Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Lula terá de abandonar sua pauta de esquerda mais leviana para tentar apoio sólido no Congresso


Presidente parece se dar conta lentamente de que o mesmo eleitorado que o elegeu preferiu que o Congresso fosse amplamente dominado por forças políticas de centro-direita

Por Rogério Werneck

A ninguém interessa que o presidente da República continue engolfado no turbilhão de fragilização política em que foi colhido nos últimos meses. Antes de mais nada, Lula da Silva precisa parar de errar. Tem de pôr fim à sequência de erros crassos que vem cometendo desde que tomou posse.

Até mesmo na política externa, em que tinha todas as condições para, em contraste com Jair Bolsonaro, atuar com grande sucesso, o Planalto mostra-se aferrado a grandes desacertos.

Mas é nas questões internas que os erros mais graves vêm sendo cometidos. Boa parte deles parece decorrer da lentidão com que Lula vem se dando conta de que o mesmo eleitorado que o elegeu preferiu que o Congresso fosse amplamente dominado por forças políticas de centro-direita.

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Na semana passada, cinco meses após o início do governo, houve, afinal, um estrondoso cair da ficha, quando a Câmara impôs ao presidente uma sequência de derrotas humilhantes na tramitação de medidas provisórias.

Tamanho revés vem dando lugar a certo desalento no Planalto, que já teria começado a se conformar com a ideia de que o governo não chegará a ter maioria no Congresso (Valor, 22/5). A verdade, contudo, é que governar por todo o resto do mandato com uma base parlamentar tão precária será impraticável.

Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio Foto: Adriano Machado/Reuters
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Algo terá de ceder. E o governo terá de ser capaz de ir muito além de simples rearranjos de ocasião com Arthur Lira, que, já se sabe, não auguram bom desenlace. Lula terá de deixar de lado sua pauta de esquerda mais leviana e gratuita, para tentar ampliar em bases mais sólidas e duradouras seu apoio no Congresso.

Bem ilustra de forma concreta esse ponto a incapacidade do governo de estabelecer um jogo mais promissor com a colossal bancada ruralista no Congresso, que permeia todos os partidos de centro-direita.

Basta ter em conta que, a esta altura, já não há cálculo político racional que ainda possa justificar a persistência da postura complacente do governo com relação a invasões de propriedades rurais. É fundamental que o Planalto perceba que tal complacência se tornou uma extravagância que o obriga a arcar com custos políticos proibitivos.

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Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio. Não só porque não faz sentido tentar governar em permanente atrito com o segmento mais dinâmico e promissor da economia. Mas, também, porque isso pode lhe ajudar a ampliar a base parlamentar efetiva com que o governo poderá contar nos longos três anos e meio que ainda lhe restam de mandato.

A ninguém interessa que o presidente da República continue engolfado no turbilhão de fragilização política em que foi colhido nos últimos meses. Antes de mais nada, Lula da Silva precisa parar de errar. Tem de pôr fim à sequência de erros crassos que vem cometendo desde que tomou posse.

Até mesmo na política externa, em que tinha todas as condições para, em contraste com Jair Bolsonaro, atuar com grande sucesso, o Planalto mostra-se aferrado a grandes desacertos.

Mas é nas questões internas que os erros mais graves vêm sendo cometidos. Boa parte deles parece decorrer da lentidão com que Lula vem se dando conta de que o mesmo eleitorado que o elegeu preferiu que o Congresso fosse amplamente dominado por forças políticas de centro-direita.

Na semana passada, cinco meses após o início do governo, houve, afinal, um estrondoso cair da ficha, quando a Câmara impôs ao presidente uma sequência de derrotas humilhantes na tramitação de medidas provisórias.

Tamanho revés vem dando lugar a certo desalento no Planalto, que já teria começado a se conformar com a ideia de que o governo não chegará a ter maioria no Congresso (Valor, 22/5). A verdade, contudo, é que governar por todo o resto do mandato com uma base parlamentar tão precária será impraticável.

Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio Foto: Adriano Machado/Reuters

Algo terá de ceder. E o governo terá de ser capaz de ir muito além de simples rearranjos de ocasião com Arthur Lira, que, já se sabe, não auguram bom desenlace. Lula terá de deixar de lado sua pauta de esquerda mais leviana e gratuita, para tentar ampliar em bases mais sólidas e duradouras seu apoio no Congresso.

Bem ilustra de forma concreta esse ponto a incapacidade do governo de estabelecer um jogo mais promissor com a colossal bancada ruralista no Congresso, que permeia todos os partidos de centro-direita.

Basta ter em conta que, a esta altura, já não há cálculo político racional que ainda possa justificar a persistência da postura complacente do governo com relação a invasões de propriedades rurais. É fundamental que o Planalto perceba que tal complacência se tornou uma extravagância que o obriga a arcar com custos políticos proibitivos.

Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio. Não só porque não faz sentido tentar governar em permanente atrito com o segmento mais dinâmico e promissor da economia. Mas, também, porque isso pode lhe ajudar a ampliar a base parlamentar efetiva com que o governo poderá contar nos longos três anos e meio que ainda lhe restam de mandato.

A ninguém interessa que o presidente da República continue engolfado no turbilhão de fragilização política em que foi colhido nos últimos meses. Antes de mais nada, Lula da Silva precisa parar de errar. Tem de pôr fim à sequência de erros crassos que vem cometendo desde que tomou posse.

Até mesmo na política externa, em que tinha todas as condições para, em contraste com Jair Bolsonaro, atuar com grande sucesso, o Planalto mostra-se aferrado a grandes desacertos.

Mas é nas questões internas que os erros mais graves vêm sendo cometidos. Boa parte deles parece decorrer da lentidão com que Lula vem se dando conta de que o mesmo eleitorado que o elegeu preferiu que o Congresso fosse amplamente dominado por forças políticas de centro-direita.

Na semana passada, cinco meses após o início do governo, houve, afinal, um estrondoso cair da ficha, quando a Câmara impôs ao presidente uma sequência de derrotas humilhantes na tramitação de medidas provisórias.

Tamanho revés vem dando lugar a certo desalento no Planalto, que já teria começado a se conformar com a ideia de que o governo não chegará a ter maioria no Congresso (Valor, 22/5). A verdade, contudo, é que governar por todo o resto do mandato com uma base parlamentar tão precária será impraticável.

Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio Foto: Adriano Machado/Reuters

Algo terá de ceder. E o governo terá de ser capaz de ir muito além de simples rearranjos de ocasião com Arthur Lira, que, já se sabe, não auguram bom desenlace. Lula terá de deixar de lado sua pauta de esquerda mais leviana e gratuita, para tentar ampliar em bases mais sólidas e duradouras seu apoio no Congresso.

Bem ilustra de forma concreta esse ponto a incapacidade do governo de estabelecer um jogo mais promissor com a colossal bancada ruralista no Congresso, que permeia todos os partidos de centro-direita.

Basta ter em conta que, a esta altura, já não há cálculo político racional que ainda possa justificar a persistência da postura complacente do governo com relação a invasões de propriedades rurais. É fundamental que o Planalto perceba que tal complacência se tornou uma extravagância que o obriga a arcar com custos políticos proibitivos.

Lula precisa desencadear com urgência um desarmamento de espíritos nas relações do governo com o agronegócio. Não só porque não faz sentido tentar governar em permanente atrito com o segmento mais dinâmico e promissor da economia. Mas, também, porque isso pode lhe ajudar a ampliar a base parlamentar efetiva com que o governo poderá contar nos longos três anos e meio que ainda lhe restam de mandato.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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