirida na esteira de uma trajetória de sucesso em áreas muito diversas, nos EUA e na Europa (confira no Google).

Suas declarações merecem reflexão. Trata-se mesmo de um caso de excesso de pessimismo? Ou estão os investidores locais percebendo aspectos cruciais da realidade que escapam a investidores externos? Por sorte, o próprio El-Erian dá a chave para as respostas a tais indagações.

Após afirmar na entrevista que “acho que o Brasil tem uma situação fiscal que não é boa e, sim, é preciso fazer alguma coisa a respeito, mas está longe de ser algo desastroso”, El-Erian se autocongratula pela argúcia com que reagiu ao quadro de alta incerteza fiscal que a economia brasileira se defrontava em 2002.

O que El-Erian parece não ter percebido ainda é que o presidente que o Brasil tem hoje pouco tem a ver com o de 20 anos atrás. Em contraste com o que se viu entre 2003 e 2010, Lula da Silva decidiu atravessar todo seu terceiro mandato sem qualquer preocupação com a geração de superávits primários, não obstante um endividamento público que já ultrapassara 70% do PIB.

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais Foto: André Dusek/Estadão

Em pouco mais de um ano e meio, a dívida bruta como proporção do PIB já sofreu um salto de quase sete pontos porcentuais, que já a deixou próximo à marca dos 80%. Novo salto similar é o que se espera até o final do mandato.

Até onde a vista alcança, não há perspectiva de que a elevação descontrolada do endividamento público venha a ser sustada. É ingênuo supor que isso possa ocorrer se Lula for reeleito. E, para que não seja, é bem possível que seu opositor se engaje no mesmo tipo de torneio de populismo fiscal que se viu na campanha presidencial de 2022.

Mas as razões para o desalento vão muito além do descontrole fiscal. Abrangem as incertezas que cercam a condução da política monetária a partir de 2025. E as que advêm de incontáveis desacertos de política econômica.

Não parece haver, portanto, excesso de pessimismo. Sobram razões para que os investidores nativos estejam apreensivos com as perspectivas da economia. E não chega a ser uma surpresa que, mais uma vez, tais razões tenham escapado a analistas externos. Normal.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.