Apesar do atual cenário desafiador, as expectativas seguem positivas para os fundos multimercados, segundo a avaliação de Philipe Biolchini, CIO da Bradesco Asset. “Nestes últimos anos, é um segmento que passou pelo período mais difícil das duas últimas décadas, por causa da alta de juros no Brasil e nos Estados Unidos e pela ansiedade causada pela inflação. Mas quando olhamos para frente, nossas análises mostram um cenário de equilíbrio.”
Segundo o executivo do Bradesco, os fundamentos para essa avaliação positiva passam pelo fato de a inflação ter cedido, pelo Brasil estar crescendo, pelas contas externas estarem em ordem e pelo dólar vir oscilando dentro do normal. “Não tem desequilíbrio de crescimento ou inflacionário. A questão fiscal terá que ser cuidada mais para frente. Com o equilíbrio adequado, o cenário deve ser melhor”, afirma Biolchini. O que não significa que, no curto prazo, ainda não haja muito ruído para ser dissipado, para que o investidor volte a ter uma certa tolerância à volatilidade.
“A maioria dos fundos em 2024 entrou comprada em ativos brasileiros e vendida em dólar, mas a realidade indicou a necessidade de processos totalmente contrários”, afirma Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital. Por causa dessa inversão, nos primeiros meses do ano, os rendimentos dos multimercados ficaram abaixo dos do CDI. “Agora em maio, os resultados [positivos] são reflexos dos ajustes de posições promovidos pelos gestores”, afirma Nobile. Para o gestor, quando os juros começarem a cair nos Estados Unidos, o que ainda é difícil de afirmar quando vai começar a ocorrer, o fluxo de capitais vindos de fora vai favorecer a categoria dos multimercados no Brasil.
Olhando para trás, Nobile avalia que os gestores do segmento acertaram em cheio em 2022, porque a grande maioria desses profissionais sabe navegar em um cenário de pressão inflacionária e elevação de juros, fatos registrados globalmente há dois anos. “O ano de 2023, entretanto, começou com um período bem negativo para os multimercados, porque basicamente todo mundo entrou o ano com a mesma tese de 2022 e acabou acontecendo o inverso. Ou seja, não houve queda de juros, mas houve a desinflação, ao contrário de 2022, e os ativos de maior risco acabaram performando muito bem, batendo bastante nos multimercados”, diz Nobile.
Para o gestor, em 2024, o cenário vai na mesma linha, com performance, em sua grande maioria, abaixo da do CDI no caso dos multimercados. “A principal razão é que o pessoal entrou o ano muito otimista, com os ativos no Brasil um pouco descontados e um cenário já apresentando queda na taxa de juros. Mas o mercado americano ainda está conflitante por causa dos índices de inflação e dos juros ainda mais elevados. Então, ainda há bastante pressão para os multimercados brasileiros”, avalia Nobile.
Tragédia gaúcha impulsiona o ESG
Por mais que os sinais fossem claros e as previsões científicas também, catástrofes amplificadas pelo homem como a que ocorreu no início do mês em todo o Rio Grande do Sul – com desdobramentos que vão durar anos – poderão impulsionar a gestão ESG.
“Os gestores de multimercados são compradores de títulos privados. A gestão ESG é uma prática que vem evoluindo constante e continuamente e algumas catástrofes mostram a relevância do tema. É uma tendência que vai ganhar cada vez mais peso”, afirma Philipe Biolchini, da Bradesco Asset.
Outro tema também relevante é a inteligência artificial, segundo Renato Nobile, da Buena Vista Capital. Não por acaso é o assunto que vem alavancando a bolsa nos Estados Unidos. “Se pararmos para observar, praticamente as sete maiores empresas nos Estados Unidos estão atraindo todo o capital, puxando a performance do S&P. É um grupo [Alphabet (GOOGL), Amazon (AMZN), Apple (AAPL34), Meta (M1TA34), Microsoft (MSFT34), Nvidia (NVDC34) e Tesla (TSLA)] realmente muito à frente quando falamos de inteligência artificial”, diz Nobile.