Com o fim da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-29), em Baku, no Azerbaijão, neste fim último fim de semana, a bola das discussões sobre o clima passou definitivamente para o Brasil. O País será a sede da próxima COP-30, marcada para novembro de 2025, em Belém.
Para discutir os desafios, mas também as oportunidades de um evento desse porte, o Estadão dá início nesta segunda-feira, 25, a uma série de entrevistas semanais com executivos de empresas e representantes de áreas importantes da economia. A ideia é levantar, de agora até a chegada do evento, problemas e saídas para a sustentabilidade e a transição climática nos mais diversos setores da economia.
Como diz o presidente da Lojas Renner, Fabio Faccio, o primeiro entrevistado da série, “a COP tem um papel importante de aumentar o nível de consciência das empresas, da população e dos governos, e o Brasil tem uma grande oportunidade, por toda a biodiversidade que tem, de ser um grande agente de transformação positivo”. Segundo ele, a COP-30 ser sediada no País é uma oportunidade de ouro que não pode ser desperdiçada. “Nosso país tem muitos recursos naturais e pode ser o berço do fomento a uma economia regenerativa.”
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A série de entrevistas faz parte de uma cobertura jornalística extensa e profunda que vem sendo desenvolvida pelo Estadão, em várias áreas, dentro do chapéu Era do Clima. O tema é uma das prioridades de cobertura do Estadão, dada a importância das mudanças climáticas para todo o mundo - sentidas nos eventos extremos, como enchentes e incêndios, mas também nos avanços tecnológicos derivados delas, como as energias renováveis e os carros elétricos.
Financiamento climático
A COP-29, recém-encerrada, terminou com um acordo a respeito da nova meta de financiamento climático, a ser paga com “liderança” dos países ricos aos em desenvolvimento. O montante deve ser de ao menos US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,74 trilhão) até 2035. Estudos apontam, porém, que esse número é insuficiente - esse valor deveria ser de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,5 trilhões).
O tema era o principal da conferência deste ano, chamada informalmente de “COP das Finanças”, e havia uma enorme descrença sobre se chegaria mesmo a um acordo. O próprio secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, veiculou uma declaração em que diz que “esperava um resultado mais ambicioso”, tanto em termos financeiros quanto de mitigação. “Foi uma negociação complexa em um cenário geopolítico incerto e dividido.”
Embora aprovado pela cúpula, o acordo foi criticado por diversos países durante a plenária, especialmente em desenvolvimento, tais como Cuba, Índia, Peru e Chile, mas também ricos, como Canadá. Parte dos críticos foram muito aplaudidos, mais do que a decisão em si.
Diego Pacheco, representante da Bolívia, por exemplo, disse que a decisão é um exemplo de omissão dos países ricos. “É um insulto aos países em desenvolvimento. Financiamento climático não é caridade, é uma obrigação legal, e um direito dos povos do sul global”, afirmou.
Por isso mesmo, a avaliação é que a questão do financiamento climático já coloca pressão na COP-30, na visão do professor Guarany Osório, coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP. “A saída da COP-29 foi essa construção ao longo do caminho, colocando mais pressão na COP-30, no caminho de Baku até o Brasil”, disse o especialista em entrevista ao Estadão. “Isso significa que a próxima COP terá de trabalhar para preencher as lacunas deixadas pela cúpula de Baku.”
Os desafios serão grandes - até mesmo de logística de organização. Mas Faccio, da Renner, diz estar muito otimista. “Se trabalharmos bem, podemos ajudar a ter uma mudança positiva na consciência global. Tem muitos países super avançados nesse tema, e podemos ser mais um”, disse. “E não tem só a consciência, mas tem os recursos também. Nosso país tem muitos recursos naturais e pode ser o berço de fomento de uma economia regenerativa.”